A Busca

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PAUL BRUNTON (1898-1981)

A BUÔCA The Notebooks of Paul Brunton (Volume II)

Tradução ANA LÚCIA FRANCO CARLOS A. L. SALUM

Revisão

técnica

MARISA GONTIJO MACHADO

EDITORA

PENSAMENTO

São Paulo

ESTE LIVRO E DEDICADO a Anthony J . Damiani (1922-1984)

Filósofo norte-americano "desconhecido", amigo caloroso e estudante devotado do Dr. Brunton, fundador do WisdonVs Goldenrod Center for Philosophic Studies: um homem vigoroso que chegou a conhecer a si mesmo... através da vida. da arte, da música, da filosofia, e que compartilhou incondicionalmente com os outros sua fértil visão da realidade multifacetada da vida. A lembrança de toda uma vida de devoção, dedicada a descobrir, sintetizar e comunicar as mais profundas questões do coração humano, é uma fonte infalível de inspiração para todos aqueles que o conheceram bem e para todos aqueles a quem incluiu na publicação destes cadernos de anotações.

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Obras de Paul Brunton

blicadas pela Editora

Pensamento

Introdução dos editores americanos 9 1 O Q U E É A BUSCA 15

A ÍNDIA S E C R E T A 0 CAMINHO S E C R E T O O EGITO S E C R E T O !

: MENSAGEM D E A R U N A C H A L A U M E R E M I T A NO H I M A L A I A

Descrição geral: elevar toda a identidade; cultivar a consciência do sagrado em si mesmo e no universo; dedicação consciente à realização da verdade e liberdade espirituais; tornar-se consciente da consciência; aperfeiçoar a relação entre a própria mente e sua fonte divina; descobrir o centro verdadeiro de si mesmo; estabelecer uma participação mais completa e duradoura na paz divina; reeducação do eu, conduzindo à transcendência do eu; método comprovado para alcançar as mais nobres possibilidades humanas; inclui todos os aspectos da vida — Sua importância e praticidade

A BUSCA DO E U SUPERIOR A R E A L I D A D E INTERNA (também intitulado DISCOVER YOURSELF) A SABEDORIA OCULTA ALÉM D A Y O G A

2 S U A ESCOLHA 38 Notas gerais — Qualificações — Por que as pessoas vêm — Por que muitas pessoas não vêm — Adiando a escolha — Em que sentido existe uma escolha? — Implicações da escolha

A SABEDORIA DO E U SUPERIOR A C R I S E E S P I R I T U A L DO HOMEM T H E NOTEBOOKS OF PAUL BRUNTON VOLUME I — IDEIAS E M PERSPECTIVA VOLUME H — A BUSCA

3 CAMINHO INDEPENDENTE 101 Descrição geral: ser verdadeiro consigo mesmo; pensamento independente; autoconfiança: divergir sem conflito; fidelidade à razão, à consciência, à intuição; uso correto da liberdade — Aceite a verdade onde a encontrar — Não-conformismo inteligente — Prós e contras da independência — E x i gências — A disciplina monástica é necessária? — Independência e instrutores — Solidão 4 GRUPOS ORGANIZADOS

Inéditas no Brasil

Benefícios para os iniciantes - - Problemas - - Relação com o fundador 5 AUTODESENVOLVIMENTO

INDIAN PHBLOSOPHY AND MODERN C U L T U R E E S S A Y S ON T H E QUEST e os volumes 3 a 16 de T H E NOTEBOOKS OF P A U L B R U N T O N

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Descrição geral — O que é, exatamente, a meta?—Pessoa singular caminho singular — Conhecer as próprias limitações e trabalhar de acordo com elas — Estágios de desenvolvimento — Só a pessoa total encontra a verdade total - - Realizações - - Perigos

6 ESTUDANTE-INSTRUTOR 218 Notas gerais — A necessidade de um instrutor — Livros como instrutores — Questões sobre a busca de um instrutor — Qualificações e deveres de um instrutor — Relação mestre-discípulo — Qualificações e deveres de um discípulo — Cultivando o vínculo interior — Mestre como símbolo — Graduação índice 334

INTRODUÇÃO DOS EDITORES AMERICANOS

Amplamente reconhecido como um dos mais influentes pioneiros da cultura oriental-ocidental deste século, o Dr. Paul Brunton mantinha cadernos pessoais de anotações relativos ao aprofundamento e desenvolvimento da vida interior nas circunstâncias modernas. Ao longo de toda a sua bem-sucedida carreira literária, foi principalmente desses cadernos que extraiu e desenvolveu material para publicação. Escreveu onze livros, todos bem-aceitos: do A Search in Secret índia, em 1934, ao The Spiritual Crisis of Man,* em 1952. O falecido Dr. Brunton é estimado não apenas pela competência e peia linguagem simples com que introduziu ideias antes consideradas esotéricas ao público do Ocidente em geral, mas também por seu calor humano, gentileza e elegância incomuns. Uniam-se em sua mente faculdades de observação crítica altamente desenvolvidas e uma reverência inata pelo sagrado, para explorar as questões fundamentais do coração humano: o conhecimento de seu estado presente, de seus potenciais mais elevados, da natureza do universo no qual se encontra e da relação adequada entre ele e esse universo. O sucesso dos livros de P.B. — como o Dr. Brunton passou a ser chamado — trouxe-lhe numerosas ofertas para assumir o papel de guru (instrutor) de milhares de pessoas, para fundar ashrams e editar jornais, nos quais apareceria como figura central de movimentos organizados que visariam trazer à luz o "renascimento espiritual*' do Ocidente. Mas essa não era sua ideia e ele manteve, com elegância e firmeza, sua independência, enquanto apoiava calorosamente muitas das pessoas que assumiram esses papéis. Sendu que serviria melhor escrevendo para pessoas que não são essencialmente "associáveis" mas que têm aspiração interior sincera ao conhecimento mais profundo e à experiência do espirito inviolável no interior de seus próprios corações. À luz dessa atitude, preferiu servir simplesmente como um ser humano que perscruta verdades sempre mais ocultas, com crescente profundidade e concentração. Apresentava-seformalmentecomo apenas "um pesquisador, com alguma experiência nesses assuntos... e é só". Sua liderança consistia principalmente no exemplo pessoal e no compartilhar de ideias que se revelaram úteis para ele — e não na direção de grupos organizados ou de concessões à postam convencional instrutor-discípulo. * Publicados em português pela Editora Pensamento com os títulos 4 fméim SW*Nw e A Crise Espiritual do Homem.

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e o U o V i c o s principais tratados nos cadernos. O presente volume, T h e Quest" (A B « ca), começa com uma apresentação em profundidade dos tópicos individuais, como foram esboçados pelo próprio Paul Brunton a esta equipe editorial no correr dos anos de 1980 e 1981. Trata, extensiva e exclusivamente, da categoria número um das vinte e oito categorias do esquema geral de P . B . Como em Ideias em Perspectiva, a seleção e disposição do material foi feita pela equipe editorial e não pelo próprio P.B. Os editores reconhecem que grande parte dessa disposição é arbitrária. Só as divisões gerais indicadas em letras maiúsculas como títulos dos "capítulos" dois a seis no sumário foram propostas por P . B . para esta categoria. Além de reunir temas relacionados em agrupamentos secundários e às vezes terciários, pouco se fez no sentido de ordenar o material. Este volume, assim como o restante da série, pretende muito mais refletir a riqueza do material extraído dos cadernos do que ser um trabalho acabado e lapidado. Juntos, o sumário e o índice fornecem uma visão resumida do modelo de trabalho estabelecido pelos editores para selecionar e estruturar o material. Como último volume desta série "Ideias", será publicado um guia de estudo/índice, que fornecerá um modelo completo do trabalho. Cabem aqui algumas observações adicionais com respeito aos princípios editoriais. Como a maioria dos escritores de sua geração, P.B. empregou a convenção que adota o género masculino (por exemplo ele, dele, homem) para referir-se tanto a homens quanto a mulheres. Como sua vida e seus ensinamentos deixam claro que P.B. nunca encarou o sexo como fator determinante de superioridade ou inferioridade — e como há muitos casos em que P.B. usa "ele" e "dele" como referências a si mesmo na terceira pessoa — decidimos deixar intacta sua convenção literária em vez de introduzir revisões editoriais. Deve-se observar também que P.B. tinha uma boa noção de várias línguas, mantendo correspondência com muitas pessoas no mundo inteiro. Traduções em "The Notebooks" que divirjam de outras versões de materiais publicados extraídos de fontes não-inglesas podem ser atribuídas ao próprio P . B . ou a seu trabalho com correspondentes. Por fim, recomenda-se ao leitor examinar melhor aquilo que à primeira vista pode parecer repetição desnecessária de certos temas em algumas seções deste volume. Um exame mais aprofundado de cada parágrafo trará à luz importantes matizes do pensamento de P.B., matizes que teriam sido omitidos se todas as repetições fossem eliminadas. Neste volume, nossa meta foi apresentar as principais ideias contidas na categoria número um. Para isso, até mesmo alguns parágrafos de Ideias em Perspectiva foram incluídos aqui, e estão indicados por um ( P ) . cm 1 9 9 a 10

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l a m e n t o com o título Ideias em Perspectiva,

As outras convenções editoriais são iguais às mencionadas na introdução a Ideias em Perspectiva. Somos profundamente gratos aos muitos amigos do Wisdom's Goldenrod Center for Philosophic Studies pela ampla assistência e pelo apoio moral que impeliu este projeto com constância em direção à sua conclusão, e aos muitos leitores entusiastas de P . B . , disseminados pelo mundo, que com seu caloroso acolhimento a estes cadernos fazem deste trabalho uma genuína celebração de interesse compartilhado e apreço mútuo.

A BUSCA

Uma carta de P.B a PM. (1) M o é a tirania do ego que deve, acima de tudo, ser removida — embora esta seja uma parte necessária do Grande Trabalho — nem é para se arrancar o ego pela raiz e matá-lo para sempre — embora o velho eu precise render-se à nova pessoa na qual tem que se transformar. Não — que ele viva e cumpra seu trabalho cotidiano, mas somente como um ser purificado, como um caráter enobrecido ou mente aquietada, como um homem iluminado — em suma, um novo ego representando o que há de melhor na criatura humana. Ele ainda será um "eu", mas um "eu" em harmonia com o Eu Superior — um termo que deve ser mantido e não descartado. Portanto, não ataque o ego em seus escritos, como tantos fazem, mas eleve-o à mais alta possibilidade. (2) O número de instrutores aumenta diariamente, e eles pedem a outras pessoas que os sigam. Os ensinamentos se multiplicam e os livros sobre eles também. Não se preocupe com isso. Deixe que façam seu trabalho, extremamente necessário. Mas você precisa entrar numritmonovo e diferente, e dizer a todos que queiram ouvir, que não precisam scntir-se desamparados, perdidos ou sem esperança por não encontrarem ninguém que fale a seus corações ou a suas mentes. A eles pede-se apenas que sigam o Deus dentro de si mesmos, pois "o Reino dos Céus está dentro de você". P.B. — transmita esta mensagem com todo respeito e honra aos instrutores de hoje e do passado. É preciso lembrar àqueles que se sentem sozinhos nessa área ou que só conseguem caminhar longe dos grupos num caminho independente, que existe um Deus dentro deles, que pode guiá-los e ajudá-los, caso se voltem para Ele.

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O QUE É A

BUSCA

A Busca não apenas começa no coração, mas também nele termina.

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2 É um esforço para elevar a um plano superior e para expandir a uma medida maior o todo da identidade do homem. Faz surgir a parte mais importante dele mesmo — ser, essência, Consciência.

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"Homem, conhece-te a ti mesmo!" Há toda uma filosofia condensada nessa única e simples afirmação. 4 ' Entre o homem comum, que se aceita como é, e o filósofo, que faz exatamente a mesma coisa, está Aquele Que Busca. No primeiro caso, a perspectiva é estreita, limitada a suprir as necessidades e exigências inevitáveis do dia-a-dia. No outro caso, a paz da mente foi conquistada, a sede de conhecimento saciada, a auto-disciplina atingida. Situado entre esses dois, Aquele Que Busca não está satisfeito consigo mesmo, tem um forte desejo de se tornar um homem melhor e mais iluminado. Procura exercitar a vontade na luta pela realização de seu ideal v

5 'A Busca eleva a consciência humana verticalmente e amplia a experiência humana espiritualmente. / 6 Se o Ser Infinito está tentando expressar sua própria natureza dentro das limitações desta terra — tentando, portanto, expressar-se também através de nós — é nosso dever supremo procurar e cultivar nossos mais divinos atributos. É sd assim que nos realizamos verdadeiramente. Essa procura e esse aperfeiçoamento constituem a Busca.

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Ela oferece uma concepção de vida que se origina num nível superior. 8 A Busca é, ao mesmo tempo, uma procura da verdade e uma dedicação ao Ba Superior. \ 14

Por "Busca" compreendo a deliberada e consciente dedicação à procura da verdade, liberdade ou percepção espirituais.

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O significado interno da vida não se revela prontamente: tem de ser procurado. Essa procura é a Busca. 11 Quando o homem começa a procurar sua verdadeira natureza, a descobrir a realidade de seu verdadeiro ser, ele começa a seguir a Busca. 12 E um chamado para os que querem alimento interior de fontes reais, e não de fontes fantasiosas ou imaginárias. Afasta-os de coisas, aparências, exibições e exterioridades, conduzindo-os ao ser interno, à realidade. 13 Depois dessas considerações, somos levados a perguntar o que constitui a realidade por detrás do universo. Esta é uma busca que nos faz enveredar pela religião, pelo misticismo, pela filosofia e pelos grandes mistérios da vida/uma busca que confirma no final aquelas célebres palavras de Francis Bacon: "Pensar um pouco pode fazer a mente inclinar-se ao ateísmo, mas o estudo maior traz a mente d e j volta a Deus." 14 A busca que apresentamos é nada menos que uma busca pelo conhecimento pleno e uma procura pela consciência desse Eu Universal, um vasto empreendimento com o qual todos os homens estão comprometidos, estejam ou não conscientes disso. Para o homem que pensa, as grandes questões centrais da vida são: Que sou eu? Qual a minha verdadeira relação com o que me cerca e como devo lidar com isso? Que é Deus e posso estabelecer alguma ligação com Deus? 16 Todo enigma que fascina inúmeras pessoas e as induz a procurar a solução — seja ele matemático e profundo ou comum e simples — é um eco, num nível inferior, do Enigma Supremo que sempre acompanha o homem e exige uma resposta: que é ele, de onde veio e para onde vai? O que busca coloca o problema em sua mente consciente e ali o mantém. 17 É uma busca para construir uma vida de melhor qualidade, tanto dentro do eu quanto fora, nos pensamentos que circulam no cérebro, no corpo que sustenta esse cérebro e no ambiente onde esse corpo se move. 18 É um toque de clarim para que o homem busque seu verdadeiro eu, uma voz que lhe pergunta: "Já encontrou sua alma?" 16

A busca é, simplesmente, a tentativa de alguns poucos pioneiros de se tornarem conscientes de seu eu espiritual, assim como todos os homens são conscientes de seu eu físico. 20 É uma busca para se tornar consciente da Consciência, para explorar o " E u " e penetrar o mistério de sua capacidade cognitiva. 21 O caminho secreto é uma tentativa de estabelecer uma relação perfeita e consciente entre a mente humana e aquela divindade que é a sua fonte. 22 Quando um homem passa das motivações direcionadas ao eu, próprias da maioria, para as aspirações direcionadas ao Eu Superior, próprias da Busca, ele passa à cooperação consciente com a Idéia-do-Mundo Divina. 23 E , de outro ponto de vista, uma busca de seu próprio centro. 24 E o desvelar do ser interno do indivíduo. 25 ^A própria ideia de uma busca implica uma passagem, um movimento definido de um lugar a outro. Aqui, naturalmente, a passagem é de um estado a outro. É uma jornada sagrada, de modo que o que nela está engajado é verdadeiramente um peregrino. E , como em muitas jornadas, pode-se encontrar dificuldades, fadigas, obstáculos, atrasos e tentações no caminho. E nesta, certamente, haverá também perigos, armadilhas, antagonismos e inimizades. A intuição e a razão, do indivíduo, seus livros e amigos, sua experiência e seriedade serão seu guia nesse caminho. E há outra característica especial a ser observada. E uma jornada de volta para casa. O Pai está esperando por seu filho. O pai o receberá, o alimentará e o abençoará.. 26 É um movimento do exterior para o interior, mas que se realiza apenas com muito trabalho, através de muito desalento e depois de muito tempo. 27 O aspirante entra na Busca do reino celestial desde o primeiro instante em que se dispõe a abrir mão do ego. Não importa que isso leve a vida inteira, que o êxito só seja obtido em alguma encarnação futura. A partir desse primeiro momento ele se torna um discípulo do Eu Superior e um candidato ao reino do céu. 28 É uma brava luta pela liberdade, uma nobre recusa em ser fantoche do ego ou vítima do eu-animal, uma admirável resolução de obter força a partir da fraqueza. 29 Como pode ele livrar-se de suas fraquezas? Como pode libertar-se de seu pseudo-eu e deixar que seu verdadeiro eu se revele? Como parar de negar e começar a

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afirmar seus melhores valores? A busca, com suas disciplinas práticas e exercícios místicos, é parte da resposta. 30 É um modo de vida que exige dele a negação de seus prazeres mais caros e hábitos mais antigos. Por isso, é e tem de ser um modo de vida árduo. Mas chega a hora em que o indivíduo o avalia com sua percepção mais clara e o segue alegremente por sua própria e alegre escolha. 31 Muitos aspirantes acreditam erroneamente que a busca seja uma mudança de uma experiência psíquica a outra, de um êxtase místico a outro. Mas, na realidade, é uma mudança no caráter da animalidade à pureza, do egoísmo à impessoalidade. y

32 A Busca ensina ao homem a arte de morrer para os elementos animalescos e egoístas que há nele. Mas ela não pára nesses resultados negativos. Treina-o também na arte de se recriar à luz do ideal. 33 No sentido filosófico, chegar a essa Busca significa simplesmente chegar à maturidade humana.

39 Qual é o significado metafísico e oculto da Busca? É que o eu infinito do homem descobre que não pode alcançar uma auto-expressão adequada na vida imperfeita e finita do mundo. O ego pode esforçar-se quanto quiser, fazer quanto puder, mas a bem-aventurança, a sabedoria, a serenidade e a perfeição, que são z' atributos naturais do E u Superior, esquivam-se, no final, de todas as suas tentativas. Em última instância, não há outra alternativa senão desistir de agarrar o mundo externo — e retirar-se para dentro de si mesmo. Daí em diante se iniciará, bem no fundo do próprio ser, a jornada em direção à satisfação duradoura. Essa é a Busca, que leva à descoberta do E u Superior. 40 Deveríamos, talvez, ter especificado o sentido dessa palavra, pois muitos homens e mulheres estão comprometidos com a busca do alimento, a busca do prazer e assim por diante; só alguns poucos, no entanto, estão engajados na Busca Filosófica. 41 Alguns chegam à verdade por rodeios. A Busca é direta. 42 A Busca é governada por leis que lhe são próprias e inerentes, algumas fáceis de averiguar, mas outras misteriosamente obscuras. 43 É uma procura de sentido no fluxo sem sentido dos eventos. É uma reação ao impulso de procurar, além do espetáculo transitório da vida terrena, algum sinal, valor ou estado de espírito que possa dar esperança, oferecer justificativa, levar ao insight.

34 Quem não prefere a alegria à tristeza? O instinto é universal. Há uma base metafísica para ele. Os seres individuais derivam sua existência de um Ser universal, cuja natureza é continuamente bem-aventurada. Isso se reflete, de maneira breve e ténue, na satisfação dos desejos terrenos. A busca da realização espiritual é, na verdade, a procura de uma participação mais plena na Paz Divina, o verdadeiro céu que nos aguarda no final, seja na liberdade da chamada morte ou dentro dos limites da carne, j

44 Essa busca da alma não tem época. A espécie humana nunca passou sem ela. nem poderia passar.

35 O homem mundano procura deleitar-se. Não pense que o homem verdadeiramente espiritual não procura também deleitar-se. A diferença é que o faz de um modo melhor, de um modo mais sábio.

45 Ela não é uma coisa nova na experiência humana, mas, ao contrário, uma das mais antigas. Sua longa história, em muitos países, proporciona uma leitura impressionante.

36 Aqui está uma meta, para homens e mulheres, que pode trazer-lhes a realização de seus melhores propósitos, a felicidade de serem libertados de seus grilhões interiores, e a calma que provém do conhecimento de sua própria alma,

46 É, ao mesmo tempo, um método, um ensinamento e um ideal para os que procuram uma autêntica vida interior do espírito.

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37 A Busca é uma verdadeira reeducação do eu, levando, por sua vez, a uma nobre transcendência do eu. j|f 38 ' f ^ 'O que é a busca senão um processo de reeducação moral e autoconquista mental, uma profunda investigação e superação dos defeitos que impedem a Luz de entrar na mente?

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% 286 Primeiro, no início do Caminho Longo, e depois, no início do Caminho Breve, um mestre, um guia espiritual, é realmente necessário. Mas, fora essas duas ocasiões, é melhor que o aspirante caminhe sozinho. 287 O próprio instrutor tem que recorrer a essa fonte interior para esclarecer-se. Por que não recorrer, você mesmo, diretamente a ela?

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288 Pode ser mais lento, mas será muito mais seguro, em vista das condições atuais. ensinar a si mesmo e libertar-se a si mesmo. * 289 Descobrir a verdade pouco a pouco, por si mesmo, é fazê-la realmente sua. Ser empurrado nela de um salto, por um mestre, pressupõe sempre a probabilidade de um retorno, mais tarde, ao seu nível original. • 1

290 Devemos encontrar o Eu Superior por nossas próprias percepções, ou seja. por nossos próprios olhos ou nunca. Não é suficiente acreditar que podemos enxergá-lo pelos olhos de outro homem — seja ele um santo guru ou não. 137

O que busca deve extrair essas coisas por si mesmo, do interior de si mesmo: ler sobre elas não é suficiente, ouvir as palavras de um guru ou palestras sobre elas não é suficiente. 292 É necessário algo mais do que os livros ou os gurus podem dar-lhe. Isso só pode ser encontrado em seu interior. A coragem necessária a esse ponto de vista também deve, e pode, ser encontrada em seu interior. 293 Ele pode ficar um pouco desconfiado de todas essas ofertas e garantias de salvação oferecidas por um guru. É difícil perceber como isso pode ser feito sem contrariar o propósito da Natureza de desenvolver-nos totalmente, de todos os lados. Somos roubados de valores importantes, implícitos ao auto-esforço, se nos é conferida a absolvição desse esforço. 294 O aspirante que não se ilude com frases bonitas e que sabe quando pode esperar por detrás delas interesse pessoal, saberá também quando a ênfase na necessidade de um mestre é exagerada de maneira astuciosa ou emocional. 295 Serei o mais respeitoso dos homens diante de um ensinamento e na presença de um homem verdadeiramente iluminado. Mas resistirei teimosamente e manterei firme minha posição quando me pedirem para renunciar à minha liberdade intelectual e para tornar-me discípulo cativo, não mais aberto ao ensinamento e à influência de outros homens. 296 Ele tem que se desligar — ou permitir que um livro ou um instrutor o leve a desligar-se — de ideias falsas, de ilusóes convencionais ou de liderança cega.

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297 Não há contradição entre num momento aconselhar os aspirantes a procurar um mestre e seguir o caminho do discipulado, e noutro momento aconselhá-los a procurar dentro de si mesmos e seguir o caminho da autoconfiança. Os dois conselhos podem ser facilmente conciliados. Porque, se o aspirante aceitar o primeiro, o mestre gradualmente o levará a ser cada vez mais autoconfiante. Se aceitar o segundo, seu Eu Superior o levará a um mestre. 298 Quando o desejo por um guru se torna excessivo, imoderado, isso é sinal de fraqueza, uma tentativa de escapar da própria responsabilidade e de colocá-la sobre os ombros de outra pessoa, uma manifestação de complexo de inferioridade, como a que estamos acostumados a ver em raças há muito tempo escravizadas por outras. 299 Embora seja verdade que ele tenha de encontrar seu próprio caminho para a meta. ele não precisa fazer isso como se existisse sozinho neste planeta! Pode ser ajudado haurindo criativamente da experiência adquirida por outros, mesmo enquanto a avalia criticamente. 138

300 Gautama experimentou um instrutor após outro e abandonou-os depois de algum tempo por achar suas doutrinas deficientes e suas práticas imperfeitas. Se não tivesse tido coragem para isso, o mundo não teria tido seu Buda. Nem mesmo Sri Krishna pediu que Arjuna o seguisse cegamente, mas tentou dissipar suas dúvidas por meio de discussões, tanto que só no fim do Gita ouvimos Arjuna dizer "Minhas dúvidas acabaram." 301 Eles correm de um lado para outro, de um instrutor ou ensinamento a um instrutor ou ensinamento diferente, da América e Europa para a índia, para o Japão, para a Indonésia, procurando, longe de seu próprio ser, aquilo que é a essência desse ser. São como o homem que procurava seus óculos por toda parte. No fim, desistiu de procurá-los para descobrir que estavam sobre seu nariz. Mas sua atenção tinha que ser atraída primeiro para o nariz, por alguém — ou pelo livro de alguém — que enxergasse os óculos lá. Essas pessoas que buscam não têm, com um ente, consciência daquilo que está sempre presente dentro de si mesmas, na quietude do centro de seu ser, e em vez de procurar aí, procuram em outros lugares ou em outros homens. O verdadeiro serviço prestado a elas por esses outros é dizer-lhes onde procurar, o resto cabe-lhes fazer. Mas os preguiçosos, ou aqueles que querem algo em troca de nada, esperam ou querem que os gurus façam tudo por eles — o que é uma ideia falsa. O outro grande erro dessas mentes confusas é buscar na Ásia o que a Ásia está agora rejeitando. Os melhores asiáticos não estão rejeitando sua espiritualidade, mas sua ignorância, superstição, desequilíbrio, inutilidade, estreiteza e excesso de conservadorismo. O ocidental que adora o passado da Ásia quer copiá-lo, imaginando-o como uma idade de ouro (o que nunca foi). Tenta restaurá-lo para si mesmo e em si mesmo, transformando-se em macaco e papagaio. 302 Se alguns chegaram a essa iluminação seguindo como escravos os detalhes de um ensinamento específico, outros chegaram a ela sem seguir ensinamento algum. 303 Não é incomum, entre inexperientes iniciantes da Busca, que ignoram as consequências sérias e muitas vezes danosas dessas associações, procurarem pessoas indignas de confiança, que se denominam instrutoras de ocultismo. Na maior parte dos casos seria mais seguro, e por fim mais satisfatório, dependerem apenas de seus próprios esforços que seguirem método tão perigoso. 304 A representação do relacionamento mestre-discípulo, com o papel subordinado e submisso designado ao aspirante, é muito melhor quando ocorre em seu interior do que quando é objetivada fora. Então, o ego inferior terá que desempenhar esse papel. 305 É só quando começa a descobrir seu próprio caminho para a realidade interior e a sentir seu apoio, só quando diminui sua dependência em relação a outro ser 139

humano (chame-o de guru ou como preferir), que se pode dizer que ele é um discípulo do próprio Espírito Santo — não o discípulo de algum homem em particular. 306 ^ Perder seu próprio ego no de outra pessoa não é conquistá-lo. E apesar de isso ser claro o bastante em casos comuns, não é tão claro quando se trata de perdê-lo na pessoa de um guru, na total submissão a ele. Mas a direção é, ainda assim, externa, ainda o leva para longe do deus que está em seu interior. Ele troca um tipo de dependência por outro—mas ambos compartilham dessa limitação de estarem fora dele. Então, por que esse caminho foi tão prescrito nos sistemas espirituais indianos? Porque é útil para os iniciantes: é um passo à frente, em direção à separação de sua própria vontade, substituindo-a por outra, pelo menos melhor. Mas, para o homem mais desenvolvido, não existe outra maneira além de voltar-se para dentro e depender da Luz e do Poder que estão ali e que, com suficiente paciência, serão encontrados. 307 Todos nós devemos ficar felizes à menção dos nomes de certos guias espirituais contemporâneos — os que já deixaram o corpo, como Mary Baker Eddy e Sri Ramana Maharshi, ou os que ainda estão entre nós. A cultura humana foi enobrecida e enriquecida por aquilo que essas pessoas lhe deram. A existência humana é melhor por elas terem existido. Não apenas seus seguidores imediatos, mas nós também ganhamos com sua presença ou seu trabalho. Cada uma nos deu sua dádiva peculiar, à sua maneira individual. Dito isso, é necessário acrescentar que todos devemos seguir o que há de verdadeiro nos ensinamentos desses líderes espirituais, assim como devemos imitar o que há de bom em sua conduta, mas não devemos fazer isso sem senso crítico. Essas pessoas ainda são humanas e, portanto, podem falhar. Não devemos segui-las em seus erros ou imitá-las em seus julgamentos equivocados. 308 Só a arrogância rejeita a experiência de outro homem, mas só a fraqueza apóia-se unicamente nessa experiência. A atitude mais sábia usa-a com discernimento. 309 Como o aspirante comum encontra seu ensinamento específico? Ele raramente faz, ou tem tempo para fazer, uma investigação completa de todos os ensinamentos disponíveis. E , mesmo que o fizesse, seu julgamento pode ser muito deficiente ou inexperiente para ser confiável. Assim, a base sobre a qual seleciona o ensinamento é a reação emocional que desperta, ou seja, o grau em que ele, pessoalmente, gosta ou desgosta do ensinamento. Ou ele segue um instrutor que publica muitos livros e artigos, que é acessível e muito comentado, ou algum outro que faz sua própria propaganda, muitas vezes exagerada. Essa é uma base insuficiente para uma seleção adequada, e imensamente inferior à análise cuidadosa de dados suficientes, feita por um julgamento frio e imparcial. Se o aspirante fizer algum progresso, isso se deverá na verdade a seus próprios méritos, que o tornam capaz de progredir de qualquer forma, seja qual for o método que adotou. Mas, o crédito vai para o instrutor ou para o método, ainda que não o mereçam! 140

O fato de se apoiar apenas em um homem pode vir a dominar a mente, a ponto de os poderes criativos e o discernimento dessa mente serem totalmente suprimidos. 311 Se você depende de um instrutor externo, você depende de algo que pode ter que abandonar amanhã ou de alguém que pode ter que substituir depois de amanhã. 312 Tudo o que dissemos não sugere, absolutamente, que cada um deva adquirir cada item de seu conhecimento espiritual por meio de sua própria experiência, ignorando a experiência da espécie inteira. Pelo contrário, sugerimos enfaticamente que se beneficie dessa experiência por meio da forma que ela tomou na extensa literatura em todo o mundo. 313 Resumindo: é sempre útil ter um orientador espiritual competente, mas, infelizmente, o problema de onde encontrar um homem assim parece insuperável. Se um aspirante tem sorte o bastante para revolvê-lo sem se tornar vítima da própria imaginação, ele tem, de fato, muita sorte. Se não, que explore seus recursos interiores. Que recorra à alma divina em seu interior para obter o que precisa. 314 Ã As duas escolas de pensamento — uma diz que a conquista espiritual depende do auto-esforço e a outra diz que ela depende totalmente da Graça de Deus — não entram, realmente, em conflito, se suas alegações são correta e imparcialmente compreendidas. Quando um homem inicia sua busca espiritual, é unicamente por seu próprio esforço que faz os primeiro progressos. Chega a hora. no entanto, em que esse progresso parece parar, em que ele parece estagnar. Ele chegou ao final de um estágio que era, na verdade, preparatório. A estagnação indica que o caminho do auto-esforço não é mais suficiente e que ele deve começar a confiai na Graça Isso ocorre porque, no primeiro estágio, o Ego era o agente de todas as suas atividades espirituais, na medida em que fornecia os motivos que o impeliam a essas atividades. Mas o Ego nunca pode ser realmente sincero ao desejar sua própria destruição, nem pode extrair de seus próprios recursos o poder de erguer-se acima de si mesmo. Ele precisa então atingir esse ponto em que interrompe o auto-esforço, submete-se ao poder superior que pode ser chamado de Deus ou de Eu Superior, e passa a depender desse poder para continuar a progredir. Mas como o aspirante vive em forma humana, o poder superior pode atingi-lo melhor se descobrir uma saída que tem também forma humana. Assim, concede a ele sua graça, em parte como recompensa e em parte como consequência de seus próprios esforços preparatórios, levando-o para essa saída, que é um Mestre ou um Guia em carne e osso. Nenhum homem é totalmente salvo apenas por seu próprio esforço, e nenhum Mestre pode salvá-lo se ele não se esforçar. Assim, as afirmações das duas escolas são correras, se introduzidas no estágio adequado. 141

Solidão 315 Há atual mente, como sempre houve, um pequeno lugar para o individualista espiritual, o homem que não pode trair-se e negar a verdade para permanecer pacificamente em grupos organizados ou instituições estabelecidas da sociedade. O clima 6 hostil para ele. Ele precisa continuar sendo um pensador solitário, um autoexilado, pagando um preço mas recebendo o que vale seu dinheiro. 316 A mente independente que não deseja comprometer-se com nenhum credo, grupo ou culto deve aceitar sua solidão como preço de sua independência. 317 Pode-se observar, sem reprovação e sem antagonismo, sem surpresa e sem arrogância, o fato de que os homens são vítimas das instituições que eles mesmos criaram e mantiveram. O indivíduo que se recusa a perder-se na hipnotizada submissão ao falso prestígio dessas instituições deve seguir sozinho num território árido e vazio, deve colocar-se à parte do mundo à sua volta. 318 Ele entrou num estado de ser em que poucos homens serão capazes de segui-lo. A falta de compreensão deles será a barreira. 319 Ele descobrirá que poucos de sua espécie estão estáveis neste mundo, uma descoberta que pode encarar com desapontamento ou com resignação. 320 . O homem que está percorrendo a trilha interior logo descobre e sente a solidão desse caminho. He pode tentar livrar-se do sentimento fazendo parte de um grupo, mas isso só é capaz de dar-lhe uma liberação parcial e temporária. Contudo, essa solidão não precisa ser motivo de sofrimento. Pelo contrário, o homem pode vir a gostar dela. 321 O sentimento de estar isolado, a sensação de percorrer um caminho solitário, é verdadeiro exteriormente mas não é verdadeiro interiormente. Porque ele está acompanhado pelo amor suave e sempre atraente do Eu Superior. Ele precisa apenas procurar em seu interior suficientemente para saber disso por si mesmo e com absoluta certeza.

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• Devido à própria infinitude da alma, suas expressões na arte e na cultura, suas manifestações na sociedade e na indústria serão sempre infinitamente variadas. Se achamos que atualmente ocorre o contrário, é porque perdemos a inspiração da alma e privam o-nos do direito espiritual inato. A uniformidade monótona de nossas cidades, a mesmice nada criativa de nossa sociedade, as opiniões produzidas em massa de nossa cultura e os produtos estandardizados de nossas mentalidades imobilizadas revelam claramente uma coisa — nossa limitante pobreza interior. O homem que possui uma centelha de individualidade deve, atualmente, ignorar a regra do conformismo e seguir seu próprio caminho em solidão apavorante em meio a essa falta de criatividade, essa escassez de aspiração. | 325 No final ele precita, interiormente, caminhar sozinho por mais que seja amado — pois Deus não permite que ninguém escape de pagar esse preço. 326 À medida que escala em direção ao ideal, ele percebe que está cada vez mais distante de seus companheiros, que se juntam em rebanho nas planícies abaixo. Aquilo que o atrai também o isola dos outros. 327 Ele pode vagar pelo antros inferiores da vida, buscando as figuras sorridentes da Sorte e do Amor. Pode, também, ir para moradas superiores, onde habitam pessoas melhores. Em ambos os locais encontrará ilusão e frustração. Por isso. ele pára de vagar e senta-se, silenciosamente, perto de um fogo solitário. Percebe, então, aquilo de que sempre suspeitou vagamente. 328 Emerson (numa carta a um jovem aspirante): "Uma alma verdadeira nega-se ser movida, a não ser por aquilo que originalmente a comanda, mesmo que. e solitária, procure seu mestre por mil anos... desejo a você a melhor das naquela luta a que toda alma deve ir sozinha." w

329 . Se é para realmente chegar à verdade, de terá de aprender como ficar cm pé sozinho com firmeza, como viver no interior de si mesmo, como ficar satisfeito com seu propósito interior e com sua própria companhia.

322 Quanto mais alto o pico que se escala, mais solitária torna-se a trilha. Há aqui um paradoxo, pois a solidão existe fora do corpo e não dentro do coração, e quanto mais cresce fora, menos é sentida dentro.

330 A partir do momento em que embarca nessa busca ele se separa — sutil e interno — de sua família, de sua nação e de sus espécie.

323 Ele deve percorrer a busca sozinho. Apesar de isso implicar um caminho solitário e destituído de credos para que a Palavra seja dita, o Toque venha, o Lampejo seja visto e o Sentimento da presença penetre a consciência, a revelação da graça é a sagrada compensação.

331 Ele deve estar preparado para aceitar uma solidão apavorante se deseja percorrer esse caminho. Mas a solidão se restringirá a seu noviciado. Porque uma nova presença irá. lenta e silenciosamente, penetrar sua vida interior durante o estágio avançado.

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um ponto em que nenhum aspirante pode submeter seus ideais à compulsão da sociedade materialista, em que não pode mais chegar a um acordo com ela. Esse ponto lhe será vivamente indicado por sua própria consciência. É então que, por seu próprio livre-arbítrio, deve aceitar o cálice do sofrimento. • 333 O discípulo não deve esquivar-se do isolamento de sua posição interior, não deve ressentir-se da solidão de seu caminho espiritual. Deve aceitar o que está na própria natureza daquilo que está tentando fazer. 334 •* A solidão que ele sente deve ser aceita. Só então, quando a aceita e habita calmamente nela, é que, em troca, o grande poder do Santo aparece e passa a habitar nele. 335 É mais agradável para o homem sentir-se um com a multidão, e mais desconfortável sentir-se em desacordo com ela. Mas o que busca e que ouviu o chamado da verdade não tem outra escolha senão aceitar essa solidão intelectual e esse desconforto emocional para não se deparar com o que, para ele, é o destino pior violar sua integridade espiritual.

Benefícios para os iniciantes

336 O remédio para a solidão é a companhia; mas se não existe afinidade nessa companhia, então é apenas um remédio charlatanesco. Essa receita vale para todos, até mesmo para o sábio, pois ele encontra sua companhia na autopresença do E u Superior.

2 A utilidade das organizações torna-as uma necessidade. A designação de homens para administrar essas organizações é inevitável.

337 *A tentativa de percorrer um caminho solitário pode levá-lo a perguntar-se, às vezes, se está ou não cometendo um erro. É necessário mais que a teimosia comum para permanecer numa minoria de um ou dois. Ele certamente precisará, às vezes, ter te dos outros alguma renovação da sua confiança, algo que alegremente acolherá. 338 EIe deve estar disposto a ficar sozinho, mesmo que isso não se revele necessário. "Não existe na busca algo de não-natural?" Essa é uma pergunta que se faz às vezes. A resposta depende, é claro, de uma definição de termos. A multidão dos que não buscam não vive, certamente, próxima da Natureza. O que se quer realmente dizer com essa pergunta é que a busca parece afastar o homem do rebanho, erguê-lo acima da média, torná-lo diferente dos outros à sua volta. Suas metas não estão de acordo com os desejos e instintos humanos comuns. 340 « Há apenas uma solidão real: sentir-se desconectado do poder superior. (P)

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Deve ele ingressar numa organização, numa comunidade de estudantes ou num grupo de pessoas que fazem a Busca? Alguns são prejudicados por esse passo, outros sentem-se ajudados; todos, no final, terão que voltar-se para si mesmos, terão que olhar para dentro em vez de para fora.

3 Na organização da sociedade humana, é necessário um lugar para as instituições humanas. 4 Na juventude, o que busca pode experimentar algum tipo de instituição de caráter místico ou religioso e depois mudar para outro, se o primeiro não preencher suas expectativas. Dessa maneira, pode experimentar diferentes credos e diferentes formas de prática. Isso pode ser útil na medida em que o expõe às influências que são necessárias para se equilibrarem mutuamente. Mas, se ele se exceder, pode ser desnorteante. 5 Quase todas as formas tradicionais, ou as organizações mais novas que oferecem algum tipo de ensinamento espiritual, são úteis, no início, para a maior parte das pessoas. Mas isso não quer dizer que sempre serão úteis. Elas têm suas Imitações e, em certo estágio, podem impedir o progresso. 6 Mas, vs que conseguem manter-se sozinhos são sempre em menor número: a maior parte das pessoas admite francamente que não o consegue, principalmente as mais jovens e as mais velhas. Essa é a razão da necessidade de organizações, grupos, igrejas e irmandades. Oferecem aquilo que parece ser um apoio firme na vida e estável na doutrina, um apoio mais nobre, mais santo, mais sábio e superior ao que a pessoa comum encontra em si mesma. É por isso que a filosofia atrai a poucos: 145

os que são - - ou podem ser treinados para ser — fortes o bastante para percorrer um caminho solitário. * I 7 Nunca me esqueci do que me foi dito, em algum lugar da índia, por um jovem que tinha acabado de ingressar na Sociedade de Amigos e que tinha sido enviado a um país tropical assolado pela fome, num projeto assistencial quaker. "Se você reconhece todas essas dúvidas e questões, e se sente que está na busca, por que então se torna membro de uma seita, reconhecidamente uma das melhores e mais nobres de todas, mas ainda assim uma seita com todas as limitações que lhe são próprias?", perguntei a ele. E l e pensou por um tempo, quebrando depois o longo silêncio para replicar: "Admito e compreendo perfeitamente o que diz sobre as limitações sectárias. Mas percebo minha juventude, minha inexperiência e minha fraqueza. Na minha idade, 6 necessário algum amparo de fora, de algum grupo que me dê, não simplesmente amizade, mas também um sentimento de solidez e estabilidade, algo em que me apoiar, em suma.'* O que ele disse ensinou-me uma lição e fez-me compreender que o amor pela independência que assegura uma busca livre e o desejo de autoconfiança não pertence a todos, e que outros, certamente a maioria das pessoas, têm outras necessidades, preferem outros caminhos, para os quais também há espaço na vida humana. 8 A despeito dessas críticas, ele percebe também que a vida na organização foi útil a seus primeiros esforços e guiou seus primeiros passos. E l e sabe que há lugar para isso, mas sabe também que esse lugar é preliminar. Se o que busca deve, no final, fazer seu trabalho por si mesmo, isso não descarta a necessidade de uma instituição para ajudá-lo a fazer o trabalho preparatório. Portanto, até mesmo o místico avançado, que não precisa dos serviços de uma instituição, não pode, em princípio, ser hostil a ela. Admite prontamente sua necessidade, negando apenas sua suficiência total. 9 Esses grupos liderados por um guru podem ser bem úteis para um iniciante que está tropeçando no escuro. Mas seria tolice ingressar num desses grupos sem conhecer suas limitações e perigos. 10 Há várias razões, boas e compreensíveis, para os seguidores religiosos começarem a organizar — espontaneamente quando não são liderados, ou obedientemente quando aparece um líder. Juntar-se a um grupo compacto proporciona-lhes alguma proteção, oferece-lhes um modo de expressão, e o ensinamento um modo de preservação. 11 A força de um grupo como esse deve estar em sua qualidade e não em seus números. Deve ser o resultado, não de atividades de propaganda, mas da associação espontânea de pessoas que pensam da mesma forma. 12 É verdade que existem muitos excêntricos entre os adeptos de uma religião, mas existem também entre eles muitas pessoas sérias, sensíveis e bem-educadas. 146

13 A associação de um grupo, seja ele uma religião largamente difundida ou uma seita menor, dá a cada membro a sensação de estar certo em sua crença comum; cada um deles apoia os outros. Mas isso pode começar a enfraquecer quando um evento drástico e inesperado revela-se difícil de suportar. 14 Não há nada errado com a ideia de grupo, quando seus membros encontram-se por confraternidade. 15 Quando ele ingressa numa ordem monástica, tem geralmente que fazer um voto de praticar certos controles e renúncias. Isso ocorre também, em grau menor, quando se ingressa em certos grupos e círculos, no mundo fora dessas ordens. O valor do voto é estabelecer um padrão a ser seguido, um trajeto a ser percorrido e uma meta a ser alcançada. O indivíduo pode fugir ao padrão, desviar-se do trajeto e não alcançar a meta, mas a existência dessas coisas ajuda-o a aproximar-se do objetivo do voto. Por outro lado, o leigo que não está interessado em votos, mas que simplesmente resolve melhorar a si mesmo, não tem esse estímulo. Não há nada, além da força interior de seu próprio ideal, que o impeça de abandonar os rigores auto-impostos de sua disciplina. Ele depende da energia que terá que extrair de algum lugar no interior de si mesmo. O ponto fraco de se comprometer a um regime auto-imposto é que pode negligenciá-lo a qualquer momento, e quando se rende a essa inclinação o controle fica cada vez mais fraco e menor. 16 Seja qual for a igreja, organização ou culto a que se afilia, o homem deve sempre reservar-se a liberdade de sair e ir a outra parte ou de abandonar a procura em organizações externas para procurar em seu interior. 17 Mas há lugar para a coesão de um grupo, para o trabalho de equipe em uma organização, e para a disciplina imposta aos indivíduos por uma igreja — tudo isso é necessário.

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18 % Qualquer instituição destinada à preparação para a vida do Espírito sempre deixará de fora o Espírito. Ele não pode ser encontrado por meio de procedimentos formais nem por meio do trabalho de um grupo organizado. E tudo o que essa preparação pode fazer é abrir um caminho pelo qual Ele possa passar, coso já esteja vindo ou disposto a vir. 19 A necessidade de identificar-se com um grupo organizado, com uma religião estabelecida, com uma seita singular, ou, na verdade, com qualquer causa é, basicamente, a necessidade de identificar-se com o Deus interior. O indivíduo quer. inconscientemente, pertencer a algo maior que seu pequeno ego. Essa afiliação ajuda-o a chegar a isso porque afasta o sentido de separação e o sentimento de solidão Mas isso ocorre apenas no nível superficial. Com o correr do tempo, ele percebe que é necessário procurar satisfação num nível mais profundo. Porque o grupo, a 147

igreja ou a instituição estão fora dele e podem dá-la apenas de forma parcial, temporária ou impura. Um resultado mais completo e mais duradouro é possível apenas quando se volta para olhar no interior de seu próprio ser. Porque ali, na presença oculta do Eu Espiritual, ele encontrará a Causa, a Fonte, o Mistério mais amplos, com que pode identificar-se perfeitamente. 20 Ao entrar para uma sociedade ou grupo, ele se junta, geralmente, àqueles que não são mais avançados que ele na capacidade de meditar. Há certas obstruções para o progresso que acompanham a afiliação a essas organizações. Se, no entanto, o valor social de conhecer outras pessoas interessadas em assuntos espirituais é maior que a necessidade imediata de progresso interior, então, naturalmente, a afiliação é útil. 21 Muitas vezes pedem-me conselhos sobre a formação de pequenos grupos de pessoas para estudar meus livros. Comumente, não há objeção a que algumas pessoas se encontrem para isso, pois podem ajudar-se mutuamente a responder questões. Mas é melhor não deixar que o grupo cresça em tamanho. Há vários motivos para restringir o estudo a um grupo pequeno, não deixando entrar todos os que o desejarem. A qualidade deve ser a única consideração para essa admissão; a quantidade acaba desintegrando o grupo. Que o esforço se limite ao estudo, esclarecimento de questões e conversa. A meditação em grupo não deve ser praticada por iniciantes quando não há entre eles um líder poderoso e inspirador para protegê-los. Há um momento certo e um momento errado para se guiar um grupo espiritual e dar-lhe assistência. O momento certo chega apenas pela competência. Antes disso, há a tarefa sempre presente do próprio auto-aperfeiçoamento do estudante. Isso está acima de tudo. 22 Só quando o devotamente do grupo progressivamente se amplia é que a boa vontade pode estender-se aos que estão fora de seus limites. 23 O desejo de pertencer a um grupo merece aprovação apenas relativa. Mas, se ele tem a certeza de que algo pode ser obtido pela associação com outras pessoas que buscam, e se consegue encontrar um grupo devotado exclusivamente à procura da mais alta Verdade, então isso pode ser bom para ele naquela fase específica de seu desenvolvimento. 24 Há necessidade de escola quando a forma de serviço proposta é dar iniciação prática à meditação a principiantes inexperientes, e orientação para o desenvolvimento de estudantes com experiência mediana. Isso pode ser muito bom. Um único encontro para meditação é geralmente suficiente: os indivíduos podem então trabalhar sozinhos esse contato, voltando periodicamente à escola para receberem instruções adicionais e mais avançadas. 25 Em vez de serem descobertas, as necessidades particulares e tendências específicas do aspirante individual serão ignoradas ou até mesmo suprimidas no esforço 148

de confrontá-lo ao sistema. Há nisso algo de bom e algo de mau. Dependerá da competência do instrutor, se ele tiver um, ou da atitude mental que assume diante do próprio sistema — adesão cega e servil ou uso inteligente e atento. 26 Ele não tem obrigação de ficar preso a um ashram ou grupo meramente porque ingressou nele uma vez. 27 Chega a hora em que o filósofo aspirante sente que não obterá benefícios reais de seus estudos nem fará qualquer progresso individual, a menos que entre no segundo estágio e comece a trabalhar em si mesmo. É então que perceberá, se não for muito tolo, que a maior parte desses grupos e cultos não tem mais utilidade para ele. 28 Devemos estar preparados, de antemão, para não esperar demais de instituições humanas, pela simples razão de que são compostas ou administradas por seres humanos e nem estes nem as instituições são perfeitos; qualquer alegação em contrário é um sonho cor-de-rosa, uma crença ingénua, e a pessoa que a sustenta é inexperiente. 29 Não estou criticando os que seguem esses caminhos ou defendem esses ensinamentos, nem me aventurando a julgar se estão certos ou errados. Pode-se admitir a necessidade ou utilidade de uma organização de grupo. Mas sinto que há igual necessidade de uma abordagem diferente, de independência em relação a todas as organizações de grupo; há espaço para o caminho que evita a "afiliação". Isso não deve ser mal compreendido. Há os que gostam do primeiro caminho e lerão que segui-lo. Há outros que preferem o segundo caminho. Estou entre estes. Ambos os caminhos são necessários, mas para pessoas diferentes. 30 Os que sentem o chamado de seu próprio caminho, escola ou culto, devem acatá-lo. É correto para eles. Mas não devem ser estreitos a ponto de proclamar ser esse o único caminho para Deus. 31

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Descobrir que seu caminho não está nesses cultos é uma boa compensação pelo tempo despendido em segui-los, apesar de a vida não ser longa o bastante para ser gasta em tais buscas negativas. 32 O iniciante que se aventura numa viagem por esses cultos na esperança é s encontrar um que lhe sirva aventura-se num campo perigoso, onde a loucura é muitas vezes confundida com iluminação e onde afirmações exageradas substituem fatos sólidos. 33 O desejo de poder sobre os outros, de autoridade, é uma forma de ambição pessoal que, no passado, misturou-se facilmente ao lampejo espiritual. Nasceu entlo uma nova seita, um novo movimento. Ao entrar em contato com ela. é mais seguro.

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para o que busca a verdade, aceitar alguns dos ensinamentos sem sacrificar sua liberdade, sem se juntar ao grupo. 3

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I Se um trabalho, instituição ou organização está centrado no E u Superior, ele não pode cair nas correntes negativas e egoístas que no passado poluíram, envenenaram e por vezes destruíram tantas tarefas e empreendimentos.

Problemas A pressão para transformar todas as pessoas em membros de organizações, para mantê-las juntas e afixar rótulos, é uma espécie de mania. Por que não deveria haver espaço para mentes desimpedidas, independentes, que preferem permanecer livres e não influenciadas, desvinculadas de qualquer grupo? 36 É comum, mas ilusório, acreditar que ingressando num grupo chegaremos mais rapidamente à verdade ou progrediremos com mais facilidade em direção à realidade espiritual. 37 Quando os homens atuam juntos numa organização política ou religiosa, geralmente atuam de maneira pior do que o fariam como indivíduos. 38 Por que o anseio com que tantos discípulos ingressam num ashram termina, tantas vezes, em deterioração de caráter, depois de terem vivido nele por algum tempo? A resposta está na ilusão fundamental que reside por detrás do pensamento que os atrai a essa vida. E a ilusão de terem obrigações para com outros discípulos. Sua verdadeira obrigação é unicamente para com seu mestre. 39 A desvantagem de aderir a um único sistema de crença ou de seguir os ensinamentos místicos, religiosos ou princípios higiénicos de uma única organização é que as sólidas verdades fornecidas são geralmente unilaterais; ignoram outras verdades igualmente sólidas e valiosas, mas que estão fora do âmbito do fundador do sistema ou do líder da organização. Essa negligência impede a conquista da verdade total sobre o assunto. 40 Há, na verdade, alguma percepção disso, se bem que bastante confusa. Aquilo que a aspiração ignorante aceita como necessidade de ingressar em algum grupo, é mais a consciência de seu desamparo espiritual do que da força espiritual do grupo. 41 Quase todos os grupos humanos, suas associações, sociedades e organizações padecem, em alguma ocasião, de problemas causados pelas fraquezas e deficiências humanas. Isso inclui divisões, ciúme, malícias, antipatias ou hostilidades pessoais. ISO

Tal ocorre tanto nos grupos idealistas e religiosos quanto nos grupos profissionais e que lidam com negócios. 42 Os que têm experiência de cultos e organizações sabem como, no final, são insatisfatórios. A transmissão da verdade de mente para mente sempre foi um assunto particular e não pode ser de outra forma, assim como é igualmente particular o treinamento em meditação. 43 O instrutor logo descobre que está diante de um novo problema: as incompatibilidades de temperamento entre os estudantes. Não conseguem estudar juntos sem entrar em desacordo e não conseguem trabalhar juntos sem entrar em conflito. Ofendem-se com muita facilidade e não percebem que o instrutor tem deveres também para com outros estudantes além deles. Não podem nem mesmo descobrir que o instrutor enviou mais cartas ou deu mais entrevistas a outro estudante sem ficarem com ciúme. Assim, o fator pessoal não pode ser eliminado de nenhum grupo. No final, o instrutor descobre que precisa aconselhar cada um dos estudantes a não se preocupar com os demais. Por isso, ele conclui que pode obter melhores resultados se trabalhando com cada um separadamente. 44 Os que servem aos interesses de sua instituição, que moldam sua maneira de ser e transformam-se em instrumentos dela, terão que escolher entre essa atividade e o Ideal. 45 Reagir excessivamente contra o mal uso do poder ou contra as deficiências de uma instituição é cometer novo erro. 46 Enquanto os homens forem imperfeitos e enquanto o poder os deixar bêbados, é tolo confiar o controle de alguma instituição, de alguma organização religiosa. ou de alguma vida humana a um único homem. 47 A organização de uma igreja, grupo ou sociedade segundo as linhas costumeiras é muitas vezes motivada por uma mistura de necessidades — algumas honrosas e outras não. Se há o desejo de difundir aquilo que se acredita ser verdade, pode haver também o desejo de ocupar uma posição proeminente de liderança na organização, a ambição de dominar os outros. 48 Os homens tentam escapar à sua responsabilidade entregando-a a uma Igreja oficial, a um Guia Espiritual ou recorrendo à Escritura. Mas não conseguem ver que são eles mesmos que decidem entre as doutrinas, optam pelas crenças, escolhem caminhos espirituais, solicitam cerimónias, aceitam observações e, no final, pessoalmente pronunciam as palavras: isto é verdade? Aceitar uma crença é, conscientemente ou não, emitir um julgamento, seu próprio julgamento, sota* aquela crença. 151

49 A ideia de apresentar pessoas empenhadas na Busca a outras pessoas empenhadas na Busca não atinge, geralmente, o objetivo original e não raro traz resultados decepcionantes. É melhor reconhecer que esse é um trabalho individual, não um trabalho a ser identificado com qualquer esforço de grupo, até mesmo de um pequeno grupo de dois ou três, quanto mais de grupos maiores, de dezenas de indivíduos. As pessoas não se misturam facilmente para formar uma amizade ou grupo harmoniosos, mesmo que todas estejam empenhadas na Busca. Mesmo assim, muitos iniciantes, em seu entusiasmo, tentam criar amizades e têm que aprender sua lição quando a amizade acaba. É melhor que as pessoas descubram suas afinidades e convivam de forma natural. Ninguém tem o dever, seja instrutor ou estudante, de fazer pessoas se conhecerem, a menos que uma intuição direta aponte para esse dever. 50 Mesmo quando uma organização não é realmente obstrutiva e enganosa, é, muitas vezes, incomoda e desnecessária. 51 Será que a pessoa que investiga e aspira não pode encontrar refúgio melhor que alguma igreja ou ashram rígidos? Será que deve ingressar em alguma instituição e ter o resto de sua vida conduzido por outros, mesmo que isso represente uma violência contra seus mais refinados sentimentos e melhores pensamentos? Deve ligar-se a um grupo de outros aspirantes ou prender-se a algum líder persuasivo? É fato que muitos fazem isso, senão a maioria, o que demonstra falta de força em sua mente e caráter; mas, por outro lado, o caminho mais popular é mais fácil e confortável. 52 Pertencer a um grupo de elite, verdadeiro como ele se proclama ou não, permite que seus membros tenham ares de superioridade, que se sintam acima dos demais e que os denigram. 53 Um movimento pode começar, e tentar continuar livre de organização, administração e autoridade, mas é pouco provável que permaneça assim. Porque os seres humanos, falhos ou ambiciosos, frágeis ou emocionais, procurarão, mais cedo ou mais tarde, impor suas ideias, sua vontade e a si mesmos aos outros. ; 54 Foi um velho monge da antiga Igreja Ortodoxa Oriental, Isikhi, que observou tempos atrás, de modo intimidador, que a conversa espiritual, quando frequente e prolongada demais, transforma-se em conversa fiada. 55 Poucos estão dispostos a sacrificar seu desejo de ter o apoio gregário oferecido por uma organização e, portanto, poucos conseguem ver como isso os prende a dogmas, os aprisiona a práticas e métodos, e obstrui sua liberdade de ouvir a voz intuitiva da própria alma.

Não morro de amores por esse hábito moderno de formar uma sociedade ao menor pretexto. Os problemas de um homem são evidentes apenas para efe, e não podem ser resolvidos por nenhuma associação de homens. Cada nova sociedade em que ingressamos é uma nova tentação para desperdiçar tempo. 57 O grande erro de todas as organizações espirituais é ignorar o fato de que o progresso e a salvação são questões altamente individuais. Cada pessoa tem sua atitude única diante da vida; deve avançar pela ampliação de sua própria compreendo e, principalmente, pelo seu próprio esforço pessoal. 58 Chega o momento, no curso de vida daquele que busca, em que deve encarar o problema de ingressar em alguma organização específica. Podemos tratar aqui da questão apenas de um modo geral. Para a maior parte dos iniciantes, vincular-se a uma organização assim pode ser bastante útil, para os que já progrediram um pouco já não é tão útil, e para os avançados é definitivamente prejudicial. Cedo ou tarde, aquele que busca descobrirá que, ao aceitar as vantagens dessa vinculação, tem também que aceitar as desvantagens, e que o preço de servir a seus interesses é a participação em tudo que ela tem de mau. Ele descobre, a seu tempo, que a instituição que deveria ajudá-lo a chegar a certo fim, transforma-se. ela mesma, nesse fim. Assim, perde de vista a meta verdadeira, que é substituída por uma meta falsa. Só poderá continuar a ser membro da organização se abrir mão de um pouco da totalidade individual de sua mente e da integridade particular de seu caráter. A organização tende a tiranizar seus pensamentos e conduta, a enfraquecer seu poder de discernimento, a destruir a vida interior espontânea. A seu tempo, ele se recusará a aceitar qualquer organização pela avaliação que ela faz de si mesma, porque perceberá que o que importa não é sua história e seu passado, mas sim o serviço que presta.

59 A devoção ao guru, ao culto ou ao grupo é, em termos de real progresso espiritual, uma ajuda e um obstáculo. Como sinal — e medida — de aspiração a erguer-se um estado superior de ser, é uma ajuda. Mas, como uma barra a mais na jaula em que vivem, trancando do lado de fora todos aqueles que não são co-seguidores, aumenta o partidarismo e amplia o preconceito. 60 Vincular-se a um grupo sectário e às suas ideias é criar outro apego para o ego. 61 A emoção do grupo é trabalhada até que se transforme num substituto paia a inspiração individual. Pela ignorância ou peia incapacidade de praticar a meditação, ou por ambas as coisas, os membros do grupo ficam felizes em compartilhar de uma experiência comum no nível mais superficial e sen tem-se satisfeitos com isso. Mas nada substitui o trabalho individuai no autodesenvolvimento que leva à experiência mais profunda e ao conhecimento superior.

62 Quando se enfatiza demais a organização ou instituição, e muito pouco a ideia dela, os líderes tornam-se tirânicos e os seguidores fanáticos. Ou seja, o caráter deles 6 corrompido. :f 63 # Dois dos defeitos mais graves e preconceituosos dos métodos indianos de buscar a Verdade é transformar homens em Deuses e glorificar instituições imperfeitas. Embora seja possível, para o estudante, aprender alguma coisa a partir dessas fontes no Oriente e também no Ocidente, ele deve ter em mente o fato de que são úteis apenas aos iniciantes e deve ter cautela ao ingressar em qualquer de suas organizações. Nossos tempos pedem informação direta, experiência e prova individual da Verdade, o que só a Busca oferece. As instituições e organizações, por outro lado, nada oferecem, exigem muito e realmente impedem o progresso. Há muito poucas exceções resgatáveis que justificam sua existência, mas não são conhecidas de maneira geral. 64 E absurdo afirmar que o caos e a anarquia espirituais são as alternativas para a organização e o institucionalismo espirituais, pois os ensinamentos contraditórios das várias organizações levam, por si só, a uma situação caótica. 65 Só o desinformado pode ser iludido pela aparência exterior de unidade desses grupos organizados. As brigas, conflitos e facções que realmente existem dentro deles são melhores indicadores do seu grau moral que sua bombástica conversa, falada ou impressa.

70 O maior impostor na vida místico-religiosa é o sistema institucionalizado, o grupo organizado. Porque n á e , os seguidores têm a sensação de estar sendo alimentados quando, na verdade, apenas a necessidade social está sendo alimentada. A verdade e sua virtude, beleza, força, realidade — e acima de tudo sua transcendência, que está totalmente fora da experiência terrena comum — são imitadas eficientemente com sucesso. Assim, os seguidores ficam satisfeitos e caem em complacência. A Busca é abandonada, e a cópia pela qual é substituída tem a vantagem de ser mais fácil e mais agradável para todos os interessados. 71 A fundação de ashrams ou comunidades espirituais é um empreendimento do qual, esperamos, nunca seremos culpados. Essas instituições encontram, geralmente, uma reação de entusiasmo por parte de pessoas que gostam de participar de cultos excêntricos, de se entregar a conversas fúteis e intermediárias, e de adorar líderes que sofrem de egos inflados. Nós, no entanto, trabalhamos por aqueles que compreenderam que é melhor adorar a Deus na solidão do que em salões e igrejas públicas, e que acreditaram em nós quando repetimos, constantemente, que as instituições terminam, invariavelmente, sendo a maior obstrução ao progresso da genuína espiritualidade. Sua expansão material é geralmente considerada como um sinal de expansão de influência espiritual quando, na verdade, é um sinal de deterioração espiritual. Assim como a Liga das Nações erigiu magníficos edifícios milionários para suas sedes pouco antes do seu colapso total, essas instituições florescem externamente às custas de sua vida interna. Pedimos aos que têm fé em nossos ensinamentos que fiquem longe de organizações espirituais.

M 66 Os que não confiam na organização com objetivos religiosos encontram, na história, boas razões para sua atitude. Os documentos denunciam seu fracasso interior, como trocam um tipo de vida mundana por outro, como meramente oferecem à ambição um novo palco para representar, e como substituem a autoprocura individual pela procura em conjunto.

72 A história do Cristianismo na Alemanha nazista ilustrou a falta de vitalidade espiritual, estado lamentável da religião organizada, em que a instituição toma-se mais importante que o ensinamento e a força mundana da organização criada pelo homem é preservada em detrimento de sua força moral,/A filosofia não tem espaço para organizações, fundações, instituições e coisas desse tipo. Seus instrutores permanecem livres.

67 Por que os que são incapazes, como indivíduos, de elevar-se em meditação, devoção ou prece, deveriam ser capazes de fazê-lo como grupo? É ilógico acreditar que podem, auto-sugestivo acreditar que fazem.

73 /Qualquer forma de organização que afirma prestar serviços espirituais corre o perigo, quanto mais cresce, de transformar-se num opressor espiritual. '

§1

68 O caminho da organização de grupo é apenas um fraco substituto para o caminho da inspiração individual. 69 Í Tenho muita cautela em relação a organizações porque observei bastante, no Oriente e no Ocidente, o mal que disseminam rapidamente, assim como não tenho entusiasmo pela centralização, pois vi como é difícil erradicar a ilusão a que leva. Em vez da organização, é melhor encorajar o esforço individual; e em vez da centralização, é mais sensato encorajar o aprofundamento individual. 154

74 Fundamos instituições para elevar os homens. As instituições transformam-se, gradualmente, em jogos de interesses. O propósito original se perde, e um propósito egoísta o substitui. A consequência é que os homens são afetados e infectados por essa deterioração moral das instituições. Não mais recebem ajuda para elevar-se. nem mesmo para não cair. 75 É lamentável e desastroso, mas toda a história ostenta o fato de que, entre os fiéis religiosos e os seguidores místicos, a organização, cedo ou tarde, leva à exploração. É mais provável que isso aconteça depois de o profeta, guru ou i

expirar, mas, em vários casos recentes, a exploração se fez sentir mesmo durante a sua vida. . Não existe indício algum, nas palavras de Jesus, de que queria que os homens se organizassem numa religião, estabelecessem uma hierarquia, criassem uma liturgia. Ele mesmo não protestou contra a versão hebraica dessas coisas? Não sofreu por causa da tirania dela e, no final, não foi morto por ela? Por que iria querer formar uma nova instituição que, inevitavelmente, terminaria da mesma forma? À medida que uma organização espiritual cresce, cresce também a potencialidade de divergências internas. Isso é confirmado pela história da maioria das organizações. 78 O serviço de uma organização ou associação de grupo é poder apontar uma direção para os que estão apenas começando a percorrer o caminho. O desserviço começa quando tenta manter seu poder sobre eles, orienta-os mal e interpreta mal a verdade, sob a influência de uma obsessão egoísta. 79 O conflito entre o elevado objetivo original e a baixa ambição pessoal ocorre dentro da organização. 80 Qualquer seita organizada que se diga detentora do monopólio da salvação invalida, por esse mesmo ato, tal pretensão. Porque, no final, somos salvos apenas pela Graça, que vem do E u Superior dentro de nós, ou que nos chega por meio dele, enquanto a seita é uma coisa fabricada pelo homem, fora de nós. '% 81 Não é necessário, para os que seguem a filosofia, arregimentar membros ou organizar encontros de grupo. Não precisam coletar contribuições nem procurar convertidos. 82 Pode-se responder aos que defendem o trabalho de grupo citando a frase de Jesus: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estarei no meio deles", observando que ela contradiz sua afirmação, repetida várias vezes, "O Reino de Deus está dentro de vós", e que é mais provável ser sido alterada do que ser autêntica. 83 Dentro da exclusividade de uma seita, ele perde o poder de pensar com vigor, criatividade e originalidade. É forçado a configurar-se a um âmbito estreito, privado dos resultados estimulantes da procura no mundo. Não há desejo nem vontade de sair dos limites impostos de sua própria seita e avaliar outras ideias, experimentar outros ideais e beneficiar-se de outros insights. Há uma aceitação patética do cativeiro mental. 84 Nenhuma igreja organizada gosta que revelações individuais suplantem sua própria autoridade. 156

85 Uma instituição transforma-se logo num sistema restrito, e até mesmo fechado. Suas ideias ficam congeladas em dogmas, seus membros começam a sofrer de paralisia mental e seus métodos começam a cheirar a totalitarismo e tirania. 86 O homem que é capturado por uma religião, seita, grupo ou organização constrói, frequentemente, uma parede em torno dela, coloca uma barreira entre si mesmo e os não-membros, exclui qualquer caminho para Deus que não seja o seu. 87 O que busca independentemente, que não se afilia a um grupo sectário, organização fanática ou culto opressivo, evita as tensões e dispensa os preconceitos que essa afiliação geralmente traz consigo. Para os que são afiliados, o contato com outras denominações cria a necessidade de defender — direta ou obliquamente, atacando as demais — seus interesses egoístas e dogmas estabelecidos. Dessa forma, as tensões e preconceitos surgem e subsistem. Não podem chegar a um fim a menos que essa exclusividade chegue a um fim. Quantos danos, ódios, brigas e injustiças ela traz! A quantas más-formações de caráter ela leva! Quanta intolerância cega ela provoca, uma intolerância que se recusa a aceitar, e é incapaz de ver o bem em cultos que não sejam o seu! 88 Logo que começam a organizar um movimento, as outras coisas também começam a emergir—o fanatismo estreito, o sectarismo opressivo, a atitude intolerante. 89 o Qualquer organização que perpetue dogmas não ousa admitir novas ideias que corrijam o erro desses dogmas, porque essas ideias ofenderiam as crenças de seus seguidores! 90 Em todas as questões espirituais, místicas e religiosas, a humanidade é enfeitiçada pelo encanto do passado e pelo prestígio da instituição. f. 91 Existem vários sistemas, métodos, grupos e organizações, mas apenas alguns poucos são aceitáveis. á 92 Muitas vezes, o vínculo a um instrutor, a afiliação a determinado grupo leva, no melhor dos casos, a uma fé ingénua na auto-suficiência dos princípios defendidos e, no pior dos casos, a um novo sectarismo. 93 O sectarismo, o fanatismo e a intolerância desenvolvem-se por estágios nas mentes dos seguidores. 94 Quanto maior se torna uma organização, maiores as probabilidades de surgirem dela divergências e discussões, por mais que professe a santidade e proclame o

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amor fraterno. As coisas essenciais perdem-se gradualmente, enquanto o acidental é valorizado. O Espírito é expulso, e o supérfluo introduzido. 95 • Citar — como justificativa de trabalho em grupo ou reuniões de igreja — as palavras de Cristo "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estarei no meio deles", não é justificativa alguma. Porque a maior parte dos grupos têm de dez a cem membros, a maior parte das reuniões de igreja contam com até mais de mil pessoas. Cristo não disse que estaria presente num grupo de dez, duzentos ou trezentos, mas especificou que o número deveria ser dois ou três. 96 A crença de que alguma instituição ou organização é divina tem levado a muitas superstições e competições desnecessárias: a verdadeira crença de que essas coisas são estritamente humanas e portanto passíveis de falhas, como a história confirma repetidas vezes, teria evitado muito sofrimento para a humanidade. 97 A observação e a experiência sugerem que quando as coisas do espírito são encerradas em formas organizadas, como sociedades e seitas, o mal acarretado aos membros contrabalança o bem. 98 Não procure um grupo criado por um filósofo, porque não encontrará nenhum. O filósofo não é patrocinado por igrejas, seitas, cultos ou organizações de nenhum tipo porque não precisa de nada disso. Suas crenças vêm do interior, e não de alguma fonte externa. Ele não precisa que ninguém exalte sua importância pessoal. Se, no entanto, você ouvir falar de um grupo assim, esteja certo de que é um grupo religioso ou místico-religioso, e não filosófico. 99 Uma organização externa pode ser útil para aqueles que ainda estão nos níveis místico e religioso, mas para o avanço filosófico é desnecessária. As sociedades públicas são meras babéis de opinião dogmática e levam, no final, à confusão. A história correta de muitas organizações espirituais não é edificante. Nenhuma associação ou instituição formal tem algum valor, nesse ponto. Cada estudante deve trabalhar duro, em si mesmo e para si mesmo. Além disso, pode obter inspiração e receber ajuda de um guia competente. Os poucos que são capazes de percorrer com ele esse caminho virão com o tempo; os demais seriam apenas um atraso. Mas, se quiser juntar-se a outras pessoas realmente interessadas em estudar os livros de maneira informal, sem vínculos externos, pode experimentar. 100 O que busca a realidade suspeitará da espiritualidade profissional, mas aquele que busca a religião será atraído por ela. Não é necessário anunciar a realização interior. Lao Tzu levou esse mesmo ponto ao extremo quando escreveu: "Os que sabem não falam", ao que poderia ter acrescentado "ou proclamam-se adeptos, formam sociedades espirituais e procuram discípulos". 158

101 A filosofia pode manter sua natureza não-sectária apenas se mantiver seu caráter não-organizativo e não-institucional. Apesar de certas sociedades e grupos declararem-se não-sectários, sua história real demonstra claramente sua incapacidade para sustentar esse ideal. Para ser um verdadeiro filósofo, ele deve voltar-se à única fonte da verdadeira filosofia — a fonte em seu interior. Ou seja, deve voltar-se para dentro e não para um grupo externo. # 102 As instituições tendem a amortecer as inspirações.



103 /De todas as coisas, a Verdade é a mais livre. Assim, para um homem encontrá-la em toda a sua autenticidade, e não em suas distorções, caricaturas, fragmentações ou em algum substituto, ele deve preservar sua própria liberdade para procurá-la. Mas é exatamente isso que não consegue fazer com facilidade se ingressa numa seita.

104 Se algum instrutor ou organização pedir-lhe que jure solenemente que não revelará o que aprendeu, esteja certo de que receberá ocultismo inferior e não a verdade filosófica. Porque a verdade esconde-se sozinha dos que não estão prontos: não precisa ser escondida deles. 105 Não confunda a reserva necessária à apresentação filosófica com a reserva solene de cultos charlatanescos. 106 Não é necessário convocar reuniões ou organizar sociedades para propagar a verdade. 107 Não existe salvação em massa, nem redenção comunitária. Os monastérios e ashrams, as organizações e sociedades, as instituições e templos têm seu lugar e utilidade. Mas esse lugar é muito elementar e a utilidade muito limitada. É muito mais vantajoso que o homem avance a partir de seu esforço individual. Uma sociedade melhora apenas quando seus membros melhoram. Isso é demonstrado claramente pela falência moral dos estados comunistas e pela semifalência das religiões estabelecidas. 108 Quase todas as instituições e organizações acabaram por desenvolver um egocentrismo que as faz perder de vista seu objetivo original superior, aumentando, assim, a lista de sociedades de caráter ao mesmo tempo egoísta e idealista. 109 Muitas organizações espirituais existem apenas para servir àqueles que as criam ou as administram.

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Quando os que dirigem uma instituição ficam mais preocupados com o estado de suas finanças do que com o estado de sua espiritualidade, quando são mais

afetados pelo crescente retorno financeiro que por sua crescente materialidade, é tempo de dizer-lhe adeus.

Relação com o fundador 111 Uma escola deve existir não apenas para ensinar, mas também para investigar, não para formular prematuramente um sistema acabado, mas para permanecer criativa, para continuar testando teorias mediante sua aplicação, e corroborando ideias por meio da experiência. (P) 112 # A formação de uma sociedade de pessoas que fazem a Busca pode ter valor social mas tem pouco valor educativo, pois meramente reúne sua ignorância comum. Uma sociedade é válida educacionalmente quando tem um instrutor competente — competente porque seu ensinamento possui clareza intelectual e porque seu conhecimento possui uma certeza que se prova útil. 113 Por que deveria alguém — que veio para mostrar aos homens um caminho interior — continuar a iludi-los apontando um caminho exterior? Em outras palavras, se o reino dos céus está dentro de nós, qual a utilidade de criar uma instituição fora de nós? A tarefa básica de um homem enviado por Deus não é fundar uma igreja que mantenha o olhar dos homens voltado para fora — e portanto na direção errada — mas verter graça invisível. Se ele ou seus discípulos mais próximos organizam uma igreja assim, fazem-no apenas como tarefa secundária, como uma concessão à fraqueza humana. 114 Oscar Wilde deu um bom conselho sobre essas questões quando disse: "As únicas escolas que valem a pena são as escolas sem discípulos." 115 É ilusória a crença de que um profeta religioso ou mestre totalmente iluminado possa ser sucedido, geração após geração, por uma cadeia de líderes igualmente iluminados que sigam a mesma tradição. Ele não pode legar a totalidade de sua realização a ninguém, pode apenas dar aos outros um impulso em direção a ela. Ele é insubstituível. Se as igrejas e ashrams pelo menos admitissem que são lideradas por homens imperfeitos e falíveis, passíveis de fraquezas e erros, prestariam melhor serviço espiritual do que o fazem, continuando a manter o embuste de que não são assim lideradas. Se houvesse o reconhecimento público de que sua autoridade e inspiração são muito limitadas, as instituições místicas e religiosas estariam mais preocupadas com ajudar aos outros do que consigo mesmas.

117 Esperar que um Mestre Espiritual se repita na instituição, organização ou ordem que se forma em torno dele é esperar por algo que — como a história nos ensina — nunca acontece. Shelley, Michelangelo e Phidias não fundaram organizações para produzir outros Shelleys, Michelangelos e Phidias. Novas pessoas devem surgir para expressar suas próprias inspirações. Por que, então, fundar instituições sufocantes, por que reunir seguidores em seitas exclusivas, por que criar mais monastérios e lamaserias, por que transformar a adoração ao líder num substituto para a adoração ao Espírito e à verdade? 118 Ingressar num grupo que cerca um mestre lança sobre eles um pouco de prestígio, e empresta a cada um deles um pouco de luz ou força, que pode ser real ou falsa. 119 Nenhuma associação de pessoas espiritualizadas pode, enquanto tal, elevar-se mais alto que a Personalidade de quem a inspirou, e cujo poder e conhecimento superiores lançou suas raízes. Ralph Waldo Emerson enuncia com pesar o pensamento: "Uma instituição é a sombra alongada de um homem." A Europa e a América, por exemplo, estão saturadas de grupos que trabalham em rotas de desenvolvimento mental e semi-espiritual, mas percebe-se que cada um desses grupos extrai sua vida de seu fundador ou de seu Chefe. O ponto de desenvolvimento alcançado pelo Chefe marca o limite a que pode levar seus seguidores: não pode levá-los mais adiante. 120 Séculos atrás, o homem iluminado deixava seu legado nos corações e mentes dos que tinham sentido seu poder, que tinham sido guiados por sua luz ou conhecido sua paz. As instituições e organizações eram, geralmente, criação de discípulos que viveram depois. Mas, atualmente, pode existir o legado de livros impressos, fitas gravadas e filmes televisionados. 121 O fundamento de todo esforço para melhorar a vida humana não é um movimento organizado, mas o homem que o inspira.

116 Como pode uma instituição, seja ela a família, o governo ou a igreja, ter um caráter melhor que o das pessoas que a formam, e que o das pessoas que a governam ou a lideram? 160

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* O estudante da verdadeira filosofia é mais atento ao desenvolvimento do que ao estudo.

AUTODESENVOLVIMENTO

6 * Cada homem deve ser ele mesmo, não representar e copiar outro homem. Mas ele deve ser seu melhor eu — não o seu pior, o seu mais baixo, o seu menor eu. Isso pede crescimento, aspiração e esforço de sua parte. Ou seja, isso pede a busca. 7 A partir de seu eu presente ele desenvolverá um eu melhor e realizará suas possibilidades superiores.

Descrição

Geral

"Como devo começar esse processo de verdadeiro autoconhecimento?" A resposta começa assim: adote primeiro a atitude correta. Acredite na divindade do seu eu mais profundo. Pare de procurar a luz em outros lugares, pare de perambular de lá para cá buscando poder. Sua inteligência foi adulterada pela atenção excessiva à vida externa e, por isso, você nem mesmo sabe em que direção olhar quando procura a Verdade. Não tem consciência de que tudo o que precisa pode ser obtido pelo poder interior, pelo Eu onipotente, onipresente e onisciente. Você tem que mudar, antes de tudo, a linha de pensamento e fé que se justifica desamparadamente: "Sou um homem fraco; não é provável que me eleve acima de meu nfvel presente; vivo na escuridão e me movimento em ambientes hostis que me esmagam." Em vez disso, deve gravar em seu coração as frases elevadas: 'Tenho um poder ilimitável dentro de mim; posso criar uma vida mais divina e uma visão mais verdadeira do que a que tenho agora." Faça isso e depois entregue seu corpo, seu coração e mente ao Poder Infinito que a tudo sustenta. Lute para obedecer às Suas exigências interiores e então declare-se pronto a aceitar tudo o que ele lhe determinar. Esse é seu desafio aos deuses, e eles certamente lhe responderão. Sua alma será libertada lentamente, ou de uma só vez; seu corpo poderá percorrer um caminho mais livre em meio às circunstâncias. Você deve estar preparado para algumas mudanças antes de encontrar descanso, mas descobrirá que o Poder, no qual depositou uma confiança duradoura, não falha. 2 Porque acredita que o auto-aperfeiçoamento, a melhoria da natureza humana, é possível, ele acredita na busca. 3 O que aprende a essência da busca espiritual e a necessidade básica na vida prática aprende que deve assumir o controle de si mesmo. 4 Quem está disposto a trabalhar em si mesmo? Quem sente que tem o dever de fazê-lo? Esse simples reconhecimento pode levá-lo à descoberta de Deus. 162

8 /O espírito divino está sempre no homem, sempre esteve ali;/fnas até ele cultivar a capacidade de ter consciência desse espírito, é como se não existisse para ele. 9 i O Eu Superior está sempre ali; ele nunca nos deixou/mas tem que ser procurado ardentemente, com amor e sutileza. 10 Ele deve levar a ideia do "Eu" a um nível mais profundo de identificação. 11 Por que — a despeito de tudo que os atrai para o contrário, coisas visíveis e palpáveis, a despeito dos inúmeros fracassos e dos longos anos infrutíferos — tantos homens têm procurado, através de tantas eras e tantas terras, por Deus, pelo que é absolutamente intangível, inominável, sem forma, pelo que não é visto ou ouvido? Devido ao fato simples, mas espantoso, de que o Eu Superior, que é a presença de Deus neles, é parte de sua natureza como seres humanos! O misticismo nada mais é que a tentativa metódica de despertar para esse fato. A "alma", a que a metafísica alude pelo raciocínio, o misticismo introduz na experiência. Todos nós precisamos sentir a presença divina. Até mesmo o homem que afirma não precisar não é uma exceção. Porque ele a encontra indiretamente, a despeito de ri mesmo, mas sob formas limitadas, como a apreciação estética ou a inspiração da Natureza. Ainda que todos os místicos contemporâneos se extinguissem, mesmo que nenhum homem vivo se interessasse mais pelo misticismo, mesmo que todas as doutrinas místicas desaparecessem da memória humana e dos registros escritos, a lógica da evolução traria de v<a o ensinamento e a prática. São duas daquelas necessidades históricas que, com certeza, serão reconquistadas no curso do progresso cultural da humanidade. 12 ' Como o Eu Superior já está ali, no interior dele, em toda a sua imutável magnificência, o homem não precisa desenvolvê-lo ou aperfeiçoá-lo. Tem apenas que desenvolver e aperfeiçoar seu ego, para quefiquecomo um espelho polido, refletindo os atributos sagrados do Eu Superior e mostrando abertamente as qualidades divinas que tinham estado, até então, escondidas atrás dele. .

13 A distinção entre seu eu inferior e seu E u Superior lentamente ficará clara para ele por meio da experiência interior e da reflexão subsequente. 14 I Aquilo que, de maneira geral, falta ao seu desenvolvimento como ser humano que sai da animalidade para a Consciência superior deve ser suprido. 15 Por meio dessa meditação e estudo, a mente retorna, como um círculo, a si mesma; quando esse movimento se completa com êxito ela conhece a si mesma em seu aspecto mais profundo e divino. 16 Aquilo que parece ser o buscador espiritual engajado na Busca 6 o seu eu espiritual que está sendo buscado. 17 Não temos que nos tornar divinos, porque somos divinos. Temos, no entanto, que pensar e fazer o que é divino. 18 Essa identificação com o melhor E u em nós é o ideal que foi estabelecido para todos os homens, ideal a ser realizado através de longa experiência e muito sofrimento ou por se aceitar instruções, seguir a revelação, desabrochar a intuição, praticar a meditação e viver com sabedoria. E esse melhor E u n ã o é a parte mais virtuosa de nosso caráter — apesar de poder ser uma das fontes dessa virtude — mas a parte mais profunda de nosso ser, por baixo dos pensamentos que zumbem como abelhas e das emoções que expressam nosso egotismo. Reina nele uma sublime quietude. Aí, nessa quietude, está nossa identidade mais verdadeira. 19 Cada ser humano tem um trabalho específico a fazer— expressar a singularidade que é. Isso não pode ser delegado a ninguém mais. Ao fazer isso, se usar corretamente a oportunidade, pode ser levado à grande Singularidade, que é suprapessoal, que está além de seu ego e por detrás de todos os egos.

23 No interior está a mestria, o poder colossal — mas você ainda não o tocou. Por menos que você tenha realizado até agora, pode ainda fazer grandes coisas* # 24 Nosso ser interior é um mundo de luz, de alegria, de poder. Descobri-lo e mantermo-nos nele é sermos abençoados por essas coisas. Que isso é um fato científico, válido em todos os lugares da terra, e não uma suposição discutível, poderá ser averiguado e comprovado se atingirmos o preparo pessoal adequado. Sem esse preparo, devem contentar-nos com a crença na afirmação teórica e com lampejos passageiros. Como há algo de Deus em mim, como Eu Superior, qualidades e capacidade divinas estão em mim. Sou essencialmente sábio, poderoso, amoroso; mas, na medida em que me identifico com o pequeno ego, obscureço essas qualidades grandiosas. Tenho o poder de trabalhar criativamente em meu ambiente, bem como no corpo no qual habito, assim como a Mente-do-Mundo, o Espírito Criativo, trabalha no universo. # 26 Um homem que queira seguir essa busca tem que se transformar num homem diferente — diferente do que era no passado, pois as velhas tendências inatas devem ser substituídas por novas; e diferente de outros homens, pois deve recusar-se a ser conduzido sem resistência à negligência, irreverência e rudeza que os impregnam. 27 Não se exige apenas mudança moral, mas também mental, não apenas uma mudança física, mas também metafísica. § 2* íNão há necessidade de abandonar sua humanidade para encontrar sua essência divina, mas apenas a estreiteza, a satisfação com metas triviais. 29 Um homem assim não pode ficar satisfeito com a estreiteza que nada vê alem de seu desejo e cobiça. Ele vai ser perseguido por ideais superiores aos comuns; vai querer ser um material humano melhor, mais limpo e mais nobre que a média.

20 A medida que desenvolve mais inteligência e percepções mais sutis, ele deixa de ser mero fantoche convencional e se transforma, finalmente, numa pessoal real.

30 Se, no final, temos que caminhar nesta terra com nossos próprios pés, por não começar agora? Por que continuar a cultivar nossa fraqueza quando poderí cultivar nossa força?

21 Mesmo enquanto viaja nessa busca, deve lembrar-se constantemente de uma verdade facilmente esquecida — que aquilo para o qual se dirige está dentro de si mesmo, é sua própria essência.

1. SI "Onde não há tentativa de auto-aperfeiçoamento há. inevitavelmente, deterioração A natureza não nos permite ficar parados. /

# ••«! •#• 22 /Sob nosso eu cotidiano há um gigante — um eu insuspeitado, de infinitas possibilidades. I 164

32 A aplicação desses ideais é difícil, mas que ninguém se engane pensando sua não-aplicação é muito mais fácil. Os que vivem sem esses objetivos ds vida estão sujeitos a problemas que poderiam ser evitados e s aflições criadas por a mesmos

33 fácil vagar, como tantos outros, por uma vida de auto-indulgência. É difícil tentar praticar, continuamente, uma vida de autocontrole. Mas se as penalidades proteladas do primeiro trajeto são dolorosas, as recompensas do segundo são gratificantes.

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'I Atingir esses lampejos tem sido algo acidental. Isso deveria estimular-nos a saber que se quisermos atingi-los deliberadamente existe uma técnica detalhada, disponível para esse propósito. Os sábios que têm conhecimento de como e por que esses lampejos ocorrem formularam a técnica em benefício daqueles que querem elevar-se. 35 Desde o primeiro dia em que começou a percorrer esse caminho, ele assumiu, automaticamente, a responsabilidade de crescer. Daí em diante, deve haver continuidade de esforço, uma linha sempre crescente de auto-aperfeiçoamento. 36 # "O prémio não lhe é enviado. Você o conquista**, diz Emerson.

44 Se o homem estiver determinado a ter êxito nesse empreendimento e se acreditar com otimismo que o terá, seus esforços crescerão e serão fortalecidos, as oportunidades virão daquilo que de outro modo ele temeria; e mesmo se ficar sem esperanças, é provável que avance mais. É bem apropriado aqui n qnr fíamana Mnhnrrhi me disse ^enraosso primeiro encontro: " A maneira mais certa de se prejudicar *, ^xelamou, "é sobrecarregar a mente com o medo do fracasso e o pensamento sobre as próprias falhas. O maior erro do homem é pensar que é fraco por natureza... Pode-se e deve-se conquistar.** 9

45 Esse é o ideal, mas traduzi-lo para o real, afirmá-lo contra a oposição de um ambiente grosseiramente materialista, exige firmeza e determinação.

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37 Ninguém, exceto o próprio homem, pode desenvolver as qualidades necessárias e praticá-las. 38 Se ele deseja ultrapassar o portal da filosofia, começará, provavelmente, com outros, com o que os filósofos pensaram e ensinaram; mas, no final, deve haver um segundo começo — consigo mesmo. Ele terá que reexaminar sua psique, sua personalidade, mas de um ponto de vista imparcial, distanciado. Terá que decidir, a cada hora de cada dia, como aplicar a verdade — colhida de livros e instrutores — aos acontecimentos, deveres, ocasiões e pensamentos daquele dia. 39 O esforço para auto-aperfeiçoar-se e autodesenvolver-se, feito deliberada e conscientemente, é um requisito indispensável. Essa conversa de o indivíduo dispensá-lo por ter-se submetido a um mestre é um auto-engano. Evitar esse esforço é algo que sempre o desapontará no final.

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43 Não se alcança a verdade murmurando um mantra ad infinitum, ainda que isso possa trazer uma curiosa espécie de alívio transitório dos pensamentos que se perseguem mutuamente. E também não se alcança a verdade pagando os rendimentos de uma semana a um guru.

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46 Que ele não fique satisfeito com a quantidade de conhecimento verdadeiro que conseguiu, nem com a qualidade de caráter pessoal que desenvolveu. Que continue exigindo mais e melhor. 47 Se, em vez de meramente sonhar com isso, ou tentar obter ajuda de fontes externas, o estudante ouvisse as inspirações de seu eu interior e fosse guiado por elas, aceleraria muito seu progresso na Busca. 48 ' Melhorar socialmente é uma boa coisa, mas não substitui o auto-aperfeiçoamento. O amor ao próximo é uma excelente virtude, mas não pode tomar o lugar da melhor de todas as virtudes, o amor pela alma divina. 49 ' O homem que está insatisfeito com o mundo e decide melhorá-lo, deve começar consigo mesmo. As ideias de Jesus, que conferem vida, e as palavras de Gautama, que conferem luz, dão autoridade a essa afirmação.

40 Ele não pode tirar de seus ombros a carga da responsabilidade tão facilmente assim. Essa responsabilidade permanece inalienavelmente sua em virtude de ele ser membro da espécie humana.

50 Ele está ocupado demais com a descoberta e com a correção de suas próprias deficiências e fraquezas para meter-se a criticar outras pessoas.

41 Ele deve parar de viver em segunda mão, deve ajudar-se, deve experimentar seus próprios poderes, ou nunca crescerá.

51 Ele pode usar melhor suas faculdades críticas se as voltar para si mesmo em vez de para os outros.

42 A responsabilidade por seu desenvolvimento espiritual recai diretamente sobre seus ombros. Ao tentar evitá-la — conseguindo um mestre que a assuma ou dando um salto do tipo Caminho Breve para a iluminação — ele se entrega a uma ilusão.

52 O progresso do autodesenvolvimento na Busca deve vir dos próprios esforços do indivíduo. Esse progresso pode ser encorajado ou alimentado apenas em proporção aos desejos e necessidades do mesmo indivíduo. Outras pessoas, desinteressadas de

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uma busca interior, estão, no momento, preenchendo sua própria necessidade cármica de um tipo específico de experiência; não é aconselhável nem possível obrigá-las a seguir esse caminho. 53 Essa 6 uma causa que vale a pena, e não requer que interfiramos na vida dos outros para doutriná-los ou reformá-los. Requer, isso sim, que façamos essas coisas em nós mesmos. 54 Poucos sabem onde realmente procurar a verdade. A maioria procura-a em outros homens, em livros ou em igrejas. Mas os poucos que conhecem a direção correta, voltam-se e olham para onde a verdade é não apenas uma coisa viva e dinâmica, mas uma coisa sua. E isso está no fundo, bem no fundo de si mesmos. 55 É lógico afirmar que, se cada indivíduo de um grupo tornar-se melhor, o grupo a que pertence se tornará melhor. E o que é a sociedade humana, senão um grupo como esse? A melhor maneira de você ajudá-la 6 começar com o indivíduo que está sob o seu controle — você mesmo — e melhorá-lo. Faça isso e então será possível dedicar-se à tarefa de melhorar os outros membros da sociedade, não apenas com mais facilidade, mas também com menores possibilidades de erro. 56 „ A Terra Santa, onde jorra leite e mel, está dentro de nós, mas a selva que temos de atravessar antes de alcançá-la também está dentro de nós. 57 As maiores fontes de sabedoria e verdade, de virtude e serenidade estão ainda dentro de nós, como sempre estiveram. O misticismo é simplesmente a arte de voltar-se para dentro para encontrá-las. A vontade, o pensamento e o sentimento são retirados de suas atividades extrovertidas habituais e direcionados para dentro, nessa procura sutil. 58 * Se você está procurando a verdade, não é suficiente procurá-la apenas no enunciado que seu país, sua religião ou este século fazem dela. Você precisa também procurar em outros lugares, ouvir as vozes mais sábias de outros séculos e sentir-se livre para locomover-se no Oriente e no Ocidente, antes e depois de Cristo. Mas, acima de tudo, precisa investigar o mistério de sua própria consciência. Descubra-a, camada após camada, até encontrar o E u Superior. Tudo isso está incluído na Busca.« 59 * Em nenhum lugar, no Novo Testamento, Jesus pede a seus seguidores que entrem num templo, mas pede-lhes, implicitamente, que entrem no interior deles mesmos. 60 * A medida que param de procurar fora de si mesmos a ajuda, o apoio e a orientação que corretamente sentem precisar, começam a olhar para dentro e a fazer o trabalho 168

interior necessário para tomar consciência do poder que está ali à espera, o divino E u Superior. Eles próprios são canais de entrada para ele, nunca estão desconectados dele.

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6i ' Por que Jesus advertiu os homens a não procurarem o eu-Cristo nos desertos ou nas cavernas das montanhas? Foi pelas mesmas razões que lhes disse constantemente para procurá-lo no interior de si mesmos, e que os aconselhou a estarem no mundo mas não serem do mundo. 62 Não espere encontrar, no mundo exterior, mais verdade e significado do que pode encontrar no interior de si mesmo. 63 Apesar de o Espírito Infinito existir em todo e qualquer lugar, o paradoxo é que E l e não pode ser encontrado antes de ter sido descoberto no coração. É também verdade que, para encontrá-lo em sua plenitude no eu interior, temos que compreender a natureza do mundo exterior. 64 Ele deve começar acreditando que, oculta em algum lugar de sua mente, há a intuição da verdade. 65 O único homem de quem você precisa para esse trabalho grandioso é w mesmo. Pare de olhar para fora e olhe para dentro, porque é ali que está, não apenas o material em que trabalhar, mas também o deus interior para guiar você. 66 Precisamos encontrar em nossos próprios recursos interiores o caminho para a vida abençoada.! 67 O homem do mundo bebe e dança; o místico pensa e entra em transe. 68 ^Muitos homens não conseguem encontrar a verdade superior porque insistem em procurá-la onde ela não está. Não olham para dentro, e por isso usam a ideia de outra pessoa sobre a verdade. A outra pessoa pode estar correta. mas como só se conhece a verdade sendo a verdade, a descoberta deve ser feita no interior deles mesmos. 69 ' Ele não pode conhecer ninguém tão bem quanto a si mesmo. Por que. tentar conhecer tão superficialmente tantas pessoas, quando pode conhecer pro e verdadeiramente apenas a si mesmo? 70 Ele pode alcançar a meta usando os recursos de sua própria alma. 71 Ele deve criar, de dentro de si mesmo e por seu próprio esforço, a força, sabedoria e a inspiração de que precisa.

72 O estudante deve lembrar-se de que o sucesso não apenas vem para ele, mas também vem dele. O mapa da estrada para a realização e o poder que o impulsiona ao longo dela devem ser encontrados em seu interior. 73 Geralmente, é com seu próprio esforço — mas sem, no entanto, excluir a possibilidade da Graça — que o indivíduo desenvolve a objetividade necessária para estudar corretamente a si mesmo e para cultivar a consciência. 74 i A verdade nos será dada: não seremos privados dela. Mas ela nos será dada de acordo com nossa capacidade de recebê-la. 75 v Idealmente, aprendemos a sabedoria da vida com mais facilidade e melhor por intermédio dos instrutores, dos ensinamentos dados por aqueles que conhecem o Caminho em seu início e fim. Na realidade, temos que conhecê-lo por nós mesmos, pela nossa própria experiência, pela auto-expressão, por tudo que é necessário e valioso, pelo sofrimento assim como pela alegria.

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76 Só quando a totalidade da mente — desenvolvida inconscientemente através dos reinos mineral, vegetal, animal e humano inferior — entra na busca é que entra conscientemente no desenvolvimento de sua própria consciência. 77 Essa preparação intelectual e purificação emocional é uma tarefa que força ao extremo as faculdades do homem. Assim, só se pode esperar que seja uma tarefa de vida inteira. Poucos conseguem concluí-la numa única vida — em muitos casos é preciso uma série inteira delas. A Natureza levou muito tempo para trazer o homem a seu estado presente e, portanto, não tem pressa de completar o desenvolvimento dele em nenhuma reencarnação específica. Mas o mistério da graça é que esta é sempre a grande possibilidade, sempre o sublime fator "x" em cada caso. Mas o aspirante individual não pode dar-se ao luxo de jogar com essa chance, que afinal é muito rara. Ele precisa contar com seu esforço pessoal, com sua luta, mais do que com qualquer outra coisa, para aproximar-se da meta desejada. 78 O egoísmo que falsifica nosso verdadeiro senso de ser e o materialismo que distorce nosso verdadeiro senso de realidade são doenças que dificilmente conseguiremos curar com nosso próprio esforço. Somente recorrendo, com confiança e amor, a um poder superior, esteja ele encarnado em outro homem ou em nós mesmos, pode-se quebrar, enfim, esse feitiço que hipnotiza* Mas são os nossos esforços que devem iniciar a cura. 79 Voltar-se para dentro, para si mesmo, pode ser retirar-se para um paraíso falso ou para um paraíso real. 170

Progredir em direção ao interior é, basicamente, tudo o que importa: todo o resto passa, exceto o fruto de nosso esforço espiritual. 81 O misticismo é a teoria e a prática de uma técnica pela qual o homem busca estabelecer contato direto com o ser espiritual.

O que é, exatamente, a meta? 82 0 ideal, aqui, não é transformar-se num santo sem pecados, mas transformar-se num ser humano iluminado e equilibrado., /

83 »O derradeiro ponto a ser atingido é a humanidade plena. Só aquele que se desenvolveu em todos os aspectos é plenamente humano. 84 A decisão do aspirante de almejar a Meta mais alta é o fator dominante: se ele se ativer a essa decisão, tenderá a ser bem-sucedido, cedo ou tarde. Surge agora a questão: que é essa Meta? É a realização do Objetivo Real da vida, como algo diferente dos objetivos inferiores tais como ganhar o sustento, formar uma família, e assim por diante. O aspirante se tornará totalmente Autoconsciente — tão consciente do divino Eu Superior como é agora de seu corpo terreno. E essa realização será perpétua, não apenas uma questão de lampejos ocasionais e intuições fugidias. Mesmo que a Busca tenha se tomado mais difícil nas circunstâncias modernas, não se tornou impossível. Os velhos meios para esse fim devem simplesmente ser atualizados. Quais são os meios? São o pensamento, o sentimento, a vontade e a intuição usados de maneira especial. Isso constitui o caminho quádruplo, ou a Busca. 85 Ele escolheu um caminho ao qual foi levado tanto pelo instinto quanto pela experiência. À medida que tentar segui-lo, irá deparar-se com todos os tipos de dificuldade, mas não deve recuar. Como a inter-relação do carma externo com o caráter interior é tão próxima, ele deve compreender que essas dificuldades estão vinculadas a seu estado interior, e que começará a resolvê-las removendo a imperfeição desse estado interior. Deve compreender que, embora não seja fácil atingir essa meta, deve recusar-se a abandonar a esperança. O caminho é por si mesmo correto, e aliando-se a ele estará aliando-se àquilo que é, afinal, a maior força do mundo. 86 Quantas vezes ouvi, em conversas ou por escrito, que as exigências filosóficas são elevadas demais e estão além da capacidade humana média. Minha resposta é que tempo, paciência e trabalho alargam a medida do que é possível para o homem, que a graça pode, ocasionalmente, abençoá-lo se mantiver o esforço e a aspiração, ou se reconhecer a oportunidade e a inspiração; e que essas exigências não são algo

a ser realizado de imediato, mas constituem uma meta final a ser conquistada pouco a pouco, dando direção correta à sua vida. "Mantenha a esperança e não ceda", disse a Rom Landau, num momento exteriormente negro e mentalmente depressivo de sua vida. E ele assim fez! — e mais tarde encontrou a si mesmo, sua própria paz, e transformou-se, por sua vez, por meio de suas palestras e livros, numa ajuda para muitos outros cristãos. 87 A conquista dessa auto-suficiência pessoal, desse desapego ao mundo da agitação e dos desejos — dirá ele — é algo inteiramente super-humano. "Por que pedir a frágeis mortais que olhem para picos que não se podem escalar, para topos inatingíveis?" A Filosofia responde: "Sim, os picos são altos, os topos fazem com que forcemos o pescoço ao olharmos para cima. Mas é errado dizer que não 6 possível escalá-los. Há uma maneira de escalá-los, pouco a pouco, sob orientação competente, e essa maneira é chamada Busca. É verdade, ela envolve alguma disciplina, mas o que existe na vida de valioso, que possamos obter sem pagar o preço da autodisciplina? O objetivo dessa disciplina é assegurar uma mente mais bem controlada, uma vida mais virtuosa, um estado de espírito fundamental mais reverente." *88 Por que parece que encontramos no caminho apenas estudantes e aspirantes, e não instrutores verdadeiros e adeptos genuínos? Por que tão poucos parecem realizar o seu eu espiritual? A resposta é que o caminho é longo e o jogo é duro, que o eu animal é forte demais e o ego humano muito tolo, e que a luta contra nossa bestialidade e ignorância inatas é muito arrastada e cheia defracassos.Isso é o que a observação nos diz. Pode ser triste, mas sendo realistas sabemos ao menos o que esperar, qual a natureza do caminho que percorremos e com que tremenda paciência precisamos contar. 89 Ele tem que chegar a um conhecimento mais claro do que a Busca significa e do que exigirá dele. A Busca da alma divina transformou-se em sua estrela-guia. Era natural que, no início, se sentisse repelido pela ideia de dominar o ego, mas agora ele percebe como isso é desejável. Isso não significa, no entanto, abandoná-lo na vida prática; porque, enquanto está na carne, o ideal 6 descobrir o equilíbrio adequado entre o egoísmo e o altruísmo, pois precisa de ambos. Mas, como o egoísmo individual pode já estar grande demais, e o altruísmo pequeno demais, os instrutores religiosos costumam enfatizar deliberadamente a necessidade de subjugar o ego. Esse é o lado moral. Do lado filosófico, trata-se simplesmente de uma questão de descobrir o E u Superior e deixá-lo governar o ego daí por diante. Assim, não se trata de matar o ego, mas de colocá-lo em seu lugar, inferior. Mas, antes, o indivíduo tem que tomar consciência do Eu Superior, tem que senti-lo como uma presença viva e tem que fazer isso ao longo do dia e da noite, dormindo ou acordado. Essa é a meta. Não é tão difícil quanto parece. Porque o eu divino está sempre ali com ele, nunca está ausente dele, nem mesmo por um segundo. É a testemunha constante de todos os seus esforços e aspirações. Quando ele tiver tentado o bastante, o E u Superior, subitamente, verterá sua graça sobre ele.

Não é errado aspirar à felicidade. Ao contrário: esse 6 um dever humano. Aqueles que, em nome da Espiritualidade, transformam a vida em algo sombrio têm direito à sua opinião. Mas não podem ser chamados de filósofos. 91 Todo homem será forçado, no final, a realizar o que tem de sagrado: só então sua busca pela felicidade se completará. 92 Os trabalhos de Swami Vivekananda podem ser recomendados comofrutosautênticos de uma compreensão que se aproxima da doutrina discutida aqui, apesar de o seu caminho não ser o mesmo. A Busca segue uma dupla linha de desenvolvimento: acalmar a mente e estimular a mente, cada coisa no seu devido lugar. E a meta final é descobrir que existe apenas uma realidade, da qual todos somos apenas uma parte, que a separação do ego pessoal é apenas superficial e que a Verdade é evidenciada pela consciência da unidade. O primeirofrutodessa descoberta é, necessariamente, a dedicação da vida ao serviço de todas as criaturas, ao serviço incessante pelo bem-estar universal. Portanto, desse ponto de vista, o yogi que se retirou para uma caverna ou floresta está num plano inferior — bom para ele como fase do seu desenvolvimento pessoal, mas inútil para os que devem viver a verdade, a verdade da unidade. 93 Esquecer-se do eu, mas lembrar-se do Eu Superior — é simples assim, mas também difícil assim.

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94 /'Encontrar, não a Energia do Espírito, mas o próprio Espírito, é a meta final. Não seus poderes, efeitos, qualidades ou atributos, mas a realidade do puro ser. O estudante não deve deter-se diante de nada disso, mas prosseguir. J

95 Ele tem que procurar a essência misteriosa de si mesmo, algo que percebe em momentos raros, abençoados e inesquecíveis. Essa essência fascina porque é também o Perfeito, sempre buscado mas nunca encontrado no mundo exterior. 96 * Não é tanto o conhecimento do Eu Superior que importa alcançar, mas o conhecimento que é o Eu Superior. :

97 | Ele chega, finalmente, à plena consciência de seu ser interior, de sua alma — no sentido correto da palavra que é tantas vezes mal compreendida e que é usada por pessoas que não sabem o que realmente significa. 98 Se a meta distante dessa busca é a descoberta do verdadeiro ser, isso não exclui e não deve excluir o pleno crescimento do ser humano, a mais ampla realização de suas melhores capacidades, tomando patente o que está latente.

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• Um dos principais objetivos da busca é criar uma verdadeira indr onde, no momento, há apenas uma pseudo-individualidade. Porque aqueles

mercê de suas reações automáticas de atração ou repulsão ao ambiente, cujas mentes são moldadas por influências externas e sugestões da educação, não são indivíduos no sentido verdadeiro.

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100 •O lótus, aquela adorável flor oriental, 6 muito usado como símbolo da meta que devemos atingir. Cresce na lama, mas não tem uma só mancha. Repousa na água, mas nunca se suja. Sua cor é o branco puro, contrastando com o ambiente sujo que é o seu lar. Assim, a vida interior do discípulo deve ser inviolada, pura e sem máculas, mesmo que sua vida exterior seja forçosamente levada no ambiente mais materialista ou entre as pessoas mais sensuais. 101 Aquilo que poucos valorizam e poucos encontram 6, no entanto, a coisa que mais vale a pena procurar. E o que é? É aquilo que uma vez encontrado não pode ser perdido, uma vez visto deve ser amado, e uma vez sentido despeita tudo que há de melhor no homem.

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102 A sede de perfeição está certamente presente em nós. Essa sede 6 um indicador de sua consequente saciedade. Mas isso não implica, necessariamente, que será atingida enquanto estivermos na carne e num nível de existência em que tudo está condenado, como Buda observou, à decadência e à morte. É mais provável que seja atingida num nível mais alto, onde essas limitações não podem existir. A perfeição que buscamos e a imortalidade que almejamos têm mais probabilidades de serem conquistas mentais do que físicas. Porque todos os místicos concordam quanto à existência desse nível de ser puramente espiritual, imaculado. 103 A tarefa fundamental do homem é, em primeiro lugar, libertar-se das tiranias animalescas e egotistas e, em segundo lugar, caminhar para a consciência de seu eu espiritual. 104 i A meta é libertar-se de armadilhas e grilhões, é dominar todas as forças de seu ser. 105 * O objetivo é emancipar-se de vínculos terrenos, redimir-se da escravidão animal. 106 « Sua busca pode chegar a um fim apenas quando a Verdade desvelada é vista, não em lampejos momentâneos, mas pelo resto de sua vida, sem interrupção. 107 Temos que trazer a consciência do Eu Superior à vida ativa, como característica permanente e perpétua.. J

108 > • É a permanência perpétua no divino que deve ser buscada. 174

109 ?$: Muitos ficam satisfeitos quando conseguem ter apenas um lampejo do Eu Superior. Mas alguns poucos nãoficam.Eles buscam a permanência no Eu Superior, no maior grau possível. 110 O objetivo principal da busca não é, afinal, essas melhorias secundárias de saúde, caráter e autocontrole — por mais bem-vindas que sejam — mas a descoberta da verdade e a possibilidade de viver na presença do divino. ' Não existe uma meta que sempre se afasta no Caminho Último, porque não existem dez ou vinte verdades últimas. Há apenas uma única verdade última. É esse o objetivo desse caminho, e quando o indivíduo souber disso, terá atingido a meta. Devemos refletir na mente e fazer agir o verdadeiro ser do homem. 113 Se eles acham que a meta de todo esse esforço é meramente ficar congelado numa passividade que nunca se expressa e num contentamento que nunca vê as misérias, as desgraças ou as tragédias da vida, estão equivocados. 114 Ele procura realizar um propósito firme, que permanece, que não é uma espuma emocional que diminui e depois desaparece. 115 \ Há dois caminhos para a realização, segundo o ensinamento de Sri Krishna, no Bhagavad Gtta. O primeiro caminho é a união com o Eu Superior — e não, como alguns acreditam, com o Logos. Mas como o Eu Superior é um raio que sai do Logos, de qualquer forma, está tão perto do Logos quanto um ser humano pode estar. O segundo caminho tem sua meta final no Absoluto ou, como o denominei em meu último livro, o Grande Vazio. Mas um caminho não contradiz o outro, porque, para se chegar ao segundo, passa-se pelo primeiro. Portanto, não existe divisão nas práticas. As duas metas são igualmente desejáveis porque ambas colocam o homem em contato com a Realidade. Qualquer pessoa pode muito bem parar no primeiro se assim o desejar; mas para os que apreciam o ponto de vista filosófico, a segunda meta é mais adequada, pois inclui a primeira. (P) 116 Aquilo que ele escolhe no início de sua busca predetermina aquilo em que ele se transformará no final. E a escolha é entre a libertação autocentrada e a atividade não-egoísta. Ambos os caminhos dar-lhe-ão uma grande paz. Ambos lhe permitirão permanecer fiel a seu chamado interior. Mas o mais difícil dará algo também à humanidade que sofre. Uma salvação meramente pessoal não satisfará o aspirante à filosofia. 117 As experiências espirituais que ocorrem durante a adolescência são indicações de que ele tem possibilidades de caminhar na busca espiritual. Mas ele precisa

decidir se prefere experiências ocultas anormais ou o crescimento mais lento e menos dramático do cultivo de sua alma divina. Um iniciante não pode misturar com segurança as duas metas. E só poderá esperar a ajuda de um místico avançado se buscar a meta mais elevada. 118 Só um homem precipitado poderia prometer a todos os que entram nessa busca experiências definidas do tipo místico, oculto, extraordinário ou sobrenatural. Esses efeitos às vezes ocorrem, às vezes não; mas as pessoas que seguem normas ou suportam disciplinas principalmente com essa expectativa podem ficar desapontadas e podem até mesmo acabar desconfiando de seus instrutores e ensinamentos. O tipo mais sábio de aspirante não insistirá nessas experiências, mas compreenderá que existem coisas mais importantes e mais duradouras. 119 Em The Secret Path* apresentei a busca como algo mais curto e mais fácil do que a maioria das pessoas achou; em The Spiritual Crisis of Man* apresentei-a como algo mais difícil e mais longo, num esforço para restaurar o equilíbrio. 120 Agora, na meia-idade, os erros dos meus trabalhos publicados tornam-se visíveis. Entre outras coisas, tornei a meta da busca próxima demais, a realização fácil demais e a própria busca curta demais. O conceito de meta que formulei é bem verdadeiro, o lembrete de uma existência divina que dei à humanidade é algo de que se orgulhar, mas o caminho da realização exige esforços tão super-humanos que poucas pessoas teriam sido atraídas para ele se minha imagem literária tivesse sido mais fiel. 121 Melhorar e purificar o eu comum, alcançar e realizar o Eu Superior, são claramente as mais difíceis das tarefas. Governar paixões, aquietar sentimentos, controlar pensamentos e desenvolver intuições, dirigir tendências, remover complexos e permanecer imperturbavelmente fiel ao caminho escolhido — tudo isso não é uma tarefa hercúlea? 122 A Arte da Auto-Revelação não é filosofia de horas vagas, moldada e polida para encantar o tédio dos ociosos. Não foram muitos os que tentaram percorrer esse caminho e menos ainda os que o completaram. Porque poucos acham-no fácil. O mundo carnal com suas armadilhas espera por todos nós, e a saída é só para os que têm boa estrela. 123 É crescer lentamente na descoberta e realização do que realmente se é, bem no fundo. Chegar a esse conhecimento é muito difícil, mas impregnar com ele todos os momentos da vida cotidiana é mais difícil ainda. 124 * O aspirante de hoje pode ser o adepto de amanhã, mas o caminho é interminavelmente longo, a meta é alcançada apenas através de inumeráveis experiências e esforços. * Publicados pela Editora Pensamento sob os títulos O Caminho Secreto e A Crise Espiritual do Homem.

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125 Depois de os otimistas e os Advaitas terem pregado o que pensam, a diva realidade será ecoada pela experiência: a meta está tão longe, e os poderes do aspirante são tão limitados, que ele terá que invocar a qualidade da paciência e torná-la sua. 126 Tanto quanto a história nos ensina, a iluminação total não pode ser alcançada no tempo de uma só vida, com a exceção de algumas poucas pessoas notáveis. Mas a história tem muitos segredos não desvendados e a iluminação é um assunto sutil demais para ser corretamente avaliado. 127 Chegar à realização do Eu Superior é algo extremamente raro, e o aspirante não deve esperar consegui-lo no limitado tempo de uma só vida. No entanto, como a Graça do Eu Superior é imprevisível, não se pode dizer que isso seja impossível num caso particular. 128 Se a recente estimativa da idade da Terra — quatro bilhões de anos — estiver correta, podemos ter uma ideia de quanto tempo leva para se fazer um homem. O que dizer então de um super-homem? 129 Aquilo que é comprado barato não é, geralmente, muito valorizado. Avaliamos mais alto a Verdade quando pagamos um preço alto por ela. 130 Até mesmo o tempo de uma vida não é um período longo demais para se devotar à conquista de um objetivo tão grande. O que damos deve ser proporcional àquilo que queremos receber. Além disso, o esforço exigido — valioso em si mesmo e necessário ao pleno desenvolvimento da nossa maturidade — já é sua própria recompensa, haja alguma outra ou não. Por que, então, negligenciar os esforços e cair em desespero por se ter conseguido fazer apenas um progresso pequeno ou limitado em direção à meta? 131 A iluminação é possível para todos os homens porque estão encarnados em formas humanas e não animais. Mas nem todos os homens estão dispostos a pagar seu preço, em controle mental e domínio emocional. 132 Se o leitor acha essa tarefa fatigante demais, deve lembrar-se de que a recompensa é nada menos do que a iluminação, 133 * Como são poucos os que realizaram sua aspiração de fundir-se com o Eu Superior! Como esse acontecimento é raro! 134 E óbvio, levando-se em conta a raridade de sua realização no decorrer da história, que esse ideal foi sempre um pico gelado de perfeição que a maioria dos homens não tinha possibilidades de escalar. No entanto, nada ganharemos se o ignorarmos. 177

e é pelo menos bom saber em direção a que meta a humanidade está lenta e inconscientemente caminhando. 135 Essa verdade pode parecer pouco solidária com os sentimentos humanos naturais, impessoal demais. E l a não é para a multidão que exige da religião satisfação dos desejos, consolo, conforto e respostas às preces. 136 Esses adeptos parecem tão imensuravelmente distantes de nós, suas realizações parecem tão super-humanas, que podemos muito bem perguntar qual a utilidade de oferecer essa busca à maioria dos homens. 137 Ele sente intuitivamente que há, ou deveria haver, algum elemento, princípio, propósito ou Deidade indefinível por detrás de toda a vida e de toda a Natureza — mas 6 possível, para um ser humano, chegar a conhecer ISSO? -138 Essa meta pode não ser muito atraente para muitos, presos a seus apegos como estão; mas 6 fascinante para alguns poucos, as 'Velhas almas", detentoras de muita experiência depois de uma longa série de vidas terrenas, almas cujos valores mudaram, cujas ilusões Coram eliminadas. Sentem-se como peregrinos voltando para casa. 139 A meta estabelecida por esse ensinamento pode parecer tola e até mesmo insensata para as pessoas que se orgulham de ser sensatas e práticas. Esse julgamento pode ser o resultado de um leve contato com o assunto; não pode ser o resultado de um conhecimento total e satisfatório a seu respeito. 140 Se os homens dizem-lhe que o caminho é mero produto da imaginação, têm direito a essa opinião. E u , que já v i muitos homens o iniciarem e poucos o terminarem, posso afirmar que a diferença entre o início e o fim do caminho é a diferença entre um escravo e um senhor. 141 Se a busca é apresentada como algo difícil demais para todos, exceto para o super-homem, cria-se um complexo de inferioridade que afugenta os que poderiam obter alguma ajuda de algumas de suas práticas. 142 Jesus disse que o caminho para a vida eterna é reto e estreito. Poderia ter acrescentado que é também longo e difícil. Mas o iniciante não deve deixar-se desanimar por essas coisas. Existe ajuda dentro e fora. 143 Se o padrão é alto demais, o amor por ele pode não ser forte o bastante para ajudar em sua conquista. 144 Se o ideal for rigoroso demais, seus prováveis seguidores serão poucos demais. 178

145 A realização pode parecer difícil demais, mas não é impossível. A melhor garantia disso é a presença constante da própria alma divina dentro dele. 146 Não devemos cair na crença deprimente de que isso só pode ser realizado por mestres e não por nós. 147 Não ajuda nada colocar essa meta em algum pico como o Everest, impossível de se escalar. Se muitos são os chamados e poucos os escolhidos, é sua própria fraqueza que protela a época de ser escolhido. No final, e com muita paciência, eles também descobrirão, além do conflito, o caminho para a paz. 148 Não é suficiente um ideal para ajudar o trajeto da vida: ele deve ser também baseado na verdade, não na fantasia ou falsidade. 149 A aspiração não deve ser apenas desejável, mas também viável. 150 Há sempre uma razão válida para a disparidade entre o objetivo buscado e o desempenho real. Aqueles que começam com esperança e entusiasmo, mas acabam desapontados e sem resultados, deveriam verificar primeiro sua compreensão da busca e corrigi-la, olhar o quadro que fazem da Meta e redesenhá-lo. 151 • Se quiser descobrir porque tantos não conseguem alcançar o objetivo da Busca e tão poucos são bem-sucedidos, descubra primeiro o que é realmente a Busca. Você compreenderá, então, que os fracassos não são fracassos; que um projeto tão grande para mudar a natureza e a consciência humanas não pode ser terminado em pouco tempo. 152 Para o homem moderno, que vive sob circunstâncias tão diferentes, é de pouca ajuda apresentar o santo como um tipo a ser imitado e citar o yogi como um exemplo a ser seguido. 153 Ele não desperdiçará tempo buscando o inatingível ou lutando pelo impossível. Porque a verdade, não o auto-engano, é a meta; a humildade, não a arrogância, é seu guia. 154 • O E u Superior não apenas é, mas é atingível: essa é a premissa e a promessa da verdadeira filosofia. 155 Se a meta é realmente inatingível, então a Busca é inútil. Se é possível aproximar-se dela, então certamente a Busca vale bem a pena. Mas, na verdade, ambas as coisas são possíveis: aproximar-se da meta e atingi-la.

156 % Todo homem pode despertar para a presença da consciência de Cristo dentro de si mesmo e assim sair da existência meramente animal e nominalmente humana. E l a será, então, uma existência divinamente humana.

dos pensamentos e ações da pessoa — mais do que os próprios pensamentos e ações em si mesmos —, assim como o ideal que ela mais frequentemente contempla, é o mais importante e o mais significativo em sua vida.

157 O momento maravilhoso, em que ele pode olhar diretamente para dentro de si mesmo, através do ego, para o E u Superior, espera por seus esforços.

166 Sua primeira necessidade é escolher uma meta geral, não necessariamente um ponto exato, mas algo suficiente para orientá-lo, para dar-lhe uma direção.

158 A meta é distante, é verdade; mas pode ser atingida pelos que fizerem o esforço necessário para superar o eu.

167 -Um ideal ajuda a manter um homem afastado de sua fraqueza; um padrão dá-lhe, indiretamente, um tipo de apoio e, diretamente, orientação. /

159 Apesar de todos os contratempos, o resultado desse esforço só pode ser a realização da esperança. Porque essa é a vontade de Deus. 160 Mesmo que a meta pareça distante demais, que a realização pareça elevada demais para a sua limitada capacidade, mesmo que ele, aparentemente, precise ser muito melhor que a média para ter alguma chance, isso não significa que não deva embarcar na busca. Porque, mesmo que seja capaz de percorrer apenas uma modesta parte do caminho, os esforços envolvidos muito valerão a pena. 161 Que importa se a meta parece distante demais ou a escalada muito íngreme? Faça o que puder—muito ou pouco — para avançar. Se você não tiver forças para percorrer todo o caminho, então percorra parte dele. Seus esforços e anseios espirituais influenciarão seu próximo corpo e as condições de sua próxima encarnação. Nada será perdido. Você terá então capacidades mais elevadas e circunstâncias mais favoráveis, se as tiver merecido. Toda virtude deliberadamente cultivada leva a um renascimento mais agradável. Toda fraqueza corrigida cancela um renascimento desagradável. 162 Se o mais alto grau de perfeição parece distante, a ponto de deprimi-lo, o primeiro grau está tão perto que deveria alegrá-lo. %

163 Poucos imaginam que sua capacidade chega a uma realização tão elevada e, portanto, poucos a buscam. A maior parte dos que entram nessa busca tem um desejo modesto — chegar a algum lugar ao longo do caminho, onde tenham mais controle sobre sua mente e sua vida do que aquele que suas atuais condições insatisfatórias oferecem. 164 Se ele soubesse, no início, que a busca era uma jornada tão distante, tão longa, tão incómoda, será que a teria iniciado? Isso depende da natureza de cada homem, da natureza do motivo que o impele, e da força que há por trás desse motivo. 165 Que homem iniciaria uma tarefa que não pode esperar terminar? É demais esperar que a pessoa média, empenhada na busca, torne-se um mahatma. Retratamos a natureza dessa busca não porque tenhamos essa esperança vã, mas porque acreditamos no valor da direção correta e do poder criativo do Ideal. A direção geral 180

168 Não vamos exigir o Perfeito ou ter esperança de realizá-lo. Mas podemos ter o Ideal e segui-lo. 169 É uma verdade que ele precisa trazer à vida por meio de sua experiência pessoal. 170 Se não houvesse uma possibilidade de encontrar uma saída para essa condição aprisionada no corpo, enjaulada no tempo, então ninguém teria chegado à auto-realização e toda a pregação religiosa e todo o ensinamento filosófico teriam sido inúteis. Mas sabemos, pela história e pela biografia, que essa realização tem sido experimentada em todas as partes do mundo e em todos os séculos e, portanto, ninguém deve abandonar a esperança. 171 Será que as metas da busca valem o que o indivíduo tem que pagar por elas? Será que vale a pena embarcar nessa busca, se tão poucos alcançam essas metas? Só o tempo pode mostrar-lhe que nenhum preço é alto, e que a direção correta é. em si mesma, recompensa suficiente. 172 v A meta final é viver a partir do Eu Superior e não a partir do ego. 173 * Um pensamento correto, fundamentado em fatos e baseado na experiência; uma vida sábia, equilibrada e boa; uma meditação que se toma cada vez mais profunda — essas são algumas de nossas necessidades básicas. 174 * Pode-se gozar de paz de espírito neste mundo: não é necessário esperar a passagem para o próximo. 175 * Podem ser usados diferentes termos para rotular essa realização única. É insight, despertar, iluminação. É Ser, Verdade, Consciência. É Diferenciação entre O-Que-Vê e O-Que-É Visto. É consciência Daquilo-Que-É. É a Prática-da-Presença-de-Dcus. É a Descoberta da Atemporalidade. Todas essas palavras dizem-nos alguma coisa, mas não o suficiente. Na verdade, são apenas sugestões, pois não podem ir mais longe: a realização não está no seu nível, pois é o Toque do Intocável. Mas não importa: brinque com essas ideias, se quiser. Rumine-as e mova-se entre elas. Coltl

loque seu coração e sua cabeça no jogo. Quem sabe o que pode acontecer um dia? Talvez, seficarsuficientemente quieto, você também poderá saber — como sugere a Bíblia. 176 A impossibilidade de realizar o ideal Bodisatva demonstra que não se deve tomá-lo literalmente. Porque o Bodisatva teria não só que esperar que os dois bilhões de habitantes que atualmente ocupam este planeta fossem salvos; pois o que seria dos outros que depois se somariam a esse número? O ideal Bodisatva é supostamente colocado em contraste com o de Pratyeka Buda, que é procurar sozinho seu bem-estar. 177 Que a vida chegará a um fim superior e justificará assim todo o tormento e luta é mais que uma crença reconfortante: é também a contribuição da mais elevada Razão e a revelação da mais elevada experiência. 178 Um cirurgião que conhecemos escreveu-nos uma vez que a meta parecia tão distante, o caminho tão longo, o trabalho tão árduo, que se sentia inclinado a abandonar a busca, como algo além da capacidade humana comum. Respondemos-lhe que, se não podia apreender uma proposição em sua totalidade, isso não era motivo para não tentar apreender parte dela.

Pessoa singular: caminho singular 179 Em cada indivíduo há um elemento original, misterioso e incalculável, porque sua história passada e sua ancestralidade pré-natal em outras vidas terrenas foram, inevitavelmente, diferentes, em alguns pontos, das de outros indivíduos. Sua visão de mundo pode parecer igual à dos demais, mas haverá sempre variações sutis. Não existe um caminho único que possa ser adequado aos inúmeros membros da espécie humana. Não existe uma abordagem inalterável a essa experiência para todos os homens. Cada um tem que encontrar seu próprio caminho, seguir em frente segundo a orientação de sua compreensão presente e experiência passada — e, no final, o faz, apesar de todas as aparências em contrário. Porque cada homem atravessa um conjunto diferente de experiências de vida. Sua história passada e circunstâncias presentes constituíram um ser individual singular, que possui algo inteiramente seu. É em parte através das lições, reflexões, intuições, traços, características e capacidades engendradas por essas experiências que ele é capaz de encontrar seu caminho para a verdade. Assim, ele é forçado não apenas a conseguir sua própria salvação, mas a consegui-la à sua maneira singular. Toda descrição de um caminho místico deve, consequentemente, ser compreendida em sentido geral. Se aquele que a expõe delimita-a de forma a constituir um caminho preciso e igual para todos, exagera. Apesar de haver muita coisa na vida que o aspirante compartilha com outros seres, há sempre um resíduo que lhe confere uma marca de individualidade, que é diferente das individualidades de todos os demais e impossível de ser compartilhada com elas. Consequentemente, o caminho interior que ele deve seguir não pode ser pre182

cisamente igual ao dos outros. No final, depois de beneficiar-se da ajuda que j ter recebido de guias avançados e companheiros de peregrinação, depois de todas as tentativas de imitá-los ou segui-los, ele é forçado a encontrar ou a fazer um caminho para si mesmo, um caminho que será peculiarmente seu. No final, ele precisa descobrir seus meios singulares de salvação e contar consigo mesmo para obter mais força e iluminação. Ensinado por sua própria inteligência e instruído por sua própria intuição, deve encontrar seu caminho singular para a iluminação. Cada caso é diferente, porque cada pessoa tem uma hereditariedade, temperamento, caráter, ambiente e hábitos de vida diferentes. Portanto, esses princípios gerais devem ser adaptados e adequados à condição particular dessa pessoa. 180 * Assim como não é só um raio que vai do centro do círculo à sua circunferência, mas raios incontáveis, não é um único caminho que vai do homem a Deus, mas tantos caminhos quantos são os homens. Cada um tem que descobrir o caminho que lhe é mais apropriado para chegar ao significado e à experiência da verdade. 181 * Existem tantos caminhos para a união com o Eu Superior quantos são os seres humanos. Os caminhos ortodoxos, convencionais e tradicionais podem reivindicar exclusividade ou monopólio, mas só pondo em perigo a verdade. 182 É uma autolimitação desnecessária acreditar que há apenas um único caminho para a iluminação, apenas um ensinamento que valha a pena seguir. As pessoas que se crêem ou se sentem incapazes de compreender a metafísica sutil podem recorrer a um caminho simples de devoção. 183 Não existe um tipo determinado de aspirante à iluminação mística ou filosófica. Tomados como um todo, os aspirantes formam um grupo misto e variado quanto à personalidade, motivos, fidelidades e pontos de partida. Variam muito em individualidade, têm necessidades, particularidades, oportunidades, visões e possibilidades diferentes. 184 , Somos feitos pela Natureza de maneiras diferentes: não existem duas palmas de mão, duas impressões digitais, duas pessoas que sejam exatamente iguais. 185 «Os que buscam são encontrados em níveis diferentes e são atraídos por abordagens diferentes, de acordo com o desenvolvimento intelectual, temperamento emocional, capacidade moral e sensibilidade intuitiva. 186 'A singularidade de cada pessoa é enfatizada pelas diferenças que a separam de seu próximo. f

• 187 Na procura pela Verdade, ele pode ter progredido através do Cristianismo ortodoxo, da Ciência Cristã e do Espiritualismo — mas, no final, a Busca o afastará 183

das abordagens públicas, limitadas e organizadas, e o trará para a liberdade irrestrita da Presença do Eu Superior. Outros movimentos como os que foram mencionados podem ser úteis para os iniciantes, mas depois que se faz algum progresso o caminho se abre necessariamente para a Busca, onde se torna ilimitado, individual e privado. 188 -i Todos temos que viajar na mesma direção para nos elevarmos dos níveis inferiores para os níveis superiores de ser. Mas a maneira pela qual percorremos o Caminho é essencialmente pessoal. Todos devemos obedecer suas regras gerais, mas dois seguidores não podem aplicá-las de maneira precisamente igual. 189 Observa-se muitas e muitas vezes que a técnica, o exercício, o método ou a regra que traz bons resultados para uma pessoa deixa de trazê-los para outra. É absurdo fazer uma única prescrição uniforme e esperar que todas as pessoas obtenham dela um único resultado uniforme. Aqui, demos algumas das melhores, deixando que cada leitor descubra a que mais lhe serve, e não a que mais serve a seu amigo ou a algum outro leitor. 190 Cada homem é singular e, então, cada busca deve também ser singular. Cada um deve encontrar, no final, seu próprio caminho através da vida. Todas as tentativas de copiar outra pessoa, por melhor reputação que tenha, não o levarão à auto-realização, apesar de poderem ajudá-lo a avançar até certo ponto.

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191 • Cada pessoa que busca deve encontrar seu próprio caminho, sua própria técnica. Quem mais tem o direito ou a capacidade de fazer isso? 192 „ Preferimos seguir o caminho criativo ao compulsório, preferimos ajudar os homens a encontrar seu próprio caminho a forçá-los a percorrer o nosso. E isso só é possível quando se começa na raiz, com as ideias que eles têm e as atitudes que os dominam. 193 Existem tantas diferenças entre os aspirantes individuais, que é impossível uma técnica geral servir para todos eles. Um guia capaz de dar uma prescrição pessoal pode ajudar, mas, mesmo na sua ausência o aspirante pode juntar, de forma inteligente, os fragmentos que mais o ajudarão. 194 , Que ele avance lenta ou rapidamente, como for melhor para ele, e também à sua própria maneira, que serve à individualidade que ele moldou, através das reencarnações, em sua imagem presente e a partir da qual tem que começar e prosseguir. 195 * Não existem apenas estágios totalmente diferentes de desenvolvimento evolutivo para cada ser humano, mas também tipos de seres humanos totalmente diferentes dentro de cada estágio. Portanto, uma única técnica não pode, de maneira alguma, 184

cobrir as necessidades espirituais de toda a humanidade. A pes descobrir qual é a adequada à sua aptidão natural, assim como deve encontrar o instrutor com quem tem maior afinidade interior. 196 Deixe que ele tome o caminho que for mais conveniente às suas particularidades pessoais e caráter individual, e não o force a um caminho que não lhe é adequado, meramente porque demonstrou ser correto para outras pessoas. 197 Não existe uma só regra universal para todos os homens: suas particularidades externas e condições internas, seus antecedentes históricos e localização geográfica, seu destino cármico e necessidade evolutiva, suas diferenças em competência — tudo isso faz com que seja insensato, injusto e impraticável estabelecer uma só prescrição para eles.

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A abordagem filosófica não limita, rigidamente, o que busca, a uma única técnica específica. Enquanto lhe pede que siga o caminho básico e preencha os requisitos fundamentais que todos os iniciantes devem ter, salienta também que isso é apenas uma preparação geral. Ele chegará a um ponto em que estará pronto para um trabalho mais avançado, quando as características pessoais e as particularidades que são especialmente suas precisam ser adaptadas a fim de que receba o benefício maior. Os que buscam e as condições que os cercam nunca são exatamente iguais, e em certo estágio o que for útil para um será desperdício de tempo para outro. 199 • É um erro comum, entre pessoas piedosas e até mesmo entre místicos, acreditar que só um caminho — o seu — é o melhor. Ele pode ser correto para uma pessoa — embora não o seja para outras — e, mesmo assim, é correto apenas por um período, ou no máximo por algumas vidas. Quantas vezes os homens superam os seus eus anteriores e tomam novos caminhos? E como é diferente a bagagem intelectual, morri e emocional de pessoas diferentes! Na prática, assim como na teoria, não é possível e certamente não é aconselhável prender todos os homens num único caminha 200 'Os homens são constituídos de diferentes maneiras. Existem vários tipos principais e inumeráveis subdivisões dentro de cada tipo. Não é possível que uma única abordagem espiritual sirva a todos eles./ 201 Ninguém chega ao mundo da verdade por algum outro caminho que não seja o seu, aquele que se ajusta à sua natureza individual. A ajuda de alguma outra pessoa pode, no máximo, melhorar o seu estado e preparar a sua mente, mas não pode levá-lo à verdade. Os casos que parecem contradizer essa afirmação são casos de auto-engano ou de ilusão. Frequentemente, o tempo investido nesses caminhos demarcados é tempo desperdiçado. 202 • O caminho de cada homem é seu caminho singular, com suas próprias experiências. Algumas são compartilhadas com pessoas que como ele buscam, mas outras 1*5

o são; permanecem peculiares a ele. Assim, uma parte - - grande ou pequena daquilo que tem a fazer não pode ser prescrita por outra pessoa, seja ela um guru ou não. Nos grupos, organizações e escolas há muita rigidez na instrução, nas regras e na expectativa daquilo que deveria ocorrer em cada estágio. É um programa muito rígido. Isso gera confusão e frustração e não corresponde à situação real, observada, nesses círculos, por pessoas de fora. 203 O ser humano realizará sua própria redenção se permitirmos que assim seja. Mas, em vez disso, hipnotizamos a mente com ideias que podem servir para outras pessoas mas não para nós, praticamos técnicas que deformam nosso desenvolvimento, seguimos líderes que conhecem apenas o caminho que eles mesmos percorreram e que insistem em juntar nesse caminho todos aqueles que fazem a Busca seja ele apropriado ou não, e ingressamos em grupos que obstruem nossa linha específica de crescimento natural. 204f Seria um erro apropriar-se de qualquer caminho espiritual, ou instrutor, que não seja de fato o seu. Uma tentativa assim pode durar algum tempo, mas chega inevitavelmente a um fim quando a falsa posição a que leva torna-se intolerável. 205 A singularidade individual de cada aspirante pede que suas necessidades específicas sejam atendidas, mas a sugestão que vem de fora e o fascínio pela autoridade fazem com que ele se aproxime da Busca com opiniões rígidas sobre o que deve ser feito. Permite que os outros o moldem em vez de deixar que a voz interior o faça e de usar a contribuição deles apenas para pôr em prática a orientação dessa voz interior ou para suplementá-la. 206 O caminho de vida de cada homem é singular. Pode não ser de seu interesse conformar-se a uma técnica imposta a ele por outro homem, ou confinar seus esforços a um padrão que tem servido para os outros. O que pode estar certo para um homem num estágio diferente de desenvolvimento pode estar errado para o aspirante. 207 Negar sua individualidade é destruir sua mente criativa. 208 . O Bhagavad Gtta não apenas enfatiza a necessidade de solidão para a prática do Yoga, mas também adverte-nos que o dever, o caminho, e o modo de viver de outros homens podem ser perigosos para nós. Assim, também prega a necessidade de individualismo. 209 • Não há um único caminho para a iluminação. O Yoga não tem o monopólio. A vida, em si mesma, é a grande iluminadora. Uma vez, conheci um homem que — depois do choque de ter ouvido sua esposa dizer-lhe que não mais o amava, que já tinha há algum tempo um amante secreto e que queria o divórcio para poder casar-se de novo — sentiu que todos os valores e crenças a que se apegara com 186

tanta confiança desmoronaram. Por alguns dias, ficou tão afetado que não conseguia comer. Mas sua mente tinha se tomado tão extraordinariamente lúcida a respeito dessas questões e de si mesmo, que ele experimentou momentos de verdade. Por meio deles, chegou a uma grande paz e compreensão, a uma mudança interior. Qual foi o sol matinal que o despertou? Ele não fez exercícios de yoga, não ingressou em igrejas, estava ocupado demais com seus assuntos mundanos para ler livros espirituais. Isso faz-me voltar ao tema: não se submeta à pressão daqueles que dizem que há um único caminho para a salvação (o caminho que eles seguem ou ensinam), não deixe que a mente seja tolhida ou restringida. A verdade é que os caminhos são muitos, estendem-se em todas as direções, são individuais. 210 « A partir das chaves, sugestões e indicações que a procura e a experiência nos oferecem, aprendemos, no final, qual é o verdadeiro caminho até o Deus que está dentro de nós. 211 A busca é uma questão individual demais para servir a todos da mesma forma, como roupa comprada pronta. Cada homem tem seus próprios problemas de vida para considerar e superar. Ao tentar fazer isso com sabedoria, nobreza e honestidade, ele faz precisamente o que a busca lhe pede naquele momento. 212 Cada busca tem, então, seu próprio caráter e sua própria personalidade. Ela os molda pelo ato de dedicar-se à integridade incorruptível da vida superior. 213 * Arnold Toynbee encontrou seu caminho espiritual no estudo e no trabalho em História. Diz que eles lhe revelaram a presença de Deus, do mesmo modo que a prece e a religião levaram outros a encontrá-la. As características interiores dos homens são variadas, assim como o são as formas que a busca assume para eles. 214 O trajeto de cada um que busca não é, necessariamente, invariável, nem são sempre inevitáveis suas experiências. 215 É longa a viagem, da expectativa à realização. Nessa Busca, a curiosidade de saber o que está mais adiante nunca pode ser corretamente satisfeita porque difere, necessariamente, de indivíduo para indivíduo. 216 As modificações das circunstâncias, que trazem incerteza quanto ao futuro, não o amedrontam. Elas o interessam. Ele procurará descobrir se apontam o caminho para novas experiências, necessárias a seu desenvolvimento. 217 Todos os seres humanos diferem em alguns aspectos, na mente assim como no corpo. Cada um é singular. Cada um precisa descobrir o seu caminho individuai Porque em cada aspirante existe certo atributo, direção, tendência, capacidade ou 187

dom, e ao longo dessa linha a possibilidade de seu desenvolvimento espiritual pode abrir-se com mais facilidade, rapidez e liberdade do que ao longo de qualquer outra. É nessa linha que ele deve concentrar seus esforços, para tirar vantagem daquilo que a Natureza lhe deu. Mas detectar e reconhecer qual 6 sua melhor potencialidade requer investigação e procura, não apenas com a ajuda de suas faculdades comuns, mas especialmente com a ajuda das faculdades mais sensíveis e intuitivas. Essa descoberta não será feita de uma só vez, mas só depois de muito tatear e tentar sentir o caminho. É necessário tempo, porque essa possibilidade oculta não existe no nível superficial. A terra que envolve essa pedra preciosa esconde o seu paradeiro. Se ele estiver com pressa e insistir numa descoberta prematura em vez de continuar a busca, pode identificar a pedra errada. Quando encontrar a gema, que fique com ela pelo maior tempo possível. 218 Há um caminho adequado à individualidade particular de cada pessoa, que revelará suas possibilidades espirituais como nenhum outro caminho poderia fazê-lo.

219 é - Como o objetivo de todos os caminhos 6 levar o viajante ao mesmo destino — a união com Deus — qualquer caminho que realize esse propósito ou ofereça alguma ajuda nesse sentido é aceitável.

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M Ele pode trabalhar para a iluminação e liberdade interior, para a aspiração que mais o atrai. 221 Tudo o que ajuda a consciência a chegar a um estado mais elevado 6 um caminho espiritual útil para alguém. 222 E l e deve adotar qualquer abordagem que o atraia, contanto que tenha valor moral, e tentar usar dela tudo o que puder. 223 Vários métodos diferentes de desenvolvimento espiritual têm sido oferecidos à humanidade. Alguns têm mais méritos que os outros e alguns são mais eficazes que os outros. Mas é tanto o que depende da posição e das necessidades particulares de cada pessoa, que o valor do método não pode ser generalizado com justiça. 224 É engano escolher algum caminho para o E u Superior e rotulá-lo como o melhor ou, pior ainda, como o único. É injusto comparar os méritos de caminhos diferentes. Porque, em primeiro lugar, cada um tem sua contribuição a dar e, finalmente, cada aspirante individual tem seu próprio caminho especial. 225 A alegação de que os caminhos mais simples, como a devoção ou a repetição de um enunciado, podem levar à meta não é falsa nem verdadeira. Porque eles levam ao caminho filosófico que, por sua vez, conduz diretamente à meta. 188

226 Existe um único instrutor, profeta, mensageiro ou santo que tenha sido univer salmente aclamado e universalmente seguido? Para que isso acontecesse, toda a humanidade precisaria ter o mesmo passado e a mesma condição interior. 227 Grandes ou pequenas, existem diferenças entre todas as pessoas. Não podem todas seguir os mesmos caminhos e, portanto, devemos deixar que os outros assumam uma visão da religião diferente da nossa. As pessoas variam tanto, que seria estimulante para a sociedade existir a maior diversidade possível de abordagens — assim, haveria mais possibilidades de se adequarem às necessidades particulares. Por que se deveria ter medo da diversidade em pontos de vista religiosos, da variedade de práticas religiosas? Que as heresias se multipliquem! Que as seitas floresçam! Porque, nessa livre competição, o que busca tem uma oportunidade melhor de encontrar a verdade. 228 O que busca nos tempos modernos tem sorte: tem uma abundância de ensinamentos para escolher — ou para confundi-lo. 229 Não devemos apenas reconhecer as diferenças entre os homens, mas respeitá-las. Consequentemente, devemos aceitar a variação na capacidade de responder e não exigir que todos pensem, acreditem e se comportem da mesma forma. 230 O que é demais para um indivíduo é pouco para outro. Nenhuma prescrição universalmente aplicável pode servir igualmente a todos. 231 Todos esses caminhos deveriam convergir uns para os outros, assim como todos, no final, têm de se juntar no mesmo ponto central. 232 Por mais que as reações pessoais sejam diferentes em cada pessoa que busca, haverá sempre, ao longo do caminho, certas experiências, condições e requisitos — que são os mais importantes — iguais aos de todas as outras pessoas que buscam. 233 A abordagem de cada homem deve ser, inevitavelmente, individualista, mas cada uma delas compartilhará com as demais de todos os fundamentos que constituem a Busca. 234 ' Seja um homem zen ou sionista, busque a salvação cristã ou o Satori japonês, a abordagem fundamental é mais ou menos a mesma,. 235 Não há um sistema ou método imutável que tenha a garantia de funcionar com êxito em todos os casos. Mas há sugestões, ideias e indícios selecionados a

das d experiências pessoais de um grande número, muito variado, de mestres e aspirantes espalhados pelo mundo. n 236 Como o caminho de cada homem é peculiarmente individual, nenhum livro pode guiar todos os seus passos. Um livro pode ajudá-lo em algumas situações, informá-lo sobre o curso geral do desenvolvimento interior, e adverti-lo contra os erros prováveis e as principais armadilhas. 237 Cada homem tem que lutar por essa consciência mais elevada à sua própria maneira. Cada caminho que a ela conduz é singular. Mas, ao mesmo tempo, ele pode beneficiar-se da instrução geral contida em escritos como este.

Conhecer as próprias de acordo com elas

limitações e trabalhar

238 Cada um responde ao chamado interior de acordo com sua capacidade e história, com suas circunstâncias e perspectivas.

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239 É justo que ele se pergunte: "Que devo trazer à busca? Que preparo, qualidades e virtudes dão-me o direito de esperar pelos resultados que procuro?** 240 Quando a luz sublime do Ideal brilha sobre o aspirante, e ele tem a coragem de olhar para sua própria imagem, através dela, ele fará, sem dúvida, algumas descobertas humilhantes sobre si mesmo. Descobrirá que é pior do que acreditava ser e não tão sábio quanto pensava ser. Mas essas descobertas são todas para o seu bem. Porque só então ele pode saber o que lhe é pedido e começar a trabalhar para o auto-aperfeiçoamento, seguindo as indicações dessas descobertas. 241 | Por mais profundo que seja seu compromisso com a busca, ele terá que ajustar contas com a sua própria fragilidade e pressões ambientais. 242 O grande homem sabe que tem limitações, conhece seus defeitos e falhas — mas não tem medo deles. "Pinte-me como sou, as verrugas e tudo", disse Oliver Cromwell ao artista que, para agradá-lo, tinha omitido uma de seu rosto. 243 Nem todos começam a busca com as mesmas capacidades. Cada um está qualificado para percorrer certa distância. Os que exageram suas capacidades prejudicam-se por causa de sua presunção. Os que as subestimam praticam falsa modéstia. É erro iludir-se sobre as próprias aspirações ou intimidar-se indevidamente. 190

244 A esperança é boa para o homem: confere-lhe paciência, desperta nele atitudes positivas e instiga seu empenho. Mas, quando se baseia em fantasia sem fundamento e desejos extravagantes, ele acada sendo prejudicado, e não beneficiado, por ela. 245 Comece admitindo que sabe realmente pouco, ou nada, sobre sua mente mai profunda. Isso é melhor do que qualquer exagero.

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246 É muito mais fácil estabelecer para si mesmo uma disciplina do que mantê-la. 247 Não podemos todos ser Budas. Não podemos todos ter a força de viver como Cristo. Só um em um milhão pode ser um yogi do Himalaia, vivendo sozinho e acima de nós em sua caverna na montanha escarpada. Mas existe algo valioso ao alcance de todos nós. Que almejemos, portanto, o que é viável e que, por sua vez, nos levará a algo maior. É tolice desperdiçar tempo e força tentando alcançar o que está fora de alcance. 248 # Há um ponto em que a mente recua, perplexa com o grande mistério que cerca o homem. Por mais que ele reflita e raciocine, procure e investigue, não consegue ir além. Mas isso não significa que sua vida é sem sentido ou que o universo é sem sentido. Só um ser superior ao homem tem possibilidades de penetrar esse mistério. Portanto, que trabalhe dentro dos limites de que não pode escapar. É inútil alimentar ambições desenfreadas, que ele não está qualificado a realizar. Em suma. que ele conheça a si mesmo. Poderá, então, ter a chave para um conhecimento melhor de outras coisas, especialmente do significado de sua própria vida. 249 São poucos, afinal, que têm a inclinação inata para sacrificar tudo, se necessário, na esperança de obter a verdade. E as almas menores que não têm esse passaporte, cujo temperamento, ambiente, família ou posição as proíbem de aspirar heroicamente à meta mais elevada? Não podemos dar-lhes esperança? É um caso de tudo ou nada? A resposta é que não se pede a ninguém que empreenda algo que esteja além de suas forças ou circunstâncias. Existe espaço, aqui, para aqueles com objetivos humildes, que se sentem aptos apenas para um pequeno esforço filosófico. Que estudem apenas um pouco dessas doutrinas quando for possível e, quando nem isso for possível, que aceitem esses ensinamentos com base apenas na fé. Que absorvam alguns princípios mais importantes que os atraiam de modo especial, ou que sejam de mais fácil compreensão. Que pratiquem alguns poucos minutos de meditação uma ou duas vezes por semana, se não têm tempo ou disposição para mais. Que mantenham apenas um contato ocasional — por carta ou outros meios — com alguém que represente uma realização pessoal definida e que, mesmo estando além de seu alcance, não está além de sua veneração. Assim, dão o primeiro passo para estabelecer tendências carretas. Se, no entanto, não conseguirem fazer nenhuma dessas coisas, que não se desesperem. Resta ainda o caminho de servir ocasionalmente. Que dêem>

de tempos em tempos, conforme puderem e conforme lhes convier, uma pequena ajuda, em espécie, trabalho ou dinheiro àqueles que enfrentam grandes obstáculos para iluminar um mundo abatido pela tristeza e pela ignorância. Porque, assim, conquistarão a dádiva de uma lembrança feliz e de um reconhecimento interior cujo valor singular nâo está na mesma proporção daquilo que foi oferecido. O benefício cármico dessa contribuição retornará a eles e, mesmo que demore, terão a satisfação intangível que vem de todo serviço depositado no altar do E u Superior. 250 Se for incapaz de reunir força suficiente para buscar a Verdade, então que a busque pelos serviços que esta lhe pode prestar. 251 Raramente os que buscam conseguem aperfeiçoar-se nos variados requisitos da busca, mas todos podem desenvolver um pouco de cada qualidade necessária. 252 Teoricamente, a mudança nos hábitos de vida e de pensamento tem que ser total, para que a regeneração almejada também o seja. Mas a obrigação de ganhar a vida, de adequar-se à comunidade local e de ajustar-se à oposição da família torna isso impossível, a não ser em casos excepcionais. Os homens que precisam levar em consideração essas realidades tentam chegar a um acordo com a dura necessidade e a condição presente. Isso não significa que descartam a verdade — devem, de fato, mantê-la fielmente como Ideal — mas que a associam às condições predominantes, chegando, de alguma forma, a algum tipo de reconciliação entre as duas. Isso também não significa que o ensinamento seja impraticável, pois os poucos que constituem as exceções já mencionadas são capazes de colocá-lo cem por cento em prática, simplesmente porque estão dispostos a pagar por isso o alto preço do isolamento. Isso significa que, apesar de o ensinamento ser adequado a todas as circunstâncias, seus devotos não estão dispostos a aceitar o conflito e o sofrimento que advêm de combater a insanidade a a tensão dessas circunstâncias presentes. Estas tendem a fomentar o materialismo e são mais adequadas à maneira materialista de pensar e viver. Os que, embora compreendendo-a perfeitamente, se submetem a ela e recusam-se a afastar-se dela, têm esse direito — se, ao mesmo tempo, compreenderem claramente que as iluminações permanentes e mais elevadas continuarão inacessíveis a eles. Não é o bastante chegar às menores? Elas não são suficientemente gloriosas e gratificantes? 253 Há muitos que não estão procurando a maneira mais rápida de alcançar a meta mais elevada. Sentem, e isso é bem compreensível, que as exigências do preparo para ela são grandes demais para seu modesto dote. Mas estão buscando inspiração ocasional, e ficariam satisfeitos com alguns poucos lampejos durante a vida. Apesar de essas pessoas não estarem totalmente comprometidas com a Busca, são, no geral, solidárias com ela. 254 Se ele sente que chegar a um nível superior de consciência seria demais para ele, então deve, simplesmente, tentar transformar-se num homem melhor. 192

Para o homem, é um tipo de vitória sobre o eu estar disposto a viver sem angústia, se é que ele tem de viver dentro de suas limitações. 256 W Os que sentem a existência de aspectos muito malignos no modo contemporâneo de viver e de ganhar a vida, e que sinceramente deploram esses aspectos malignos, sentem, no entanto, que há muito pouco que possam fazer até que a sociedade como um todo desenvolva novos e melhores modos. Mas essa é apenas a primeira avaliação de sua situação: revela sua aparência, mas não a realidade. Precisam realmente esperar pelo advento improvável de reformas voluntárias — e por atacado — à sua volta? Porque o desafio atual, como vai ficar claro no decorrer deste livro, não é social, mas individual. Há mais homens livres do que normalmente se supõe, capazes de dar os primeiros passos no sentido de se libertarem desses males. Quando sua cautela se torna excessiva, ela se torna também um vício. E l a pode impedir que cometam erros, mas impede também que façam qualquer coisa — levando-os, na verdade, a uma espécie de inércia. Mesmo que não consigam fazer mais, podem começar a aplicar novos ideais e depois ver o que acontece. 257 Será que a Busca nada mais é que uma aventura interminável que nunca chega a uma realização final? Será que suas metas são altas demais e seus exercícios difíceis demais para frágeis humanos? O testemunho histórico dos homens que transformaram essa aventura em realização põe um fim nesse pessimismo. Se, conhecendo e aceitando nossas limitações, objetamos que isso não pode ser feito de maneira alguma em uma única vida, a resposta é: "Faça então o que puder nesta vida, e haverá esse tanto a menos para fazer na próxima." 258 Wt Quando um homem tem dentro de si o material correto, tudo o que ele preás é oportunidade, nada mais. Se possui um grau suficiente de talento mais a determinação para ser bem-sucedido, não existe estágio tão humilde que não lhe possa servir de trampolim para coisas melhores. 259 A busca do discípulo deve começar com suas necessidades simples e específicas, não com generalidades complicadas. 260 Ele deve começar com o que é e onde está: esse é o ponto de partida. De de olhar a meta e a direção que leva a ela, ele procura o próximo passo. 261 » Não deixe que o passado o prenda. Não deixe que memórias empoeiradas reprimam. Faça de hoje um novo dia, um novo começo. 262 Ele pode começar esse trabalho interior com quaisquer capacidades que ti agora, de onde quer que esteja na estrada da vida. Não existe momento que seja o momento certo, não existe lugar que não seja o lugar certo, nem

tãncias que não possam ser utilizadas de alguma maneira. Porque há lições a serem aprendidas em todo lugar, significados a serem extraídos de todas as experiências; testes espirituais e oportunidades dos mais variados tipos podem ser encontrados nas situações mais improváveis, nos ambientes menos espiritualizados. 263

SÃ. E necessário tempo para trazer maturidade a seu desenvolvimento; anos passarão antes que sua compreensão esteja completa o bastante para firmar-se sobre a própria 264 base. Precisamos reconhecer o que nem sempre se reconhece: que o desenvolvimento da mente e do caráter leva tempo, assim como o desenvolvimento do tronco e dos galhos leva tempo. Um homem não começa, antes dos trinta anos, a amadurecer e a tornar-se o que tem probabilidade de ser. 265 O jovem que tem a sabedoria de empregar um pouco de sua abundante energia nessa busca será um dia a inveja do velho, que empregaria nela apenas suas forças reduzidas e seus dias abreviados. Depende inteiramente daquele que busca estabelecer o ritmo de seu progresso. Até mesmo o homem que está interessado apenas em discussões teóricas promove, nessa medida, seu próprio bem. Se, devido às circunstâncias ou à sua inclinação, prefere que suas aspirações permaneçam apenas no nível da leitura e da discussão, isso é, pelo menos, melhor do que ser inteiramente indiferente a elas. Depende dele decidir se vai ou não se esforçar para obter a realização total de suas aspirações na vida prática. Há espaço para ambas as coisas nessa Busca. 267 Ele não deve ficar desanimado porque outros avançaram no caminho mais rapidamente que ele, assim como não deve sentir-se gratificado porque outros avançaram mais lentamente que ele, pois na realidade a meta que persegue já está a seu alcance. Ele é o Eu Superior ao qual quer unir-se, e o tempo que parece levar para realizar isso é, em si mesmo, uma ilusão da mente. Que avance, portanto, no seu próprio ritmo e dentro dos limites de sua própria força, deixando os resultados nas mãos de Deus.

271 O aspirante recém-despertado deve procurar chaves sem perder o equilíbrio ou gerar o entusiasmo. exagerar 272 De que adianta censurar-se reiteradamente por ser aquilo que é? Como poderia ser de outra maneira, dada sua hereditariedade, ambiente e história? 273 A busca diz que ele não é tão impotente quanto pensa. Por que se abandonar sem resistência às tendências de seu coração, aos pensamentos de sua mente, ao domínio de suas posses e paixões? Por que ter a vontade tão fraca a ponto de abster-se de qualquer esforço com a desculpa de que deve aceitar-se como acha que é? 274 O que ele não consegue fazer no início, pode conseguir fazer no meio de sua jornada. Não deve deixar que o temor de não conseguir avançar muito impeça-o de avançar de todo. 275 Os que já têm uma inclinação pelo misticismo naturalmente avançarão com mais facilidade e rapidez do que os que não têm. Mas isso não é razão para o não-místico adotar uma atitude derrotista e negar totalmente a busca. 276 Sua fraqueza pode atravessar o caminho de sua busca mas, mesmo assim, ele continua, autenticamente, a buscar. 277 A busca deve ser empreendida com a compreensão de toda a sua complexidade e de que as boas intenções que ele tem podem ser frustradas por circunstâncias adversas, se ele deixar que seus pensamentos sobre elas se tomem negativos. 278 O homem precisa conhecer suas limitações e aceitá-las. Mas não precisa aceitá-las como absolutas. Há sempre o misterioso fator "X", o fôlego a mais, os recursos imprevisíveis e não explorados.

268 Se eles se impuserem um ideal impossível, um padrão inviável, serão tomados mais tarde pela frustração.

279 Ele deve adequar, sua aspiração à sua capacidade estimada mas, para não possibilidades desconhecidas que podem ainda vir à superfície, não deve fazer à muito frouxamente nem com rigidez.

269 É melhor o aspirante conhecer agora suas limitações do que sofrer depois desapontamentos trágicos e desespero extremo por ter deixado de fazê-lo. É melhor compreender, nesse caso, que está engajado numa longa procura, cujo fim ele não pode alcançar nesta encarnação.

280 É verdade que a iluminação é encontrada onde é procurada com fervor e não algum lugar especial, como a índia. Contudo, os desejos e necessidades do indr irão dar-lhe uma direção; e é possível que ela indique que o seu progresso mdh pode ser acelerado ou melhor servido por uma viagem a algum lugar em particular

270 Como pode o iniciante ingénuo e inexperiente deixar de cometer erros e negligenciar precauções; como pode não ser iludido por sua própria imaginação ou não ficar confuso com as contradições e paradoxos que obstruem esse caminho? 194

281

Não importa quais são as particularidades do homem, não importa se é rico ou pobre, sadio ou doente, velho ou jovem, educado ou analfabeto — não existe um a5 ponto em sua vida em que pelo menos uma parte da busca não possa ser introduzida.

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282 Teria sido melhor se tivessem ficado em casa em vez de saírem procurando gurus no Oriente? A resposta varia de pessoa para pessoa. 283 De uma perspectiva ampla, será que alguém está realmente "perdido**? Às vezes, é um consolo lembrar que temos a Eternidade diante de nós, e que podemos fazer apenas aquilo de que somos capazes num momento determinado. 284 , Por que as almas que buscam correm para a índia, e agora para o Japão, como corriam para a Europa no tempo de Emerson? Se tivessem uma concepção menos confusa do Eu Superior, uma ideia mais clara do que buscavam, nenhuma delas teria sentido que tinha de ir a este ou aquele país, lugar ou pessoa. Mas as tendências herdadas de nascimentos anteriores — que as impelem a um caminho ou as puxam em direção a algum outro lugar — criam essa necessidade de viajar e ir ao encontro de novas experiências, novas pessoas, talvez novos mestres. Essas tendências fazem-nas retroceder, em particular, ao cenário de vidas passadas que afetaram poderosamente sua busca espiritual. Isso é atraente para elas, talvez até mesmo romântico, mas nada lhes dá que já não tenham tido. 28S Fiquei enfeitiçado, por muitos anos, pelo glamour espiritual da índia. A necessidade de ir lá tornou-se muito forte e, no final, rendi-me a ela. Aprendi o que o turista predador nunca aprende; vi o que o observador profissional raramente vê; porque tanto ao turista quanto ao jornalista falta a aspiração, a paciência e o preparo exigidos para procurar e descobrir o que é realmente o melhor em qualquer país oriental. Nesse país, descobri muita coisa de grande interesse e do maior valor, mas não encontrei a realização de minha Busca. Ela não veio a mim até que eu tivesse retornado ao outro hemisfério. Na verdade, a Visão Cósmica, que revelou a Presença da Inteligência Infinita através da vida, através do universo e através da história, que me explicou muitas das Leis Superiores, veio a mim, incongruentemente, quando eu estava sentado num quarto de hotel em Chicago. Com esse humilde insight, a necessidade de ir à índia desapareceu. E então percebi que isso era, realmente, um complexo antigo—uma espécie de auto-sugestão—herdado de meu distante passado reencarnatório. Descobri que, se tivesse permanecido fiel à direção interior que tinha originalmente percorrido, nunca teria precisado ir à índia, nem aos outros países asiáticos onde procurei pela Verdade. Aquilo de que precisava podia muito bem ser encontrado dentro de mim mesmo. Mas, eu aceitara as sugestões do meu passado, assim como dos lábios e escritos de outra pessoas. E , assim, desviei-me do caminho interior. O atalho, que as viagens para a Ásia ofereciam, revelou-se um caminho longo, pois vaguei pelas estradas de outros homens e, no final, tive que voltar, como todos nós, à minha própria estrada. Não havia nenhum outro lugar para ir, e minha Busca terminou ali. Os outros caminhos não foram inúteis, naturalmente, mas perderam o valor no momento em que se transformaram em substitutos para o caminho interior, que é singular e único porque cada um de nós é singular. Cada um tem sua experiência 196

especial de vida, faz seus próprios contatos com outras pessoas, e defronta-se com seu destino particular. Ao reagir e lidar com tudo o indivíduo está, realmente, reagindo e lidando consigo mesmo. Ele mostra turbulência ou tenta dominá-la; ele se perde na atividade do dia ou salva-se dela em meia hora de retiro. Ele deixa que pensamentos ou sentimentos negativos permaneçam em seu coração, ou tenta retirá-los de lá. Ele procura suas relações ou ter uma atitude mais gentil em relação às pessoas que encontra no seu dia-a-dia, ou não consegue perceber a razão de elas — e não pessoas totalmente diferentes — terem sido colocadas em seu caminho pela Inteligência Infinita. Seu ambiente é, realmente, um local de teste e uma escola de disciplina. E então retorno à afirmação de que ir à índia, ou ir a qualquer outro lugar em busca de iluminação espiritual não é tão importante quanto ir ao interior de nós mesmos, descobrir Quem somos. Além disso, se alguns foram para a índia à procura de um Mestre encarnado, outros foram para a Palestina à procura de um mestre desencarnado. Lá, demoraram-se em lugares santos e monumentos sagrados, no chão histórico em que Jesus andou e falou. Mas, ambos os tipos de tentativa trazem algum fruto apenas quando levam à Busca Interior, ao Mestre que habita o interior, num caso, e ao Cristo que habita o interior, em outro. Mas o indivíduo poderia ter iniciado essa busca final de qualquer forma, sem sair de casa. Na verdade, Ramana Maharshi disse uma vez em voz alta: "Se soubesse que era tão fácil, nunca teria saído de casa.*' 286 A questão de até onde ele está preparado para viajar nessa busca não tem referências geográficas. É uma referência metafórica, relacionada apenas ao tempo que ele pode dispender cada dia para os exercícios, estudos e devoções, assim como aos ideais morais que pode estabelecer para si mesmo. Não se pede a ele mais do que sente que pode humanamente dar sob suas circunstâncias e responsabilidades presentes. Ir à índia ou a qualquer outro lugar é desnecessário e até mesmo desaconselhável. Um dos maiores místicos que conheci passou todos os dias de sua vida em Londres, onde tinha um negócio para administrar. Fez o seu trabalho e teve muito êxito, permaneceu fiel a seus ideais e tornou-se espiritualmente "consciente". Era, de fato, um adepto da meditação, mas nunca pôs os pés no Oriente/Aquele que busca não precisa realmente ir muito longe. Há quatrocentos anos, Sebastian Franck, um alemão que chegou à plena realização espiritual, escreveu: "Não precisamos atravessar os mares para encontrá-10. A Palavra está próxima de vós, es em vosso coração" 287 A crença de que precisamos viajar a lugares distantes para buscar a luz da Verdade não é realmente verdadeira, mas nossa fragilidade pode ter que fazê-la verdadeira. Logo que sossegamos, na esperança de descobrir as forças mais profundas no interior de nós mesmos, elas começam a tornar-se ativas. 288 Iludimo-nos com o sonho de que estamos viajando para a Itália ou para a Áustria; não somos nós que estamos viajando, mas o navio ou o trem. Nós w viajamos quando nossas almas saem de seus estreitos limites e buscam uma vida

mais ampla. E isso pode ocorrer em qualquer lugar: pode ser em nossa própria casa, diante de um livro iluminado; pode ser, naturalmente, à nossa primeira visão do Himalaia. Mas, simplesmente mover nossos corpos, de um lugar para outro, distante, sem um movimento correspondente da alma, não 6 viagem; 6 dispersão. 289 Quantos, nos últimos anos, viajaram no "circuito ashram"! Quanto eu e alguns amigos contribuímos para este resultado! No final, a que leva isso tudo? Que um antigo presidente da respeitada Missão Ramakrishna, chefe da Ordem dos Monges Ramakrishna e abade do Monasterio Belur responda, na advertência que fez a uma senhora americana que viajava animadamente, indo de um ashram hindu a outro, passando alguns dias em cada um numa viagem de seis semanas à índia. Swami Saradananda disse com um largo sorriso: "Lembre-se, o que está dentro de você está em todo lugar. O que não está, não está em lugar nenhum." Será que essas palavras não advertem à visitante de que não existe nada grátis no universo, de que ela não pode conseguir algo em troca de nada, que nenhum "guru" pode dar-lhe aquilo por que ela própria tem que trabalhar, e prover, que ninguém consegue trazer a um íntimo relacionamento interior consigo mesmo um mestre espiritual muito distante ou muito acima de seu próprio nível de desenvolvimento? Quando um indiano com tanta autoridade e experiência faz essa afirmação a essas pessoas, suas palavras deveriam ser levadas em consideração e comparadas às palavras ditas, escritas ou difundidas pelos que têm menos conhecimento. 290 Onde um homem deve ir para iniciar essa Busca? Deve viajar para o Oriente? Pode levá-la adiante apenas no Oriente Próximo, no Oriente Médio ou no Extremo Oriente? A resposta é que essa viagem é totalmente desnecessária. Que ele comece na terra onde vive, onde o destino o colocou. Mas se não é necessário mudar de um país para outro por causa da Busca, pode ser útil mudar, pelo bem de um único setor da Busca — ou seja, a meditação —, do barulho e alvoroço da cidade para a quietude e calma da vida no campo. 291 Aos que querem viajar para a índia ou para qualquer outro lugar à procura da salvação ou de um mestre que os leve a ela, deve-se perguntar "Não vê que, se for para lá, terá que lutar com o seu ego da mesma forma? Olhe bem no fundo de seu coração, porque é lá que está o que você realmente busca." 292 Se um homem tem que ir à índia para encontrar paz de espírito, então ele pode perdê-la novamente quando deixar a índia. Isso também é verdade quando tem que ficar perto de um guru pelas mesmas razões. 293 Não há nada errado com o desejo de conhecer a índia, porque pode-se aprender mais sobre este nosso mundo e as pessoas que nele vivem, e especialmente sobre as tradições espirituais da índia. O erro existe quando ele acredita que, pelo simples fato de deslocar-se no espaço desse modo, pode receber a iluminação de bandeja, das mãos de outro homem chamado de guru. Isso não pode acontecer, a despeito do que o pensamento esperançoso, de um lado, e a estreiteza fanática, de outro, 198

possam dizer. No momento, a Indonésia está mais em moda que a índia, mas a questão permanece a mesma. Porque a iluminação envolve liberação do ego, de seu cativeiro e de seu engano. 294 O ensinamento oculto é desconhecido de quase todos os yogis e swamis da índia. No entanto, ele existe e pode ser obtido sem se recorrer a essas pessoas. 295 O homem pode ir para o Oriente e nada ganhar. Não é a exuberância emocional que produz um alto resultado espiritual, nem as visitas a muitos ashrams, mas a profundidade e concentração com que se vê a verdade.

Estágios de desenvolvimento 296 Muitas fábulas antigas são alegorias perfeitas dessa busca. As tentações e perigos, as armadilhas e aventuras de seus heróis são exemplos fiéis daquilo que o aspirante encontrou no passado e que encontrará em nossos dias. 297 Os estágios da Busca passam gradualmente de disciplinar o ego a abrir a consciência para o Eu Superior. 298 • Nessa viagem existem estágios de ascensão, estações de compreensão, luzes de paz e sombras de desespero. 299 A Busca deve atravessar os três níveis — corpo, mente e espírito.

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300 Há uma fórmula indiana que cobre três estágios progressivos da Busca: Escuta, Reflexão, Iluminação. Isso significa: Receber instrução (de guru ou livro). Pensar constantemente sobre os ensinamentos até que estejam totalmente assimilados. Experimentar lampejos de natureza mística. No final dessa terceira fase, o aspirante não tem apenas que repetir e prolongar os lampejos, até que toda sua vida esteja permeada pela sabedoria e paz que é fruto deles, mas tem também que receber e aplicar a mais elevada doutrina filosófica. Com isso, sua iluminação torna-se "natural", sem esforço, ininterrupta. Ele se unifica com sua atividade, esteja ocupado no mundo ou quieto em meditação. 301 De acordo com o ensinamento hindu, o homem passa por três estágios de desenvolvimento: sai do Inerte, atravessa o Passional, e chega ao Harmonioso. 302 Ao longo de sua vida, o estudante passará de uma fase de desenvolvimento a outra, enriquecendo e expandindo assim, gradualmente, todo o seu caráter.

303 Iniciar a busca é o primeiro passo. Continuar nela é o segundo, possivelmente o mais difícil. Terminar completamente a busca é o passo mais difícil de todos.

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304 É verdade que ele pode estar apenas iniciando sua busca, 6 possível que sua realização esteja bem longe, mas tudo precisa ter um começo. 305 É um treino progressivo que continua durante toda a vida. 306 % Existem períodos de intensificar a busca, de acelerar seu ritmo e firmar suas disciplinas. 307 Com a ampliação da visão, desenvolvimento da mente, instrução correta, obtida de instrutor ou livro, interpretação correta de suas próprias experiências e das de outros, d e sai do sectarismo estreito e entra em um novo nível universal. 308 I A atitude de fé em outra pessoa é, sem dúvida, útil para os iniciantes, contanto que essa fé se justifique. Mas esse é um estágio necessariamente inferior à atitude de fé em sua própria alma. Voltar-se para dentro em vez de para fora, superar a tendência à exterioridade, é ascender a um estágio mais elevado. 309 A transferência negativa, a transferência positiva e a orientação equilibrada: todas são estágios de adaptação externa e não merecem ser mais valorizadas do que isso. É só no nível interno que se atinge o equilíbrio mais seguro. 310 Essa mudança criativa das circunstâncias é um processo duplo, praticado no mundo exterior, a que pertencem as circunstâncias, e no mundo interior do espírito, onde elas estão ausentes.

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Se d e continuar o trabalho interior, passará por vários estágios de desenvolvimento. Seria um erro acreditar que alcançou uma postura final ou conjunto fixo de valores. 312 Há uma diferença entre o iniciante e o adepto: o estado de ser que o primeiro contempla com admiração temerosa parece inteiramente natural para o outro. 313 ' O último degrau leva-o necessariamente ao Silêncio DAQUILO que transcende o intelecto, mas é um silêncio rico em liberdade e serenidade. É só aqui que ele pode ouvir a voz de Deus, voz sem palavras, e, depois de ouvi-la, desconsiderar todas as outras vozes. 314 i Apesar de o movimento em direção à iluminação avançar por estágios, o momento real da iluminação vem abruptamente, com uma transcendência súbita da escuridão na qual vivem comumente os homens. 200

315 Chegará o tempo, se ele perseverar, em que sua mente se orientará naturalmente na direção do pólo espiritual do ser. E isso ocorrerá por si mesmo, sem nenhuma ânsia de sua parte. Nenhuma ação externa será capaz de interromper o processo, porque para torná-lo possível a mente parecerá tornar-se duplamente ativa. No primeiro plano estará atenta ao mundo exterior, mas no segundo plano estará atenta ao E u Superior. 316 E l e pode deter-se, por algum tempo, em um ou outro desses cultos, mas estiver buscando a verdade não permanecerá em nenhum. No final, depois de muito experimentar e escolher ao longo dos anos, sua busca o levará à filosofia. 317 Os degraus que sobem da iniciação numa compreensão mais elevada da verdade e ampla capacidade de aceitar a consciência contemplativa abrem-se a ele um a um à medida que passa pelos testes sucessivos. Esses testes consistem, nos graus inferiores, na disposição de submeter à disciplina os hábitos físicos, paixões e desejos e, em graus mais elevados, na disposição de submeter a ela pensamentos e sentimentos. No geral, levam a um desapego progressivo do animal e do ego. 318 Quando o discípulo chega ao final da fase que está atravessando, sua atenção desloca-se para uma nova fase. O caos e a incerteza em relação a essa nova fase descem sobre ele. Não pode ver claramente o caminho que leva a ela, ou tomar com facilidade a direção correta enquanto o percorre. 319 Há testes, perigos e armadilhas nos vários estágios dessa Busca. 320 Â 4 Esse lampejo momentâneo do E u Superior proporciona o verdadeiro início de sua busca. A compreensão clara, profunda e ininterrupta do Eu Superior estabelece o término. 321 Quando começa a sentir a paz e exaltação interiores, como se fosse um perfume, no limiar do E u Superior, ele pode compreender como essa vida interior é real e como, paradoxalmente, do ponto de vista comum, é ininteligível, indescritível e imaterial. É algo e, ao mesmo tempo, não é algo que possa ser colocado de uma forma perceptível aos cinco sentidos. Seja como for, está ali e é a Alma Imortal. 322 a É inevitável que uma mente que busca — entendida como algo diferente da inerte e desinteressada — deva passar por várias fases progressivas de 323 O homem pessoal deve crescer e desenvolver-se adequadamente como Só então alcança o estágio em que é seguro, e não prematuro, dissolver o ego e

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destruir o seu reinado. Porque, depois desse ponto, esse reinado transforma-se numa tirania, quando a tarefa é transformá-lo numa subserviência. 324 Do erro num extremo à verdade no outro, a viagem é longa e tediosa. 325 Que ele tome, dos diferentes ensinamentos, o que melhor serve à sua mente e objetivo: o estudo da religião comparada e do misticismo pode ajudá-lo. Mas só no início: mais tarde, terá que especificar cada período de acordo com a ideia que era necessário desenvolver. 326 • É bom, como começo, acreditar em Deus. É admirável, como próximo passo, tentar aproximar-se de Deus pela adoração — mas não é suficiente. A realização de um dever ainda superior é tentar conhecer aquilo que, em nós, 6 a ligação com Deus, que, em contraste com o homem, é de natureza divina. 327 A direção do progresso vai da crença ao conhecimento e, depois disso, ao amor do que é conhecido. 328 Se o homem vem a essa busca por meio do pensamento, sofrimento ou destino, termina-a, se nela permanece, por meio do amor, amor àquilo que brilha nos primeiros lampejos que ele tem, amor ao E u Superior. É como a criança que perde seus pais e depois os encontra. 329 Primeiro, ele tem uma vaga sensação de ser atraído em direção ao E u Superior. Depois, dedica mais atenção a ele, pensa nele frequentemente; com o tempo, a atenção transforma-se em concentração que, por sua vez, culmina na absorção. No final, ele pode dizer como al Hallaj: "Vivo não em mim mesmo, só em T i . Ontem à noite amei. Nesta manhã sou Amor." 330 Os estágios do treino filosófico geralmente começam com o conhecimento teórico dos ensinamentos. Quando ele estiver bem assentado, transforma-se, com o tempo, em aspiração por auto-aperfeiçoamento e em esforço para moldar o caráter e a conduta de acordo com o ideal filosófico. Esse período de maturação é, muitas vezes, longo e difícil. No terceiro estágio, começa-se a experimentar o "lampejo" da iluminação. O primeiro lampejo tem efeito duradouro, e tende a ser associado ao primeiro contato como um guia espiritual inspirado, ou com os escritos de um homem assim. No caso de algumas pessoas, ocorre uma série diferente de passos. O lampejo vem primeiro, o estudo teórico depois, e a luta para expressá-lo na vida vem por último. 331 O que busca passará sucessivamente por esses três períodos antes que possa entrar na terra sublime da realização. Primeiro deve experimentar e esgotar as pos-

sibilidades externas da religião; depois deve praticar o rito interno da meditação; por último deve, com a inteligência mais aguçada, buscar a mais sutil das filosofias. 332 A ideia de que uma existência superior para os homens é possível pode ser um forte sentimento intuitivo ou uma forte crença religiosa. Essa existência superior pode desenvolver-se através da experiência de um lampejo místico, tornando-se realização pessoal, ou — o que é mais verdadeiro e duradouro — através da experiência do insight filosófico. 333 :f A aspiração ou anseio ocorre primeiro na Busca, a contrição e a purificação vêm depois; o estudo, a prece e a meditação seguem-se naturalmente a essas preparações. E l e deve primeiro preparar-se para a iluminação, e só então irá consegui-la. Como consequência de todos esses esforços e aspirações, ele começará a crescer a partir e além de si mesmo. A sabedoria vem no final de um longo noviciado. 334 A terceira parte da busca é uma praxis moral e social. 335 • O estágio superior é pura filosofia, pois reeduca sua visão, e, portanto, sua consciência. Exige, no entanto, um estudo intenso e concentrado, e devido a isso poucos se interessam por ele. Baseia-se no raciocínio, não nas intuições místicas, e será o desenvolvimento lógico da ciência moderna se ela continuar pesquisando, como Eddington, Planck e outros o fizeram. Infelizmente, o Ocidente não levou o raciocínio ao mais pungente extremo, como fizeram os antigos Rishees, pois deixou de considerar os estados de sonho e sono profundo, assim como outros assuntos importantes. A razão não deve tampouco ser confundida com a lógica; esta é limitada e não pode produzir a verdade. 336 Mas a experiência mística não é suficientemente comum para transformar-se na base da instrução popular sobre os métodos para se atingir a filosofia. A humanidade, em seu estágio presente, não é nem mesmo mística por natureza, e muito menos filosófica, mas pode chegar a isso através da educação e do treinamento. Porque o misticismo sempre se segue à religião como um estágio mais avançado da jornada do indivíduo. A consciência mística é um estágio inevitável da evolução humana. Todo homem chega a ele com o correr do tempo. Mas não o faz num movimento suave, como o do mecanismo de um relógio. Sua ascensão será desigual, irregular e em ziguezague. Ainda assim, o homem necessariamente o alcançará. Os poucos que querem antecipar o processo evolutivo humano devem recorrer no misticismo ou à filosofia. § t 337 Primeiro estágio: É atingido pelos que estudam apenas metafísica ou praticam apenas o misticismo. É retirar-se dos sentidos e de seus objetos. É negativo. Leva à percepção de que o mundo externo é insatisfatório. É o grande afastamento dos objetos dos sentidos. É um estágio ascético; é acompanhado de pensamentos; d o m

reconhecimento de que a matéria não é fundamentalmente real. É caracterizado pela mudança moral. É a descoberta, por meio de um vislumbre da natureza espiritual do homem, que é um enlevado senso de união com o ser imaterial superior. E l e sente, ocasionalmente, que é divino. Segundo estágio: Afirma a realidade fundamental, positiva e única. Produz a visão da luz mística do Logos; só pode ser atingido pelo misticismo. É a entrada no Vazio; é a descoberta do Espírito; é transe. É livre de pensamentos, deleita-se na solidão. Essa clara compreensão de Deus no coração marca o estágio do Observador, próprio da experiência ultramística. O homem sente-se totalmente desapegado de suas atividades, ou das atividades do mundo, tanto que é asceticamente tentado a retirar-se da vida. Se, no entanto, o destino obriga-o a continuar no mundo, ele, de maneira singular, se sentirá o tempo inteiro como o espectador de um filme; mas essa não pode ser a meta humana final. Terceiro estágio: É no mundo, mas não do mundo. É o retorno ao mundo exterior dos sentidos e a descoberta de que ele também nasceu de Deus. Nunca perde de vista sua unidade com a vida, mas insiste em sua conexão com a ação. Em vez de transformar-se num refúgio para sonhadores, faladores e escapistas, transforma-se numa dinâmica inspiradora. E a realização do Todo em si mesmo e de si mesmo no Todo. Com essa realização ele se lança, incessantemente, ao serviço da humanidade.

Só a pessoa total encontra a verdade total 338 Enquanto em nossa natureza houver partes ainda não-desen volvidas, não seremos homens completos. 339 " É a totalidade de seu ser corpóreo, mental e espiritual que o homem deve desenvolver, 340 Os resultados comprovarão a validade do caminho integrado, a eficácia da personalidade integrada. O homem é um ser de muitos lados. Seu desenvolvimento deve dar-se em congruência com esse fato. 341 Toda a psique do homem deve participar dessa tarefa de auto-espiritualização. O sentimento sozinho não pode realizá-la, a vontade sozinha não pode realizá-la, o pensamento sozinho não pode realizá-la. Cada elemento deve contribuir para ela e ser moldado por ela.

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342 Será que a tendência à extroversão e a tendência à introversão — que competem entre si — podem ser reunidas numa única vida? A filosofia não apenas responde que podem, mas também que devem ser integradas para se chegar à plenitude da vida mística. Une sabiamente os dois ideais sem prejudicar nenhum deles. Aqui, a filosofia não apenas coopera com a natureza humana, mas também imita o padrão 204

rítmico da Natureza. Está em harmonia com o Tao, "a maneira pela qual o universo se move". 343 Não é suficiente desenvolver apenas uma dessas partes de nosso ser. É uma tarefa muito mais estupenda desenvolver todas as três ao mesmo tempo. É isso que a filosofia pede. 344 > O trabalho perfeitamente feito, o corpo eficazmente usado, a mente competentemente dirigida — uma personalidade assim, desenvolvida globalmente, é o ideal. 345 Se é para se descobrir a verdade total, o ser total deve participar da busca. Se isso for feito, a filosofia será conhecida e também vivida, compreendida e também sentida, experimentada e também intuída. 346 0 homem como um todo deve ingressar na Busca e então, quando a verdade for encontrada, o organismo inteiro se beneficiará. Se apenas funções isoladas ingressarem na busca, então só elas serão beneficiadas pela verdade. 347 Na medida em que é uma pessoa incompleta, só será capaz de encontrar uma verdade incompleta.

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348 7 Não é apenas uma parte do homem que deve seguir a busca, mas todas as partes dele. A verdade total pode vir apenas para o homem total. / 349 Outras experiências e outras metas exigem força e atividade de apenas uma parte de seu ser, mas essa busca da vida superior exige o seu todo. * 350 # Ele segue a busca com certa hesitação, descontinuada e cautelosamente, cuidando para que não exija dele mais do que está preparado para dar. Não há objeção: ele pode estabelecer seu próprio ritmo mas, no final, evidentemente, terá de entrar nessa busca com todo o seu ser. 351 Por que ele não pode ser um ser humano e também um yogil Por que não trazer toda a sua natureza à essa aventura integrada que é a Vida? 352 A busca pode tornar-se seu interesse central, mas isso não é desculpa para que ele se torne desequilibrado. 353 Se ele vier à busca com todo o seu ser, voltando todos os seus lados para a luz e a disciplina que são próprias dela, poderá esperar com confiança pelo insigkt total, por uma transformação total e não por um resultado parcial, incompleto.

Realizações 354 A primeira recompensa é a realização da verdade em todas as partes de seu ser, o eu inferior transformando-se em instrumento da Alma. A segunda recompensa é a paz, que traz intenso contentamento e alegria. Um desejo agudo e constante pela consciência da Alma, uma disposição de submeter tudo a ela interiormente são, no entanto, pré-requisitos. 355 A aceitação dessas ideias só pode beneficiar—e não prejudicar—a humanidade.

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356 Se ele se ajustar conscientemente ao propósito superior da vida humana, não apenas se tornará um homem melhor e mais sábio, mas também um homem mais feliz. 357 A caça do espírito da cobiça é uma aventura incerta, mas a caça da Verdade é cheia de certeza. Ela recompensa aos seus, até mesmo na aparente derrota./ r

358 Fora da Busca virá um anseio por aquilo que é o melhor na vida e superior na Verdade. 359 A cada ano de experiência crescente e aplicação constante, ele descobrirá mais e mais verdade nesses ensinamentos. Consequentemente, será incapaz de não os amar mais e mais. 360 Da miscelânea de pesquisas místicas e experiências estranhas, estudos religiosos e contemplações metafísicas, que tomou uma parte tão grande da Busca, surgirão algumas poucas certezas irrefutáveis. 361 / Quando finalmente se percebe essa verdade, de que o céu não é um lugar no espaço, mas um estado de ser, e que portanto pode ser atingido até certo ponto antes da morte, têm-se um sentimento de alegria e uma sensação de aventura. A alegria surge porque não mais estamos restritos pelo tempo, e a sensação de aventura porque um panorama das possibilidades da busca se abre. 362 . Uma serenidade que nunca o abandona e uma integridade que sempre o caracteriza são apenas dois dos frutos da disciplina filosófica amadurecida. / 363 Se não houvesse mais nada — nenhuma experiência interior dramática ou excitante — além dessa paz crescente, desse profundo sentimento de quietude, mesmo assim o tempo e o cuidado dispendidos nisso teriam sido bem empregados. Mas há mais para os que querem também saber alguma coisa sobre a origem dessa paz, 206

suas operações e conexões. Fique satisfeito porque, além dessa pequena dose de conhecimento, o Grande Mistério engole todos os que o descobrem. Todavia, nada há a temer. 364 Aquele cujo único recurso é o ego pessoal está constantemente sujeito às suas limitações e estreitezas, sendo, consequentemente, assolado por tensões e ansiedades. Aquele que abandona o ego e se abre, aquele cujo recurso é o Eu Superior, descobre-o infinito, ilimitado, e é consequentemente preenchido de paz interior. 365 * t A busca sempre começa com uma grande tristeza mas sempre termina com uma grande felicidade. Seu trajeto pode atravessar estados de espírito brilhantes ou escuros, mas seu término será inacreditavelmente sereno. 366 A Busca dá-lhe a oportunidade de conquistar a paz interior e descobrir a felicidade interior; ela não dá paz e felicidade. Se isso parece não justificar seu trabalho e disciplina, lembre-se de que o homem comum não tem nem mesmo essa oportunidade. 367 E portanto, exausto de desviar-se de sua meta antiga, o aspirante coloca os pés cansados no portal do pensamento imortal e demora-se, por um momento imaculado, na paz indizível. As palavras que ouviu com seus ouvidos mortais demonstraram ter valor apenas transitório para ele, mas as palavras que ouve quando se afasta do mundo e escuta com o ouvido interior caminharão a seu lado até o fim do Tempo. 368 Quando levar ao descanso a multidão de emoções conflitantes, quando tiver treinado os pensamentos para que lhe obedeçam, quanto tiver combatido e vencido o próprio ego, ele chegará a um estado de paz. 369 # Chegar à presença de uma inspiração superior, sentir sua nobreza e compreender sua mensagem traz uma alegria que plenifica profundamente. 370 i O homem que não consegue encontrar alegria em sua Busca não compreendeu a Busca. x

371 .Não há necessidade que os aspirantes se engagem no culto do sofrimento mórbido. Não há razão para não serem felizes. Se a Busca os traz para mais perto de seu eu essencial, ela os trará também para mais perto de sua felicidade. 372 Quando o homem sente a presença de um eu mais divino dentro do peito, quando acredita que o poder desse eu o protege e provê suas necessidades, quando avalia seus erros passados e problemas futuros com perfeita serenidade, tem mais capacidade para gozar a vida e uma expressão mais verdadeira de felicidade do que os que se deleitam apenas com prazeres efémeros e satisfações sensoriais. Pois essa presença permanece, em épocas de adversidade e horas de calamidade, enquanto o resto se esfacela e desaparece. 207

A sabedoria pode ou não vir com a velhice: é mais provável que venha com o esforço da autodisciplina e o aprofundamento do estudo, concentração e reflexão, com a humilde veneração religiosa ao Poder superior. Ela é, dizem, sua própria recompensa, mas traz consigo dádivas, das quais a paz interior é a mais proeminente, o sorriso gentil a mais permanente. Quanto mais um homem se familiariza com as verdadeiras fontes de sua vida interior — tanto em seu lado bom quanto em seu lado mau — melhor será para sua vida exterior. „ 410 Ele expandirá o significado de sua habitual experiência de vida à medida que expandir a consciência do divino em si mesmo. 411 A sabedoria prática ao superar as situações mais difíceis e a habilidade perfeita ao administrar as situações mais delicadas são qualidades que devem emergir a partir do treino equilibrado oferecido por essa busca.

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412 Ela se torna o pano de fundo, desconhecido de outras pessoas, de todas as suas atividades. Essa é uma conquista considerável, uma consequência de aplicar nas atividades o que percebeu na meditação, aprendeu no estudo e compreendeu na reflexão. 413 E um ensinamento cujos conceitos dão à mente uma compreensão razoável da vida, e cuja prática dá repouso ao coração. 414 É um grande erro acreditar que esse é um caminho para a miséria mundana e para a pobreza material. Ratna Karanda Sravakachra, um antigo texto sânscrito, diz: "Ao que se transforma numa caixa de jóias de sabedoria filosófica, devoção perfeita e conduta impecável, a ele vem o sucesso em todos os empreendimentos, como uma mulher ansiosa para voltar a seu marido." Observe, particularmente, que a promessa é feita para aqueles que percorreram o tríplice caminho, e que o percorreram até o fim. 415 O que está suficientemente preparado para reconhecer o Propósito Superior da Vida e que tem coragem para modificar e melhorar sua maneira de pensar, substituindo pensamentos negativos por positivos, será certamente recompensado por circunstâncias melhores e por uma felicidade maior do que jamais gozou.

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416 Ninguém que sinta que sua fraqueza interior ou as circunstâncias exteriores o impedem de aplicar esse ensinamento deve, por isso, abster-se de estudá-lo. Isso seria não apenas um erro, mas também uma perda. Pois, como diz com verdade o Bhagavad Gita, "um pouco desse conhecimento evita muito perigo". Mesmo poucos anos de estudo de filosofia trarão benefícios definitivos à vida do estudante. Ajuda-lo-ão de todos os modos, inconscientemente aqui na terra, e muito seguramente ajuda-lo-ão depois da morte, durante sua vida na existência que se segue. (P) 417 Apesar de suas promessas e experiências não parecerem deslumbrantes num sentido mundano, a Busca se revela como a melhor das formas de vida. 418 Se exige o preço mais alto possível em satisfações humanas, ela dá, em troca, as mais altas satisfações espirituais possíveis. 419 O aspirante pode já ter descoberto por si mesmo alguns dos benefícios interiores da Busca. Quando o Eu Superior passa a ser sentido como uma presença viva no coração, Ele diminui o controle dos desejos egoístas —juntamente com as mudanças emocionais de humor — sobre a consciência e ergue-a a um nível mais elevado, onde o indivíduo logo se aperceberá de uma maravilhosa satisfação interior, que permanece calma e imperturbável a despeito de circunstâncias externas adversas. Enfim, o aspirante tem que ascender àquela atmosfera pura, de onde pode avaliar sua vida pessoal como uma coisa à parte. É ainda mais difícil viver nesse 212

nível expressando a sabedoria e a bondade que lhe são conhecidas. Está, no entanto, quase além das forças humanas realizar a segunda parte desse programa. Assim, o aspirante tem primeiro que estabelecer a conexão com o Eu Superior, de modo que a força e a compreensão d'Ele governem-no sem esforço. No momento em que se estabelece essa conexão, o aspirante torna-se consciente dos efeitos da Graça Divina sobre sua personalidade. Esse momento é imprevisível, mas, para o indivíduo que se atém à Busca, chega com certeza. 420 Dessas lutas intensas com seus pensamentos e emoções, dessas meditações repetidas e ações altruístas, dessa auto-análise constante e aspirações ardentes, ele obterá, finalmente, algo que as palavras mal podem descrever. Será um novo senso de sagrado, uma consciência iluminada de um eu mais profundo, uma serenidade amorosa e abençoada. 421 Na prática da meditação, no estudo da metafísica e na conduta correta temos o caminho triplo que traz satisfação, paz, sabedoria e a verdadeira prosperidade. Jesus ensinou-nos tudo isso há muito tempo, mas, infelizmente, sua mensagem foi mal compreendida, distorcida e até mesmo falsificada. No entanto, ele ensinou também que todos somos filhos de Deus. E é o dever de um Pai olhar por seus filhos. Apesar das tragédias e horrores do nosso tempo, os que têm olhos para ver ainda conseguem enxergar os braços divinos envolvendo-nos. Apesar da presença de monstruosidades no mundo, há também a presença do Eu Superior — bela, radiante, benigna e indestrutível. 422 A inteligência exercitada constantemente a meditar sobre a natureza da vida, os movimentos do universo, a psicologia do homem e o mistério de Deus — se exercitada com calma, equilíbrio intuitivo e profundidade — leva a alma a se abrir. 423 Se o aspirante deixar que esse propósito penetre sua vida inteira, sentirá logo, com alegria, que é parte da estrutura eterna do universo, que se encaixa em algum ponto na Ideia desse universo, e que, numa relação assim elevada, todas as coisas devem trabalhar juntas para o derradeiro bem do seu ser.

Perigos 424 Os que ficarem com medo da Busca por causa destas notas sobre seus perigos, estarão melhor longe dela. # 425 O aspirante que não tem equilíbrio tende a dar passos em falso em vários pontos de seu caminho. 426 Se um sonhador desequilibrado não é levado à realidade pela experiência, então é melhor que fique longe da busca. Isso não quer dizer que não possa ter experiências místicas em profusão, mas que elas terão pouco valor para o insight.

427 As incertezas da Busca podem levar, com o passar dos anos, e especialmente em temperamentos neuróticos, a uma variedade de estados de espírito infelizes e emoções doentias. O estudante pode, nessas ocasiões, voltar-se contra si mesmo num masoquismo mórbido, ou contra o ensinamento que vem seguindo ou — se tiver um — contra o seu instrutor. 428 O iniciante muitas vezes vive sob a impressão enganosa de que está seguindo a Busca, quando ainda nem mesmo encontrou sua entrada. 429 A importância da direção correta é que, se o ângulo do desvio abranger um período longo, a área de erro estender-se-á por uma grande distância. 430 A necessidade de autoproteção daquele que busca é encontrar e manter tanto uma sanidade aparente quanto uma sanidade real. A primeira é necessária para defender-se contra o mundo, a segunda para defender-se contra si mesmo. 431 Quando o Yoga é praticado de maneira imprópria ou excessiva, pode trazer resultados nocivos; um deles é a diminuição gradual do interesse pelas atividades comuns da humanidade. O infeliz praticante desenvolve um caráter vago e nebuloso. Torna-se cada vez mais incapaz de cumprir obrigações sociais ou profissionais, e tende a aborrecer-se com a responsabilidade. Trata o destino dos outros com indiferença. Faz só o que é imprescindível e, mesmo assim, de maneira descuidada, distante e desinteressada. Em suma, torna-se inadequado para a vida prática de todos os dias. 432 Fique longe de práticas psíquicas e investigações ocultas. São cheias de perigos e armadilhas. Em primeiro lugar, devote suas energias ao trabalho fundamental de aprender filosofia, melhorar o caráter, disciplinar as emoções e cultivar a calma. Só quando esse trabalho estiver bem avançado será seguro você se dedicar ao ocultismo, pois só então estará bem preparado para isso. 433 Deve-se fazer, mais uma vez, uma advertência contra os perigos de se cair no mero psiquismo, na busca de fenõmenos, visões, milagres e outras coisas que ainda estão no domínio de um materialismo sutil e que estão sempre ligadas ao ego pessoal. A verdadeira experiência espiritual é superior a isso, 6 mais pura e deixa o indivíduo absolutamente calmo, enquanto os fenómenos psíquicos deixam-no excitado. Todos esses fenómenos envolvem pensamento e emoção, enquanto a experiência espiritual mais profunda dá-se sob o pensamento e a emoção, e especialmente sob o eu pessoal. Só então se entra em contato com o Infinito poder-de-vida que está por detrás de tudo, e que é a verdadeira meta desta Busca. 214

434 Os que imaginam que a Busca é uma alegre viagem espiritual, conhecem apenas um aspecto limitado dela. Porque juntamente com as alegrias há tristezas, dificuldades, lutas, conflitos e hesitações. 435 É verdade, infelizmente, que uma parte dos que se sentem atraídos por esses assuntos são psicopatas. Seria muito melhor que recebessem tratamento adequado para suas mentes, imaginações e sentimentos perturbados. Os estudos místicos podem facilmente acentuar seu estado e aumentar seu desequilíbrio. Todos os que expõem esses ensinamentos têm o dever de advertir essas pessoas nesse sentido e de convidá-las a se engajarem na busca da saúde psíquica e corpórea antes de tentarem entrar na busca da luz espiritual! 436 Quando o homem não dá atenção às advertências dos profetas e aos conselhos dos sábios, e ainda não se desenvolveu o suficiente para escolher corretamente seus passos, extravia-se, inevitavelmente, do seu caminho. 437 Não se deve tentar despertar forças interiores sem tentar, ao mesmo tempo, fortalecer o caráter e precaver-se contra a fraqueza. 438 No caso de pessoas mentalmente perturbadas ou emocionalmente desequilibradas, a confiança no próprio ego pode ser facilmente confundida com confiança no Eu Superior — com resultados lamentáveis. 439 O perigo 6 que ele pode perder-se nos labirintos de sua própria mente. Os que sofrem desses desajustes psíquicos não podem encontrar a verdade, mas apenas distorções dela. Caíram num pântano mental. 440 Que ele não se engane. Poucos penetraram realmente aquela consciência extraordinária e permaneceram nela. Outros parecem tê-lo feito, mas o fato é que meramente tocaram sua superfície por alguns momentos e depois entraram num estado egoísta e presunçoso, que os aprisionou. 441 Podem ocorrer certas experiências psíquicas — de padrão conhecido — que já foram observadas tanto na própria experiência do autor como em numerosos outros casos. Entre o estado comum da humanidade subdesenvolvida e o estado verdadeiramente espiritual conquistado por indivíduos altamente avançados, há uma região psíquica que conduz à mediunidade e a outras armadilhas e perigos que devem ser ultrapassados. O indivíduo é de fato afortunado se a atravessa em segurança. 442 Uma variedade de influências sugestivas, vindas de diversas fontes, age sobre a mente e os hábitos dos estudantes, influências que podem ser muito boas para 215

os outros mas que podem ser nocivas à eles, individualmente, nesse estágio particular de progresso espiritual. Isso ocorre não apenas nos assuntos triviais da vida cotidiana, mas também nos assuntos mais elevados da vida de aspiração. Verdades puras e mentiras tenebrosas, meias-verdades e meias-mentiras habilmente combinadas são continuamente apresentados à sua consciência. Não apenas sua vida física, mas também sua vida mental, devem transformar-se num processo de aceitação cuidadosa e rejeição vigilante. E m determinado estágio da busca, deve-se tomar cuidado especial contra "verdades" habilmente sugeridas por pessoas que confundem sua própria luz bruxuleante com a glória do sol, e os preconceitos nascidos de sua própria experiência limitada com a sabedoria nascida do insight. Esse cuidado é especialmente necessário na esfera da experiência mística. 443 O que busca deve, por prudência, ficar em guarda contra aqueles que oferecem pseudoconhecimento, e também contra os extremistas que podem levá-lo ao desequilíbrio. 444 Os que entram na busca para satisfazer ambições pessoais por fim farão melhor afastando-se dela. 445 Viajar nessa busca pode ser apenas outra maneira de inflar seus egos, aumentar seu orgulho e renovar seu sectarismo. 446 Não é fácil essa busca. Alguns tropeçam ao longo dela e conseguem de algum modo avançar um pouco, mas outros a abandonam. 447 Um discípulo pessoal do Professor Jung disse a P.B.: "Meu amigo e professor Jung não se opunha ao Yoga\ é que a maior parte das pessoas que vinham vê-lo eram pacientes sofrendo de psicose. Ele achava que era melhor curar isso primeiro, ou o Yoga poderia ser perigoso". 448 Os instrutores tentam, às vezes, dissuadir as pessoas de entrarem na Busca porque, por sua própria experiência, sabem que é um caminho longo e doloroso. 449 Os iniciantes vêm a essa busca com pouco conhecimento e muita doutrinação, de forma que as atitudes sectárias logo reaparecem, apesar de revestidas de um jargão diferente. 450 Muitos iniciantes formam conceitos errados sobre esse assunto, muitas vezes retirados de uma miscelânea de leituras superficiais, leituras de mesclada qualidade. 451 O perigo não está apenas em praticar a meditação de modo atabalhoado e superficial, mas em experimentá-la por um tempo longo demais sem a garantia de uma supervisão qualificada. 216

452 desmedidas errónea* constituem mn«tít„ outro  perigo que ameaça _ .Afirmações . , . e ideias * ««meãs o iniciante em desenvolvimento. T

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| 453 A boa intenção ou o motivo sincero não são, por si sós, suficientes para proteger o tolo contra sua própria credulidade, aquele que não tem senso crítico contra sua própria estupidez e o desinformado contra sua própria ignorância. Tudo isso vale para a própria busca assim como para aquela parte de sua prática chamada meditação. 454 Atividades, fenómenos, ideias ou "guias" sedutores podem tentá-lo a sair do caminho correto, atraindo-o para assuntos de secundária importância, que o fazem desperdiçar tempo, ou para direções perigosas. A regeneração, o psiquismo, a política, os ensinamentos pervertidos ou falsos podem chamá-lo, mas ele não lhes deve dar atenção. E l e tem ainda um longo percurso, e deve tomar cuidado para manter-se na estrada certa. 455 Existe também uma busca do mal, cujos discípulos procuram servir sua natureza inferior em vez de dominá-la, e cujos mestres se revelam monstros, pelo ensinamento ou pela ação. 456 21£-* Devem-se fazer algumas advertências contra possíveis armadilhas no caminho daquele que busca. Sim, a meditação pode levar a alucinações, o autodesenvolvimento espiritual pode levar à vaidade espiritual, e a autopurificação pode levar ao ascetismo excêntrico.

Podemos ajudar o Eu Superior a atrair-nos para a meta submetendo-nos â orientação de um conselheiro espiritual competente, ou podemos obstruí-lo prendendo-nos à orientação do ego. Mas um conselheiro incompetente também o obstruirá e, na verdade, pode tornar-se um canal para as táticas do ego que obscurecem a verdade.

ESTUDANTE-INSTRUTOR

Notas gerais Os poucos que têm ampla experiência de vida, cuja razão 6 suficientemente viva para julgar corretamente tanto os frutos quanto as raízes, e cuja intuição 6 suficientemente ativa para reconhecer a nobreza quando a encontram, que querem toda a verdade e nada menos que isso, encontrarão um amigo (porque ele não deseja ser nada mais que isso) que não lhes permitirá manter uma visão fantasiosa de uma perfeição terrena que não existe; que será humilde, são e equilibrado acima de todas as coisas e no entanto provará com o tempo — se permanecerem leais — ser também um guia seguro e benevolente nessa floresta escura onde tantos vagueiam confusos, iludidos ou auto-iludidos. Uma adoração excessiva e irrefletida a um santo levanta esperanças exageradas e até mesmo falsas. Historicamente, tem muitas vezes terminado em exploração do adorador. Mas até mesmo quando isso não ocorre, ela é, ainda assim, incompatível com um autodesenvolvimento saudável; um respeito afetuoso é mais sábio e mais seguro. Não peçamos a um instrutor que seja um deus, porque dessa maneira estaremos sujeitos a nos iludir e a nos expor a perigo, mas peçamos-lhe que seja competente e iluminado, verdadeiro, prestativo e compassivo. 2 Não apenas por nossos esforços, nem apenas pelo dom ou pela graça de um ser externo podemos ser levados à realização final, mas por ambas as coisas.

6 A dificuldade da tarefa de auto-aperfeiçoamento não deve ser subestimada, e é por essa razão entre outras que desde os tempos antigos os que buscam têm sido aconselhados a obter a ajuda de um guru. Dele poderão conseguir inspiração, orientação e certo poder, telepaticamente transferido, que fortalece e é chamado de Graça. Não é necessário estar sempre vivendo perto de um guru num monastério, como muitos parecem acreditar. Basta encontrá-lo neste plano finco somente uma vez, mesmo que por apenas cinco minutos. Depois disso, sua ajuda pode ser recebida interiormente e mentalmente, por telepatia, sem necessidade de nenhum outro encontro físico. Isso porque o guru real não é o corpo, mas o seu ser interior, a Mente que está por detrás do corpo, e é com esse ser interior que aquele que busca deve tentar relacionar-se. Ele constrói uma relação assim por meio de sua atitude mental, por meio de sua fé, devoção e obediência ao caminho que lhe é mostrado. 7 Onde quer que haja instrução a ser recebida há um ashram. E quando quer que você vá lá, receberá instrução a partir das experiências de vida. Portanto, o mundo inteiro é um ashram para um estudante atento. O mesmo se aplica à questão do instrutor. Um poema bengali diz: "Prestarás obediência a teu mestre, meu coração? Ele está em cada passo, em cada lado do teu caminho. As boas-vindas que te dão são teu mestre, a agonia que te infligem é teu mestre. Cada aperto no coração que te faz verter lágrimas é teu mestre.** 8 Qualquer livro, pessoas ou produção artística que faz um homem lembrar-se do seu eu divino é, nessa medida, seu instrutor. Qualquer acontecimento, evento ou experiência que o afaste dessa lembrança, seja considerada boa ou má pelo mundo, é da mesma forma seu instrutor. Até mesmo suas ações indignas serão, devido às consequências a que infalivelmente conduzem, seus instrutores.

3 Os que se permitem ser elevados por alguma pessoa inspirada ou iluminada devem compreender que ela é capaz de elevá-los a ponto de tocarem o seu melhor eu, a divindade em seu interior. Alguns podem até mesmo chegar a um vislumbre dessa divindade, uma experiência memorável e inesquecível. Mas permitirão que isso aconteça?

Os que foram preparados para a verdade por seu desenvolvimento interior, circunstâncias exteriores ou carma pessoal chegarão a ela de qualquer maneira: podem precisar de um empurrãozinho ou de muita reflexão, mas no fim conseguirão reconhecê-la pelo que ela é. Mas eles confundem esse reconhecimento com a relação de discipulado a algum guru. Se quisermos entender as duas coisas corretamente, precisamos separá-las.

4 Não é necessário descobrirmos sozinhos o que é a verdade. Vez por outra aparecem entre nós mensageiros, cada um deles trazendo o próprio comunicado sobre a existência de um poder superior e a necessidade de uma vida superior.

10 O ensinamento está sempre disponível de alguma maneira ou de alguma forma, porque a Vida, através de situações variadas, toma conta do que é seu; mas um Instrutor em sua forma física pode não estar disponível exatamente no momento

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em que 6 necessário. Nesse caso, ele pode ser encontrado por intermédio de seus escritos. Se isso não ocorrer, ele pode vir a penetrar a vida mental durante uma grande angústia, uma inatividade forçada, um relaxamento incomum ou, finalmente, durante a meditação e por meio dela.

18 A própria natureza proclama constantemente, em silêncio, essas verdades majestosas e, se somos incapazes de ouvi-las de seus lábios, como normalmente somos, precisamos então ouvi-las dos lábios de um instrutor.

? 11 -(Mira Bai) "No caminho encontrei dois guias: os preceptores espirituais e Deus. Aos preceptores eu me curvo. Mas Deus eu guardo no coração.'*/

19 Sabemos que a mera leitura de livros e revistas não é o suficiente, e nossa convicção essencial (assim como também se reconhece no Oriente desde tempos imemoriais) é a de que um guia pessoal capaz de instruir e inspirar o indivíduo na viagem através da selva escura que existe entre a ignorância e a verdade é indispensável.

A necessidade de um instrutor * 12 A alegria depende de nossa compreensão da vida, a compreensão depende da penetração do insight, o insight depende das instruções certas transmitidas por um instrutor competente. A ajuda inspiradora, moral, intelectual e no campo da meditação que um guia competente pode dar a um discípulo digno é valiosa. Se conseguir encontrar esse guia honrado, altruísta, experiente e competente — e isso pode ser considerado uma boa sorte excepcional — o discípulo certamente deve submeter-se à sua tutela e render-se à sua influência. 14 A necessidade de um salvador surge do fato de que o ego não pode elevar-se por seus próprios recursos, não pode erguer-se de sua dimensão para uma dimensão superior, e não empreenderá voluntariamente a própria destruição. Porém, sua carreira espiritual chega finalmente a um ponto em que descobre e vê que já fez o que estava ao seu alcance, que é inútil esforçar-se mais, e que somente algum poder exterior a si mesmo pode efetuar o próximo movimento. Entretanto, seria auto-engano declarar ter alcançado esse ponto, quando de fato deve continuar lutando; não pode afastar-se prematuramente da luta. Se o fizer, será igualmente inútil procurar a graça de um mestre. 15 Os que se recusam a admitir que um Mestre é essencial para o neófito concordarão ao menos que sua ajuda é aconselhável. Somente um homem severamente desequilibrado, ou um tolo, empreenderia o estudo e a prática de medicina, de engenharia, ou de qualquer outra arte sem um instrutor, um especialista que já dominou o assunto. Assim, como pode alguém aprender a arte do desabrochar da alma, sutil e recôndita como ela é, sem compreender a utilidade de um Mestre? 16 O céu está em nosso interior e exterior, é verdade. Mas na maior parte dos casos, parece que é somente pela intervenção de um autêntico génio espiritual que conseguimos traduzir isso em realidade para nós mesmos. 17 A vida está ensinando-nos o tempo todo, mas sua voz precisa de um ser humano como intermediário mais direto, suas lições precisam da fala ou da escrita humanas para ganhar elocução mais clara. 220

20 „ O elemento que falta em muitas buscas é o guia espiritual. 21 Uma das maiores ajudas para transformar nossos pensamentos tímidos e nossos desejos vacilantes em ações é a inspiração recebida de uma mente superior. 22 A maioria dos homens precisa de um símbolo concreto que receba sua devoção e concentre sua aspiração. Em suma, descobre que precisa de um Líder Espiritual, seja ele histórico e do passado, ou contemporâneo e do presente. 23 Diz-se que a sabedoria vem com a experiência. Mas os sábios que se oferecem para compartilhá-la, pessoalmente ou por seus escritos, podem poupar-nos um pouco do esforço e do sofrimento que acompanha a experiência, 24 Cada geração tem que encontrar de novo seu próprio caminho através desses mistérios e em direção a essas verdades, a despeito da pesada carga de ensinamentos e revelações documentadas que recebe de todas as gerações anteriores. É por isso que sempre foram necessários novos profetas para fornecer chaves muito, muito antigas. 25 li.. * Algo ou alguém é necessário para arrancar-nos do ego e levar-nos ao Eu Superior que está por detrás dele. 26 Quando ele descobre que todos os seus esforços para o auto-aperfeiçoamento são movimentos em tomo de um círculo, que o ego não pretende na realidade desistir de si próprio e render-se ao Eu Superior, e que só finge fazê-lo, compreende que sozinho não pode conseguir mudar realmente seu centro de gravidade interior. Ele precisa da ajuda de alguma fonte externa, se quiser libertar-se de uma situação tão sem esperança. 27 Os propósitos da evolução humana exigem a presença, em todos os tempos através da história humana, de alguns indivíduos espiritualmente realizados para 221

atuarem como guias ou instrutores. Em nenhuma época a espécie ficou totalmente privada deles, por mais terrível, selvagem ou materialista que fosse essa época. 28 Enquanto o sonho ainda continua, ele não consegue deixar de ver suas cenas e imagens como algo muito real. Mas se alguém tocar um sino que o acorde do estado de sonho, verá então que tanto as cenas quanto as imagens eram meras criações de sua imaginação. Em certo sentido, o instrutor de filosofia age como esse despertador, a não ser pelo fato de que dirige seus esforços à consciência da vida cotidiana, consciência iludida pelos sentidos. 29 Não basta estabelecer-lhe um ideal espiritual a ser conquistado. Ele precisa também da ajuda psicológica, da reeducação emocional e mental que pode remover grandes obstruções a essa conquista.

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30 Entre os que buscam, ninguém é tão sábio, tão bem informado, tão perfeito ou tão equilibrado que não precise da crítica construtiva e do experimentado conselho de um guia espiritual verdadeiro.

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31 O mundo é tal, hoje em dia, com suas tensões e ambições, suas confusões e erros, sua ignorância e maldade, que quando alguém tem uma reserva de virtude e uma consciência de divindade, as pessoas, tendo necessidade delas, terão portanto desse alguém. Mas há muito pouco dessa reserva e dessa consciência, e dificilmente encontramos entre nós os que as possuem. 32 O homem precisa de consolo e apoio atualmente, mais do que em épocas comuns. Onde pode encontrá-los? Sentando-se humildemente, em discipulado intelectual, aos pés dos que foram abençoados pelo poder superior com a revelação da própria existência desse poder. Pode absorver deles a certeza de que o mundo ainda é regido por leis superiores e sua história por propósitos também superiores. 33 Se alguém sabe o que eu ainda não sei, se avançou mais nesse caminho, posso então aprender com ele, se ele quiser ensinar-me. 34 A instrução e a crítica de um guia vivo e qualificado têm valor. Mas devido à raridade de guias assim, muitos dos que buscam não conseguem encontrá-los. 35 Ele deveria compreender o valor de encontrar um mestre que mereça ser seguido, ssa compreensão interior atrairá, no tempo certo, o encontro exterior com o mestre. 36 Nenhum maníaco pode curar a si mesmo. Não ousamos deixar o tratamento da mania da humanidade inteiramente a cargo da própria humanidade. A ajuda de pessoas sãs é necessária, mas deve ser oferecida indireta e discretamente. 222

37 Se os rouxinóis mais maduros, mais velhos e mais experientes acham necessário dar lições de canto aos mais jovens, por que não deveria acontecer o mesmo entre seres humanos? 38 A maior ironia da existência do homem é que no final ele será salvo de sua maldade e miséria não pelos que gritam mais alto, mas pelos mais quietos, os mais silenciosos de seus companheiros. Por que o poder e o conhecimento que de obterá desse discipulado será aquilo de que ele precisa acima de tudo — o poder sobre a própria torpeza, e o conhecimento da Idéia-do-Mundo divina. # # 39 Quando se trata de aprender a meditação, todos os tipos de obstáculos interia e de dificuldades exteriores são encontrados. Tudo isso será superado com mais facilidade e rapidamente quando a pessoa é treinada por um preceptor especializado, cuja longa experiência no assunto e cujo dom natural para guiar os outros transformam seu conselho em algo mentalmente esclarecedor e útil na prática. 40 O principiante não pode receber aulas dos céus. Ele deve encontrar um instrutor, mesmo que só para conferir-lhe a atmosfera correta e inculcar-lhe as ideias certas. 41 O contato com um instrutor é, em primeiro lugar, inspirador. Sua influência é um auxílio decisivo para predispor-nos a viajar ao longo do caminho adequado. É. em segundo lugar, protetor, porque sob sua orientação constante aprendemos a tomar cuidado com as armadilhas. 42 O instrutor não ajuda apenas apontando o caminho adequado a ser seguido expondo os erros do discípulo, mas principalmente proporcionando a ele um impulso para a prática da meditação e a força para obter a concentração que ela requer. O impulso é necessário porque devido a um hábito engendrado ao longo de muitas reencarnações do passado, a maior parte das pessoas é desequilibrada. Isto é. elas são ou extrovertidas e ativas demais em relação a assuntos exteriores ou viv em um estado de contínuo desassossego mental, ocupando-se demais com os p; prios pensamentos. A força é necessária porque manter a atenção numa única direç por certo período de tempo é uma tarefa extremamente difícil. Quando o contato interior é adequadamente estabelecido, a mera lembrança do mestre é, muitas vezes, suficiente para inspirar o discípulo e dar-lhe o impulso e a força requeridos para que suas tentativas de meditação sejam mais eficientes. 43 Associar-se a alguém mais avançado espiritualmente incita também o estuda a superar-se, fortalece-o na resolução de perseguir a busca e aviva a centelha anseio pelo Divino. 44 Nas escolas Sufi e de Yoga diz-se que a companhia de homens i! tende a impulsionar os que habitam a escuridão a procurarem luz, da mesma que tende a acelerar o desenvolvimento dos que já estão engajados nessa

A ajuda exterior é útil no término de uma fase, quando é necessário descobrir e iniciar uma nova fase. É útil também quando se atinge um ponto difícil da Busca. Essa ajuda pode ser encontrada num livro, numa preleção, num guru, num encontro casual ou de alguma outra maneira. 46 A ajuda de um mestre mostra-se principalmente — e é especialmente importante — no curso tomado pela mente durante a meditação. 47 Um dos principais benefícios de encontrar um livro iluminado ou um homem inspirado é que um encontro assim abre a possibilidade de passar mais rapidamente de um ponto de vista inferior para um ponto de vista superior. Revela verdades que normalmente estariam distantes demais para serem percebidas, atuando dessa forma como um telescópio espiritual. Põe-nos também frente a frente com nossos próprios erros de pensamento e conduta. Um movimento desse tipo levaria, de outra forma, vários anos ou até uma vida inteira. Mas isso é apenas uma possibilidade. Cabe a nós reconhecer o verdadeiro caráter da oportunidade e cabe a nós agarrá-la e tirar dela o maior proveito. 48 Pode ser que ele mantenha a busca espiritual só no fundo da mente. Nesse caso, precisa de um impulso. Tal impulso pode ser-lhe dado apenas por um mestre. Este confere o ímpeto necessário para colocar o estudante na direção da realização de suas melhores aspirações. 49 Qualquer um que busque elevar sua consciência à consciência do E u Superior obterá ajuda se procurar um indivíduo que já tenha realizado essa tarefa. Na presença de alguém cuja consciência está no Eu Superior, ele receberá a inspiração interior que pode energizar e conduzir seus próprios esforços na mesma direção.

53 Sua pequena experiência pode ser limitada demais para compreender corretamente revelações místicas. Como consequência ele pode, em determinadas partes ou por momentos, interpretá-las mal. Uma salvaguarda contra isso é, em primeiro lugar, recorrer à experiência de outras pessoas que buscam, o que pode fazer por meio de seus livros ou palavras e, em segundo lugar, recorrer à autoridade, o que pode fazer ligando sua vida interior a um instrutor confiável. 54 Ao aspirante que está no começo falta a experiência para julgar-se com aceito — e até mesmo ao que está um pouco mais avançado falta a visão impessoal paca julgar-se com correção. 55 Até mesmo um único encontro com um mestre pode ser imensamente importante para o aspirante. Talvez ele nunca venha a ter uma relação pessoal com o mestre, mas esse único encontro será suficiente para fazer quatro coisas fundamentais. Justificará o valor de suas aspirações e demonstrará sua viabilidade; convencê-lo-á de que o Eu Superior realmente existe e mostrar-lhe-á em que direção deve procurá-la. 56 Quando se esquece disso, o homem é lembrado de sua ligação com o divino pelos profetas, instrutores e sábios. 57 Uma das vantagens de ter um instrutor pessoal é que, em certa medida, você pode observar o trabalho da mente dele. 58 • O mestre pode ver o caráter e os motivos do discípulo, seus complexos ocultos e fraquezas não-reveladas melhor do que ele mesmo.

50 *Um livro ou um homem portadores da verdade que entrem na vida do aspirante são — em certos períodos em que ele está pronto e preparado para um maior desenvolvimento — como acender a luz em uma sala para afugentar a escuridão.

59 Enquanto a experiência e os resultados ainda não tiveremfirmadono estudante suficiente confiança em sua própria orientação intuitiva e em seu próprio conhecimento filosófico, ele precisa continuar viajando com um instrutor.

51 O que se esforça na busca obterá mais benefícios de um único encontro com um homem verdadeiramente inspirado do que participando de cem sessões de uma escola espiritual organizada ou ashram. Porque aquele desperta sua intuição, ao passo que estas meramente acrescentam-lhe informações. Aquele fará realmente com que progrida, ao passo que estas lhe darão apenas a ilusão de progresso. Mas a ignorância e a inexperiência generalizadas a respeito dessas coisas são tão grandes — assim como o poder sugestivo da pompa e do prestígio — que a instituição organizada sempre atrai cinquenta seguidores enquanto o iluminado solitário atrai cinco.

60 O mestre é o catalizador maravilhoso que torna possível um desenvolvimento acelerado, uma inspirada renovação da vida interior do aspirante. 61 Em certo estágio da vida do aspirante é de importância fundamental para ele melhorar seu caráter e carma. Isso nem ele nem ninguém pode esperar fazer sozinho com a eficácia com que faria se estivesse estudando com um instrutor genuíno. Neste último caso ele pode realizar num tempo relativamente curto aquilo que normalmente exigiria muitos anos a mais de esforço pessoal extenuante.

52 Um canal humano é necessário para a inspiração, a graça, a instrução ou a revelação super-humanas, porque as mentes que as recebem não são suficientemente sensíveis, puras ou preparadas para obtê-Ias diretamente e por si mesmas.

62 O que a mente esforçada luta para formular vagamente, sem certeza e sem clareza, para si mesma, o instrutor afirma decisivamente, com confiança e exatidão.

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63 Uma ou duas frases vindas de um homem inspirado podem estabelecer um processo subconsciente na mente de outro homem e levá-lo finalmente a adquirir uma nova verdade ou um novo ponto de vista. 64 § Os que se apresentam como gurus, impulsionados pelo ego, pelas ambições e por motivos ocultos, não são absolutamente gurus. Estão violando uma vocação adorável. Devemos lembrar-nos de que os que trabalham para ganhar a vida e voltam para casa cansados não têm tempo ou forças para pensar por si mesmos ou para buscar por si mesmos. Para eles o apoio fácil da religião estabelecida 6 verdadeiramente útil, enquanto a orientação sincera e competente de instrutores é ainda mais procurada. 65 Seguir o próprio caminho, rejeitando a ideia de procurar a ajuda especializada, o conhecimento comprovado e a experiência acumulada de um Mestre é seguir um caminho aleatório, de tentativa e erro. A determinação de manter esse tipo de independência e de fazer o próprio caminho pelos próprios esforços não vale muita coisa. É muito melhor trabalhar com orientação do que sem ela.

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Um aspirante terá muita sorte se for levado a ultrapassar com segurança os desvios e descaminhos que detêm tantas outras pessoas que buscam. Somente assim sua consciência chegará ao que realmente constitui a Verdade Superior. 67 O ensinamento é necessário. Como os que não conhecem a verdadeira causa de suas aflições podem saber o modo de sair delas? Alguém deve adverti-los, alguém deve despertá-los. 68 Não concordamos totalmente com o dito tibetano — "sem o guru não pode haver liberação " — , mas o aceitamos em parte. 69 A necessidade de um guia e mentor é óbvia, mas não há motivo para exagerá-la como muitos o fizeram. 70 * Sri Ramakrishna disse uma vez: "Um homem que se aproxima sozinho de Deus, com um profundo anseio por Ele e a mais sincera prece, O encontrará mesmo que não tenha um guru. */Quando lhe perguntaram por que então era necessário o instrutor, replicou: "Muito poucas pessoas têm esse anseio profundo, e portanto o guru é necessário para elas." Ele queria dizer com isso que o instrutor inspira e encoraja os que buscam a Deus a não desistirem quando o caminho é difícil, mas a aferrarem-se à Busca a despeito dos muitos e longos anos que inevitavelmente ela leva. 9

# 71 E sempre agradável saber que alguém que busca encontrou um bom instrutor, assim como é estranho ouvir dizer que o instrutor não pode mais continuar com 226

seu discípulo. Entretanto, neste caso, o indivíduo não precisa ficar deprimido, porque pode, com certeza, continuar progredindo na Busca a despeito de ter ou não um instrutor externo. Tudo o que precisa fazer é orar humildemente a Deus, cujo amor e perdão o acompanharão sempre, mesmo quando o amor e o perdão de um instrutor humano não podem fazê-lo. 72 Não há, então, nenhuma necessidade real de um mestre? A resposta é "Não!", para alguns homens, mas "Sim!'* para a maioria dos homens. Ele é necessário para despertar aquele que dorme mostrando-lhe a mais elevada verdade logo da primeira vez e então descer gradualmente às etapas, sempre fiel à verdade. O mestre serve apenas para mostrar à pessoa que busca o seu eu real, seu E u Superior: ou para segurar um espelho diante dela. Podemos dizer também que lhe dá um "lampejo", ou, mais adequadamente, que é usado pelo poder superior como um veículo para isso.

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73 O que está trabalhando sob a orientação de um mestre não está livre de cometer erros, mas os cometerá em menor quantidade, os exporá mais cedo e os corrigirá mais rapidamente do que o que não tem mestre. 74 Não escrevo isso com desprezo ou pejorativamente, mas, ao contrário, como alguém que compreende solidariamente a necessidade da maior parte dos iniciantes, e de muitos que estão no estágio intermediário, de encontrar orientação externa pelo motivo mais do que suficiente de que não conseguem encontrá-la internamente. Na verdade, é pelo fato de ter sido um discípulo que sei, por mim mesmo, porque outros tornam-se discípulos e posso aprovar sua atitude. Mas essa experiência é também o motivo de eu conhecer as limitações e inconveniências de um discipulado. 75 Afirmar que nenhum instrutor é necessário é, com essa mesma declaração, arvorar-se em um instrutor. 76 'JJJ" A auto-instrução não pode ser tão correta e eficaz quanto a instrução fornecida por um especialista, ou por uma pessoa muito experiente que sabe também comunicar-se adequadamente como um instrutor. 77 jjjj, O Shankara original. Adi Shankara, estabeleceu como necessidade absoluta que qualquer pessoa em busca da Verdade espiritual procure um guru. Essa injunção hipnotizou os indianos que vieram depois dele, assim como hipnotizou os que o antecederam, por ter sido imposta pela Mundaka Upanishad muito, muito tempo antes. Shankara chegou a advertir seus leitores e ouvintes de que nem mesmo um estudante especializado do Veda deveria empreender tal busca sozinho. Entretanto, na história da índia, há muitos casos de homens que experimentaram essa realização sem nenhum guru. 227

78 Precisamos construir um relacionamento interior íntimo com um ser cuja compaixão seja grande o suficiente para nos entender e cujo poder seja suficientemente desenvolvido para nos ajudar. Não importa que esse ser já esteja morto.

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79 Os que conhecem um único modo de viver, o da extroversão, ou um único modo de pensar, o que é baseado nos sentidos, precisam expor-se por tempo suficiente à influência de um mestre espiritual, antes de se tornarem, mesmo que vagamente, conscientes de que têm uma alma. Mas já que é difícil encontrar um mestre completamente desenvolvido, deve haver um substituto para ele. Esses substituto deve necessariamente ser um escrito inspirado produzido por um homem assim. 80 A verdade é que quase todos os aspirantes precisam da ajuda de guias humanos experientes, bem como de livros, quando estão procurando diligentemente o Espírito, e ao menos de livros, quando estão apenas começando a procurar. (P)

Livros como instrutores 81 Não é essencial encontrar um instrutor em carne e osso — ele pode estar num impresso. Um livro pode tornar-se um instrutor e guia bastante efetivo. 82 / Na falta do convívio pessoal com um sábio, pode-se valer do melhor substituto — os escritos impressos de um sábio., 83 / Textos inspirados, trechos de escritura, escritos e palavras de grandes homens oferecem orientação sobre o procedimento que se deve ter, as considerações éticas que devem ser levadas em conta, as decisões que devem ser tomadas sob certas pressões, crises ou confrontações — decisões cujas consequências são muitas vezes bastante graves. Quem pode avaliar o valor de leituras assim, em momentos assim? i 8

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# Os livros são da maior utilidade para os que, seja por necessidade, na falta de instrução sincera e competente, seja por escolha, para evitar a estreiteza do sectarismo, buscam atingir a meta por si mesmos. 85 A maior parte dos estudantes em busca de inspiração não têm outra escolha além de recorrer às palavras impressas. 86 O contato pessoal com um mestre não exige necessariamente um encontro face a face. Pode-se dar também por meio de uma carta e, em certa medida, mesmo de um livro escrito por ele. Porque sua mente encarna-se nessas obras. Assim, os que 228

são impedidos pelas circunstâncias de encontrá-lo fisicamente podem encontrá-lo mentalmente e obter os mesmos resultados. 87 O estudante perspicaz se agarrará firmemente durante sua vida aos escritos de mestres iluminados, voltando constantemente a eles. Seus trabalhos são os mais verdadeiros de todos — ouro puro, e não uma liga de metais. 88 Há homens cujo pensamento tornou-se mais profundo e o entendimento mais claro que os de seus semelhantes. Existe a história deles documentada, assim como de seus ditos e escritos. Estudá-los é valioso, seus preceitos podem ser testados na vida prática cotidiana. 89 Nesses livros fala-lhe a voz de homens que há muito tempo se iluminaram espiritualmente. É a única maneira pela qual ela pode fálar-lhe hoje em dia. Portanto, d e deve respeitá-los e apreciá-los. 90 Os que se elevaram acima de todos os outros homens como Mestres, que deixaram registros de seu caminho e do que por meio dele atingiram, podem ser bons guias. 91 Por que não fazer desses grandes homens instrutores, através de seus ensinamentos preservados? Por que não ser discípulo de Sócrates, Buda, São Paulo e muitos outros? 92 Por mais distante que esteja um instrutor — em outro país ou em outro século —, ele pode, por meio de seu registro escrito, ajudar qualquer um que deseje dar seu tempo e seus olhos. 93 # Se um livro fornece ensinamento correto sobre a busca e a advertência necessária sobre suas armadilhas, deve ser estudado com o cuidado e o respeito adequados. 94 O homem pode obter da palavra impressa aquilo que não consegue ouvir na palavra falada. 95 O que busca a verdade deve ter a sabedoria de fazer uso, como lhe agradar, de ajudas externas desse tipo. Podem ser a palavra escrita, o livro editado, a estatueta moldada, a representação pictórica ou a fotografia humana — contanto que se refiram a uma fonte genuinamente inspirada. Ele deve estudar as palavras e as obras, as vidas e os exemplos de místicos praticantes e seguir suas pegadas, 96 Bons livros não devem ser desprezados, a despeito das referências desdenhosas de místicos fanáticos ou ascetas desequilibrados. Negativamente, eles o advertirão 229

contra os elementos enganosos que podem desviá-lo de seu caminho correto. Positivamente, eles o guiarão quando não houver guia pessoal disponível.

consegue acompanhar são endereçadas especificamente a pessoas intelectualizadas, e precisam ser expressas num estilo mais complicado e científico.

97 Mas ele precisa tomar cuidado para não imaginar que o prazer que obtém da leitura espiritual é sinal de que está fazendo progresso na vida espiritual. É mais fácil ler pensamentos sublimes do que tê-los por si mesmo. E vivê-los é ainda o mais difícil de tudo.

104 Se a literatura sobre esses assuntos é tão extensa hoje em dia, o problema de escolher corretamente aquilo que é mais confiável é então muito mais difícil.

98 4, Os livros também servem de guias se forem adequadamente usados, isto é, se forem reconhecidas suas limitações e as de seus autores. No primeiro caso, é a própria inabilidade do intelecto para transcender o pensamento que o impede de compreender a verdade. No segundo caso, o que importa é o estágio evolutivo do ego do homem e a precisão de suas atitudes — que podem controlar suas emoções e paixões ou serem vítimas delas. Porque se a mente não consegue registrar o impacto da verdade devido ao bloqueio total ou parcial estabelecido à volta dele, a obra refletirá sua ignorância. Ele não pode ensinar o que não sabe; sua obscuridade mental pode conduzir o leitor à obscuridade. No entanto, esta é a condição ilusória do pensamento: que uma ideia errada ou falsa possa ser aceita e mantida na mente, na crença de que é certa ou verdadeira. 99 Os escritos desses Mestres auxiliam tanto a natureza moral quanto a mente intelectual dos que são receptivos e sensíveis a eles, são incitados ao mesmo esforço, estimulados no mesmo nível e impulsionados a compreender as mesmas ideias. Esses escritos destacam-se de todos os outros porque contêm inspiração vívida e pensamento verdadeiro. 100 / O s últimos escritos de filósofos e místicos de todos os tempos podem trazer orientação intelectual e emocional para a vida do indivíduo, estimulando até mesmo a sua força de vontade. Através dos longos e inevitáveis anos de luta na Busca, podem desempenhar o papel de um instrutor ou guia. Entretanto, é preciso lembrar que alguns são infinitamente mais valiosos que outros, e é essencial que o indivíduo seja capaz de discriminar o que é verdadeiro e útil do que é falso e inútil./ 101 Esses assuntos vêm sendo mais amplamente conhecidos e mais estudados do que há meio século. Há hoje um grande fluxo de literatura, obras originais, comentários e traduções, tornando mais acessíveis as ideias místicas e filosóficas. 102 Com a difusão da educação elementar e a publicação de textos e traduções em brochuras mais baratas, agora é possível para a maior parte dos que buscam com sinceridade, e vivem nos países livres, estar de posse do ensinamento. 103 Se ele não compreende as partes mais intelectualizadas desses livros, não deve preocupar-se, porque são escritos para diferentes classes; essas partes que ele não 230

10S O ensinamento dos livros é genérico demais. Não deixa espaço para as diferenças individuais, para a ampla variação que há entre uma pessoa e outra. É sempre necessário aos leitores adaptar o ensinamento a seu sexo, idade, caráter, força e circunstâncias. 106 Desses grandes escritos receberá impulsos de renovação espiritual. Desses parágrafos fortes e palavras adoráveis receberá estímulo para tornar-se melhor do que é. Cada uma de suas páginas lhe trará uma mensagem; na verdade, parecerão ter sido escritas para ele. 107 Cada livro que estimula a aspiração e amplia a reflexão presta serviço e age como um guru. 108 Com livros assim ele se sentirá, por um instante, melhor do que é, mais sábio do que é. 109 Algo que ajuda a avivar a centelha, transformando-a numa chama, é a literatura inspirada, seja ou não uma escritura — a associação mental, por intermédio de livros, com homens que foram, eles próprios, completamente possuídos por esse amor. 110 , Uma frase ao acaso num escrito inspirado pode dar ao homem a orientação que ele há muito vinha esperando. 111 As palavras de homens são como um farol para aqueles que buscam e que ainda estão tateando na escuridão. 112 Talvez uma das principais utilidades de um livro seja sua faculdade de lembrar aos estudantes princípios fundamentais, e sua capacidade de trazer-lhes novamente os pontos capitais desse ensinamento, pois facilmente se perdem ou são sobrelevados em meio à pressão das ocupações cotidianas. 113 Ele extrairá dessas leituras o incentivo para continuar em sua busca e a coragem para estabelecer metas mais elevadas. 114 Um texto escrito pode não ter o poder de guiar um homem por todo o caminho ao longo dessa busca, mas certamente está em seu poder dar-lhe uma direção geral e uma advertência específica. 231

115 Que ele estude a literatura da cultura mística e filosófica para ficar mais informado sobre a Busca, sobre sua natureza e sua meta, e sobre si mesmo. § 116 Comparando o que está descrito nos livros com o que experimentou por si mesmo, um aspirante pode avaliar e corrigir seu rumo. 117 Os que foram despertados por essa leitura podem então procurar em outra parte a orientação pessoal que desejam. 118 Por meio de um livro a ajuda é dada sem que haja envolvimento, do que a presta, na vida pessoal dos leitores, mas por meio de uma carta ou de um encontro começa o envolvimento.

Questões sobre a busca de um instrutor

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119 A falta é do próprio homem se, em sua procura por orientação ou compreensão espiritual, nada lhe é concedido. "Pedi, e vos será dado*', disse Jesus a respeito disso, o que complementa a afirmação do sábio chinês: "Os que sabem não falam."

|120 Diz-se que "quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece". Isso significa que tal é a maravilhosa sensibilidade da mente, tal é a realidade do poder telepático, que, quando a busca de um homem pela verdade atingir uma crise, ele encontrará o homem ou o livro que melhor possa resolvê-la. Mas a própria crise deve estar inundada de incerteza e dúvida, de impotência e desespero, antes que as misteriosas forças do E u Superior venham em seu socorro. Que ela chegue a um fim satisfatório parece a ele a mais significativa das consequências, se 6 para a vida ter algum sentido no futuro. Deve haver uma sensação de solidão interna tão aguda que, comparada a ela, a solidão exterior nada seja.-Não deve haver vozr neste mundo que consiga falar à sua condição, Esse período crítico deve preencher exageradamente com sua importância a mente, a tal ponto que obscureça qualquer outra significação da vida. Será num momento assim oportuno — quando a busca pela verdade for a~ mais intensa e quando a preparação exigida para o encontro com o que a detém for a mais completa — que o próprio detentor da verdade surgirá e trará para essa noite os alegres prenúncios do alvorecer. Nesse período, a influência de um homem assim ou de seu livro é incalculável. Emerson transmite o significado mais profundo disso em seus versos: "Se nos lembramos das horas extraordinárias em que encontramos as melhores pessoas, lá encontramos a nós mesmos. ... O maior dom de Deus é um Instrutor."J0"que busca compreende finalmente que, mesmo não tendo descoberto a verdade, está ao menos no caminho para descobri-la. E l e começou a encontrar harmonia consigo mesmo. 232

121 Se o forte anseio pela verdade estiver ausente, o homem pode encontrar mil mestres da busca, mas nem os reconhecerá como tais nem experimentará qualquer exaltação diante deles. Na verdade, esse anseio deve ser tão forte quanto a fome de um homem faminto ou o desespero de um viajante perdido no deserto. 122 Sua necessidade desesperada impele-o a sair em busca de ajuda, onde quer que possa encontrá-la. 123 Em obediência a esse impulso ele deve tomar um caminho que o conduzirá à amizade dos poucos sábios vivos de seu tempo e o levará a seus pés. 124 O homem que começa a sentir essa necessidade em si mesmo deve procurar orientação espiritual. Ele deve encontrar uma fonte autorizada para instruí-lo na verdade espiritual e para esclarecer suas dúvidas. 125 §§ Contrariamente à crença comum, o instrutor não é encontrado primeiro na vida psíquica interior para que depois a descoberta seja refletida na vida física exterior. Ele é encontrado primeiramente em carne e osso; mas a descoberta deve tornar-se finalmente um fato psíquico estável, antes que qualquer relacionamento real entre os dois possa estabelecer-se. O instrutor deve ser percebido solidamente firmado nas profundezas do coração como uma presença, e no pano de fundo da mente como uma imagem. 126 A atitude, na procura de um instrutor, gerou muito prejuízo e muita exploração. E m primeiro lugar, o rogo por um instrutor deve surgir de uma necessidade profunda, continuada e premente de uma ajuda assim — não meramente da vontade de ler um instrutor. 127 O E u Superior pode levá-lo a procurar e a encontrar um homem que lhe sirva de intermediário: que seja para ele o Seu representante, a Sua imagem. 128 Um conhecimento que valha a pena ser compreendido não é menos impo do que um instrutor que valha a pena ser procurado. 129 A. Se uma pessoa que busca acredita que atingiu certa medida de autopreparação autopurificação, se está convencida da necessidade desesperada de um mestre, e se r consegue encontrar algum que valha a pena, que então ore pedindo ajuda nesse assunto. a 130 Não é suficiente tentar seguir o conselho de olhar para dentro dado por místicos e sábios. E necessário também olhar profundamente e durante muito r

para se obter resultados realmente valiosos. Isso se aplica tanto à busca de ajuda quanto à busca pela verdade. 131 O indivíduo em busca de um instrutor não deve ficar desapontado nem desanimado se não for aceito como discípulo. A oração e a aspiração dirigidas ao Eu Superior trarão do interior a orientação procurada. Além do mais, pode ser que ele já tenha recebido ajuda, da qual ainda não se dá conta e, em tempo, essa ajuda virá à sua mente consciente. Ele não deve exagerar a necessidade de um instrutor. Em última análise, seu desenvolvimento dependerá mais de princípios do que de personalidades. 132 O que busca deve resolver-se a apelar diretamente, por aspiração e oração constantes, a seu Eu Superior, sabendo que Ele pode ajudá-lo sozinho se ele tiver de trabalhar sem instrutor. Por outro lado, se seu carma decretou que ele tem de ter um guia, seu Eu Superior lhe trará a imagem mental ou pensamento intuitivo do mestre. Se isso acontecer, ele não precisará procurar a pessoa física do mestre; a imagem interior trará resultados. 133 Embora seja verdade que o encontro com homens inspirados desperte algumas pessoas para a necessidade de uma vida superior, uma sondagem profunda mostrará o quanto acontecimentos ou reflexões anteriores já conduziram mentalmente essas pessoas ao limiar dessa necessidade. O instrutor inspirado não cria essa necessidade, somente a indica. O destino o leva no momento certo para a vida da outra pessoa, para permitir que isso seja feito. 134 E em algum lugar, em algum momento, para cada homem que busca com sinceridade, deve vir um Guia, meramente porque essa abertura pessoal da porta é parte do programa da Natureza. 135 Há momentos em que lhe parece que a ajuda prometida não se materializou. É essa sua opinião. Mas pode ser também que seu ego era tão forte que a ajuda não pôde chegar a ele porque o ego ficou obstinadamente no caminho. Em todo caso deveria ter ficado claro para ele, em livros e em conversas, que o místico avançado não é um mestre, mas apenas um companheiro de estudos. Se ele não pôde obter a ajuda de alguém assim, deve aceitar o fato de que simplesmente isso não era para acontecer. 136 Mesmo quando se encontra um instrutor, é possível que seja um mestre de um caminho só, e incapaz de guiar adequadamente os aspirantes ao longo daqueles caminhos com os quais eles têm afinidade pessoal e para os quais têm os requisitos mentais ou emocionais, ou a capacidade volitiva. 137 Outra ideia falsa é a de que mestres procuram discípulos, tomam a iniciativa de ir em sua direção, seja "astralmente" seja fisicamente. Ao contrário, os aspirantes devem dar o primeiro passo com os próprios pés, devem solicitar aceitação. 234

138

Com toda a minha educação ocidental e meu panorama intelectual, ainda sou simples o bastante para acreditar, como o povo do Oriente, que vale a pena fazer uma viagem para receber a bênção de uma pessoa superior. 139 Mas embora os filósofos não se empenhem em fazer prosélitos ou em começar cruzadas, o homem que é atraído por qualquer doutrina filosófica encontrará, cedo ou tarde, alguém pronto a explicar ou examinar com ele essa doutrina. 140 Quando se diz que a prontidão do que busca determina a aparição do mestre, isso se aplica à primeira iniciação fundamental de sua vida espiritual. Não quer dizer que o mestre virá à sua cidade para procurá-lo, mas que entrará em sua vida. E isso pode dar-se de várias maneiras — como quando o que busca é levado, por circunstâncias mundanas ou por sua própria busca, para fora de sua cidade até a cidade ou país onde o mestre está vivendo. 141 A localização de seu guia espiritual será em parte uma contingência de sua própria situação geográfica, porque obviamente o indivíduo estará limitado, em sua seleção, às possibilidades e reputações no seu próprio país, nação ou raça. As dificuldades puramente físicas efinanceirasde viajar pelo mundo — sem mencionar os obstáculos da sua própria situação pessoal, obrigações familiares, e o fato de não saber onde buscar e de quem se aproximar em terras estrangeiras, oombinam-se para estabelecer essa limitação sobre sua pesquisa e, portanto, sobre sua oportunidade. 142 É tolice procurar santidade geograficamente ou homens santos em lugares particulares. Descobri que um homem pode viver no Himalaia e ser um canalha e outro numa favela de Bowery e ser um santo. Onde quer que vivam, os homens sempre carregam consigo seus pensamentos e o seu eu./ A Alma, que é o objeto de nossa busca, está em nosso interior. O Mestre, que nos deve guiar em nossa busca, aparecerá sempre que estivermos prontos para ele e onde quer que vivamos — ou então seremos levados até ele. p á homens no Ocidente, na Europa e América, que não são menos sábios e nobres do que qualquer homem do Tibete e da índia. Se não os encontramos, "a culpa, Querido Brutus, está... em nós mesmos*', em primeiro lugar em nossa falta de mérito e em segundo lugar em nossa incapacidade de reconhecermos o que está sob a superfície. 143 No Ocidente moderno não é necessário seguir o costume oriental de viver com o Instrutor ou próximo a ele. Entretanto, é aconselhável tentar obter um encontro com ele, mesmo que somente por alguns minutos. Quando isso for impossível, uma alternativa é estabelecer uma correspondência escrita com ele — e manter sua fotografia num local consagrado, onde se possa vê-la frequentemente e assim ser lembrado muitas vezes por dia da necessidade de trabalhar continuamente na melhora de si mesmo e do próprio caráter. 235

O efeito do primeiro encontro com um mestre desfaz-se com o tempo, como o efeito de um vislumbre místico. Quando isso acontece, precisa ser renovado por outro encontro e este, por sua vez, por um terceiro, mais tarde. 145 |Está certo e é legítimo que as ardentes aspirações de um candidato sincero tragam-lhe finalmente como recompensa um encontro pessoal com alguém mais avançado, ou um contato, por meio de um livro, com um discípulo qualificado. Se ele merecer mais, se acrescentar às suas aspirações a preparação, então pode haver um encontro pessoal com tal discípulo. Mas é errado e inoportuno pedir demais. Ele só deve esperar novos encontros quando trabalhar consigo mesmo o suficiente para merecê-los, e quando o discípulo tiver tempo disponível para eles. E se tiver a sorte de conhecer um adepto, deverá ficar satisfeito com esse único encontro. 146 Um encontro assim sempre acarreta certos testes e leva normalmente ou a um poderoso fortalecimento da relação ou ao seu completo e abrupto cancelamento. Isso se dá porque os testes surgem do poder de oposição. O iniciante que se aventura na busca de um instrutor pode topar com charlatães e incompetentes antes de encontrar a pessoa certa ou de abandonar o esforço como algo impossível. 148 Em quase tudo na vida achamos necessário usar os serviços de especialistas. Da mesma forma aqui. Entregamos nosso corpo ao cirurgião. Devemos entregar nossa mente ao guia espiritual. Ambos, se incompetentes ou inescrupulosos, podem incapacitar-nos para toda a vida. É da maior importância, portanto, exercer o julgamento correto na escolha de um e de outro. 149 Quando Dillip Roy, um famoso músico bengali, encontrou-se pela primeira vez com Sri Aurobindo, este lhe disse: "Você deve dizer-me com certeza o que exatamente está buscando e porque quer praticar o meu yoga. Os que buscam aproximam-se do yoga com diversos objetivos. Alguns querem fugir da vida. Outros aspiram ao êxtase supremo. Outros, ainda, querem o poder ou o conhecimento do yoga ou um equilíbrio impávido diante dos choques da vida. Portanto, primeiro você deve definir o que, precisamente, busca no yoga."

152 reação da maior parte das pessoas a esses gurus éforte— ou rejeição enfática e direta ou aceitação apaixonada e superficial. Uma percepção clara, sem julgamentos e sem aceitação apressada, que observa com justiça aquilo que é — uma avaliação não idealizada mas sem preconceitos — é rara. 153 O aspirante comum, cuja intuição não é suficientemente desenvolvida, deve testar o homem a que se propõe aceitar como mestre. Isso exigirá que o observe de perto por algum tempo. Em certos casos uma semana trará a resposta, em outros serão necessários três meses. Em todos os casos, o aspirante não deveria comprometer-se até ter evidências suficientes de estar comprometendo-se com a pessoa certa. 154 O discernimento é da maior importância na seleção de um caminho espiritual e de um Instrutor. Deve-se aplicar toda a inteligência e intuição, cuidado e bom senso, a uma decisão de tais consequências. 155 Aqueles a quem falta o discernimento inato ou a ampla experiência necessários para se detectar o real caráter e a verdadeira capacidade de um mestre deveriam esperar bastante e procurar o conselho de outras pessoas antes de se entregarem a de. 156 A fé de que o E u Superior está trabalhando por intermédio de um homem determinado pode ter sua validade testada observando-se, durante um período de tempo suficiente, o que acontece aos que o rejeitam completamente e aos que reagem a ele com entusiasmo. 157 E m sua excessiva ansiedade para descobrir um mestre, eles fracassam na prática do discernimento. Mas/esperar o verdadeiro mestre exige certa paciência e força/ 159 É difícil encontrar um verdadeiro sábio. É fácil encontrar um sábio falso, papagueando plágios e lugares comuns.

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150 Se ele cair em mãos erradas ou se permitir ser guiado por um amador incompetente, e não por um homem sábio e experimentado, seu caminho se tornará difícil e até mesmo o bem que ele supõe obter será, na verdade, um mal. 151 Ele deve estar determinado a esperar calmamente pelo consentimento de todo o seu ser antes de tomar uma decisão que, necessariamente, afetará de maneira tremenda todo o seu futuro. 236

160 Só porque o homem sente que alcançou a alegria ou a verdade, isso não é motivo suficiente para se aceitar que ele realmente as tenha alcançado. A conquista traiçoeira da ilusão da verdade e da ilusão da alegria pode provocar nele o mesmo sentimento. Portanto, não precisamos apenas vencer a dificuldade de encontrar orientação espiritual honesta e desinteressada, mas também a de encontrar orientação competente e nào-enganosa. 161 Encontrar um mestre neste mundo quase sem mestres é um problema de solução difícil. A única sugestão realista que se pode dar é selecionar alguém em quem ate

agora você conseguiu depositar a máxima confiança. Se não existir essa pessoa, escolha então o livro que mais o ajuda e transforme-o em seu tutor.

mente seguida, ela o trará a uma presença interior vívida, a uma voz que guia quando aparentemente não há ninguém para guiar.

162 Não sendo possível estudar sob a orientação de um instrutor, quando este não estiver disponível, o melhor é associar-se à sua imagem mental, quando esta se torna disponível a partir de um encontro. Se tampouco isso for possível, aquele que busca deve então estudar os escritos do instrutor. Dessa maneira, o instrutor toma a mão do discípulo por intermédio da palavra impressa.

170 Em muitos assuntos é necessário submeter-se à vontade do destino. Ele deve saber, entretanto, que com a atitude mental correta, o contato e o encontro interiores são possíveis mesmo quando não forem possíveis os exteriores. Esse encontro interior, afinal, é o real — mais real que o físico. É suficiente ter tido um único encontro físico para ter sempre a possibilidade desse contato interior.

163 O que busca e está confuso quanto à direção certa a tomar deve acolher a ajuda de um guia competente. Mas quando um guia não aparece pessoalmente, o melhor substituto é um de seus discípulos pessoais ou, na falta deste, um livro que ele escreveu.

171 A verdade é que o Mestre pode aparecer de três maneiras: em primeiro lugar, pode aparecer interiormente e assim continuar por toda a vida; em segundo lugar, pode aparecer interiormente no início como a "Palavra Interior" e mais tarde como guia humano fisicamente corporificado; em terceiro lugar, pode aparecer desde o começo como o Mestre corporificado. Os dois primeiros casos pressupõem a prática da meditação e seu desenvolvimento até certo ponto de intensidade. O terceiro caso não exige nenhuma meditação anterior, mas requer uma atitude de busca de verdade, de ajuda ou de orientação desenvolvida tão intensamente quanto nos outros casos.

164 As histórias de caso dos discípulos de um guia espiritual, assim como as histórias de caso dos pacientes de um médico, são sempre instrutivas e significativas. 165 Quanto aos instrutores públicos do oculto, nenhum deles, no Ocidente, é realmente competente para conduzir as pessoas à verdade, digam eles o que disserem. Os instrutores verdadeiros são tão raros hoje em dia que é quase impossível encontrá-los. Nessas circunstâncias, é mais seguro e mais sábio limitar-se ao estudo de livros confiáveis em vez de associar-se a fontes de auxílio inferiores. 166 O aspirante que vagou insatisfeito de um culto a outro durante vários anos não deve perder mais tempo procurando Deus por intermédio de organizações ou de mestres autoproclamados, mas deve lutar para purificar o coração de todos os sentimentos inferiores — como a raiva, a inveja, a irritabilidade, o medo e a depressão — e trabalhar constantemente o caráter para aperfeiçoá-lo. Depois de ter feito isso com~vigor, durante pelo menos seis meses, pode começar a orar diariamente por mais orientação.

172 Toda procura e toda descoberta de instrução espiritual por meio de um instrutor espiritual são reais, no fim das contas, apenas num plano mental. Portanto ele deve dirigir seus esforços nessa direção, com fé total. 173 Não é preciso exagerar a dificuldade que você menciona de encontrar um instrutor. No seu interior você tem um raio de Deus, que é a sua própria alma. Orando a ela e suplicando-lhe constantemente por orientação, certamente ela o levará a tudo o que realmente precisa saber.

168 Não digo que encontrar o mestre internamente dessa maneira seja a melhor maneira, mas que para muitos aspirantes é a única maneira. Suas limitações combinam-se com o destino para que isso aconteça.

174 /Aqueles cuja busca do Eu Superior por meio de um mestre fracassou devem considerar esse fracasso como instrução sobre a Busca em si mesma. Que se lembrem de que Deus está presente em toda parte, que não há lugar onde Deus não esteja. Portanto, Deus também está neles. Essa presença que habita o interior é a Alma. Que se voltem a ela diretamente, não mais procurando por alguém de fora para servir de intermediário, não mais correndo para cá e para lá nessa procura. O lugar em que estão agora é precisamente o lugar onde podem estabelecer contato com Deus por meio de sua própria Alma. Que orem somente a ela, meditem sobre ela, obedeçam a seus comandos intuitivos, e não precisarão de nenhum agente humano. A partir desse* momento, não devem olhar para ninguém, devem seguir o conselho de Buda e cíepènder de suas próprias forças. Mas como essas forças estão latentes em seu interior e precisam ser despertadas, os aspirantes precisam exerci tar-se com programas físicos que proporcionem as energias necessárias a esse grande esforço.

169 Se seu destino é encontrar um mestre apenas na mente e não em carne e osso, se circunstâncias o forçam a buscar internamente e não externamente, então será sábio aceitar a orientação e não rebelar-se contra ela. Porque descobrirá que, fiel-

175 Se você encontrar alguém cuja personalidade o atraia muito, ou cujos ensina mentos o sensibilizem mais que os dos outros, ou cujos escritos o inspirem mais do que os escritos de outros homens, torne-o então seu guia espiritual. Não é preciso

167 Diz-se frequentemente que quando o discípulo está pronto o Mestre aparece. Mas ninguém ainda escreveu a afirmação adicional — de que ele pode ser invisível e inaudível — isto é, de que ele pode estar inteiramente dentro de você.

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pedir-lhe permissão, pois isso deve ocorrer na privacidade da sua vida interior. A ideia dele, na qual você acredita, e a imagem dele, que você forma, tornam-se vivas e efetivas, independentemente da aceitação ou rejeição dele. Você pode objetar. Todo esse processo não 6 auto-enganoso e não leva à alucinação? Respondemos que pode ser, se você usar ou interpretar mal seus resultados, mas n ã o precisa ser, se você trabalha corre lamente. Pois a telepatia 6 um fato. A sua fé no outro homem, e a recordação dele, estende um cabo ligando o seu ser interior ao dele e por meio dessa ligação fluirá uma resposta à sua atitude. 176 Os que procuram um instrutor devem lembrar-se de que podem escolher qualquer um que os atraia ou inspire, e dele obter, telepaticamente, auxílio interior e inspiração, pela sua atitude mental de fé e devoção para com ele, aliada à obediência a seus ensinamentos publicados. Assim, criam para si próprios um relacionamento mental que, nessa medida, não é diferente do que viria a ocorrer como parte do contato comum entre instrutor e discípulo. Devem lembrar-se também de que, mesmo após um encontro físico, um instrutor só pode ser encontrado quando forem sensíveis o bastante para sentir internamente sua presença mental e quando estiverem suficientemente desenvolvidos para ele. O caminho mais prático para a maioria dos aspirantes é engajar-se no trabalho de auto-aperfeiçoamento. 177 * Qual é a esperança para os que são incapazes de penetrar o santuário do misticismo e já deixaram o abrigo da religião? Devem ficar abandonados a um terrível desespero ou a um ceticismo miserável? Devem ser engolfados pelas águas da vileza moral? Não. Que segurem a mão invisível de um salvador pessoal ou guia espiritual, vivo ou morto — alguém que acreditam ter alcançado o grau de adepto, no yoga, ou de sábio, na filosofia, e que tenha anunciado sua intenção de dar sua vida pela iluminação da humanidade. Que ele se torne seu refugio secreto. Que peçam e mereçam sua graça. A mesma ajuda pode ser utilizada por aqueles que se sentem incapazes para o esforço intelectual exigido pela filosofia, mas desejam avançar além do estágio do misticismo comum no qual agora repousam. 178 Os homens sábios e bons que morreram e deixaram seus exemplos para serem imitados ou suas palavras para germinarem, e qualquer homem vivo de quem ouvimos falar, com quem nos encontramos ou sobre quem lemos — todos esses homens são nossos guias espirituais; todos eles podem tornar-se nossos mestres, se fazemos deles nossos mestres. Por que então deveríamos limitar-nos a um único homem com um único ponto de vista? 179 Se ele não conseguir ser admitido no círculo de um mestre, pode meditar sobre as histórias de vida de mestres do passado. Que tome as situações significativas e a devoção dessas grandes almas e as coloque em seus pensamentos e estudos, analisando as situações e imitando a devoção. Que pense longamente sobre seu caráter e conduta. E também que leia e releia as mensagens escritas que nos deixaram. Dessa maneira, absorverá um pouco da sua qualidade.

180 T a l é a raridade de instrutores qualificados, que hoje não se trata mais de selecionar aquele que atrai particularmente ou pessoalmente o aspirante, mas de ao menos encontrar um! 181 A busca de um mestre é frequentemente estéril e sem frutos. Por quê? A resposta é, em primeiro lugar, que existem poucos mestres desse tipo hoje em dia e, em segundo lugar, que poucos aspirantes estão qualificados para trabalhar com um mestre. 182 Os que têm esse conhecimento não são facilmente acessíveis, e, mesmo se encontrados, não o divulgam com facilidade. Eles são extremamente raros. 183 Além de os instrutores serem mais raros, os aspirantes mais sensíveis sen tem-se timidamente inibidos de se aproximar deles. 184 É ao mesmo tempo irracional e injusto afirmar que não será salvo todo aquele que não se aproximar de um mestre de carne e osso. Porque poucos homens conseguem encontrar um mestre assim e, quando o encontram, quase sempre o conhecem apenas a distância. 183 E m tempos antigos havia poucos livros para guiar o aspirante e, menos an livros disponíveis. Consequentemente, a necessidade de um guia era muito maior do que agora. Mesmo em tempos antigos, instrutores desse tipo eram difíceis de se encontrar, " E raro aquele Guru que pode provocar a liberação das tristezas que agitam o coração de seu discípulo**, diz Skanda Puranam. 186 Homens do mais elevado calibre espiritual não estão necessariamente espei por aí que os discípulos venham a eles. Sabem muito bem que, no final, cada é seu próprio instrutor. 187 Se o aspirante é suficientemente afortunado para encontrar um homem ou mui) em pessoa ou através de escritos, que represente genuinamente o verdadeiro e o real, nenhum esforço será feito para influenciá-lo; seguir essa autêntica luz propalada como tal, ou seguir qualquer fogo-fátuo como se fosse luz. é algo será deixado inteiramente à sua livre escolha. 188 E difícil estabelecer contato humano com um mestre, difícil interessá-lo atividades pessoais de um indivíduo. 189 Não é o encontro com o mestre que é importante, mas o iiiontacÉwnm que ele é um mestre.

190 Há homens que vêm como embaixadores do céu, e escritos e obras de arte de homens que vêm como reveladores. Mas a menos que a reação inclua reconhecimento, o contato é infrutífero, o encontro inútil. 191 Como ele vai saber quem realmente é um mestre e quem não é? A uma distância de mil anos é fácil avaliar os que legaram o efeito de suas grandeza espiritual às gerações futuras, mas é difícil avaliar contemporâneos que se parecem com os outros mortais comuns. 192 Às vezes um aspirante, um candidato, um neófito ou um discípulo recusa a oportunidade de contato pessoal com um mestre—quando ela ocorre—por sentir-se indigno, envergonhado ou até mesmo culpado. Trata-se de um erro grave rejeitar o que um destino favorável assim lhe oferece. Por mais pecador que seja, também é fato que aspira a elevar-se acima de seus pecados, ou não os lamentaria. Por mais puro que o mestre seja, também é fato que não culpa ninguém, não se esquiva de ninguém e estende sua boa vontade igualmente aos virtuosos e aos pecadores. Do mestre pode-se verdadeiramente dizer que a completa ausência de orgulho ou julgamento anula totalmente o pensamento de ser mais santo que outra pessoa qualquer. A oportunidade de encontrá-lo deve ser aproveitada, a despeito de todos os medos ou sentimentos de falta de virtude. 193 Ele sente ocasionalmente que não tem suficiente valor para entrar em contato com um instrutor espiritual porque não tem um "coração limpo". Essa é uma atitude mental errada. É preciso orientação para se obter esse "coração limpo" e não há nada de errado em procurar essa ajuda. 194 Você caminhará por um longo tempo ou visitará muitas cidades antes de encontrar outro iluminado. Portanto, receba-o bem e pense bem dele, pois você pode obter algo desse encontro afortunado.

198 Se ele deixar a oportunidade escapar sem a usar, ela poderá não ocorrer outra vez. 199 Ele pode obter uma valiosa ajuda de diferentes fontes que encontra no caminho, mas deve acima de tudo descobrir o instrutor a quem pertence por afinidade interior e em cuja escola se sente mais à vontade. Uma vez descoberto, deve recusar-se teimosamente a ser atraído para fora da órbita do instrutor, porque se deixar que isso aconteça perderá anos preciosos e se deparará com sofrimento desnecessário, somente para ter que retornar no final. 200 Faça o que fizer, ele não poderá mudar sempre de instrutores. O guia espiritual que lhe foi designado pelo destino, assim como pela afinidade, é o único que ele precisa aceitar no final, se não no início. Esse é o seu mestre real, aquele cuja imagem se erguerá seguidamente diante de sua visão mental, obscurecendo ou apagando as de todos os outros guias a quem o aspirante recorreu em busca de uma orientação temporária. 201 Entre mortais vivos há um com quem ele pode ter essa ligação, alguém com quem talvez nunca se encontre em carne e osso mas somente através de uma foto, uma obra de arte, um nome pronunciado por alguém, ou talvez através de um escrito publicado. Entre os que não vivem mais no corpo, mas com quem a ligação foi feita em nascimentos anteriores, o eco retornará e a própria ideia será suficiente. 202 O que podemos esperar encontrar hoje em dia não é mais um instrutor para instruir nossas mentes, nem um mestre para guiar nossos passos, mas um inspirador para inflamar-nos, para mostrar-nos o mundo como o E u Superior o vê. Para cada aspirante há somente um único homem em todo o mundo que pode fazer isso. Somente ele e mais ninguém pode realizar esse milagre,

195 Precisamos de um pouco de humildade e mais discernimento para nos aproximar de um homem assim e pedir-lhe que nos conceda o benefício de seu conhecimento, seu insight, sua experiência e sua sabedoria — que são incomuns e raros.

203 E um estranho mistério o destino ter decretado que esses homens que buscam a Deus tenham que depender, para obter a ajuda de que necessitam, mais da mente iluminada e do coração forte desse único homem do que de qualquer outro homem. Estranho porque até que o encontrem, parece haver uma grande lacuna em sua busca, que quase os leva à angústia.

196 Se a presença, rosto, porte e ensinamentos desse homem revelam haver nele algo de divino, não deveríamos hesitar em conceder-lhe o benefício de reconhecê-lo como um ser inspirado, mesmo que não estejamos dispostos a conceder-lhe mais que isso.

204 A atração que faz um homem escolher alguém para seu mestre, e que torna o mestre desejoso de ajudá-lo, é análoga à afinidade química. Não que eles se escolham um ao outro deliberada e conscientemente, mas eles não podem evitar fazê-lo.

197 Lembre-se de que pode ser que o mestre não viva tanto tempo quanto você, j á que provavelmente é um homem mais velho. Portanto, tire o melhor proveito possível de sua presença.

205 O mestre sabe, automática e imediatamente, pela sua intuição, se um candidato ao discipulado tem ou não afinidade com ele, e portanto se o aceitará ou se o rejeitará.

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Se ele é sensível e tem aspiração, se há qualquer poder espiritual real no outro homem, ele sentirá involuntariamente uma excitação interna e uma expectativa intuitiva quase desde o primeiro minuto de seu encontro. Mas se também tiver preparo suficiente e anseio de aprender — e se houver afinidade pessoal ou pré-natal com esse homem — então ele se sentirá abalado até as profundezas de seu ser, capturado de coração e mente. Porque sentirá o começo do discipulado. 207 Com o encontro, chegou a oportunidade suprema do aspirante. Quando um aspirante entra em contato com uma alma avançada, seu anseio é como um ímã que atrai espontaneamente a força espiritual e os pensamentos do outro homem. A partir daí ele experimenta uma elevação e uma iluminação. Se o encontro for pessoal, o resultado será completo. Se for através de um livro ou carta escritos pelo outro homem, ainda haverá resultados, mas num grau mais fraco. 208 Procurando o Mestre: grandes possibilidades estão associadas à primeira entrevista entre o estudante que procura direção, precisa de orientação ou pede conselho com serenidade, e o iluminado que estabeleceu comunhão com o seu Eu Superior. Essas possibilidades não dependem do espaço de tempo que dura esse encontro nem do que é dito durante a conversa entre eles. Dependem da atitude que o estudante traz silenciosamente consigo e do poder que o iluminado expressa silenciosamente. Em outras palavras, dependem de fatores invisíveis e telepáticos. 209 Só quando elefinalmenteestiver pronto para um mestre é que encontrará um verdadeiro. Mas, para estar pronto, o aspirante deve levar seu caráter à sua mais alta possibilidade. Quando isso tiver sido feito, já no primeiro encontro o poder de atração falará silenciosamente, mas com eloquência. Antes de terminar esse primeiro encontro, ambos saberão que estão diante da pessoa certa; não haverá qualquer dúvida, qualquer hesitação; estas podem existir somente quando o julgamento é errado. Ele conhecerá uma afinidade de alma que não pode ser — e não foi — experimentada com qualquer outra pessoa. A afinidade tem uma linguagem clara. Ela deixará a ambos perfeitamente à vontade. 210 Quando um coração sensível, uma mente receptiva e um forte anseio de perfeição espiritual encontram um homem que corporifica tal perfeição em alto grau, há ou deveria haver algum reconhecimento, uma breve purificação, alguma clarificação intelectual, alguma exaltação emocional, tudo isso trazendo como resultado uma experiência mística em miniatura. 211 Quando o discípulo predestinado encontra o mestre pela primeira vez, pode sentir ou que já o conheceu anteriormente ou que sempre o conheceu. 212 Algumas vezes, ao encontrarmos um estranho pela primeira vez, temos a sensação de que já o conhecemos há muito tempo e de que o conhecemos bem. O 244

sentimento, ao primeiro encontro com o mestre destinado, é quase o mesmo, mas muito ampliado e profundamente intensificado. 213 O sentimento despertado nesse contato — seja ele de afinidade ou de antipatia — deve ser o primeiro guia para a escolha de um mestre. 214 Na maior parte dos casos, ele sentirá a força de uma atração real ao encontrar seu mestre pela primeira vez — mas pode ser que isso não aconteça. 215 O homem em cuja presença seu caráter se eleva ao máximo e sua fé cresce ao ponto mais alto é o homem que pode ajudá-lo espiritualmente. Sem essa afinidade interior de pouco serve ligar-se a um guia, por melhor que seja a sua reputação. 216 O que busca e cuja imagem preconcebida do que constitui um mestre é correta — embora isso seja incomum — será capaz de reconhecê-lo desde o primeiro encontro. Ele sentirá com certeza positiva a grandeza interior do mestre. Entretanto, isso não quer dizer que este seja o seu mestre particular. Deve haver também um sentimento de afinidade pessoal, bem como uma atração intelectual pelas doutrinas ensinadas. 217 Sem esse sentimento de afinidade, e a considerável satisfação que dela deriva, seria prudente ele procurar em outra parte qualquer e não aceitar essa pessoa como guru. 218 Tome para seu mestre aquele homem cujo caráter e mentalidade se aproxima do ideal que você formou, e por cuja doutrina e personalidade você tenha simpatia. 219 O encontro com um mestre é uma oportunidade rara que não deveria ser perdida, mas ardorosamente aproveitada. Ela pode não ocorrer novamente durante a vida do indivíduo ou do mestre. Mas somente pode ser aproveitada se o aspirante sentir intuitivamente que há um "raio de afinidade*' entre eles, por meio do qual o contato interior pode ser estabelecido. 220 Algumas vezes os discípulos ligam-se a um mestre com quem não têm afinidade básica. Foram levados a ele por certa ilusão sobre sua natureza ou por uma compreensão um tanto errada de seu ensinamento. Depois de passado um período, quando a harmonia com ele ou seu ensinamento chega a umfim,e sus utilidade não é mais suficiente para justificar a ligação, eles normalmente se vão em busca de inspiração e ajuda em outro lugar. Mas naqueles casos em que, por alguma razão equivocada, não conseguem fazer isso, o mestre pode deliberadamente provocar um incidente ou uma circunstância que os incitará a ir embora.

221 Frequentemente acontece de os aspirantes não chegarem ao verdadeiro mestre, simplesmente porque não seriam atraídos mesmo que se encontrassem com ele. Eles são atraídos naturalmente por alguém cujo temperamento, caráter, mentalidade %

o semelhantes às suas. O neurótico desequilibrado seria repelido por um instrutor são e equilibrado, o histérico por um disciplinado, o sonhador fútil por alguém eficiente e ativo. 222 Na realidade não há qualquer escolha nesse assunto — somente a ilusão de uma escolha. Aquilo que o atrai a determinado mestre é predestinação. E l e pode tentar repetidamente com alguma outra pessoa. Ele pode não desejar aproximar-se desse homem, mas no final tem de fazer isso. Sua cabeça pode argumentar contra a atração, mas seu coração o impelirá de volta. 223 Diz-se que um homem reconhecerá num instante o mestre com quem tem verdadeira afinidade ao encontrá-lo pessoalmente ou por meio de suas palavras. Isso é verdade, mas o reconhecimento pode ser tão vago, parcial ou ténue que podem passar-se alguns anos antes que se torne consciente disso e portanto antes que tome alguma atitude em relação a isso. 2

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# Seria tolice alguém continuar seguindo um ensinamento do qual não gosta, ou um mestre com quem não tem nenhuma afinidade. Mas também seria tolice julgá-los apenas por meras reações pessoais ou emocionais. 225 O que está presente na consciência superficial como um leve interesse pode estar presente no subconsciente como um forte amor. Mas, embora possa levar muito tempo, a desproporção acabará sendo corrigida. Quando isso acontece — e isso faz parte desse tipo de situação — o homem passa a conhecer-se a si mesmo como realmente é. É esse o motivo pelo qual o encontro com um velho Mestre e uma nova verdade pode não ser imediatamente reconhecido; pode, na verdade, levar alguns anos para amadurecer. 226 Um guru que supostamente é um iluminado, mas que não desperta qualquer sentimento de afinidade, admiração, paz, reverência ou bondade na pessoa que dele se aproxima, pode não ser absolutamente um iluminado — ou pode não ser a relação adequada para o que busca, que deve entender isso como um sinal para procurar em outra parte. Mas pode ser também um sinal de que deve ser paciente, esperar mais um pouco, olhar mais profundamente e tentar saber o que realmente está dentro desse homem. 227 Algo interior parece reconhecer o verdadeiro instrutor quando ele aparece. Isso não é miraculoso quando se compreende que o presente visível tem raízes no passado invisível, e que o discipulado é uma relação que reaparece nascimento após nascimento. Entretanto, o caminho filosófico não depende apenas de fé ou intuição, mas também de um atrativo racional e de fatos comprovados. Portanto, algum tempo deve se passar antes que se saiba com toda a certeza que se encontrou o caminho certo e o instrutor certo. 246

Outro sinal de que você encontrou o mestre certo é descobrir que ele, mais que qualquer outro, é quem o inspira a ir mais fundo dentro de si mesmo durante a meditação. 229 E l e reconhecerá seu mestre não somente pelo sentimento de afinidade e pela atração de seu ensinamento, mas também se o rosto desse homem persistir em sua mente desde o seu primeiro encontro pessoal. 230 O que encontrou seu Mestre destinado saberá disso no máximo em alguns meses. Porque descobrirá que é tão difícil abandonar o Mestre quanto é, para a impotente limalha de ferro, abandonar um ímã poderoso. 231 A bênção da paz ou do poder que o aspirante sente na presença desse homem, le o esvanecimento de todas as questões em sua aura — são indicações de autenticidade e espiritualidade. 232 Outro sinal a ser levado em conta quando se procura o mestre certo é a sua maneira de pensar, que deve ser apropriada à índole do aspirante. 233 Uma pessoa pode ser um mestre mais adequado para outra, quando na presença desta pode dar o melhor de si mesmo. 234 É preciso ter humildade para reconhecer que aí está um homem cuja sabedoria é maior do que a nossa. 235 O tipo de mestre que ele procura será amoroso — um mestre com um coração suficientemente grande para recebê-lo com seus pecados, fraquezas, tolices e tudo o mais. 236 Sendo equivalente o resto, escolha o seu instrutor dentre os que estão se aproximando do fim da vida ou que, pelo menos, já tenham passado o meio da vida. Porque têm a experiência madura que falta às pessoas mais jovens; podem dar o conselho tranquilo que vem da aceitação da vida, da adaptação às suas situações. do declínio dos desejos físicos. 237 O instrutor não deve ser avaliado apenas pelos seus discípulos mais fracos nem pelos seus discípulos tolos. Uma avaliação mais justa também deve em conta os mais sábios e os mais fortes. O que ele fez pela maioria deles foi feito a despeito deles próprios, pois seus egos opuseram-se à sua influência ou, muito frequentemente, a distorceram. Entretanto ela está lá e lá estará passados

vinte ou trinta anos, inevitável e inescapávcl, esperando o enfraquecimento da resistência do ego. 238 W Tem discernimento o aspirante que responde somente ao que 6 sábio, verdadeiro e bom num instrutor, mas rejeita o que nele é frágil ou falível. 239 Frequentemente o estudante fica admirado, ansioso ou transtornado pela aura de aparente impessoalidade que cerca o Instrutor. São reações naturais, mas devem ser contidas — o que pode ser feito aprendendo-se a sorrir de si mesmo e a estar em paz. 240 Não procure a verdade entre os desequilibrados, os obcecados pelo ego, os desmiolados, os histéricos e os insensíveis. Procure-a entre os modestos, os serenos, os intuitivos, os que mergulham fundo e entre aqueles que honram ao máximo o E u Superior. 241 Muitos recorrem a um ensinamento imperfeito, e só até certo ponto competente ou satisfatório, porque não há nada melhor à disposição. 242 A instrução incompetente é indesejável, mas pode ajudar em alguns casos se interrompida no ponto adequado. 243 O estudante pode estar certo de que, havendo orientação competente, não se permanece parado nesse caminho. Ou ele vai em frente até atingir o alvo ou tem de abandonar o seu guia. 244 A inutilidade de se ir a um mestre que tem somente um conhecimento intelectual — ou seja, um discurso — é claramente demonstrada por uma velha história hindu. Certa vez, um rei desejou obter a consciência divina. Chamou um pandit brâmane para ser seu guia. Estudou com ele durante dois meses, mas percebeu que não conseguia chegar à experiência efetiva da divindade. Por isso, ameaçou o brâmane com o seu desprazer real. O pandit voltou para casa num triste estado mental. Ele havia dado o melhor de si mesmo e não sabia como satisfazer ao rei. Sua filha, uma moça de grande inteligência, percebeu a perturbação do pai e fez com que este lhe contasse o que se passava. No dia seguinte ela foi à corte e disse ao rei que poderia lançar luz sobre o problema. Pediu-lhe então que ordenasse aos soldados que amarrassem a ambos — a ela e ao rei — em colunas separadas. Quando isso foi feito, a moça disse: "Ó Rei, libcrte-mc destas correntes." "O quê?!**—espantou-se o rei. — "Você me pede algo impossível. Eu também estou acorrentado, como posso libertá-la?*' Rindo-se, a moça falou: "Ó Rei, essa é a explicação para o seu problema. Meu pai é um prisioneiro deste mundo-ilusão. Como pode ele libertá-lo? Como pode o senhor obter dele a divindade?'* 248

145 Se alguém que apresenta uma visão de mundo sabe realmente do que está falando deve haver uma vitalidade perceptível no que ele diz. 246 Se um instrutor esvazia o bolso ou a carteira de seus discípulos, esteja certo de que é um falso instrutor. Se exige deles servilismo, é provavelmente falso. Se nlo responde à aproximação de alguém, embora tenha a marca da autenticidade, pode não ser aquele instrutor específico com quem essa pessoa venha a descobrir afinidade. 247 Uma fraqueza entre esses cultistas é que continuam vendo em seu líder um tipo de caráter e uma elevação de consciência que não condizem com arealidade.Ele é transformado num super-homem infalível ou até mesmo tratado como se fosse um deus vivo. Suas virtudes são exageradas ou inventadas, suas palavras, mesmo que lugarescomuns, são discutidas como se fossem oráculos proféticos ou epigramas de sabedoria. E se não o presenteiam com onisciência cósmica e total presciência, presenteiam-no com algo parecido. A consequência disso é que as expectativas dos devotos, tendo sido levadas a um ponto muito alto, vêm abaixo quando a sua personalidade se esvazia e suas falhas aparecem. Segue-se inevitavelmente o desapontamento. Entretanto, como entre os seguidores espirituais que se ligam a organizações, poucos possuem as qualidades do discernimento e da inteligência, a massa dos seguidores prende-se a seu ídolo. Um líder honesto e sincero ficaria alarmado com essa adoração exagerada e se autodepreciaria ao máximo para levá-la a um fim. Ele sabe que o culto a uma pessoa em particular desviará a atenção do objeto de devoção mais próprio. 248 Já observamos muitos instrutores espirituais, tanto do Ocidente quanto do Oriente, e parece que cada um deles encontra certo número de adeptos. Esses instrutores e seus ensinamentos são de qualidade variável e podem ajudar muitos dos que se juntam a eles. Mas é necessário advertir em certa medida contra as qualidades exageradas que esses instrutores, quando não seus discípulos, atribuem a si mesmos. É fácil para seguidores sem treino nem experiência serem levados por afirmações confiantes de iluminação superior. É melhor procurar sinais de humildade e impessoalidade. 249 A excessiva importância dada ao guru, a devoção exagerada a ele, têm valor apenas nos primeiros estágios da busca. Nesses estágios, o ponto de vista é de tal modo marcado pelo ego que o aspirante não ficará satisfeito a menos que tenha um guru. Mas esse relacionamento ainda é um apego, de forma que precisa ser abandonado mais tarde. 250 Essa superidealização do guru, tão generalizada na índia e tão copiada atualmente pelos seguidores ocidentais, pode indicar um estágio elementar. 2S1 Podemos conceder grande reverência à pessoa que a merece — santo ou sábio — mas só devemos ajoelhar-nos em adoração ao Espírito eterna Nenhum ser humano 249

tem o direito de receber e muito menos de exigir essa adoração — e concedê-la é idolatria. 252 Afinal, ele é um ser humano, uma pessoa e não um semideus. A adoração ao homem não 6 apenas irrelevante, mas em certo sentido irreverente. 25S Podemos admirá-lo por suas ótimas qualidades mas isso não quer dizer que temos que concordar com ele em todos os seus pontos de vista. 254 "Tantos instrutores vêm a nós com suas doutrinas! Quais deles estão certos e quais estão errados? *, perguntaram a Gautama. "Não é por pensar "Nosso instrutor é alguém a quem devemos grande deferência que você precisa aceitar uma doutrina* , foi a resposta. 9

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255 Uma abordagem superficial e emocional da verdade preocupa-se menos com a mensagem do que com o mensageiro, menos com as ideias ensinadas do que com sua origem humana. ^ 256 Muitos orientais sofrem as más consequências de um respeito exagerado a seus guias espirituais, ao passo que os europeus e americanos sofrem as consequências de um respeito insuficiente. 257 Não é necessário aos discípulos entregarem-se a fastidiosos panegíricos sobre seu mestre. Isso não ajuda ninguém, porque alimenta esperanças desmedidas naqueles que os ouvem, diminui sua capacidade de receber a verdade e deixa o próprio mestre embaraçado. Eles precisam aprender que a grandeza do mestre pode ser apreciada com muito mais sinceridade por meio da descrição contida — que a grandeza de seu ser interior é melhor descrita e mais prontamente aceita por meio da afirmação dignificada da verdade como ela é. Se os outros se impressionam somente com o embelezamento fantasioso ou com o exagero tolo, não estão prontos para o mestre e devem procurá-lo em outra parte: entre os cultos que satisfazem aos ingénuos. 258

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260 Por que tentam arbitrariamente transformar o iluminado numa criatura perfeita e super-humana, não permitindo que seja o ser humano que realmente é? Por que teimam em ignorar suas limitações, encontrando sempre prontas desculpas para seus fracassos? Será que não restam nele génio ou grandeza bastantes para merecer nossa mais profunda admiração? Por que não lhe dar o que lhe é devido, sem esse desnecessário ato de deificação que só rebaixa o sublime ao absurdo? É porque eles habitam um plano no qual a emoção se aviva e o fanatismo se aprofunda, no qual o discernimento está ausente e a imaginação está presente demais. É porque não alcançaram as atitudes da filosofia nem sentiram a sua necessidade. 261 No Oriente, é muito comum apresentar-se um guru ao público leitor de uma maneira quase sempre exagerada e lisonjeira. Esses seguidores que escrevem como se seu líder espiritual fosse alguém sem defeitos, sempre infalível e sempre angélico em todas as ocasiões, prestam um desserviço a seu guia. Privam-no de sua humanidade, e aos outros da esperança de atingirem a mesma condição que ele. Suas qualidades e competência, sua confiabilidade e santidade, enquanto guia, não diminuem quando suas limitações e defeitos enquanto ser humano são reconhecidas. 262 Os seguidores desses homens apresentam-nos como se fossem semideuses infalíveis, sem saber que com isso prestam um desserviço tanto aos homens quanto à causa da verdade. E o que é pior, lançam confusão no caminho de todos os aspirantes, que formam ideias erradas sobre o que têm pela frente e sobre o que deveriam fazer ou ser. 263 * A atitude tradicional de um oriental em relação a um guru atinge graus fantásticos de completo materialismo. Já vimos discípulos beberem da água com a qual os pés do guru haviam sido lavados e beijarem a cauda do cavalo montado por ele. Isso é em parte resultado do ensinamento pobre que receberam. Eles confundem servidão a um guru com serviço à humanidade. 264 Desconfio das lendas contadas pelos discípulos sobre a maior parte dos gurus Todas elas são exageradas. Por quê? Porque eles pararam de procurar a verdade 265 Quando o homem transforma a crença no conhecimento superior do guia em crença na onisciência virtual do guia, isso é perigosa

Em sua exagerada glorificação ao guru, os discípulos impedem o pesquisador cuidadoso de aprender a verdade. Em sua recusa a ver objetivamente a fraqueza ou a imperfeição humana do guru, porque têm um compromisso com a teoria que o vê somente como Deus, alienam esses pesquisadores fortalecendo seu sentimento involuntário de que tornar-se discípulo de alguém é abandonar a própria busca da verdade, que supostamente deveria ser o motivo do discipulado.

266 Depois de mapear todos os méritos e capacidades do homem iluminada seus devotos e discípulos caem facilmente em exageros e esquecem-se de suas limitações — ou ignoram o simples fato de que ele continua sendo um homem entre homens.

259 Toda essa glorificação exagerada tende a afastar as mentes mais frias e claras, de modo que aquilo que merece louvor tende a ser diminuído.

X 267 Os discípulos exageram o mestre. Criam uma nova deidade. Quando mais tarde alguns deles inevitavelmente descobrem que o mestre tem defeitos sem importância

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e comete pequenos erros, quase sofrem um colapso emocional, um choque nervoso. Por que, com todas as maravilhosas realizações do mestre, eles não o podem aceitar como um ser humano? 268 É inevitável que eles exijam atenção individual contínua e é igualmente inevitável que ele não consiga dá-la. Em seguida virá o desapontamento e os pensamentos negativos começarão a multiplicar-se. 269 Eles o associam à onipotência, quando não à onisciência. Mas quando o tempo revela a extravagância e o exagero de suas expectativas idealizadas, sua fé cai por terra, vazia. 270 Quase todo profissional que ajuda as pessoas intimamente ou mentalmente tem que passar por certos testes, tentações ou provações. Ao lidar com uma paciente neurótica, o psicanalista, o médico ou o mestre-escola podem passar pela mesma experiência que o guia espiritual. Se ela for emocionalmente muito afetuosa ou fisicamente muito sensual, ou se tiver fome de afeição ou de sensualidade, pode naturalmente apaixonar-se por ele durante algum tempo. Digo "algum tempo" propositalmente, porque na fase que se segue — e que é igualmente conhecida do guia espiritual — ela se toma sua antagonista. A Psicologia identificou a primeira fase e chama-a de "transferência". 271 O mesmo discípulo que, levado pelo entusiasmo, considerava o mestre como um arcanjo, por um curioso processo de transformação, agora o considera um arquidemônio! 272 O guia defronta-se com o fato de que a maior parte dos aspirantes espera demais dele. Mesmo quando ele os adverte desde o começo, eles dão pouco peso às suas palavras ou esquecem-nas rapidamente. Esperam dele algum truque, cujo segredo só ele conhece, que os transforme rapidamente em místicos iluminados ou até mesmo em adeptos poderosos. Em consequência, quando se desapontam, reagem emocionalmente contra ele. $ 273 Quando a discrepância entre o homem real e a imagem mental preconcebida que fizeram dele torna-se óbvia e grande demais, eles o culpam, em vez de culparem a si mesmos. 274 Por colocá-lo numa posição única e exaltada em seus corações, é que os seguidores causam um real dano psíquico a si mesmos quando acreditam ser necessário destituí-lo dessa posição. 275 A primeira e última ilusão em que se pode incorrer é a de que existe, em ai algum lugar, um homem perfeito. Não há perfeição absoluta a ser encontrada, nem 252

mesmo existe uma perfeição moderada entre os mais espiritualizados seres hum; Portanto, a atmosfera de idolatria pessoal não é saudável. É certo que o impacto de uma personalidade extraordinariamente destacada pode produzir uma experiência intelectual ou emocional inesquecível. Mas 6 errado acreditar que, em vez de um homem, ele seja um deus, ou fazer com que outros acreditem nisso, porque se trata de um excesso que no final só pode levar ao desapontamento, já que, cedo ou tarde, ele será reduzido por um maior conhecimento a proporções humanas. Pedir que um mestre espiritual ou um companheiro amado seja perfeito em todos os aspectos é pedir o impossível e o não-existente. No caso de alguém que busca, isso provavelmente o levará a perder até mesmo a oportunidade que procura. No caso de alguém já associado a um mestre ou companheiro, provavelmente causará desapontamento e o obrigará a refazer passos já dados. Não os transformemos naquilo que não são. São humanos, cometem erros; eles não são deuses. 276 | Esse desejo de deificar seus instrutores, tão comum entre os discípulos indianos, não pode ocorrer entre discípulos filosóficos. Vemos o instrutor como um homem, como alguém que nos incita a procurar o melhor, nos inspira ao auto-aperfeiçoamento e nos guia à verdade. Mas é ainda um homem a ser respeitado, não um deus a ser adorado. Ele tem suas imperfeições. 277 Como foi honesto Sócrates, aquele homem reputadamente sábio, ao dizer o que tão poucos gurus já disseram. Depois de responder a uma pergunta de Xenofonte, ele acrescentou: "Mas a minha opinião é somente a opinião de um homem." 278 Não faz parte do meu trabalho tratar de assuntos conhecidos que somente despertam uma controvérsia inútil sobre a história passada. Mas seria uma séria omissão ao dever deixar de alertar que a perfeição humana não existe; que as famosas figuras da história, da política, da guerra, do governo, da literatura, da religião, do misticismo e da arte cometeram graves erros de julgamento, de percepção ou em seus ensinamentos; que esses erros são conhecidos apenas de alguns poucos e provavelmente nunca serão conhecidos pela posteridade. Um homem pode ser bem-sucedido ao conduzir seu povo a uma vitória final na guerra mas ao mesmo tempo pode ter cometido erros grosseiros que foram duramente pagos por outras pessoas. Um instrutor pode ser espiritualmente iluminado, e no entanto não ter experiência pessoal; suas opiniões sobre assuntos que não lhe são familiares podem não ter muito valor. 279 Quanto mais um homem é transformado em um deus e adorado como tal, quanto mais é considerado Perfeito e sem defeitos, mais difícil fica para as pessoas envolvidas — tanto o homem quanto seus seguidores — alcançarem os alvos filosóficos, devido às suas próprias deficiências. 280 O Mestre teve seus fracassos e fragilidades, exatamente como todos nós os temos, mas também teve o que poucos de nós temos — um contato dueto com o Eu Superior.

281 Onde está o homem suficientemente sábio para dar a todos os outros orientação espiritual, conselho pessoal e conjugal, além de prever o futuro? Quem, com um único olhar, sabe tudo sobre você, da mesma forma que sabe tudo sobre Deus e o universo? Não devemos procurar fantasias ou pensamentos esperançosos, mas ver os humanos como humanos. 282 Que ele não espere encontrar perfeição em qualquer mortal. Que fique satisfeito em encontrar alguém que tenha desenvolvido sua espiritualidade a ponto de poder conduzir aqueles que ainda estão muito atrás. 283 Não há ser humano sem defeitos: é um sonho pensar que o homem perfeito existe no nosso planeta. Portanto, os discípulos que servilmente copiam o seu guru em todas as coisas copiam também os seus defeitos! #

284 Onde encontrar um tal mestre, um tal modelo infalível de virtude, sabedoria, força e piedade? Onde quer que procuremos, todo homem escapa ao ideal, demonstra uma imperfeição ou revela uma fraqueza. O sábio ideal figurado nos livros filosóficos (distintos dos livros místicos) não veio à vida em nossos tempos, por muito que possa tê-lo feito em tempos antigos. §285 Por detrás das frases majestáticas da maior parte desses instrutores espirituais, normalmente descobrimos — ao cabo de uma investigação minuciosa, baseada na convivência com eles ou nos fatos de suas vidas — que lá estão pobres e frágeis mortais. Portanto, aqueles poucos que emergem como iguais, e não inferiores, a seus ensinamentos destacam-se mais ainda como homens verdadeiramente grandes. 286 E enganoso colocar tal homem em evidência, do mesmo modo que tantos indianos o fazem, como se fosse infalível. Sua consciência do Eu Superior pode ser perfeita, mas sua conduta como ser humano pode não ser. Existe em algum lugar um homem infalível? 287 Ele pode ser sábio, mas pode não ser sábio o tempo todo. Pois a história mostra lapsos de julgamento, ações impulsivas e outros acontecimentos lamentáveis, devidos a pressões cármicas, mesmo onde são menos esperados.

290 Muitos dos que buscam criam um halo sobrenatural em torno da personalidade do mestre. Muitos envolvem-na num manto dramático e romântico. Muitos esperam demais do primeiro encontro com ele. A consequência de tudo isso é frequentemente um tremendo baque emocional, um desapontamento terrível depois da realidade de um encontro — e eles ficam totalmente desequilibrados. É inevitável que uma visão próxima do mestre não se revele tão espetacular quanto uma visão distante, através de lentes românticas. A distância é fácil admirar e prestar reverência a um homem a quem quase transformaram em uma deidade. Mas a partir de um contato próximo com ele é igualmente fácil pender para a posição oposta e transformar o mestre num homem. Não percebem como foi breve seu contato pessoal com ele, como os dados de que dispõem para suas conclusões são poucos, como é pretensioso, da parte de pigmeus espirituais, pensar que entendem um titã espiritual. Porque aquilo que parece terem encontrado não corresponde à imagem mental previamente concebida, julgam que ele não é absolutamente um mestre. Mas esses não são os únicos motivos para tal fracasso. Igualmente importante é o fato de que esse encontro, ou o período imediatamente subsequente, torna-se o sinal para a oposição da força adversa. Maus espíritos podem encontrar exatamente aí uma oportunidade para desviá-lo, espíritos malévolos podem tentar confundir sua mente ou espíritos mentirosos podem fazer-lhe sugestões não-verdadeiras. Sua própria fraqueza de caráter e falibilidade de julgamento podem ampliar-se muito e impingir-lhe imperceptivelmente uma estimativa absurdamente errada do mestre. Ele pode até mesmo sentir antagonismo pessoal pelo mestre. Naturalmente, tudo isso é um teste. Se ele pensa que está julgando se aquele homem é ou não adequado para ser seu mestre, a vida, por sua vez, está julgando se ele é ou não adequado para um mestre assim. Portanto, aqui estão algumas das respostas para a pergunta: "Se admitirmos que os adeptos têm o direito de esconder-se da multidão, por que também parecem esconder-se dos poucos que fazem a busca perseverantemente?*' Os adeptos têm confiança no fato de que aqueles que realmente estão prontos para eles os encontrarão no tempo certo. Sabem que isso acontecerá não somente sob a ação direta do carma, não somente sob os impulsos do Eu Superior do aspirante, mas também sob as sábias leis que governam a própria busca. São verdades elevadas e duras. Mas são as realidades da vida, não os sonhos dos que gostam de se auto-iludir. Todo aquele que as rejeita por um motivo assim corre o risco de ficar terrivelmente chocado quando, um dia, despertar. 291 Eles se aproximam de um homem assim com uma espécie de temer, se não de reverência, que pode ou não ser justificável: isso depende em primeiro lugar da qualidade do homem e em segundo lugar de seu estado de espírito.

288 Há muitas maneiras de solapar o relacionamento estudante-guru: colocar o guru sobre um pedestal inalcançável, transformá-lo em um deus e negar sua humanidade ou acreditar que o guru é a perfeição em pessoa. Em qualquer homem, a possibilidade de perfeição é uma questão discutível.

# 292 É necessário ter olhos claros para ver a verdade sobre esses instrutores espirituais, olhos de um tipo que nem seus seguidores ardentes nem os críticos intolerantes possuem.

Não existem Budas em nossa era, somente Budas presumidos. Enfrentemos o fato, reconhecendo as limitações humanas e paremos de nos auto-iludir ou de nos deixar enganar por Mestres auto-intitulados.

293 A maior parte das pessoas não é competente para selecionar adequadamente um guru; são por demais dominadas por aparências externas, impressões físicas e reações emocionais.

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294 A busca de um mestre ideal é obstruída pela atitude excessivamente crítica ou pela atitude sentimentalmente romântica. Porque por mais divinamente inspirado que seja em seus melhores momentos, o mestre tem de continuar sendo humano, de muitas formas, a maior parte do tempo. 295 Os que criam imagens românticas, grandiosas, exóticas ou miraculosas de como é um mestre, e daquilo que procuram num homem antes de poderem aceitá-lo como mestre, condenam-se à frustração e garantem a si mesmos o desapontamento. Como ainda não compreendem qual 6 a verdadeira função do mestre, ainda não estão prontos para a instrução pessoal. 296 Se ele não estiver ligado a nenhuma associação religiosa ou tradição mística, a nenhuma instituição ou monastério, 6 visto com desconfiança. Pois quem ou o que valida a "correção" de seu ensinamento e dá ao homem suas credenciais? Eles procuram uma doutrina que seja "oficial" e um revelador garantido pela "autoridade". 297 O homem que procura um mestre esperando poder aceitar totalmente sua visão cosmológica, seu pensamento expresso e seu comportamento, procura o impossível. Ele não quer um ensinamento que possa ser negado pelo conhecimento científico, mas não quer limitar-se a esse conhecimento. 298 Se seu conceito prévio de um mestre estiver errado, como é provável, devido à ridícula caricatura criada pelos cultos e livros populares, ele pode não ser capaz de reconhecer um mestre real mesmo ao encontrá-lo. Ao contrário, haverá um conflito interior. Ele sofrerá a agonia da indecisão mental ou moral. 299 Pelos padrões sentimentais dos que erradamente o consideram um religioso glorificado, ele pode parecer frio e inalcançável. 300 O que ele vê é uma imagem que ele mesmo criou, não a realidade do outro homem. Somente por meio de uma associação íntima com ele, vivendo sob o mesmo teto, ele conseguirá descobrir o quanto a imagem é diferente da pessoa a quem supostamente representa. A primeira é uma criatura perfeita, mas impossível. A segunda é uma criatura humana. 301 É compreensível e até mesmo perdoável que os fracos, os neuróticos, os infelizes ou os subdesenvolvidos, os inocentes ou os inexperientes, tenham que procurar uma imagem paterna que suporte todas as suas cargas, tanto as materiais quanto as espirituais. Eles têm esse direito. Mas deveriam procurá-lo nos círculos religiosos ou místicos, não no interior do círculo filosófico. 302 O erro de muitos aspirantes ao se aproximarem de um homem assim é exigir que ele ensine nos termos deles, da maneira deles, e não à sua própria maneira. 256

303 Se ele não tem a aparência que acham que devia ter ou esperam que tenha, isso é outro motivo para ficarem ofendidos. A realidade é que é culpada — e não eles próprios — por frustrar a fantasia. 304 - Você não vê o mestre quando vê o seu corpo. Não o conhece quando conhece a sua aparência. Não o ama se é atraído somente pelo seu jeito simpático. O mestre verdadeiro é a mente dele. 305 O status espiritual de um homem não se revela imediatamente a qualquer pessoa que veja seu corpo físico. E não apenas isso mas, se este é feio, deformado e senil, a repulsa pode enganar completamente quanto à sua natureza interior. 306 Os que rejeitam a verdade por terem repulsa externa ao portador da verdade fazem-no por motivos certos, ou seja, não estão prontos para recebê-la. Os que aceitam a verdade devido à atração externa do portador da verdade fazem-no por motivos errados, ou seja, absolutamente não a recebem. Pois em ambos os casos não é à mente nem ao coração que o apelo foi feito, mas aos sentidos. Não foi a razão ou a intuição, a experiência ou a autoridade que julgaram o testemunho da verdade, mas a visão, a audição e o tato físicos. 307 As características pessoais do guia espiritual podem repelir o aspirante. Entretanto, se não houver outra pessoa disponível com o mesmo conhecimento, é dever do aspirante reprimir sua repulsa e assumir o relacionamento de discípulo. Se não o fizer, pagará então um alto preço por ter-se rendido à emoção pessoal e à superficialidade sensual. 308 Um mestre não seria necessariamente reconhecido enquanto tal. se estivesse caminhando pela rua — nem mesmo por aqueles que o estão procurando e já leram todos os livros sobre ele. 309 E muito menos provável que a maior parte das pessoas pense que um homem vestido com roupas comuns, de rosto escanhoado e cabelos nem muito curtos nem muito compridos, seja um adepto, do que se ele tivesse uma aparência teatral e estivesse espalhafatosamente vestido. 310 Na vida mundana, um homem bem-sucedido normalmente procura dar aos outros a impressão de seu sucesso, mas na vida espiritual um homem sem presunção pode ser um grande mestre. 311 Normalmente o aspirante não está em posição de julgar o que realmente e a iluminação e quem é um homem inteiramente iluminado. Sobre isso, ele pode apenas formar teorias e usar a imaginação.

312 Muitos especularão sobre os motivos do instrutor. Só alguns poucos perceberão que esses motivos podem ser puros e sem egoísmo, e que ele apenas tenta trazer os homens para mais perto da consciência do E u Superior e do conhecimento das leis superiores. Para os outros será um homem igual a si mesmos, impelido por motivos egoístas. 313 Os que rejeitam uma mensagem nobre e escarnecem de seu mensageiro, que o declaram falso profeta e enganador, declaram com isso serem seus próprios eus falsamente conduzidos e auto-iludidos. 314 Para muitas pessoas saturadas de prazeres e mundanas, o instrutor será considerado um charlatão ambicioso, na pior das hipóteses, ou alguém auto-hipnotizado, na melhor delas. Mas mesmo para os que não questionam sua sinceridade, o alvo que ele lhes aponta parece ser tão completamente absurdo e distante dos objetivos comumente aceitos, e o caminho que leva até ele tão estranhamente excêntrico, que poucos se sentem atraídos. 315 Os seguidores que esperam que ele se comporte com impecável propriedade e estão prontos para abandoná-lo e seguir a algum outro caso isso não aconteça — ou serão vítimas de seu próprio julgamento ou sairão ganhando devido a esse mesmo julgamento. Se o instrutor realmente é uno com seu E u Superior, qualquer julgamento, baseado em padrões externos, será apenas parcialmente aplicável. Há um ponto em que nem seu caráter nem seus motivos podem ser corretamente avaliados por tais padrões, e além do qual estes podem ser bastante ilusórios. 316 Os círculos místicos e cultistas que falam muito sobre esses assuntos usam o nome "Mestre" atrelado a um tal acúmulo de fatos falsificados, noções supersticiosas e raciocínios sem sentido que é necessário estar em guarda para a definição semântica sempre que se ouve esse termo. 317 O erro de alguns seguidores é não conseguirem ver que seu semideus é reconheci velmente humano. O erro de maior parte dos não-seguidores é não conseguirem ver que, em seus melhores momentos, ele é super-humano.

aceitar um discípulo por causa da pesada obrigação de aceitar-lhe o carma. Essa crença só é verdadeira na medida em que o mestre efetivamente tem alguma responsabilidade moral pelos erros autodestrutivos cometidos pelo discípulo em consequência direta do conhecimento especial a ele confiado ou pelo uso nocivo à sociedade de poderes especiais a ele transferidos ou postos em ação em seu interior devido a instruções especiais dadas pelo instrutor. Em cada um desses casos ele foi suficientemente forte do ponto de vista moral e puro em seus motivos. Mas o carma geral do discípulo não é nem pode ser aceito por nenhum mestre. Foi criado pelo discípulo, e ele próprio deve resolvê-lo. 320 "W O estudante está errado ao pensar que o instrutor coloca continuamente obstáculos ou tentações no caminho de alguém. Ele não precisa fazer isso; a própria vida o faz ou, mais precisamente, o carma que vem do caráter individual e de suas necessidades especiais. O instrutor pode notá-los e agir de acordo com eles. mas não os cria. No final, o próprio estudante cria seus obstáculos e tentações por meio de seus pensamentos, seu caráter e seu carma. 321 Ele não é apenas um instrutor, mas muitas vezes é chamado a desempenhar o papel de mentor, a ser o conselheiro sábio de todas as horas e um amigo confiável em tempos difíceis, a resolver problemas pessoais e a orientar decisões pessoais. Infelizmente, essa pessoa ideal não pôde ainda ser encontrada! Mas o desejo de encontrá-la é tão forte que reveste homens menores da perfeição imaginada. 322 Os que o consideram um visionário inconfiável não são menos vítimas do preconceito do que os que o consideram um profeta onisciente. 323 Mesmo o homem que fala a partir da inspiração do E u Superior pode convencer apenas aqueles que estão prontos. Nem todos são sensíveis ao seu encanto. 324 Eles igualam os poderes do homem aos poderes de Deus, recusando-se a ver que ele nada pode criar, mas somente prover as condições que tornam algumas criações possíveis. Exageram uma verdade — o fato de que ele possui, potencialmente, certos atributos divinos —, substituindo-a pela inverdade de que ele pode fazer o que Deus faz.

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318 A atitude excessivamente crítica que procura — e logo consegue — encontrar um defeito num homem santo é tão tola quanto a atitude excessivamente devota que o declara perfeito e continuamente infalível. A hostilidade da primeira leva ao desequilíbrio; a ingenuidade da segunda leva à expectativa. O homem santo ainda é um homem sujeito às limitações da sua espécie.

325 Acreditar que o mestre pode interferir, com toda sorte de métodos miraculosos na vida mundana do discípulo, ou intervir, com toda sorte de métodos arbitrários em sua vida espiritual, é auto-enganar-se. A verdadeira função do mestre, o papel mais importante que pode desempenhar no curso de vida do discípulo, é ajudá-lo em seus esforços para recolher-se ao seu eu interior, orientar, fortalecer e proteger seu empenho para praticar meditação.

319 O ensinamento teosófico de que o mestre assume o carma de seu discípulo é muitas vezes mal compreendido. Muitos estudantes pensam que o mestre hesita em

326 Há uma crença indiana comum — transplantada para alguns cultos ocidentais — de que sem submissão a um líder, mestre ou guru cuja orientação conduz os

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aspirantes e cujo poder os eleva ao Nirvana, eles nunca alcançarão essa meta. Trata-se de uma crença exagerada quando se refere a homens autenticamente iluminados e falsa quando se refere a todos os outros. A aceitação cega dessa crença já provocou colapsos nervosos, em alguns casos, e muito sentimento mórbido de frustração, na maior parte dos casos em que os seguidores não conseguiram encontrar um guru ou, encontrando, acabaram por ficar desapontados ou desiludidos. 327 Não há um feiticeiro celestial ou um mago angélico que venha modificar o caráter do aspirante da noite para o dia. 328 Os que não entendem que o verdadeiro desenvolvimento é o autodesenvolvimento vão procurar, e até mesmo exigir, uma "mágica** do guru, pois acreditam que isso é possível. Essa crença os levará a frequentar as cercanias do guru ou até mesmo a viver com ele permanentemente, para ficar o maior tempo possível sob sua influência mesmerizante. Assim passam a depender cada vez mais de uma fonte externa — outra pessoa — e não crescem. 329 Os discípulos exercem tanta pressão sobre o guru e o encorajam tanto a fazer o que não pode fazer por eles, que continuam acreditando em seus próprios desejos, isto é, em seu ego. mais do que nele. Pensam que ele pode dar-lhes proteção total contra riscos, perigos e quedas no caminho espiritual. Isso é impossível, disse Ramana Maharshi. O guru não é onisciente, nem todo-poderoso. Ainda é um limitado ser humano. Por que forçá-lo a aceitar uma posição falsa? 330 E bastante atraente a ideia de um mestre ser uma espécie de conselheiro grátis, perfeito e infalível, em todas as perplexidades domésticas, pessoais e profissionais da vida. Se fosse também verdadeira, haveria muito mais discípulos. Mas é somente um aspecto romântico de um pensamento esperançoso.

Qualificações

e deveres de um instrutor

331 Colocar-se sob a tutela espiritual de outra pessoa é um ato que pode ser perigoso ou auspicioso. Isso depende do outro — se sua mente realmente irradia o fulgor divino ou se é obscurecida pelo próprio ego. * 332 A ajuda espiritual não pode ser dada indiscriminadamente e ao mesmo tempo com sabedoria. Deve estar condicionada à preparação, ao merecimento e à disposição para recebê-la. Deve ser oferecida somente pelos que estão adequadamente equipados e qualificados, e cuja motivação é pura. 333 Dr. Osborne Mayor, um médico escocês, disse: "Reconstruir uma personalidade é uma tarefa a ser realizada por Sócrates, Cristo e Confúcio em íntima cooperação. 260

E u não confiaria a minha personalidade, tal qual ela é, a qualquer indivíduo com um padrão intelectual e moral menor.*' Essa crítica também se aplica aos instrutores espirituais, assim como aos psicoterapeutas contra os quais foi dirigida. 334 Divido todos os instrutores em duas categorias: gurus nominais e gurus reais. Os primeiros são bastante comuns, sendo perceptível o abismo entre suas doutrinas e seu comportamento, ao passo que os últimos são muito raros, porque alcançaram uma conquista sobre o ego que se revela em sua conduta e se reflete em suas vidas. 335 A demanda por instrutores inspirados é sempre persistente, mas a oferta é completamente insuficiente. A menos que o instrutor seja inspirado, pouco ajudará o futuro místico. Com inspirado queremos dizer ou em comunhão com seu E u Superior ou completamente unido a ele. 336 Poucos são os instrutores, guias, sacerdotes e líderes que não introduzem em seu trabalho as opiniões falsas e os preconceitos favoritos que eles próprios aprenderam ou adquiriram. Poucos, também, são os que se esforçaram escrupulosamente para libertar-se dessas coisas o máximo possível.

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337 Há instrutores incapazes de libertar-se da relatividade de sua posição. Portanto, dão instruções que são pertinentes apenas para os que vestem o hábito de monge. 338 O interesse despertado por um instrutor depende da profundidade da sua inspiração, e o interesse despertado por seus ensinamentos depende de como se ajustam ao pensamento dominante e à necessidade premente de sua época. 339 O instrutor moderno deve ser um homem do mundo, não um homem de ashrams. Ele deve ser alguém que não pratique um ascetismo fastidioso nem olhe com reprovação humana. Um homem assim começa seu ensinamento fazendo os outros sentirem que a sabedoria não tem preço e que a santidade é bela. 340 Ele deve administrar as duas tendências de tal maneira que ambas se equilibrem mutuamente. Como está lidando com as verdades eternas, pode revelar apenas verdades muito, muito antigas. Como pertence à sua época deve expô-las de uma maneira nova e contemporânea. 341 A posse de tal poder e influência, embora seja diretamente limitada a assuntos espirituais, também se manifesta indiretamente em assuntos mundanos; pois os homens têm que viver e agir no mundo. Ganhará mais estima como instrutor, e certamente como líder, o que for reconhecidamente honrado, consciente de suas responsabilidades e obrigações, cujo caráter for equilibrado e cujas promessas forem sólidas, cujas afirmações estiverem alicerçadas em fatos e cujas doutrinas mereçam confiança. 261

342 O verdadeiro mensageiro é aquele que procura manter seu ego fora do trabalho que realiza, 6 aquele que tenta aproximar Deus do homem sem se colocar entre os dois.

353 O que atua como guia espiritual de outras pessoas deve primeiro ter atingido o alvo em direção ao qual se propõe a conduzi-las.

343 Um instrutor assim não afirmaria ser um intermediário para Deus, mas, em vez disso, um conselheiro para o homem.

Se a fé desse homem estimula os que recebem a sua mensagem, estes, por sua vez, estimulam nele a fé. Se eles se sentem inspirados no contato com ela, de sente humildade e reverência pelo poder dessa fé sobre des.

344 Nenhum mestre que seja um verdadeiro canal para a vida divina aceitará a adulação de outras pessoas. Não permitirá que os elogios o enganem. Em vez disso, sempre os transferirá para o lugar a que pertencem — a essa vida divina em si.

355 Somente o homem que superou, ele próprio, a natureza inferior pode ajudar outras pessoas a superá-la por sua vez.

345 Ele não aceitará nenhuma das homenagens que lhe forem prestadas; sabe que não lhe são devidas, mas sim ao poder superior que intermitentemente o usa. 346 V ^ '„ Ele não é um líder ansioso para parecer infalível diante dos membros do seu culto. 347 O que encontrou paz autêntica no interior de si mesmo está em posição de ajudar outras pessoas que ainda a estão procurando, mas o que ainda não transcendeu meras teorias e estudos eruditos sobre a paz pode dar-lhes somente alguns pensamentos adicionais para serem acrescentados à bagagem que já transportam. 348 O homem que se deixa aquecer pelo brilho do sol será capaz de irradiar alguns de seus efeitos aos outros. Mas eles não deveriam afirmar, por causa disso, que ele é o sol! Ele não é o originador desses efeitos, somente um mediador. H #349 "Meu filho", disse-me um velho sábio, "o nível do oceano não sobe quando os rios fluem para dentro dele; assim, o verdadeiro mestre não se enche de orgulho quando muitos discípulos se ligam a ele. Acha isso natural, pois sabe que eles vêm procurar a Luz verdadeira, e não meramente seu corpo." 350 A humildade não permitirá que um homem ensine outros, enquanto ele próprio não souber aquilo que tenta ensinar-lhes. 351 Com paciência e perseverança, o verdadeiro instrutor estabelece-se na consciência da verdade antes de se oferecer para conduzir outras pessoas a ela. 352 O guia sob cuja orientação ele estuda, que observa tanto seu progresso quanto seus lapsos, só pode desempenhar competentemente seu ministério se ele próprio for um indivíduo liberado e inspirado, que tenha aptidão para esse serviço. 262

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356 A capacidade de receber a verdade é uma coisa: o poder de comunicá-la a outros homens é outra. Além disso, somente o que já viveu de perto nossa experiência da busca, nossas quedas, escorregões e tombos, que se lembra de como lutou, passo a passo, ao longo dela para chegar à altura em que está pode realmente ajudar aqueles a quem deixou muito para trás. 357 Somente o que estabeleceu solidamente sua própria realização pode com segurança guiar outras pessoas à realização. Ninguém pode garantir progresso automático na busca. Como todos os empreendimentos humanos, ela está sujeita a altos e baixos. 358 O que é intimamente infeliz, ou em cujo lar há discórdia ou infelicidade, pode mostrar o caminho para a alegria somente a partir do intelecto, não a partir da experiência. 359 Para ser eficiente e ajudar aos outros, seu conselho deve brotar de uma mente que enfrentou e resolveu os mesmos problemas no interior de si mesma. Mas isso não precisa ter ocorrido, necessariamente, na conduta externa. Pode ter ocorrido em imaginação ou apenas no intelecto. A qualidade da mente ponderará sobre o valor de tal caminho. 360 O verdadeiro instrutor ajuda seus discípulos a encontrarem sua base espiritual de maneira a poderem avançar sempre, sem precisar do seu apoio ou do de qualquer outra pessoa. É dever de um guia espiritual honesto e desinteressado mostrar a seus seguidores que a dependência em relação a ele é uma fraqueza a ser vencida, não uma virtude a ser cultivada. O falso instrutor, buscando de algum modo beneficiar-se da situação, torna-os completamente dependentes dele. 361 O verdadeiro instrutor procura levar seus discípulos a aprender como guiar a si mesmos. Assim, explica pacientemente e examina com eles de boa vontade seus próprios conselhos, ao passo que o falso instrutor mantém-nos envoltos em obscuridade. O verdadeiro guia os conduz continuamente para aquele local em que, no 263

fim, devem compreender a verdade — ao interior de si mesmos — , pois ali está sua única fonte. 362 O guia adequado é o que dá a cada discípulo a oportunidade de desenvolver-se de acordo com sua individualidade e não tenta torná-lo uma cópia de si mesmo. Mas é raro encontrar um tutor assim, e ele nem mesmo chamaria alguém de "meu discípulo". 363 Da mesma forma que os instrutores conduzidos pelo ego buscam publicidade, os instrutores sem ego buscam o anonimato. 364 Um verdadeiro instrutor pratica a mais completa auto-abnegação; busca e trabalha para o dia em que sua influência ou interferência sejam reduzidas a nada. 365 O tipo comum de guru aponta para si mesmo, para sua necessidade e importância; mas o tipo raro aponta para longe de si mesmo, para o E u Superior daquele que busca, para sua realidade e acessibilidade. 366 São incompletos e deficientes os mestres cujos pequenos egos precisam de uma corte de discípulos adoradores e que têm esse anseio de poder sobre os outros. Os mestres totalmente desenvolvidos — e estes são bastante raros — não se deixam afetar, mas não permanecem indiferentes. Pois reconhecem em cada pessoa que vem a eles uma atenção ao chamado interior, uma resposta ao poder impulsionador de sua própria Fonte divina. 367 Ele não deseja ganhar discípulos, mas perdê-los! Quer que eles procurem, encontrem e sigam, não um homem mortal, mas a luz que brilha serenamente no in interior de seus próprios corações.

Se o verdadeiro mestre não impõe nenhuma obrigação para consigo mesmo àqueles a quem ajuda nem exige deles quaisquer recompensas, é porque deseja manter sua liberdade, sua independência, seu desapego, e também porque dá por compaixão e bondade. 4 373 Emerson venceu a tentação mais sutil que pode apresentar-se a um homem do seu tipo. E l e era declaradamente um instrutor, e a tendência natural do instrutor 6 o desejo de ser solicitado para dar uma orientação contínua. Mas Emerson era uma alma pura demais para demonstrar o egotismo de instrutor. Desejava que os outros se firmassem sobre os próprios pés. Woodbury conta-nos como, ao perceber-se em discordância de seu reverenciado mestre, procurou-o e colocou a questão. Emerson refletiu e depois, com seu olhar brilhante e bondoso disse: "Bem, eu não quero ter discípulos.*' F o i um choque, mas um choque saudável. Tirou o apoio de sob os pés do discípulo mas, com isso, este aprendeu a caminhar sozinho.

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374 ' O homem que às vezes consegue tornar outros homens — mesmo que momentaneamente — conscientes de sua divindade é um verdadeiro mestre. 375 O guia não apenas apontará o caminho para a maturidade espiritual como também encorajará o discípulo a percorrê-lo. Ele não procura qualquer outra recompensa além da lealdade deste, nenhum pagamento melhor do que a sua fé, nenhuma satisfação superior ao seu progresso espiritual. 376 O verdadeiro mentor possuirá um insight penetrante das necessidades do seu discípulo. 377 Um guru assim não procura nem dinheiro nem poder pessoal.

368 O instrutor sincero procura desmamar seus discípulos o mais cedo possível. Para chegar a isso com êxito, nada promete, mas enfatiza a necessidade de aplicar os ensinamentos à vida pessoal com honestidade e continuamente.

378 E l e será capaz de perceber de qual fonte um homem retira sua vida — se do impulso do ego ou da inspiração do E u Superior.

369 O Mestre Jalaluddin Rumi não permitia aos discípulos um contato constante com ele. Em dado momento, os dispensava. Daí por diante, eles precisavam construir sozinhos sobre os alicerces até então estabelecidos. Era um instrutor original e bem-sucedido.

379 A natureza instantânea e adequada de suas respostas a todas as questões demonstra uma compreensão mais profunda do que a meramente intelectual e, portanto, deve ser intuitiva, vinda da inspiração ou da realização. Com base nisso a capacidade de um homem para ser guru torna-se mais evidente.

370 Cada texto e cada guru devem, no final — e melhor seria se o fizessem também desde o início —, apontar para longe de si mesmos. Mas isso só ocorre quando há iluminação total e autêntica.

380 O papel do guia espiritual envolve um código de ética, uma responsabilidade moral especial de sua parte.

371 Um instrutor assim não procura qualquer adoração, mas, em vez disso, dirige-a à própria Alma do discípulo. 264

Ml A designação de instrutor espiritual deve ser dada apenas ao que não apenas comunica intelectualmente a verdade espiritual, mas que também a vive na totalidade 265

382 O instrutor não deve apenas fornecer instrução; precisa também dar um exemplo de como viver e agir no mundo, e não só isso: deve exercer uma influência mais profunda do que a de outros homens, em virtude de sua própria realização, uma vez em que ela é revelada telepaticamente por sua simples presença. 383 O instrutor perfeito é o que vive de acordo com o próprio ensinamento. O semiperfeito tenta viver de acordo com o ensinamento. O imperfeito nem mesmo tenta: evita-o. 384 Açóes, feitos, são o teste final do homem espiritual ou guru. A vida que ele leva deve ser um modelo.

poderia uma pessoa assim ser chamada de mestre qualificado? Façamos, portanto, uma diferenciação marcada entre os que têm competência para serem chamados de instrutores e os que são meramente transmissores de ensinamentos. I» 391 Não é problema que um instrutor tenha somente um conhecimento limitado e parcial de sua matéria, desde que reconheça isso e na medida em que seus ensinamentos não sejam aplicados a casos em que um conhecimento completo é essencial. Ele deve ser firme consigo próprio e rejeitar a tentação de estabelecer-se como mestre, enquanto alguns aspectos da verdade — talvez alguns de seus aspectos vitais — permanecerem ocultos para ele. 1

38S O guia espiritual que pede a seus discípulos para praticarem a autodisciplina e para remodelarem seu caráter parece estar dando conselhos de perfeição impossíveis de serem seguidos, a menos que ele próprio esteja disposto a fazer ou já tenha feito aquilo que lhes pede. Por mais consistente que seja sua orientação teórica, perderá o poder de persuasão na mesma medida em que não se identifica com a sua própria experiência. 386 O que os hindus chamam de dissipador espiritual de escuridão e o que"as igrejas cristãs ocidentais chamam de Pai Espiritual não é somente um santo, mas também um experiente instrutor do caminho para a santidade. 387 O que assume a tarefa de guiar discípulos deveria possuir uma experiência solidamente alicerçada e obtida em anos de trabalho com os mais variados tipos de aprendizes. 388 Ser um guru é aceitar uma responsabilidade. Para tanto, é necessário ter capacidade e um mandado do poder superior. 389 Apenas quando um homem se estabeleceu no Eu Superior de modo permanente e consciente é que esses poderes ocultos podem ser adquiridos com segurança e essas relações com discípulos adequadamente empreendidas. Apenas quando tem acesso a outros planos de existência, e quando seres superiores desses planos o instruem, é que pode de fato saber como viver aqui apropriadamente, e que tem competência para ensinar outras pessoas a fazerem o mesmo. 390 Ninguém tem o direito de usar o manto de mestre somente porque recebeu ensinamento de um mestre. Ele pode ser no máximo um transmissor de informação, e não a origem dela. Porque pode transmitir conhecimento que ele próprio não compreende, que está muito acima dele ou até mesmo que tenha sido mal compreendido, podendo desse modo desviar totalmente outras pessoas do caminho. Como 266

393 § Ele deve viver em liberdade e não em dependência — exterior ou interior — em relação a seguidores ou discípulos: assim, os mantém a certa distância para que possam, por sua vez, encontrar e experimentar a verdade no interior de si mesmos. Seu trabalho termina com a indicação do caminho. 394 Espera-se que um advogado ou um cirurgião tenham certas qualificações antes de começarem a aceitar clientes e trabalhar para eles. Um profeta espiritual que se dispõe a guiar outras pessoas também precisa de certas qualificações. Precisa da capacidade intelectual para explicar, ensinar e esclarecer, do temperamento paciente que lhe permita colocar-se no lugar de seus discípulos, e da compaixão altruísta para trabalhar em benefício deles. Além do mais, dada a facilidade inata, é simples ensinar ética aos outros e difícil viver esses ensinamentos. Ele precisa ser capaz de estabelecer, em sua própria conduta, um exemplo correto a ser imitado. 395 É errado conceber um guia espiritual de modo altamente sentimental. Ele demonstraria incompetência e confundiria o trabalho que faz por você, mimando-o demais ou importunando-o com contínuas repreensões, sendo emocionalmente muito solícito em relação à sua vida pessoal ou sendo autoritário demais. Porque faria de você alguém mais egoísta e menos disciplinado, mais dependente e menos autoconfiante, mais incapaz de atingir progresso real e menos informado sobre os fatores nele envolvidos. Na verdade, ele faria de você um parasita inútil, em vez de uma entidade em evolução. 396 Ele é um homem cuja percepção vai mais longe, cuja consciência é mais profunda do que a do resto dos homens. Esta deve ir tão longe e tão profundo que possa apoiar-se de modo duradouro no "Eu Sou" do Eu Superior. Sem isso, não possui a primeira, a mais essencial e mais importante de todas as credenciais necessárias para comunicar aos outros a arte de atingir o Eu Superior. A segunda credencial, uma credencial reconhecidamente menor, é o desejo compassivo de efetuar essa comunicação tanto quanto possível. A terceira é o poder especial de ensinar aos outros o que sabe. 267

397 É possível para alguém que dominou sua mente afetar a mente de outra pessoa, esteja esta próxima dele ou a grande distância. Esse fato torna-se especialmente evidente quando se tenta aprender e praticar a meditação. 398 §; I O que o mestre pode fazer por um discípulo tem limites. Pode estimular a aspiração natural dele, guiar seus estudos e mostrar onde estão as armadilhas; mas pouco pode fazer além disso. Não pode tomar sobre os ombros responsabilidades que o discípulo tem de assumir. 399 •& É a vontade de um poder superior que ele, cujo olho interior está aberto, seja um instrumento para abrir esse olho em outras pessoas nas quais está fechado. 400 A ajuda dele vem daquilo que ele é —-o poder do exemplo — e do que ensina — o poder da sugestão. 401 O que um guia pode ser capaz de fazer em certos casos é simplificar o despertar da consciência superior e facilitar a penetração de verdades superiores. 402 *' Ele compreende o sentimento de amor expresso por um discípulo e o aceita no nível do sentimento que ele mesmo tem, por sua vez, por Aqueles que são seus líderes. A atração é inevitável. Mas no caso de mulheres discípulas, esse sentimento deve ser mantido num alto nível e nunca se deve permitir que se misture com emoções inferiores. Deve ser puro e, em certo sentido, até mesmo impessoal. O instrutor percorre o caminho da vida exteriormente só, e portanto sem envolvimento com nenhuma "pessoa". A única maneira de alguém aproximar-se dele é acercando-se da união com o Eu Superior. Não espere que o adepto tenha o mesmo comportamento dos seres humanos comuns, com seus desejos e emoções. E l e cometeu suicídio nessa direção. Foi o preço exigido pela pequena paz que encontrou. í, 403 % O discípulo que se faz passar por mestre é um tolo. O mestre que se faz passar por discípulo é um sábio. 404 Ele não pode submeter-se às pressões e exigências de uma relação pessoal sem falsificar seu status e adulterar seu serviço.

não é um mestre. Ele pode aplicar esse teste negativo à conduta pessoal e ao sinamento público do suposto mestre. 407 / Se um homem proclama ter atingido a totalidade do seu ser superior, podemos testar sua afirmação pelos frutos morais que demonstra. Deve exercer constantemente as qualidades da compaixão, da autocontenção, do desapego e da calma, pelo lado positivo, e deve ser livre da malícia, da maledicência, da avareza, da luxúria e da ira, pelo lado negativo^ 408 O que assume a vocação do serviço espiritual só deve fazê-lo se estiver preparado moralmente para isso — se for destituído de ambições e avareza, se for desapegado de mulheres e do pensamento em relação a elas, se estiver distante de motivações pessoais e liberado de emoções inferiores. V< 409 Um mestre não dá ordens, nem exige obediência. Outras pessoas podem fazê-lo. mas não ele. 410 E l e não guardará ressentimento se seu conselho for rejeitado. 411 O guru que desempenha o papel de potentado oriental diante de sua corte de discípulos pode estar inconscientemente atendendo os desejos e expectativas deles, mas pode estar também agradando ao seu próprio desejo de poder. Com isso o guru mantém os discípulos numa dependência infantil em relação a ele, mas também mantém-se dentro das fronteiras do ego, reduzindo assim sua capacidade de servi-los. 412 Mesmo se ele não fosse eticamente mais sensível — e portanto mais escrupuloso — do que a maior parte das pessoas, sua dignidade espiritual e seu respeito próprio bastariam para impedi-lo de tirar vantagem dos crédulos, dos inexperientes e dos desequilibrados. 413 O guia espiritual que não é, ele próprio, livre da paixão é um guia perigoso para os que ainda estão lutando sob o domínio da paixão. O instrutor que não subjugou completamente o egoísmo pessoal não tem condições de auxiliar aos que procuram libertar-se desse egoísmo. Ele deve aprender a resolver seus próprios problemas antes de se aventurar a ajudar na solução dos problemas de outras pessoas.

405 Ele possui o poder de despertar a experiência do Vislumbre em outros homens, mas não em todos os outros homens. Pode ter êxito somente com os que estão prontos ou têm suficiente sensibilidade.

414 f O verdadeiro instrutor identifica-se com seu discípulo e não se mantém nas alturas inalcançáveis da auto-estima./

406 Normalmente é quase impossível para o aspirante médio determinar quem é um mestre totalmente qualificado. Mas às vezes é bastante possível determinar quem

415 Tem apegos o guru que pensa em si mesmo como alguém que tem discípulas. Nele, o ego está presente. Ele os guarda mentalmente como posses.

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416 Um homem que tem o privilégio de trazer uma mensagem do topo da montanha para o seu próximo não deveria ter inveja de outros mensageiros, nem ficar emocionalmente perturbado com o sucesso deles ou o seu próprio fracasso. Se isso ocorre, quer dizer que o ego se imiscuiu em seu trabalho e o envenenou. Deveria, pelo contrário, alegrar-se de que mais aspirantes tenham sido ajudados a ouvir verdades que não poderiam ouvir sozinhos. Deveria rejubilar-se com a benção recebida por eles, ou ainda estará adorando a si mesmo e não a Deus. Um mensageiro de verdade não procura seguidores, mas aqueles a quem pode ajudar. 417 Mesmo que esteja exposto à bajulação e ao servilismo, mantém-se completamente livre da pompa e da vaidade. 418 O instrutor tem que suportar pacientemente os defeitos e fraquezas de seus discípulos. Isso não é possível se seu insight é muito limitado, sua compaixão muito pequena, sua calma muito superficial. 419 O instrutor cuja mente descansa na serenidade do E u Superior não se preocupa com o avanço lento de nenhum de seus discípulos. Deixa isso, de antemão, aos cuidados do E u Superior, assim como no passado fez com seu próprio avanço. Entretanto, esse desapego não diminui absolutamente o fluxo constante de conselhos, orientação, encorajamento e inspiração que vai dele para os discípulos. 420 Se o místico verdadeiramente avançado der a impressão de estar reprovando alguém que errou, essa impressão é totalmente falsa. Porque ele sabe que é através dessa pequena parte da evolução devotada ao livre-arbítrio que aprendemos e crescemos. O que aprendeu e cresceu também dessa maneira nunca reprova os erros dos outros, mas, em vez disso, perdoa-os. 421 'Ajudar os outros a entender a arte de viver corretamente é, por si só, uma arte. Um homem pode ser bom e ainda assim não ser um bom instrutor.* 422 Instrutores sábios tentam harmonizar as contradições. Usam meios científicos e práticos juntamente com meios interiores e místicos. 423 O homem eloquente pode ser um bom instrutor no que diz respeito à comunicação; mas um homem que tem experiência divina, que sabe do que está falando, é ainda o melhor de todos os instrutores. 424 Se ele conhece a teoria e a experiência, e se possui a capacidade de comunicar essa teoria, então as impressões deixadas não serão vagas, mas bastante distintas. 270

425 Um instrutor que argumente bem sobre a Verdade ajuda-nos, mas também nos ajuda o instrutor que anuncia a Verdade em termos não-discursivos. Ambos são necessários, cada um em seu lugar. 426 O guru é alguém que não apenas conhece a verdade mas que pode ensinar com eficácia aquilo que sabe — e não necessariamente por palavras, pois o silêncio também pode ser um meio eficiente. 427 • O guia espiritual deve ser alguém em quem se pode confiar mais do que em qualquer outro homem, a quem se pode procurar em busca de orientação, conhecimento, esperança, inspiração e conselho. 428 ,jÊ Ele respeita toda confiança depositada nele e mantém cada confissão nos arquivos ocultos da memória. 429 Seja qual for a confidência feita durante a entrevista, a outra pessoa pode ficar segura de que não será traída. 430 O homem que professa guiar espiritualmente outras pessoas e inspirá-las com ideais superiores passa a ser necessariamente observado. Se ele se ressente dessa provação, o serviço que lhes presta será prejudicado; mas se a aceita, demonstra dessa forma não estar procurando autoglorificação. 431 Alguns o recompensarão injustamente com desprezo e calúnia; será incompreendido e subestimado por outros. Mas ele aceitará despreocupadamente tudo isso. 432 . Nenhum mestre verdadeiro receberá dinheiro pelos seus serviços. 433 Um homem assim não pode cobrar pelo seu tempo, seus conselhos ou incómodos, não pode comercializar seu trabalho ou receber dinheiro dos que perambulam em busca da verdade. O serviço que lhes presta é algo sagrado, que não pode ser comprado e não tem preço. Porque é realizado por mandado de seu E u Superior. 434 Devemos reconhecer uma distinção marcada e bem clara entre o ensinamento espiritual enquanto dever e o ensinamento espiritual enquanto negócio. O primeiro expressa o verdadeiro relacionamento entre mestre e discípulo, o outro busca retribuição financeira. 435 A espiritualidade não é uma mercadoria, para ser comprada e vendida num mercado. Deve ser trabalhada passo a passo e obtida por meio do esforço pessoal. Isso é verdade, mesmo que no fim ela venha pela Graça, pois sem uma preparação assim é improvável, para não dizer impossível, que ela seja concedida. Também é

verdade quando o esforço está soterrado sob a história de vidas passadas. Se alguma organização religiosa ou líder de culto menciona preço, mensalidade ou até mesmo contribuição como pré-requisito para a Graça, iniciação ou consciência superior, então o devoto está sendo enganado por uma impostura./ 436 i B uma antiga tradição: essa instrução é dada gratuitamente e o instrutor que recebe pagamento por ela é degradado. 437 • . O E u Superior não tem preço. Como disse Jesus, ele é de graça como o vento que vai e vem. Todo aquele que compreendeu isso ensinará alegremente o caminho a qualquer um que esteja maduro e pronto para seu ensinamento. Se alguém estipular preço para esse ensinamento e se quiser vendê-lo a você, esteja certo de que está oferecendo uma imitação falsa ou grosseira. 438 El Se ele aceitar presentes ou contribuições, provavelmente lhe pedirão — ou esperarão dele — que lhes conceda seu tempo, atenção e até mesmo a graça, que outras pessoas não podem esperar receber. A intensidade da devoção, e não o valor das oferendas, é o que sempre deve governar a resposta do mestre. 439 Um guru tem uma posição oficial, acompanhada de deveres pertinentes. Estes incluem: (1) ter um interesse particular pelo crescimento e bem-estar internos dos discípulos; (2) instruí-los na verdade e no caminho para alcançá-la; (3) inspirá-los telepaticamente com vislumbres de estados superiores; (4) encorajá-los a perseverar na jornada ao longo do caminho; (5) adverti-los contra as armadilhas e os obstáculos. 440 O dever do instrutor é dar direção, fornecer conhecimento, advertir contra armadilhas, corrigir erros. Não é seu dever poupar ao discípulo esforços de vontade e de pensamento. 441 O mestre remove poderosamente a indolência do intelecto de seu discípulos; esclarece suas ideias sobre o que é eterno e o que é perecível, o que é real e o que é irreal, o que é material e o que é mental; e abre para ele o reino da verdade, lentamente mas de modo inequívoco; apelando constantemente à sua razão. 442 O primeiro serviço do Mestre é apontar o caminho ao discípulo, tanto internamente quanto externamente. Isso encurta a viagem do discípulo em várias vidas, que de outra forma teriam de ser gastas em perambulações, explorações, buscas no escuro e pesquisas. 443 É para expor a verdade e corrigir erros, para colocar diante dos outros um exemplo e para purificá-los por meio de sua companhia, que um instrutor assim aparece no mundo externo. 272

444 Outro aspecto do seu trabalho é estimular o anseio de realização superior, quando ele existe, e inculcá-lo, quando não existe. jlâfeí 445 É seu trabalho mostrar-lhes o que não conseguem ver sozinhos — suas possibilidades mais altas. 446 Sua função é interpretar o homem — e mais especialmente o homem espiritual — para ele mesmo. ij| 447 Sua tarefa é tomar conhecidas aos outros homens as possibilidades divinas que eles têm dentro de si mesmos. 448 Sua missão não é trazer prazer aos homens, mas elevá-los para que apreciem a verdade. 449 O instrutor ajuda seus discípulos a atingir um grau de concentração mais alto do que o que são capazes de alcançar por si mesmos. 450 Ele detona as possibilidades superiores de cada discípulo, rompe o círculo fechado de seus sentidos e o conduz a uma regeneração mística e moral. 451 O dever de qualquer instrutor espiritual é conduzir o que busca a seu E u Superior, ao encontro de sua própria fonte de luz e força interiores, fazendo assim com que não dependa de outros seres humanos. 452 Um guru competente ajuda o estudante: mostra-Ihe o caminho, ilumina problemas, desfaz nós, dissipa confusões, explica significados e encoraja o esforço. A tutelagem tem o seu lugar. 453 O que dirige em alguém o despertar da fé espiritual é o seu instrutor. 454 Se nos guia para percebermos verdades até então não observadas, se afasta nosso pensamento e nossa fé de erros até então fortemente arraigados, o instrutor desempenha então uma função útil. 455 Seus serviços incluem desvelar e expor experiências psíquicas ou místicas que não passam de auto-sugestões ou principalmente de alucinações. 456 Ele não pode fazer mais do que ajudá-los a encontrar e a percorrer seus próprios caminhos até a meta, mas isso é o bastante. 273

457 O instrutor tem que ser firme em alguns momentos, suave em outros. 458 Um guia espiritual não cumpre totalmente o seu dever para com um homem que erra quando apenas o incita a reconhecer que é necessário tomar uma nova estrada. 459 f' ^ Não será o bastante mostrar-lhes o caminho. Ele também deve mantê-los firmemente no caminho. 460 O que aparece publicamente como profeta religioso ou instrutor místico tem que lidar com as pessoas do seu século como elas são, deve falar-lhes numa linguagem que elas possam entender. Mas mesmo quando tenta adequar-se às exigências daqueles a quem veio ajudar, não pode dar-lhes a intuição, a sensibilidade e a inteligência necessárias para que compreendam sua mensagem, nem a aspiração e a reverência necessárias para que a apreciem. 461 Alguns instrutores não têm um único discípulo — meramente ajudam algumas poucas pessoas de uma maneira amigável. 462 O que ensina bem, instrui-se. 463 O que dedicou sua vida a esse tipo de serviço logo descobrirá que os outros vêm a ele — no início talvez alguns poucos, mas depois muitos mais — para empilhar sobre seus ombros robustos os pesos e sofrimentos, as perplexidades e buscas no escuro com os quais acham tão difícil lidar. 464 Existe um tipo de guru, tanto no Oriente quanto no Ocidente, ávido de seguidores, ansioso para conquistar discípulos, que banca o ditador junto a seu pequeno círculo e que muitas vezes tenta obter dinheiro deles. Seus ensinamentos podem até ser plausíveis, suas promessas bastante atraentes. Mas ele é autonomeado, e não nomeado por Deus. 465 Quando ele permite que seus seguidores o vejam como a um semideus e não aceita a menor crítica, é um sinal de que seu ego pessoal está ativo.

O perigo dos guias incompetentes não diminui quando são sinceros, como frequentemente ocorre. Pois, no geral, ignoram completamente suas próprias limitações. 470 O instrutor cujos motivos se misturam, cujo desejo de ajudar e servir aos outros se entrelaça com o desejo de ganhar dinheiro, obter prestígio e ter influência ou poder, é alguém que começou a ensinar antes de estar pronto para isso. Tanto ele quanto seus discípulos deverão pagar o preço por suas atividades prematuras. 471 Quando o coração deseja ardentemente um mestre, e a mente, em consequência, entra num estado altamente sugestionável, o encontro eventual entre um pretenso seguidor e um Fuehrer espiritual exageradamente ávido é tolamente considerado como um evento divinamente ordenado! 472 E melhor não ter instrutor algum do que ter um que se tenha imbuído da ilusão de ter atingido o estado de realização divina, que confunda auto-engano com autorealização. 473 O homem que tenta constantemente transformar outras pessoas numa cópia de si mesmo, que tenta fazê-las adotar seus próprios hábitos de vida ou maneiras de pensar, que busca zelosamente fazer proselitismo de suas crenças religiosas, muitas vezes está apenas afirmando o próprio ego e praticando uma forma mais sutil e mais auto-enganosa de egotismo. Se ele realmente tivesse amor por elas, como frequentemente professa, as deixaria livres para escolher o que lhes serve melhor, sem se impor agressivamente e forçá-las a aceitar suas crenças. 474 A espécie de guia espiritual que a maior parte das pessoas quer é alguém que lhes dê tapinhas encorajadores nas costas, que as adule constantemente de viva voz ou por escrito, que as habitue a expor-lhe todos os seus problemas pessoais em busca de solução. A espécie de guia de que realmente necessitam é alguém que lhes aponte criticamente os defeitos e fraquezas e que não hesite em remetê-las a seus próprios recursos. E melhor encorajar os homens à boa conduta do que mimar sua religiosidade neurótica.

467 Muitos dos que buscam permaneceram parados ou se perderam completamente por seguirem esses instrutores autoproclamados.

475 O aspirante vem ao instrutor filosófico com a mente cheia de erro e ignorância. Vem à vida filosófica com o caráter cheio de egoísmo e preconceito. Dessa forma, ele é a maior das pedras que obstruem o seu caminho. Ele próprio impede a aproximação da consciência espiritual. Assim, o primeiro dever de um instrutor é mostrar-lhe como é feio todo esse erro, ignorância, egoísmo e preconceito e torná-lo consciente e envergonhado de tudo isso.

468 Se o percurso de sua busca está errado, pode ser por ter escolhido para guru um homem com um ego inflado que faz exigências exageradas.

476 Ele deve deixar de lado grande parte da pilha de conhecimentos que cuidadosamente acumulou e começar tudo de novo. Para ser possível ensinar a um homem.

466 Certos instrutores desenvolvem um desejo doentio de poder, impondo sua vontade pessoal sobre seus desventurados discípulos.

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é necessário primeiramente convencê-lo de sua própria ignorância. E o mestre lhe mostrará que ele realmente sabe pouco sobre seu eu. 477 Uma parte importante do seu trabalho 6 mostrar aos homens como são suas vidas pessoais quando examinadas de um ponto de vista impessoal. Assim, ele aponta a ilusão de suas ações egoístas e a tolice de seus propósitos egoístas.

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478 Tudo o que ele diz ou sugere a seus discípulos visa a seu bem último. Portanto, às vezes ele pode recomendar um procedimento que traz dor, autonegação ou autodisciplina imediatas. 479 Ele pode advertir suavemente um homem por erros e falhas, ou advertir firmemente outro homem por pecados e lapsos. 480 É difícil levar um homem de um ponto de vista errado para um ponto de vista certo, não só porque ele pode não ser intuitivamente ou intelectualmente capaz de fazer a transição, mas porque ele só pode fazê-la perdendo uma parte de sua autoestima emocional e egoísta. Isso se dá tanto na propaganda voltada para as massas, quanto no trabalho de correção preliminar do instrutor junto aos discípulos. 481 * A primeira tarefa de um guia genuíno não é elogiar o que busca, mas criticá-lo; não é permitir que continue ignorando suas fraquezas, mas mostrar-lhe com severidade essas fraquezas. 482 Que ele não pense que o instrutor é brutal por atacar violentamente os seus defeitos.

487 É comum, entre abades de monastérios do Ocidente e entre gurus de ashrams do Oriente, que a atenção dada a um discípulo desperte nele a vaidade do ego e nos outros a inveja do ego. 488 O guia que se recusa a pacificar o ego dos que dele se aproximam pode, entretanto, estar ansioso para ajudá-los. E mesmo assim eles ficarão ressentidos com seus conselhos, sentir-se-ão rejeitados! Não percebem que ele tenta ajudá-los de uma maneira mais sábia, mostrando-lhes como ajudarem a si mesmos. Só o tempo e a experiência podem fazê-los recuperar a razão, e mostrar-lhes a lógica do seu conselho e a prudência de sua atitude. 489 O líder espiritual que é sempre suave e sentimental pode ajudar alguns de seus discípulos, mas ajudaria muitos outros se fosse também duro e firme. A primeira atitude atrairá mais pessoas até ele, mas sem a segunda para equilibrá-la, nem ele nem os discípulos conseguirão ter a visão adequada da vida. 490 Um verdadeiro instrutor precisa advertir seus seguidores sobre as expectativas falsas e as promessas que não podem ser cumpridas. 491 Umas das primeiras tarefas de um instrutor de filosofia é refrear o fervor missionário de seus discípulos mais jovens e imprimir neles a necessidade de cuidado, de discernimento e até mesmo de discrição em relação a esse assunto. 492 Não é o bastante ter a agudeza para perceber a verdade; ele deve também ter a coragem de dizê-la a seus discípulos, mesmo sabendo que ficarão chocados. 4

483 Um dos primeiros deveres de um guia espiritual é corrigir o iniciante, mostrar onde ele errou no caminho e expor suas ilusões de pensamento, sentimento e conduta. Um guia competente não se demora em perceber e em chamar destemidamente a atenção para esses pontos, por mais desagradável que seja esse dever e por mais intragável para o discípulo. 484 É parte da tarefa de um diretor espiritual apontar, com tato mas com firmeza, os defeitos e deficiências de seus discípulos, torná-los mais conscientes do que é necessário para sua autocorreção moral. 485 * O diretor espiritual excessivamente severo ao corrigir os defeitos do aspirante precisa corri gir-se a si mesmo. / 486 » 0 guia espiritual paternalista, que mima seus discípulos manhosos, presta-lhes um desserviço., 276

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I i O guru cujo ego ainda dá abrigo à vaidade notará que ele ficará lisonjeado a cada novo discípulo, e estará em perigo cada vez que a sua influência pessoal se amplia. 494 Ele descobre que os discípulos vêm a ele em busca de conforto emocional, não da quietude emocional do seu ego. Eles querem continuar encerrados em seu pequeno círculo, não querem ser completamente tirados dele. 495 " Os que estão no caminho religioso-místico-oculto precisam e procuram um mestre que tenha um interesse vivo por sua vida pessoal, assim como por seu bem-estar espiritual, alguém que esteja sempre disposto a ajudá-lo em todo e qualquer problema, alguém que, pela proximidade ou por meio de correspondência, esteja sempre e imediatamente disponível. O mestre filosófico não é assim, mas de um tipo diferente. 496 Ele não é um missionário que diz aos outros que devem seguir a Busca, mas um educador que lhes diz que podem segui-la, se assim o escolherem.

497 O título de "líder" implica seu corolário, "seguidor". Mas um líder espiritual do tipo aqui descrito não deseja estar à frente de uma multidão de seguidores movidos pelo espírito partidário. Para ele é suficiente dar aos outros algumas inspirações, ideias, insights, deixando-os livres para trabalhar esse material como desejarem, sem a obrigação de se ligarem a qualquer movimento. 498 Você precisa compreender que um instrutor filosófico jamais quer realmente que alguém o siga, mas que siga somente à Verdade. Sócrates descreveu a si mesmo, de forma bem-humorada, como um praticante da mesma profissão de sua mãe, que era parteira. Dizia que a única diferença entre ambos era que, enquanto ela ajudava mulheres a parir bebés, ele era chamado a ajudar homens a parir ideias verdadeiras, que estavam em gestação em suas mentes. Sua função, como a de todos os instrutores genuínos, não era conceder a verdade como algo novo e estranho, mas auxiliar o estudante a retirá-la do interior de si mesmo. Em seu trabalho, todo instrutor genuíno tenta conduzir a mente do estudante de maneira que seu pensamento mude gradualmente, sem que ele tenha consciência do fato na hora, embora venha a reconhecê-lo mais tarde. Faz os estudantes pensarem por si mesmos; estimula-os à resolução de seus próprios problemas emocionais, pessoais e metafísicos; dá periodicamente um impulso místico interior à sua prática de meditação; e aponta-lhes as armadilhas e ilusões em seu caminho-de-vida. Como a sua visão é tão desinteressada, como seu objetivo principal é liberá-los e não limitá-los, dar e não receber, os serviços de um instrutor assim nunca poderão ser comprados — embora possam ser reivindicados pelos que estão preparados para descalçar os sapatos do preconceito convencional à sua porta e que estão dispostos a não lhe impor suas noções preconcebidas sobre as características que deveriam ter o ensinamento, o instrutor e a busca. Desse modo, se ele não os acorrenta, eles por sua vez não o devem acorrentar. Discípulos assim são raros, mas instrutores desse tipo, que praticam o que pregam, são mais raros ainda./ /

499 O método do instrutor filosófico não é tomar decisões pelo discípulo mas, ao contrário, levá-lo a tomar as próprias decisões. O instrutor delineará o processo de chegar à conclusão correta, mas não eximirá o discípulo da responsabilidade de confiar nesse processo e de aceitar seus resultados. O instrutor pode até fornecer informações úteis para ajudar o estudante a chegar a uma decisão, mas não pode ir além disso se pretende que o estudante chegue à independência e à maturidade. O relacionamento que encontramos nos círculos místicos ou orientais, que mantém o discípulo completa ou continuamente dependente de seu guia, e que o faz correr constantemente de um lado para outro em busca de conselhos sobre o que deve fazer em seguida, só aumenta o desamparo do discípulo. O caminho filosófico é ajudá-lo a desenvolver sua capacidade de lidar com problemas e enfrentar situações com eficácia. O método filosófico é conduzir o discípulo até o ponto em que ele não precisa mais de instrutores. O método místico é levá-lo a um ponto em que ele não pode mais ficar sem o instrutor. 278

500 O instrutor que exige obediência cega de seu discípulo pertence a uma era que está desaparecendo. O instrutor que luta para fazer a mente do discípulo compreender cada passo do caminho pertence à próxima era. Frequentemente o primeiro termina por escravizar seus seguidores, ao passo que o segundo termina por libertá-los. O primeiro é um ditador, o segundo um companheiro. O primeiro cria nulidades, o segundo, homens.

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501 Um instrutor sábio não faz preleções a seus discípulos, não tenta, superficialmente, contar-lhes cada detalhe da verdade. Mas, questionando-os e encorajando-os, ajuda-os a obterem a verdade por si mesmos, capacitando-os assim a torná-la profunda e definitivamente sua. 502 , A maneira correta de ensinar aos homens é propor a verdade, e não a impor. 503 «Muitas vezes um instrutor filosófico prefere deixar o estudante fazer suas próprias descobertas com base nas chaves que lhe são fornecidas, do que conduzi-lo a dogmas rígidos e aprisionantes. 504 O verdadeiro instrutor deve estimular o pensamento e não estereotipá-lo. Se um aspirante tiver a sorte de obter orientação direta e pessoal desse tipo ele é realmente alguém com muita sorte. 505 • O mestre dá a um candidato as sementes e ensina como cultivá-las: como regálas, alimentá-las, e como cuidar das plantas que brotam delas. 506 O instrutor do tipo superior não quer nem encoraja uma aceitação cega e inquestionável de seus pontos de vista. 507 \0 verdadeiro instrutor interpreta a vontade divina para seu discípulo, mas não a impõe. Tal guia pode proferir conselhos e sugerir com suavidade, mas nunca dá ordens nem dita decisões. Em vez de privar o estudante de sua capacidade de intuir as verdades por si mesmo, o instrutor desinteressado tenta criar essa capacidade. 508 • Um instrutor genuíno não procura dominar a alma de um estudante, não se esforça para impor-lhe sua vontade. Pois o instrutor deseja ver um crescimento natural e não artificial, que liberte os homens e não os escravize. O verdadeiro mestre espiritualiza seu discípulo, mas não o debilita. 509 O guru que não quer escravizar discípulos os orientará a fazer o que devem fazer por si mesmos, embora, em sua fraqueza e tolice, esperem que o faça por elos. 279

510 Um mestre prudente prefere não ajudar as pessoas, mas ajudá-las a ajudarem a s i mesmas. 511 i É mera zombaria repreender um fraco para que se torne forte, sem colocar em suas mãos o conhecimento e o preparo com os quais possa adquirir força.*t 512 É dever do instrutor incentivar a criatividade do seu discípulo, não sua capacidade de imitação — encorajar o discípulo a desenvolver sua própria inspiração. ;

§ 513 O instrutor médio pega, de sua experiência pessoal, aquilo que o ajudou mais ou aquilo que aprendeu de seu próprio instrutor, e transmite isso ao aluno como "0 Caminho", o único caminho que leva a Deus, o único método de se chegar à verdade — sem levar em conta se esse caminho ou método particular é ou não adequado àquele tipo de indivíduo ou a seu grau de desenvolvimento. Ele praticamente o impõe ao estudante, mesmo quando é completamente contrário ao temperamento deste e à sua necessidade. O pobre estudante vê-se aprisionado nas opiniões e práticas pessoais de seu instrutor, como se nada de bom existisse fora delas. 514 O mestre mais sábio deixa o discípulo desenvolver-se à sua própria maneira, de acordo com a sua própria individualidade. 515 Um instrutor assim será a influência motivadora do estudante, ao mesmo tempo que, paradoxalmente, o encorajará a preservar sua independência. 516 O que o instrutor sábio faz é esperar que se desenvolvam as situações certas, nas quais seus esforços podem ser mais frutíferos. 517 Ele espera durante anos, reservando a expressão completa de seus poderes para o momento crucial, quando o aspirante estiver pronto para recebê-la. Até então deve esconder a sua identidade. 518 Sua sabedoria ao recusar-se a influenciar as decisões do estudante não será evidente, no início. Na verdade, será considerada ausência de sabedoria — e sua atitude será vista como desumana. 519 É menos importante para o mestre salvar seus discípulos do sofrimento do que salvá-los dos defeitos que criam o sofrimento. Ele pode sugerir e aconselhar, mas nunca impor-lhcs sua vontade. Ele acende uma lâmpada para iluminar suas dificuldades, mas deixa-os livres para resolvê-las sozinhos. 280

520 O trabalho de um mestre não é ditar ordens a serem obedecidas por discípulos escravizados, mas formular princípios a serem compreendidos por discípulos iluminados. Não é criar crenças, mas fortalecer o conhecimento. 521 O instrutor filosófico deixa que cada discípulo escolha como aplicar esses princípios à sua vida e não tenta esboçar para ele com precisão os detalhes dessa prática. 522 Não se deve imaginar que, por não estar disposto a dar conselhos específicos sobre assuntos pessoais ou práticos, ele não esteja disposto a ajudar ou não tenha interesse por eles. Ele só quer que a solução venha diretamente do ser do estudante, de maneira que o crescimento também seja do estudante. 523 Só o novato inexperiente e entusiasmado demais vai querer compartilhar todo o seu conhecimento com os outros, vai querer que participem imediatamente de todos os segredos. O guia prudente e experimentado é muito mais contido. Ele evita cuidadosamente dar mais do que os outros estão preparados para receber, deixando o resto para mais tarde. Não é apenas a prudência que o adverte para não abrir todos os seus segredos de uma só vez: a Natureza, em suas operações, também deixa que a mente de seus animais cresça por estágios, através de um processo gradual de desenvolvimento. 524 A marca de um instrutor bem qualificado é adequar seu conselho a cada um de seus discípulos individualmente. Em muitos casos é bastante ineficaz recomendar a todos que pratiquem o mesmo método, a despeito de sua competência, sua história pessoal e temperamento, seu grau de desenvolvimento e capacidade, seus traços e tendências de caráter. 525 A longo prazo, seu trabalho é elevar os discípulos ao nível em que ele mesmo está, mas a curto prazo seu trabalho diz respeito, necessariamente, ao nível deles. 526 Sua recusa a divulgar tudo para todos deve ser julgada à luz do reconhecimento do fato de que existem vários níveis de compreensão e, portanto, de disposição para aprender essas coisas. 527 Um instrutor de cultura, ideais, princípios e práticas espirituais deve levar em conta o nível intelectual daqueles a quem procura ensinar, e dirigir sua mensagem a esse nível. 528 -Como existem diferentes níveis de aspirantes, são necessários diferentes níveis de ensinamento.

529 Ele considera esses múltiplos ensinamentos como degraus sucessivos que levam à vontade mais alta, sendo, portanto, nocivo ou insensato apresentar essa verdade num estágio muito inicial. 530 Existem três métodos de abordagem usados pelos instrutores, dependendo do nível das pessoas com quem têm que lidar. São eles: primeiro, aterrorizar e amedrontar o tipo inferior; segundo, adular os mais desenvolvidos com engodos e chamarizes; terceiro, fornecer uma exposição da verdade justa e equilibrada às pessoas que estão mentalmente e moralmente no nível mais alto. 531 Um instrutor competente coloca-se atrás dos olhos de seu discípulo, no interior de sua mente, e inicia sua instrução a partir do que encontra ali. 532 O instrutor prudente revela aquilo que mais ajuda às pessoas, não necessariamente tudo o que sabe ou o que elas gostariam de ouvir. Deve dar às pessoas o que é melhor para elas e avaliar, primeiro, quanta verdade podem assimilar. E totalmente impraticável e imprudente fornecer toda a verdade espiritual a todas as pessoas em todos os momentos. 533 O instrutor prudente revela ao pesquisador que busca apenas um pouco mais do que aquilo que ele é capaz de receber.

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534 Seria tolice explicar esses ensinamentos sutis, em sua totalidade, a alguém que não é capaz de compreendê-los ou que não está tão interessado quanto o estudante. No entanto ele não é o dono desses ensinamentos e não pode guardá-los apenas para seu próprio uso; e também não está tão separado dos outros a ponto de seu destino interior não interessá-lo. Se alguém faz perguntas com sinceridade, precisa de conforto espiritual ou procura orientação quando está confuso, o estudante deve oferecer o que pode. Mas deve fazê-lo com prudência, sem despejar nenhuma gota de conhecimento ou poder além do que é necessário para aquela pessoa específica naquele determinado estágio de evolução. Não é necessário guardar a verdade com ciúmes, como na época medieval, nem ir ao extremo oposto e revelar tudo a todos. 535 A mensagem o atingirá apenas quando ela puder reeducar sua compreensão. 536 i Todo progresso espiritual é individual. Cada homem cresce por si mesmo, não como parte de um grupo. Assim, para ser realmente eficaz, a instrução deve ser individual. 537 O principal dever de um instrutor externo é levar o aspirante a seu próprio instrutor interno. Mas, se ele leva o aspirante a um apego, dependência e submissão 282

cada vez maiores — ou seja, para fora e para longe do instrutor interno — ele o explora em vez de dirigi-lo, e há apenas um falso progresso.

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538 O progresso real é fruto do próprio esforço e não da boa vontade dos outros. Uma das obrigações de um verdadeiro guia espiritual é fazer os aspirantes sentirem que têm o poder de conquistá-lo, e encorajá-los a tomar seu destino espiritual em suas próprias mãos. 539 § % Ele formula com precisão e expressa com exatidão uma ideia da qual muitas mentes se aproximam, mas não conseguiram ainda gerar. Reconhecem-na quando ele a revela, recebendo-a de boa vontade. 540 O instrutor passa um pouco de sua própria consciência e força para o discípulo, tornando-o capaz de compreender a verdade daquilo que, de outra forma, seria apenas teoria. Além disso, fornece "palavras-verdade" para o discípulo que, refletindo constantemente sobre elas, obtém conhecimento intuitivo. 541 A questão de ajudar os estudantes de uma maneira mais individual é uma questão de funcionamento prático. O instrutor deseja manter sua própria liberdade e, ao mesmo tempo, também deixá-los livres. 542 O objetivo do instrutor não é criar uma elite filosófica a serviço de si mesma. mas ao serviço maior de toda a humanidade. 543 Iniciar um culto para obter um séquito pessoal é algo repulsivo ao espírito guia espiritual verdadeiramente altruísta, mas ele pode achar que a criação de uma escola para o desenvolvimento espiritual e o aprendizado filosófico seja útil para muitos estudiosos da vida, sérios mas confusos. 544 O verdadeiro mestre deve trabalhar para poucos. Há os que difundem as próprias atividades superficialmente, em ampla esfera, mas as dele penetram num nível mstis profundo. As atividades deles são mais vistosas, mas a sua é mais eficaz. 545 Os adeptos não procuram apenas os poucos que os procuram, mas proc também os poucos — em número ainda menor — que estão qualificados para ele 546 O instrutor não ergue o véu de Isis para todos os que encontra na rua. nr sempre o ergue para os que pedem corretamente. 547 Ele não pode ajudar milhões de homens. Pode ajudar apenas os que buscam Nem mesmo pode ajudar todos os que buscam. Pode ajudar apenas os que estabelecem um contato favorável e receptivo com ele ou com seu trabalho.

elação

mestre-discípulo

548 Ser discípulo de alguém é ir mais longe no relacionamento do que ser estudante. 549 Dois caminhos se abrem para os que se denominam discípulos que compartilham de seu ponto de vista. O primeiro é tornarem-se discípulos leigos, que se limitam a compartilhá-lo intelectualmente. O segundo é tornarem-se discípulos completos que percorrem com ele todo o caminho, dentro da disciplina da filosofia e da vida.

I

550 Uma grande vantagem do caminho do discipulado pessoal é que não requer capacidade intelectual nem dons especiais de nenhuma espécie para trazer benefícios e progredir ao longo de seu trajeto. O que pode ser mais simples que lembrar do nome e do rosto do mestre? O que pode ser mais fácil que voltar-se mentalmente para ele todos os dias, com fé, reverência, humildade e devoção? 551 A vantagem de ter um mestre vivo é imensa. O homem é tão preso aos sentidos que é mais fácil para ele seguir um ideal encarnado que um ideal desencarnado, mais fácil compreender a verdade em ação que a verdade abstrata. Quando alguém tem a boa sorte de ficar sob a asa de um sábio, seu progresso é muito mais rápido do que seria de outra maneira. Não é pouco ter alguém que o coloque na direção correta, ou ter seu movimento nessa direção guiado por um pioneiro experiente. 552 Apesar de o mestre não poder fazer o trabalho do discípulo, pode levar o discípulo a dominar o conhecimento especial que vem da longa experiência, conhecimento que pode ajudá-lo a trabalhar com mais eficácia e êxito. 553 /"O mestre ensina com amor aquilo que o estudante deve aprender com reverência. ; 554 A medida que o Mestre leva o discípulo a clarificar seu próprio pensamento, conhecimento e consciência, este último volta a atenção para aquilo em que realmente acredita. 555 enta e gradualmente, o zelo do Mestre permeará o coração do discípulo. 556 Sob o raio de sol dessa inspiração, estímulo e encorajamento, a vida interior se expande. 557 Só os que já sentiram isso podem compreender como ele é capaz de exercer esse poder de atração e despertar essa devoção fervorosa nos discípulos. 284

558 É singular a intimidade que existe no companheirismo entre instrutor e discípulo. Há uma impessoalidade, igualmente singular, nesta que é a mais pessoal de todas as relações humanas. 559 Nenhuma outra relação, seja familiar ou de amizade, pode comparar-se a esta relação em profundidade, beleza ou valor. 560 , Não há vínculo tão forte, nem atração tão profunda quanto a que existe entre Mestre e discípulo. Consequentemente, ela persiste encarnação após encarnação. 561 É um tipo especial de relação, que depende menos de condições físicas que qualquer outra relação humana. Mesmo que nunca mais se encontrem, que nunca mais se vejam, ela permanece imutavelmente a mesma até o fim. 562 O aspirante médio não encontra os verdadeiros instrutores porque não se comportaria corretamente com eles se os encontrasse. Cedo ou tarde corromperia o caráter elevado da relação de discipulado e procuraria transformá-la numa relação meio mundana. Provavelmente é verdade que até mesmo os instrutores imperfeitos, os que o público tem mais probabilidades de conhecer, muitas vezes ouvem, de seus seguidores, apelos frenéticos por esta ou aquela intervenção pessoal ou desabafos descontrolados envolvendo este ou aquele problema material, que exige ajuda imediata. Mas, mesmo quando o aspirante se liga a um mestre desencarnado ou adepto invisível, a um personagem da escritura ou a seu próprio Eu Superior, pode supor que o poder ou pessoa superior resolverá todos os seus conflitos pessoais, sem que seja necessário esforçar-se. Esse é um sonho vão. O próprio objetivo da evolução seria anulado se lhe fosse negada a oportunidade de manejar sozinho seus problemas e conflitos: só assim suas capacidades podem aumentar e sua compreensão ampliarse. Podemos compadecer-nos de discípulos necessitados e cheios de problemas, mas uma noção errada daquilo que constitui a relação instrutor-discípulo não os ajudará. Levará a falsas esperanças e à angústia do desapontamento subsequente. Pois o que estão realmente tentando fazer? Não estão meramente usando o instrutor como guia espiritual, o que é totalmente correto, mas também como guia material, ponto de apoio, pai e mãe, o que é totalmente incorreto. Querem desviar-se de suas próprias responsabilidades e passar suas cargas pessoais para as costas de um mestre ou. no mínimo, compartilhá-las com ele. Essa concepção de discipulado é errada. É também injusta. Em vez de usar o mestre como fonte de inspirações e princípios a serem aplicados na vida prática, tentam explorá-lo, evitar a responsabilidade de tomar suas próprias decisões jogando-as sobre os ombros dele. O mestre não pode resolver todos os problemas pessoais dele ou assumir todos os seus encargos. Essa tarefa cabe aos próprios discípulos. Querer colocar a responsabilidade por ela nos ombros do mestre é exigir o impossível, o injusto e o insensato. Se conseguissem, isso anularia o próprio objetivo de sua encarnação. Roubar-lhes-ia o beneficio da experiência, a que foram levados por seu próprio Eu Superior. Essa excessiva confiança no guia torna-os cada vez mais incapazes para o pensamento e o julgamento inde385

pendentes. Mas o objetivo de um guia competente é ajudá-los a desenvolver justamente essas coisas e a crescer em força espiritual, assim como a meta de um guia sincero não é governar sua conduta como um ditador, mas sugestivamente elevá-la. Para avançar a níveis superiores, os discípulos devem aprender a depender de seus próprios esforços. Nenhum mestre pode aliviá-los dessa responsabilidade. O trabalho de um instrutor filosófico não é poupar aos estudantes a responsabilidade de tomarem decisões por si mesmos. Seu dever é, ao contrário, encorajá-los a encarar, e não a fugir, da responsabilidade e do benefício de elaborarem suas próprias soluções. O mestre prudente deixa que resolvam sozinhos como aplicar a filosofia às suas situações pessoais. Se ele administrasse suas vidas, resolvesse seus problemas e lidasse com suas dificuldades, agradaria seus egos, mas enfraqueceria seu caráter. Assim, ele não deseja interferir em suas vidas nem assumir a responsabilidade de tomar decisões sobre problemas pessoais, domésticos, familiares e profissionais, pois eles devem chegar por si mesmos a essas decisões. Pode, no máximo, apontar a direção geral do percurso, e não fornecer um mapa preciso; pode estabelecer os princípios gerais de ação, e cabe a eles descobrir a melhor maneira de aplicar esses princípios. A agonia de chegar a um julgamento correto é parte do processo educativo no desenvolvimento de intuições cometas. Cada experiência encarada dessa maneira revela capacidade criativa independente, ou seja, torna-os verdadeiramente autoconfiantes. Os princípios dessas soluções estão em parte nas mãos deles; o bom senso prático deve ser trabalhado para transformar-se em raciocínio perspicaz, e guiado por intuições e ideais éticos. 563 Não é certo o futuro discípulo transformar a nova relação em desculpa para livrar-se de todas as responsabilidades e decisões pessoais. E l e não deve esperar que o instrutor assuma por ele todo o encargo de sua vida. Também não é certo que o instrutor aceite essa posição, que desempenhe as funções de pai, mãe e Deus combinadas numa só pessoa, em relação a um indivíduo que já chegou à idade adulta. Não é bom para o discípulo evadir-se de suas responsabilidades e decisões. Isso tende a acontecer quando o clima entre eles é sobrecarregado apenas de emoções, sem o equilíbrio da razão e do bom senso. Um instrutor sábio tentará encontrar seus discípulos em bases adequadas, equilibrando a aceitação e a recusa total dessa dependência desamparada. Qualquer outro tipo de encontro seria emocionalmente pouco sadio e intelectualmente inconsistente. 564 Emerson: "Por que insistir em relações pessoais impetuosas com seu amigo? Por que ir à casa dele ou conhecer sua mãe, irmãos ou irmãs? Por que receber a visita dele em sua casa? Essas coisas são importantes para nosso pacto? Pare de tocar e pegar. Que ele seja um espírito para mim. Quero dele uma mensagem, um pensamento, uma sinceridade, um olhar, mas não quero saber de novidades e trivialidades. Posso conversar sobre política e coisas assim, compartilhar de amenidades de vizinhos com companhias mais baratas. A convivência com meu amigo não pode er, para mim, poética, pura, universal e tão grande quanto a natureza?'* — Essas alavras se aplicam perfeitamente ao discípulo. 286

565 Aquele que confia a si mesmo a um mestre, ou sua mente a um ensinamento, não pode, com isso, escapar de sua própria responsabilidade pessoal. Isso não significa absolver o guru ou o autor do ensinamento de suas próprias responsabilidades, pois eles também as têm, mas sim deixar claro que os seguidores compartilham delas. 566 A reverência do discípulo pelo Mestre pode deixar espaço para perceber as falhas e imperfeições deste último. Se ele obtém do Mestre inspiração suficiente para ajudá-lo em sua vida espiritual, seria uma decisão tola deixá-lo por causa dessas falhas e imperfeições. 567 Nas épocas tribais primitivas era costume, em muitos lugares, medir o conhecimento pelo comprimento da barba. Atualmente, muitos de nossos mais brilhantes especialistas em energia atómica são comparativamente jovens e certamente sem barba! Medir a virtude pela beleza do rosto é tão sensato quanto seguir, hoje em dia, o costume primitivo. Mas não é uma atitude incomum, entre os que supostamente buscam a verdade, seguir um instrutor espiritual porque seu rosto os agrada e rejeitar outro porque sua aparência física os desagrada! Soren Kíerkegaard diz em Concluding Unscientific Postscript: "Ele (Sócrates) era muito feio, tinha pés grosseiros e, além de tudo, muitos calombos na testa e em outras partes do corpo, o que bastaria para persuadir a qualquer um de que era um ser desmoralizado. Era isso que Sócrates considerava uma aparência favorável, e estava tão satisfeito com ela que veria como uma tramóia da divindade impedirem-no de tornar-se um instrutor de moral, tivesse ele recebido a aparência atraente de um efeminado tocador de cítara, o olhar meloso de um jovem pastor, os pés delicados de um mestre de dança da Sociedade de Amigos e, in toto uma aparência favorável, desejada por alguém que procura emprego por meio de anúncios de jornal ou de um teólogo que depositou suas esperanças numa entrevista. Por que estaria esse velho mestre tão satisfeito com sua aparência desfavorável, se não por compreender que ela o ajudava a manter o aprendiz a distância, evitando que se lançasse num relacionamento direto com o instrutor, que o admirasse e começasse a usar roupas iguais às dele? Pelo efeito repulsivo exercido pelo contraste, que num plano mais alto era também o papel desempenhado por sua ironia, o aprendiz seria obrigado a compreender que estava essencialmente ligado a ele, e que a interioridade da verdade não é a interioridade amistosa com que dois amigos do peito caminham de braços dados, mas a separação com a qual cada um por si existe na verdade." y

568 Se você, como estudante, escolhe-o para seu guia e se ele, como instrutor, o aceita, o que ocorrerá em seguida? Você não deve ter noções equivocadas ou exageradas sobre essa relação: não deve imaginar, como muitos imaginam, que uma semana depois de ser aceito terá experiências supranormais, chegará magicamente ao insight transcendente, ou que receberá cuidado constante por parte do guia. Se isso acontecesse, as leis da natureza estariam sendo contrariadas. O caminho é para a vida inteira, pode até atravessar várias vidas. O trabalho do instrutor e tão amplo 287

surpreendentemente diversificado, sua correspondência tão volumosa, suas obras escritas tão importantes, que lhe é fisicamente impossível dar atenção pessoal constante às centenas de pessoas que buscam sua ajuda. Sendo assim, que ajuda você pode legitimamente esperar dele? Pode esperar ajuda nas três ramificações desse caminho: o desenvolvimento da inteligência filosófica, a prática da meditação mística e uma existência sábia e virtuosa. Quanto ao primeiro item, suas questões, dificuldades e problemas intelectuais serão esclarecidos por discípulos avançados, pelo correio ou, mais raramente, em entrevistas pessoais. Quanto ao segundo item, você receberá iniciação prática numa meditação pessoal com ele, que pode ser repetida algumas vezes se possível. Além disso, você pode ter o mesmo privilégio com discípulos avançados. Mas, depois disso, você precisa seguir o seu próprio caminho. Deve estudar com fé os livros necessários, fazer meditação com regularidade e tentar adaptar, por si mesmo, suas ações a seus ideais. Você não pode omitir alguma parte desse trabalho e depois esperar que o instrutor o leve à meta. E l e pode estar lá para dirigir, inspirar e encorajar seu trabalho, mas isso não absolve você de realizá-lo. Quando alguns críticos perguntaram a Buda se todos os seus discípulos agiam de acordo com seu ensinamento, ele respondeu francamente: "Alguns sim e outros não." Os críticos exclamaram: "Como é que nem mesmo seus próprios discípulos o seguem?" Buda explicou: "Minha tarefa é meramente mostrar o caminho. Alguns o seguem e outros não." 569 O mestre deve ter a cooperação constante do discípulo para dar o melhor de si. 570 A expectativa dos discípulos, a alta avaliação que fazem de seu caráter e visão podem ajudá-lo a tornar-se aquilo que ele é. 571 O discípulo que não segue o caminho que lhe foi apontado, que obedece apenas quando é fácil ou conveniente obedecer, trapaceia e insulta seu mestre. 572 O prazer do estudante em aprender deve ser equivalente ao prazer do mestre em oferecer. 573 A fé do estudante deve corresponder à paciência do instrutor e o conhecimento e a integridade do instrutor devem ser suficientes para inspirar confiança no estudante.



574 E melhor, sob todos os aspectos, que o instrutor seja do mesmo sexo que o discípulo. \ 575 A atitude de um estudante em relação a seu instrutor é de grande importância para o estudante, porque estende um cabo invisível entre ele e o instrutor, e ao longo desse cabo vão e voltam as mensagens e a ajuda que o instrutor tem para dar. O instrutor não perde o contato com o estudante se viajar para outra parte do mundo. Esse cabo invisível é elástico e estende-se por milhares de milhas, porque 288

a consciência da Mente-do-Mundo viaja quase que instantaneamente e para qualquer lugar. Não se quebra o contato com uma distância física maior. Ele se quebra com a mudança do coração, a alteração da atitude mental do estudante em relação ao instrutor. Se a atitude é errada, o cabo primeiro enfraquece e finalmente se rompe. Nada mais pode passar por ele, e o estudante fica realmente só. 576 A confiança estende o cabo e a confiança o mantém no lugar. A dúvida corta o cabo e a desconfiança destrói-o totalmente. Assim, é prudente e adequado que o futuro discípulo esclareça suas dúvidas e responda suas questões antes de escolher o ensinamento que quer transformar em sua fé, e não depois de a escolha ter sido feita. 577 É essencial que o aspirante compreenda que nessa relação é a atitude mental, especialmente a fé e a devoção — mais do que a associação externa e o contato físico — que realmente importam. 578 Não é necessário, apenas, unir-se ao guia de maneira geral, pela atitude correta de fé e devoção em relação a ele, mas também unir-se de maneira especial, pela meditação diária que procura colocar a mente do discípulo em harmonia com a do guia. 579 A osmose, princípio de absorção como resultado de estar perto de alguma coisa ou pessoa, é ativa aqui como em qualquer outra parte. 580 Sua influência silenciosa pode elevar o ser interior do discípulo com muito mais facilidade se este permanece com o corpo relaxado e a mente vazia. 581 Um mestre torna públicos seus ensinamentos, métodos e instruções. Cedo ou tarde, alguns de seus seguidores — senão seus oponentes — irão distorcê-los, reinterpretá-los, modificá-los e até mesmo deformá-los. Esse processo inicia-se ainda durante sua vida, mas só se torna considerável e significativo depois dela — quando ele não está mais presente para fazer as correções necessárias. Isso demonstra que nem todos os que o ouvem compreendem o que ele diz, e que há diferentes níveis de capacidade entre os seguidores. 582 O conselheiro espiritual que tira vantagem pessoal da dependência ou da confiança depositada nele revela-se inadequado para uma posição tão alta. Assim, ao lidar com os discípulos, é melhor manter independência nos assuntos práticos e relações mundanas, assim como um desapego frio no contato social e relações pessoais. É inevitável que os discípulos se sintam magoados diante dessa impessoalidade e objetividade, mas isso é uma proteção para eles e para o instrutor, até que estejam mais desenvolvidos, mais equilibrados, mais controlados e com uma visão mais ampla. Só então é possível, para o Instrutor, rever a relação e torná-la não apenas mais calorosa como também mais pessoal, com segurança para ambos os lados. Os 289

discípulos pouco equilibrados e um tanto neuróticos tentam muitas vezes envolver pessoalmente o instrutor em suas vidas. Porque querem livrar-se da necessidade de se desenvolver, do dever de melhorar seu caráter, do encargo de aceitar suas responsabilidades e da dor de resolver problemas emocionais que são, meramente, resultado de seu próprio egoísmo. Se o instrutor sucumbir a seus apelos, eles não se desenvolverão e a relação ficará impraticável. Mas se resistir com firmeza a esses apelos ele pode — por essa resistência — forçar uma mudança de atitude e, consequentemente, aumentar a sabedoria dos discípulos. Ao fazer isso, todavia, expõe-se à incompreensão deles, que podem ficar confusos e depois ressentidos. A afeição pode transformar-se em raiva durante algum tempo, e os discípulos podem até desistir. Se cometerem essa tolice, seu desenvolvimento não apenas parará, mas também, o que é pior, retrocederá em meses ou anos. 583 O amor possessivo é natural. Queremos ter e manter o que amamos. Mas, quando o objeto amado é outro ser humano, desejamos, inevitavelmente, que nosso amor seja correspondido, que a afeição do outro restrinja-se apenas a nós, de modo que o que damos não é dado com pureza, mas com egoísmo. Portanto, quando outros o amam, querem privá-lo da liberdade. Mas, quando o discípulo o ama, tem de dar-lhc liberdade. 584 É um erro acreditar que um discípulo deva, necessariamente, unir-se a outros discípulos do mesmo instrutor. Os discípulos devem unir-se apenas quando há afinidade pessoal e harmonia de temperamento. Quando não há, é muito mais sábio e seguro não o fazer. Porque, então, as forças do mal aproveitam a oportunidade para desenvolver a desarmonia, as discussões, os ressentimentos e coisas ainda piores. Isso estraga o progresso de todos. 585 O verdadeiro trabalho do discípulo é com o instrutor, não com os outros discípulos. Essa situação não pode ser evitada, e deve ser aceita. K)s seres humanos nascem diferentes em disposição e caráter. Só o sábio consegue harmonizar-se com todos; os demais precisam reconhecer limitações.» 586 Se alguém não estiver satisfeito com certos estudantes, deve desejar-lhes tudo de bom e seguir seu próprio caminho. Não deve permitir-se entrar em discussões, porque então as forças do mal tornam-se ativas. 587 A relação entre eles é bonita mas livre. Quando o discípulo assume uma atitude possessiva e tenta envolver o instrutor, quando tem cidme dos outros discípulos ou exige tanta atenção quanto a que eles recebem, troca uma relação impessoal por uma relação egoísta» deixa de compreender sua natureza singularmente livre e, assim, a estraga. 290

Ele deve insistir em obter de seus discípulos a mesma liberdade que #

589 Estejam fisicamente juntos ou fisicamente separados, o relacionamento entre mestre e discípulo, marido e mulher, amigo e amiga, é verdadeiro quando há recusa em ser possessivo ou pessoalmente exigente, quando se está satisfeito com o fato silencioso de que o outro existe. 1

590 Nenhum guru poderá levar ninguém à iluminação se ele próprio tiver ape ao papel de guru, e nenhum discípulo poderá receber a iluminação se quiser desempenhar para sempre o papel de discípulo. Ambos têm apegos que impedem a iluminação. É por isso que tudo se transforma numa peça teatral, séria ou cõmica, na qual os atores representam a si mesmos. Mesmo que falem muito sobre a necessidade de não se apegarem ao mundo, estão ainda apegados ao que supostamente são, ou seja, pessoas que buscam. Um homem verdadeirament iluminado não tem esse tipo de apegos e, a menos que seja investido num apostolado ou missão especiais pelo Poder Superior, não se considera um guru, nem considera os outros como discípulos. 591 Apoiar-se num guia ou ser carregado por ele é um modo de agir que por si mesmo nunca leva à meta. Pode, no máximo, levar ao modo de agir superior daqucl que de joelhos se esforça muitas e muitas vezes, até ser forte o bastante para finalmente caminhar até a meta. O mestre não deve ficar no caminho, não deve chamar a atenção para si sem motivo, prejudicando a atração que o indivíduo que busca tem pelo próprio eu central interior. Sóren Kierkegaard escreve em Concludh Unscientific Postscript: "É impensável uma relação direta — que diga respeito à verdade essencial — entre dois seres espirituais. Supondo-se que haja uma relaçi dessas, isso significa que uma das partes deixou de ser espírito. Isso é algo muito génio deixa de considerar, seja quando ajuda as pessoas a chegarem à en masse, seja quando é benevolente o bastante para pensar que aclamação, di sição para ouvir, filiações e coisas assim são iguais à aceitação da verdade, importante quanto a verdade, e até mais importante, se é para se enfatizar uma duas, é a maneira pela qual a verdade é aceita. De pouco serviria alguém persuadir milhões de homens a aceitarem a verdade se fossem levados ao erro precisamente pela maneira de aceitá-la. Por isso, toda a benevolência, persuasão, barganhas, toda a atração direta exercida por intermédio de sua própria pessoa, toda a referência ao seu próprio sofrimento pela causa, o seu lamento pela humanidade, o seu entusiasmo — tudo isso é mero equívoco, uma nota falsa em relação à verdade, pela qual, em proporção à própria habilidade, pode-se ajudar uma multidão de seres humanos a obterem uma ilusão de verdade. Sócrates era um instrutor ético, mas ele compreendeu a não-existéneia de qualquer relação direta entre instrutor e discípulo, porque a verdade é interior e porque essa interioridade em cada um é precisamente o caminho que os leva para longe dos outros. Foi, supostamente, por ter compreendido isso, que gostava tanto de sua aparência exterior desfavorável;' 291

592 A relação entre um discípulo e seu instrutor pode basear-se na completa submissão e dependência em relação à autoridade, ou pode basear-se numa razoável liberdade e moderada autoconfiança. 593 A crença, comum na índia e no Oriente Próximo, de que um guru deve assumir o controle da mente e da vida de seus discípulos é bem-vinda, também aqui, pelos fracos e mal informados. Mas ela não faz parte do treinamento, da prática e do ensinamento filosóficos. 594 Pode ser tão perigoso seguir a regra de absoluta submissão a um mestre quanto é perigoso seguir a regra de absoluta independência em relação a um mestre. 595 O problema é ter fé total no instrutor e ao mesmo tempo manter viva a própria liberdade interior, para pensar por si mesmo e receber intuição de si mesmo. 4 596 Nenhum mestre tem o direito de pedir a um candidato ao discipulado que se submeta absolutamente a ele, que se coloque sem reservas nas suas mãos e obedeça às suas ordens sem questionar. A confiança necessária deve surgir por si mesma, em estágios progressivos à medida que a relação se desenvolve e o mestre prove, por sua conduta e eficiência, merecê-la totalmente. 597 Não é por conceder devoção ao mestre que ele tem que conceder-lhe também idolatria. 598 Seus discípulos são ensinados a unirem o pensamento independente com o sentimento de lealdade em sua atitude em relação a ele. Isso satisfaz a ambos. 599 Há os que pensam que ele é negligente ao responder sua correspondência. Como demora a responder suas cartas, concluem que ele quer tirá-los de sua vida. Nada pode estar mais distante da verdade. Pode ser que sua correspondência se acumule por longos períodos. Mas também é verdade que ele não tem a equipe necessária para administrá-la, que a pressão do trabalho — escrever, meditar e fazer apontamentos de pesquisa — deixa-lhe pouco tempo de sobra. No entanto, os que o conheceram pessoalmente e que se consideram seus discípulos não conseguem, muitas vezes, compreender sua atitude e, portanto, ele publica esta explicação. Uma vez estabelecido o contato interior num único encontro físico, não são necessários outros encontros com o guia, apesar de poderem ser úteis. Sri Aurobindo concedia apenas um minuto para cada um, no primeiro ou nos outros encontros com um discípulo ou candidato ao discipulado. Assim, é evidente que ele considerava sessenta segundos o suficiente para estabelecer esse contato. Não apenas são desnecessários outros encontros físicos, mas também é desnecessária, embora possa ser útil, qualquer outra ação pessoa] de sua parte, como escrever cartas aos discípulos. Portanto, um guia espiritual não precisa fazer nada fisicamente nem escrever nada pessoalmente para

manter o contato interno que é mantido pela lembrança, devoção, fé e meditação do estudante. Nenhum discípulo pode ser eficazmente treinado pelo método a longa distância de uma troca ocasional de cartas. Ele precisa de supervisão pessoal, de contato pessoal e de discussão pessoal de seus problemas específicos. Nenhum instrutor consciente dá instruções pelo correio e declara que isso basta. Isso dá uma base pobre demais para uma compreensão precisa por parte do discípulo e para uma comunicação adequada por parte do instrutor. Ele não pode aceitar, então, a posição de conselheiro pessoal sob o pretexto de ser um instrutor espiritual. Esse não é seu trabalho. A maior parte dos estudantes que não conseguem reconhecer esse fato apesar de todas as advertências, e que enviam cartas e mais cartas a cada flutuação de seus humores pessoais, numa tentativa de arrancar conselhos ou informações, podem forçá-lo a romper o contato externo com eles até que compreendam a verdadeira situação. Se ele adotasse a posição de conselheiro e concordasse em mostrar aos estudantes como aplicar o ensinamento filosófico a todas as mudanças em suas vidas pessoais, logo não teria tempo para divulgar esses ensinamentos. Consequentemente, ele deve recusar-se a responder a todas essas tentativas — às vezes abertas, mas às vezes veladas, muitas vezes ingénuas, mas às vezes engenhosas — de envolvê-lo pessoalmente na vida do estudante ou de misturar seus problemas pessoais com os dele. São tantos os correspondentes que tentam forçá-lo a entrar nessa relação altamente pessoal guru-estudante, são tantos os que tentam jogar suas responsabilidades sobre seus ombros, que ele é obrigado a cair em longos períodos de silêncio para proteger-se. Além disso, se ele respondesse aos problemas emocionais e mundanos da maneira desejada, isso significaria a decadência de ambos e a ruína de sua relação pura. Para manter essa pureza, para salvaguardar a própria relação, para proteger o mestre e também o discípulo, o ensinamento correto deve ser dado desde o início: o instrutor deve ser considerado como um símbolo, não como uma pessoa. Ele deve ser considerado meramente como agente daquilo que representa, não como outro ser humano iniciando uma relação humana com o discípulo. Muitas vezes, o iniciante fica desapontado ao descobrir que o instrutor não responde ao seu desejo contínuo de atenção pessoal. Esse sentimento pode desenvolver-se até um ponto crítico, quando pode acontecer uma de duas coisas. Ou ele não passa no teste, porque é nisso que se transforma, e se retira totalmente da relação — talvez maldizendo o guia — ou persiste em sua confiança, ganha um novo ponto de vista e efetua a mudança necessária para chegar finalmente a uma atitude superior. Se, no entanto, ele permite que seu egoísmo ou emoção o leve à desobediência dessa regra, porá em perigo a relação. Se persistir na desobediência, vai vê-la encerrada por algum tempo. Tão poucos compreendem o que realmente está envolvido nessa relação, tantos a compreendem mal e ficam desapontados com ela no início ou ao longo do caminho, que o instrutor prefere, com raras exceções de casos avançados, não entrar nela externamente, mas oferecer, em vez disso, um pouco de ajuda amistosa, sem obrigações. 600 Nenhum mestre verdadeiro tem medo de perder nenhum discípulo em particular. Ele não toma posse de ninguém, e deixa todos livres como os encontrou. Compreende 293

muito bem que a necessidade ou a busca do homem, e a resposta benigna de seu E u Superior atraíram o mestre como meio indireto, por intermédio do qual a resposta poderia operar. Compreende também que toda instrução e conselho, elevação e ajuda que ele dá ao discípulo originam-se realmente e em última instância no interior do próprio homem — como este vai descobrir um dia, quando tiver desenvolvido o próprio acesso direto a tudo isso — e, portanto, recusa-se a olhar com egoísmo o relacionamento entre eles.

Qualificações

e deveres de um discípulo

601 Existem leis inexoráveis, que não foram feitas por ele e que governam o início da relação espiritual entre um mestre e um futuro discípulo, por mais que sua devoção e lealdade sejam apreciadas. A oportunidade permanece aberta para ele apenas durante um noviciato, que dura, necessariamente, um número limitado de anos. Se durante esse período eles conseguirem entrar em contato pessoal, isso será útil para o progresso do discípulo no que diz respeito à compreensão do ensinamento, e ele pode beneficiar-se desse contato, esclarecendo concepções erradas e suprimindo falhas. 602 Ele pode ser generoso o bastante para aceitá-los como são, com suas fraquezas e erros, mas a lei do carma está acima de todas as emoções humanas, sejam elas generosas ou não. Ela exige pagamento total e distribui entre eles as consequências de suas ações. 603 O mestre não formulou essas leis que governam a busca e, por mais insistentes que sejam as súplicas de seus discípulos, não pode revogá-las. 604 Nenhum aspirante tem o direito de procurar o discipulado pessoal junto a um instrutor genuíno antes de ter-se desenvolvido o bastante para isso — não mais do que uma criança que ainda não aprendeu a ler e escrever tem o direito de pleitear uma vaga na faculdade. 605 A presença imediata de um instrutor age como catalizador sobre o estudante. Seus defeitos, assim como suas virtudes, não podem ficar ocultos por muito tempo, e as circunstâncias geralmente se combinam de forma a fazer com que essas qualidades se revelem fragorosamente, no tempo certo. Portanto, existe, necessariamente, um período de noviciado. Os testes não ocorrem por meio de um ato arbitrário do instrutor, mas por meio de acontecimentos comuns da vida cotidiana e por meio das pessoas que ele vem a conhecer. Não são apenas testes de natureza ética — afinal, somos todos pecadores até compreendermos a verdade — mas envolvem também sua devoção à verdade, em oposição às suas falsificações. O estudante será testado, em primeiro lugar, no sentido de observar em que medida pode permanecer pessoalmente leal ao instrutor — pois este está em relação simbólica com a verdade 294

— apesar dos esforços de críticos e ini plausível e sua oposição. A condição mais elementar para a instrução espiritual é a completa confiança entre instrutor e discípulo. Todos os tipos de críticos cegos e inimigos maliciosos aparecem, de tempos em tempos, tentando perturbar essa confiança. Eles são, consciente ou inconscientemente, os instrumentos de elementos adversos na natureza. E l e será testado também por abalos superficiais em suas prevenções, ideias preconcebidas e expectativas. Será testado para revelar até onde está disposto a ir no serviço altruísta à humanidade, principalmente quando esse serviço entra em conflito com seus interesses pessoais. Se ele não sabe quando e onde será testado, isso não significa que o teste seja injusto. Cabe a ele usar sua inteligência nessas e em outras ocasiões e consultar os princípios que assumiu sempre que ocorrerem dúvidas ou dificuldades. Esses testes serão, às vezes, bastante evidentes e, portanto, comparativamente fáceis, mas outros serão mais sutis e mais velados e, portanto, mais difíceis. No entanto, todos os testes têm o mesmo objetivo — afastá-lo do caminho para a verdade. Se ele mantiver isso claro na mente, será mais fácil compreendê-los e aqueles que saem com a confiança inabalada a despeito das oposições encontradas receberão sua recompensa. Quando o período do noviciado termina — e sua duração não pode ser fixada porque varia de indivíduo para indivíduo —, os que ainda seguem o instrutor sem hesitações e restrições perceberão que o intervalo entre noviciado e aceitação é muito mais curto do que para aqueles em quem as dúvidas e hesitações perduram. 606 Quando começa a receber instrução de seu instrutor, o discípulo também começa um período de provação em seu caminho interior e de separação de suas fraquezas internas. A provação gradualmente o habilitará a revelar os diferentes aspectos de sua personalidade e indicará sua real receptividade à influência do instrutor. Durante esse processo, surgem as qualidades que estão latentes sob a superfície; as situações se organizam por si mesmas de tal forma que o forçam a expressá-las. Em resumo, o que está escondido se revela. Assim ser-lhe-á dada a oportunidade de examinar seus alicerces morais antes de avançar para o treinamento místico intensivo que colocará em suas mãos o poder e o conhecimento ocultos. Sem esses alicerces, aquele que tomar posse desses poderes poderá logo cair em tentações invencíveis, com resultados desastrosos para si próprio e para outras pessoas. O conflito interno que vier da provação o forçará a enfrentar a si mesmo, a reconhecer as fraquezas presentes em seu interior e a tentar vencê-las. Se não houver outra maneira de levá-lo a isso, então ele terá que sofrer as consequências dessas fraquezas, assim como as de tê-las guardado consigo. Naturalmente, esse fase do caminho do discípulo estará cheia de tensões e o levará a muitas dúvidas sobre si mesmo. O período de provação é um tempo de testes severos e fortes tentações. Entretanto, o princípio da provação é um princípio sadio. Escapando ao vórtice de seus testes, tensões e comoções, ele tem a oportunidade de emergir como um homem mais fone e mais sábio. 607 Seu período de provações envolve purificar o caráter do egoísmo e da animalidade, assim como sensibilizá-lo para a intuição e a instrução. Sem essa base, é perigoso aventurar-se no trabalho místico ou no serviço ao público. E nem o instrutor 295

permitiria que o estudante fizesse isso, pois há leis inexoráveis, que não foram criadas por ele e que governam o assunto. O estudante deve ficar em guarda e não confundir psiquismo com espiritualidade, pseudo-intuição com intuição real, e tampouco misturar motivos pessoais com serviço altruísta ou perder-se em sonhos e fantasias em vez de encontrar-se na ação inspirada.)Esses erros são comuns a muitos aspirantes místicos. A Busca é mortalmente séria e exige muito. E bem mais fácil desviar-se dela do que manter-se nela. 608 Foi recusada a instrução pessoal a um aspirante que se aproximou de um Mestre Zen, no Japão. Entretanto, ele esperou ali por perto durante meio ano. Cansado então de tanto insucesso, deixou de fazer solicitações, resolveu depender de seus próprios esforços e preparou-se para ir embora. Mas na véspera de sua partida o mestre mandou chamá-lo e concordou em instruí-lo. 609 m Um verdadeiro mestre não costuma aceitar — externamente e formalmente — estudantes pessoais entre os que se candidatam pela primeira vez, mas somente entre os que estiveram em contato com ele no mínimo durante alguns anos e, portanto, que tiveram tempo suficiente para assegurar-se de que ele é o mestre que realmente querem. Tal instrutor não deseja nem tem que aceitar os discípulos que não fazem parte da sua órbita por afinidade interior. Seria tolice aceitar um candidato cujo chamado verdadeiro é de algum outro instrutor, e seria falta de sabedoria permitir-se desperdiçar seu tempo com um entusiasmo passageiro e frustrar as esperanças do entusiasta. Em momentos passageiros de entusiasmo é fácil cometer erros e descobrir, depois, que ele não é o tipo de homem que acreditavam originalmente que fosse, ou que não é o instrutor mais adequado. Assim, é melhor para eles, tanto quanto para o mestre, procurar em outra parte, a menos que tenham paciência de esperar por alguns anos antes de tomarem uma decisão firme e final. Porque todo instrutor terá, naturalmente, suas próprias noções quanto às qualificações que mais valoriza e busca para o discipulado. Ele sempre enfatiza a lealdade profunda mais que qualquer outra virtude. Ele se preocuparia menos se seus estudantes bebessem álcool em excesso do que se falhassem em sua lealdade. A seus olhos, a fidelidade é a melhor das virtudes. Discípulos que não a possuem serão logo eliminados. Mas se ele exige lealdade, não exige escravidão: ficará perfeitamente satisfeito em ser tratado como um mortal comum, sem que o transformem num deus perfeito e infalível. Ele é o último homem que desejaria ser considerado aquilo que não é. Nem exigirá de ninguém aquele servilismo cego que em muitos aspirantes ocupa o lugar da lealdade genuína que lhe deveria ser oferecida. Externamente e formalmente, no entanto, não há nada que impeça alguém, se assim o desejar, de apresentar-se como um estudante — mentalmente, secretamente e internamente. Porque o discipulado é autocriado pela atitude mental de devoção que, espontaneamente, lhe traz ajuda interior. Nesse caso ele não terá realmente necessidade dos sinais de aceitação.

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I 610 Até certo ponto, ele será prejudicado pela consciência da dificuldade de assegurar a lealdade adequada a um instrutor que se recusa a cercar-se de toda a parafernália de ashrams e dos enfeites da adoração ao guru — já que ambos lhe são repugnantes. 296

Há excelentes motivos que são do interesse do estudante — e talvez também até certo grau do instrutor — para insistir enfaticamente nessa lealdade pessoal. A fidelidade do estudante cedo ou tarde será submetida à tensão inesperada de testes severos. O adepto possui um temperamento sensitivo demais e uma independência forte demais para tolerar com indiferença os reflexos telepáticos dessa tensão, que invariavelmente surgem quando o relacionamento efetivamente existe, com as profundas obrigações que traz para ambos os lados. Ele pode ser filosófico o bastante para sorrir diante da falta de compreensão ou da deserção, mas é também humano o bastante para ser sensível a elas. Porque mesmo que um estudante rompesse com ele, ele nunca poderia romper com o estudante. Sua própria concepção de lealdade tem um alcance muito mais amplo do que poderiam compreender, em sua fragilidade, os que fazem a Busca. Na verdade, alguns iludem-se tanto com as compulsões do carma pessoal e com a lógica das meras aparências que imaginam que ele é destituído de solidariedade humana e indiferente aos sentimentos humanos. 611 * O Mestre tem muita consciência das lições amargas e dolorosas que os aspirante devem aprender antes de atingirem a maturidade e o equilíbrio, e gostaria de poder estender-lhes a mão. Linhas de comunicação externas devem ser mantidas abertas, durante esses momentos difíceis, porque são de grande ajuda e, na verdade, necessárias até que o indivíduo se torne suficientemente intuitivo. O Mestre nunca fecha as linhas interiores, mas — para que sejam efetivas — elas exigem manutenção de ambos os lados. 612 Ele pode perguntar-se por que recebe tão pouca ajuda direta e tão pouco encorajamento pessoal de seu instrutor durante os primeiros anos de seu relacionamento. Ele tem que atingir certo ponto em seu desenvolvimento mental primeiro, e isso não pode dar-se até que tenha tido a experiência de acontecimentos que são como testes. 613 Tentar perder sua personalidade na personalidade de outra pessoa, até mesmo na de um guru, é, para qualquer indivíduo, desertar de seus próprios poderes divinos. Entretanto, no caso dos principiantes isso é inevitável — quando estão buscando a ajuda de um guru. Mas quanto antes o guru os deixar prontos ou os instruir a abandonarem essa prática e a perderem a personalidade em seu próprio Eu Superior melhor será para eles. É uma questão de direção. Ao submergir na personalida de outra pessoa eles vão para fora de si mesmos; ao submergir em seu próprio ser superior, vão para dentro de si mesmos. 614 Na escola de Pitágoras, em Crotona, os alunos passavam por uma série de três graus, e não tinham permissão para ter contato pessoal com Pitágoras antes de alcançado o grau superior, que era o terceiro. 615 • Se o mestre não tivesse paciência com seu discípulo, logo se separariam, não acreditasse que ele efetivamente evolui, nunca se juntariam.

616 Se um homem atrelou o vagão de seu esforço espiritual à estrela de um guia competente e digno, é absurdo objetar que ele compromete sua liberdade sempre que submete seu julgamento pessoal ao do guia, ou sempre que obedece a um comando seu. Pois, quem escolheu o guia? Ele mesmo. Pelo exercício de qual faculdade fez essa escolha? Pelo exercício do livre-arbítrio. Portanto, o ato inicial foi uma escolha livre. Foi também o mais importante por ter sido a causa, sendo que todos os outros atos como discípulo são efeitos, por mais longa que seja a corrente que se estende a partir dele. É por respeitar a sabedoria maior do guia e por respeitar sua abnegação que o discípulo o segue em pensamento e na prática, não porque se tenha tornado um títere. 617 O aspirante que acredita poder aproximar-se de um mestre por alguns poucos dias ou semanas e colher ensinamento colherá apenas uma amostra desse ensinamento. Ser-lhe-á necessária toda a vida não somente para receber aquilo que um mestre sabe, mas para ser considerado merecedor disso e pronto para isso. Se lhe faltarem essa paciência e humildade, cairá em auto-engano.

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Platão indicou em sua sétima carta que a sabedoria filosófica "exige uma comunhão longa e continuada entre discípulo e instrutor, numa perseguição conjunta do objeto que buscam compreender e então, subitamente, assim como brilha a luz ao se acender um fogo, essa sabedoria nasce na mente e daí por diante alimenta-se a si mesma". 619 , Esses dois indivíduos, o Mestre e o estudante, estão ligados um ao outro por laços muito antigos. Muita coisa permanece para ser feita no futuro, assim como foi no passadoj Se numa encarnação anterior o estudante atingiu uma fase de desenvolvimento mais elevada que a atual, essa fase deve ser alcançada novamente antes que possam aparecer resultados na consciência. Nesse caso ele deve trabalhar de forma especialmente intensa para progredir. 620 Nos primeiros estágios de sua relação, o discípulo precisa unir-se cada vez mais ao Mestre. Ainda está aprendendo o que é a busca, sua vontade é fraca, incerta e não-desenvolvida. Mas em estágios posteriores tem de soltar-se do mestre, disciplinar seus sentimentos e abandonar aquilo que se lhe tornou tão caro. Pois deve então, de modo crescente, depender do contato que ele próprio estabelece com o seu Eu Superior. (Lembrete para P.B.: usar este parágrafo como chave para reescrever ensaio sobre autoconfiança espiritual.) 621 Ele deve esperar constantemente pelo momento em que terá independência suficiente para dirigir seu próprio caminho. Isso não quer dizer que deve ter apenas a própria ignorância e fraqueza como guias, nem que deve enfrentar sozinho todas as suas perplexidades, mas que deve enfrentar como puder a maior parte delas. 298

recorrendo ao instrutor somente naquelas que parecem ser muito difíceis de enfrentar ou suportar. Ocasionalmente, o instrutor pode, por sua própria iniciativa, intervir para ajudar, mas somente quando considerar desejável e necessário fazê-lo. Dessa maneira será alcançado o objetivo de conduzir o discípulo ao pensamento cada vez mais correto e ao comportamento cada vez mais cuidadoso. 622 É natural e fortemente repugnante, para uma mente desenvolvida, permitir que outra mente exerça sobre ela um poder assim tão grande, ao passo que, para uma mente pouco desenvolvida, isso é extremamente atraente. 623 A adoração excessiva ao guru provoca uma reação, uma atitude crítica e às vezes cética da qual também é preciso recuar. Só depois disso é que se pode estabelecer uma relação honrada, honesta e verdadeira. Ele não quer ser transformado em objeto de culto e se opõe a essa atitude. Por que não respeitar seu desejo e deixá-lo ser o que é — um pesquisador? 624 A fé no mestre é o primeiro passo, a obediência às suas ordens é o passo seguinte, a devoção a ele é o terceiro, e a recordação de sua presença, nome ou imagem é o quarto. Seguir assim o mestre e praticar seus ensinamentos atrai suas graças. 625 Aqueles cujo temperamento é naturalmente submisso e dependente podem ser discípulos melhores que os outros, mas têm menos probabilidades de avançar tão longe quanto os outros. 626 Mas se o instrutor precisa ter a capacidade de apontar o caminho certo, o estudante, por sua vez, deve ter a capacidade de percorrer em pensamento cada passo desse caminho com ele. 627 A Busca superior envolve alguns problemas tremendamente difíceis. A chave desses problemas deve ser colocada em suas mãos pelo instrutor. Portanto, a estratégia mais sábia é trabalhar em detalhe e pacientemente os poucos indícios fornecidos pelo instrutor, estudar os livros e perseverar obstinadamente no caminho, considerando esse período como uma paciente preparação para o momento cármico em que certamente receberá aquilo que busca. Obterá isso se tiver o preparo mental correto, se expressar o desejo de orientação nos pontos certos e também se reconhecer a necessidade de servir à humanidade. 628 Se o instrutor precisa pôr em frases finitas toda comunicação de seu ser interior a um discípulo, se ele precisa usar meios materiais para toda transmissão de seu pensamento, então o homem ainda não está pronto para ser um discípulo. 629 O discípulo que precisa receber, constantemente, cartas de seu instrutor, esta preparado apenas para instrutores inferiores. O discípulo que imagina que o instrutor

está mais interessado em ajudá-lo, que o esqueceu, ou que está decepcionado com ele só porque deixou de escrever-lhe por dois ou três anos, está completamente enganado.

640 A reverência pelo mestre baseia-se na crença de que o Eu Superior está agindo por intermédio dele. A falta dessa qualidade priva o discípulo da ajuda disponível.

630 Se ele se tomar dependente a ponto de levar todos os problemas, tão logo surjam, para o instrutor resolver, a consequência será, no fim, uma impotência total diante de qualquer problema. A capacidade de julgar com independência, de tomar iniciativas, de agir com criatividade e assumir decisões decairá e até mesmo desaparecerá.

641 E l e deve, primeiro, ter humildade diante da elevada realização do mestre.

631 Tornar-se um satélite e girar em torno de um guru pode ser benéfico para um homem. Mas os danos começam quando esse movimento de rotação torna-se permanente e ele não é mais capaz de passar para uma nova órbita e realizar a intenção evolutiva oculta em seu próprio ser. 632 »É absolutamente necessário, para os discípulos, aprender a viver suas próprias vidas. 633 Não basta que o guia tenha competência para fazer o que se propôs a fazer: o discípulo deve estar qualificado para beneficiar-se disso. 634 Raro é o discípulo verdadeiro", diz um antigo texto asiático. 635 E melhor ter alguns poucos estudantes dispostos a trabalhar duro por seu autoaperfeiçoamento do que uma multidão de estudantes que não fazem outra coisa além de ler livros e conversar entre si. 636 O tipo de estudante que ele gosta de ver, mas que infelizmente poucas vezes vê, combina um refinado caráter moral com boa inteligência e sadio senso prático, tudo isso culminado por uma profunda intuição mística e um adequado sentido de reverência. Um estudante assim é totalmente confiável, e suas palavras não são simples explosões de emoção a serem rapidamente esquecidas. • 637 Quando a determinação para seguir a busca torna-se forte a ponto de não ser desviada pela adversidade ou pela luxúria, o que busca está pronto para um instrutor. :

| 638 Esse anseio de tornar-se discípulo e aprender a verdade é a primeira qualificação necessária. Sem isso, nada se pode fazer; com isso, tudo virá naturalmente, numa reação automática do Eu Superior. | | # 639 #' Não é suficiente que o futuro discípulo esteja maduro. E l e também deve ser capaz de entrar facilmente numa relação completamente harmoniosa com o instrutor ao qual recorre.

642 O futuro discípulo deve demonstrar fé e lealdade, obediência e prática, além da aspiração que o leva ao mestre. 643 Se o que ouve recebe com alegria as palavras do mestre, isso é uma indicação de que está preparado. 644 Quando ele se entrega aos cuidados de um instrutor, deve cultivar a paciência e não pretender resultados imediatos. Romper com um instrutor é um assunto sério, e se isso for feito com precipitação trará maus resultados. 645 Não é necessário ostentar fervor frenético para ser um discípulo devotado. 646 Quando o discípulo se sente pessoalmente humilhado ou fica histericamente ressentido diante das críticas construtivas, justas e bem-intencionadas do instrutor, não está apenas sofrendo sem necessidade, mas também rejeitando a ajuda especializada que procura, mesmo que esta assuma formas inesperadas e desagradáveis. O bom conselho é bom, mesmo quando intragável. 647 Ninguém precisa ficar perplexo por muito tempo, se tiver humildade e conversar francamente com seu instrutor em qualquer dificuldade, em vez de se considerar qualificado para julgar seu instrutor. Sua humildade receberá em troca bondade, e sua franqueza, uma franqueza equivalente. O Instrutor está sempre disposto a ajudá-lo a resolver essas dificuldades, mas não está disposto a ajudar os que vêm a ele com uma mente já predisposta à desconfiança, ou os que não vêm a ele. julgando-se preparados para compreender o instrutor ou sua doutrina antes da iniciação e da aceitação. 648 Um instrutor genuíno, que é sincero, competente, bondoso e iluminado con esta verdade — que grupos do mesmo grau reencarnam juntos — e, sabendo di esperará e aceitará apenas os "seus". Porque, se por sentimentalismo ele cede aos apelos inoportunos dos que não estão em harmonia interior com ele, o fluxo dos acontecimentos ou a desarmonia do estudante romperá a relação e os separará. Da mesma forma, um aspirante sério que sente que sua vida interior pertence a minado instrutor, desistirá, se for sábio, de fazer experiências ou de perambu pelos círculos de outros, e permanecerá leal a esse instrutor. Porque, se por siasmo emocional ou pela má compreensão que vem de suas próprias limi ele se extraviar, a sensação de insatisfação interior ou a pressão inesperada de silusões exteriores o levarão de volta para casa.

649 O que encontrou o caminho que lhe é adequado e o instrutor com quem tem afinidade não deve mais perder tempo experimentando outros caminhos, outros ensinamentos e outros instrutores. Para extrair o beneficio total dessa associação, ele deve permanecer absolutamente leal a seu guia. Para tornar o progresso mais rápido, deve parar de perambular e permanecer no caminho escolhido até chegar à meta. 650 Se, no início, ele deve lançar sua rede para procurar a verdade em todos os cantos, no meio do caminho deve estreitar seu mundo até ter ouvidos apenas para seu instrutor e para ninguém mais. Só então pode chegar à concentração. No início, a amplidão; no meio, a profundidade. 651 Os que buscam mas são ignorantes crêem que, visitando muitos instrutores, acumularão um estoque de conhecimento e ajuda, mas isso é puro auto-engano: ao contrário, acabarão ficando confusos. Um discípulo poderá estudar os ensinamentos e seguir as práticas de mestres que não sejam o seu sem se prejudicar — se, em primeiro lugar, esses mestres não estiverem em desacordo com o seu mestre e, em segundo lugar, se seu senso de lealdade pessoal não for enfraquecido. 652 É permissível ter vários instrutores para assuntos menores, incluindo o Yoga, mas não é permissível seguir mais de um Mestre na Busca da Verdade Superior. 653 Assim como é verdade que o homem não pode desertar dessa Busca sem ser, cedo ou tarde, levado de volta a ela pela vida, é também verdade que não pode desertar do mestre da Busca sem ter que voltar a ele cedo ou tarde. Porque, assim como o prosseguimento na Busca é inseparável da felicidade que ele procura, a devoção ao Mestre da Busca torna-se inseparável da salvação da qual depende essa felicidade. O porquê desse fato é uma das misteriosas obras do destino, e só poderá ser esclarecido quando for e se for possível esclarecer suas vidas terrenas do passado remoto.

657 Muitos aspirantes são voláteis em sua lealdade e inconstantes em suas crenças. Mudam de guru assim como mudam de roupa e desnudam-se dos primeiros ensinamentos quando novos ensinamentos aparecem. Nisso existe algo de bom e algo de ruim. Se trocam um guru inferior por um mais avançado, um impostor por uma pessoa confiável, ou uma crença vulgar e desgastada por uma crença superior e original, a mudança é, obviamente, para melhor. Dessa forma poderão, durante muitos anos, estudar várias facetas da verdade. Outros, simplesmente, trocam uma fantasia por outra. 658 Quando um instrutor retira sua autoridade genuinamente do E u Superior, a reverência e a obediência, o amor e o respeito são, certamente, merecidos. 659 Entre todas as formas de trabalho que um homem pode escolher, entre todas as maneiras pelas quais suas funções podem expressar-se, não há nenhuma mais elevada do que esta: guiar os homens da ilusão para a realidade. Não é errado prestar a seu ofício grande reverência e a ele grande devoção. 660 Não é possível saldar a dívida que temos para com esses instrutores espirituais. Porque aquilo que dirige o corpo é, no final, mais importante que o próprio corpo. 661 Devemos ter gratidão e respeito por todos esses grandes homens iluminados da espécie, que nos trouxeram a verdade, estejam eles vivos ou mortos, tenham vindo do Ocidente ou do Oriente; mas, ao mesmo tempo, devemos ter respeito e gratidão especiais por aquele homem particular que nos levou a ver a verdade mais do que qualquer outro. ' 662 O Reverendíssimo W. R. Inge observou corretamente que Cristo escolheu seus doze apóstolos não apenas porque eram, por natureza, homens extremamente religiosos, mas porque eram suficientemente leais e corajosos para viver e morrer por seu Mestre. c

654 O Mestre diz para o que se extraviou: "Eu o ponho em meu coração. Agora você é meu discípulo aceito. Mas beneficie-se com as lições dos erros passados que cometeu, e fique resolutamente comigo. Se você retomar apenas em coração ou também fisicamente, isso não terá consequências substanciais para mim, mas terá para você." 655 A orientação e o ensinamento de outras fontes podem ser aceitos alegremente como algo que enriquece, complementa ou aperfeiçoa, mas a afinidade interior é tão pessoal, tão íntima, tão profundamente sentida, que ninguém é realmente capaz de tomar o lugar do guru carmicamente destinado. 656 O aspirante não deve procurar conselho de ninguém mais além do instrutor, ou pode — inadvertidamente — ser levado a um caminho que, apesar de permitido para outros, seria desaconselhável para ele. 302

663 Poucos estão preparados para pagar o preço da lealdade e do serviço constantes, porque esse pagamento deve ser feito em prática real e não apenas em movimentos dos lábios. 664 O discípulo deve confiar e caminhar sem hesitações ao lado do Mestre, mesmo quando a compreensão não acompanha seu passo, e sua lealdade deve brilhar como Sirius no céu. 665 A qualidade que o faz mais estimado pelo instrutor e que o leva mais longe na Busca é a lealdade. Mas, essa mesma boa qualidade pode ser o maior dos oès-

táculos, se o que busca for tão simplório, tão superficial, tão incapaz de julgar a ponto de se ligar a um instrutor incompetente ou indigno. Encontrar muitos candidatos ao discipulado é fácil, mas encontrar alguns poucos discípulos é difícil. Há muito entusiasmo em torno de um mestre a que se chegou há pouco tempo, mas pouca lealdade constante a um mestre antigo. 667 Místicos irreflexivos ainda valorizam essa qualidade de obediência servil que os gurus primitivos exigiam de seus seguidores. Os místicos reflexivos não fazem mais isso. 668 Um guia que consegue compreender o caráter de seu discípulo e estimular sua inteligência, que consegue abrir para ele os portões de mundos superiores e de novos horizontes, não precisa prendê-lo pelos laços da obediência cega. 669 Sem ter na mente uma atitude humilde e passiva, sem ter no coração um sentimento de devoção e reverência, desperdiçam-se os benefícios de se encontrar um homem que se uniu à alma. A crítica ergue barreiras. 670 Ouvir realmente um guru não é entrar com o ego e todas as suas interpretações. Ler corretamente o livro inspirado de um guru é afastar a tendência comum a acrescentar as próprias significações pessoais. Em suma, que a mente Esteja Quieta e conheça a Verdade! 671 Seria inútil colocar alguém sob a orientação de um instrutor se essa pessoa não estivesse preparada para obedecê-lo. 672 "Você está repleto de suas próprias opiniões'*, disse um moderno mestre japonês a um intelectual que lhe fazia perguntas. "Como posso mostrar-lhe o Zen? Primeiro, esvazie sua taça." 673 Se ele se ofende quando o mestre expõe suas fraquezas, então não está preparado para um discipulado mais avançado e não mais receberá conselhos. 674 Quando um homem que é ainda um estudante julga-se mais sábio que seu mestre, está sendo desencaminhado pelas hábeis adulações do seu ego. 675 Se esse estímulo que vem do contato com um mestre o faz afirmar seu pequeno ego, achando que se tornou mais "espiritual" que os outros, então o bem e a inspiração que lhe foram concedidos serão postos em perigo pela vaidade que nele se desenvolveu. 676 Se um homem é fortemente egoísta e arrogantemente obstinado, se lhe falta humildade mesmo quando se aproxima de um Mestre, então, além de não poder 304

seguir o caminho, ele precisa ficar rodeando, procurando sua entrada. Um homem assim, a quem é impossível educar e ensinar, não está capacitado para o caminho do discipulado. A vida é o único instrutor para o qual está preparado. Ela é inteligente o bastante para levá-lo exatamente ao tipo de experiência de que necessita — desapontamentos, frustrações, humilhações e desastres avassaladores. 677 Se o discípulo não obedece ao programa estabelecido pelo instrutor, mas segue suas próprias ideias sobre o que deve fazer, não está renunciando ao ego, mas demonstrando seu apego ao ego. Consequentemente, não chegará aos resultados esperados. Quando se segue o desapontamento, ele não deve culpar a ineficácia de seu instrutor, mas seu próprio egotismo obstinado. 678 O instrutor tem uma imensa tarefa quando uma pessoa comum pede-lhe para ser aceita como discípulo pessoal. Porque essa pessoa procura inconscientemente a confirmação daquilo em que já acredita e veio, portanto, para instruir o instrutor! Consequentemente, o mestre é obrigado a recusá-la. Porque essa pessoa vem a ele cheia de suas próprias ideias sobre o que constitui a verdade, sobre a direção à qual leva o caminho, sobre o que o instrutor deve dizer e como deve comportar-se. Todas essas maneiras de pensar são, do ponto de vista do instrutor, meros estorvos, e todos esses preconceitos pesados grilhões. Querer que a pessoa abandone imediatamente essas obsessões pelo passado não será, na maioria dos casos, algo bemsucedido — só no tipo mais raro de aspirante é provável haver obediência imediata. Nos outros não existe nem mesmo o desejo de libertar-se desses padrões emocionais e intelectuais que aprisionam o homem, desses mecanismos de hábito nos quais se deixou capturar. 679 Enquanto está esperando encontrar um guia espiritual digno de confiança, a melhor coisa a fazer é disciplinar constantemente seu caráter e esforçar-se para ganhar tranquilidade interior, conquistando assim melhores condições para receber a Graça. Que ele descubra seus defeitos de caráter e se esforce para li vrar-se deles. Que examine sua vida todos os dias e perceba onde agiu bem e onde errou. 680 Muitos aspirantes desperdiçam tempo tentando seguir o caminho do discipulado. quando suas qualificações não são suficientes nem mesmo para permitir sua entrada. São despreparados. Seria mais vantajoso para eles dedicar ao aperfeiçoamento de sua própria psique todo o pensamento que dedicam à busca de um mestre, 681 Se um homem insistir em solicitar as atenções de um instrutor pessoal antes de estar suficientemente preparado para beneficiar-se delas, então sua atitude inoportuna será punida. Ele encontrará um instrutor falso, um guia para a inverdade e a escuridão, e não para a realidade e para a luz. Deve ter trabalhado muito por si mesmo e consigo mesmo — na disciplina mental e emocional, no esforço moral na preparação intelectual e na prática da meditação — para que se justifique seu pedido de instrução. Do contrário, pode estar sendo impelido pelas ambições egoístas 305

que se escondem secretamente sob suas aspirações espirituais, ou pode estar emocionalmente desequilibrado demais para aceitar em seu coração a serena sabedoria impessoal, mesmo quando ela lhe é oferecida.

volvimento superior quando nem mesmo completaram seu desenvolvimento comum, como seres humanos. Eles não têm o direito de pretender entrar num caminho que exige tanto caráter e capacidade desde o início.

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682 Mesmo quando não existem adeptos que possam dar-lhe a ajuda interior necessária para um avanço mais rápido no Caminho, isso não impede que ele continue esforçando-se em direção à realização espiritual, preparando-se assim para um guia, quando o destino lhe permitir tê-lo. O trabalho interior que só ele pode realizar consiste em esforços incansáveis para desenvolver um caráter moral elevado, juntamente com a aspiração religiosa e a contemplação mística. Deve ter em mente também o ideal do serviço altruísta, combinado com praticidade e julgamento inteligente.

690 Muitos dos aspirantes que querem associar-se a um mestre fazem-no prematuramente. Consequentemente, não conseguem encontrá-lo, ou encontram apenas pseudomestres. O que realmente precisam é procurar um psicólogo ou um religioso sábio e de mente aberta, alguém que conseguiu uma boa situação para seus próprios problemas pessoais, emocionais e sociais e que seja competente para ajudá-los a resolver os deles. Só depois de esse trabalho ter sido feito, só depois de o caminho ter sido limpo para uma atividade mais elevada, só depois de estarem preparados para responder prontamente à orientação de um mestre, é que devem procurar esse mestre.

683 A despeito da ausência de um instrutor, é possível intensificar seus esforços. Seu ambiente oferece parte do material para estudo, sua história pessoal pode ser escrutada para uma consciência maior do significado de suas experiências passadas e presentes, e cada situação oferece uma oportunidade para uma observação mais objetiva de si mesmo.

691 E necessário, às vezes, lembrar a um homem de que é ele — e não aqueles a quem confiou sua alma e destino espiritual — o responsável por isso. A crença de ter transferido esse encargo é ilusória.

684 O empenho contínuo e honesto no auto-estudo e na auto-observação, uma análise objetiva de experiências presentes e passadas submetidas à luz de uma compreensão superior, a prática diária da meditação e uma atitude sempre presente de fé e devoção certamente aumentarão as possibilidades de um encontro com o Mestre. 685 Em vez de procurar ou esperar em vão por um instrutor, ele deve assumir os ensinamentos que já tem, seguir as exigências que já foram estipuladas e usar o conhecimento já disponível. 686 Os estudantes que não conseguem realizar o trabalho em si mesmos e ainda assim procuram um mestre estão desperdiçando seu tempo. 687 O trabalho consigo mesmo é o mais importante. Só depois de ter purificado o caráter, cultivado o discernimento, conquistado um pouco de equilíbrio, compreendidofinalmenteas lições de experiências passadas, adquirido certo grau de autocontrole mental, moral e físico, e desenvolvido a aspiração necessária para levá-lo a uma vida verdadeiramente espiritual, ele estará — somente então — em posição de beneficiar-se da instrução de um Mestre. 688 Seria bom que aspirantes jovens dedicassem um período suficientemente longo a um desenvolvimento geral em religião comparada e metafísica, antes de fazerem algum tipo de escolha. Devem antes chegar a esse conhecimento claro. 689 O desequilibrado, o histérico, a personalidade desajustada e não integrada e o neurótico autocentrado não devem perturbar um instrutor em busca de um desen306

692 Não é o instrutor que pode romper o apego do discípulo à vida mundana, pois o coração do homem é sua posse mais íntima e mais privada. O discípulo deve fazer isso por si mesmo. É ele que deve compreender a necessidade de renúncia e é só ele que deve mudar seus sentimentos de acordo com isso. Essa mudança exige que ele pense continuamente em valores e na disciplina incessante de tendências. Quem mais, além do discípulo, deve pensar esses pensamentos e exercitar essa vontade, se o resultado se revelará em seu caráter? O instrutor não pode realmente ajudá-lo como vicário, não pode livrá-lo da árdua tarefa de trabalhar consigo mesmo. 693 O motivo pelo qual o mestre não pode reconstruir milagrosamente outro homem, é que nenhum homem pode pensar pelo outro. Isso cada um só pode fazer por si mesmo. 694 Devemos conquistar nosso progresso por nossos esforços pessoais e por nossos próprios méritos. Nenhum mestre pode caminhar por nós ou esconder nossas fraquezas das leis inexoráveis que governam a busca. A lisonja pouco ajuda. É dever do guia perceber claramente e expor com franqueza ao discípulo as partes más do seu caráter e os pontos fracos da sua consciência. 695 Ele pode fornecer a técnica correta, mas não seus resultados inefáveis. Estes você precisa conquistar para você mesmo e por você mesmo. Ele não pode. nem mesmo, prometer-lhe um resultado bem-sucedido para seus esforços. Isso é concedido apenas pela graça de Deus. 696 • "Ninguém pode purificar o outro**, afirmou o Buda. 697 x Nenhum mestre pode fazer ou fará por um homem o que este não está disposto a fazer por si mesmo.

• Nenhum mestre pode retirar de um discípulo falhas e fraquezas. •

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699 /Nenhum homem pode ser realmente responsável por outro homem: cada um faz, e deve aceitar, seu próprio carma. s 700 Até mesmo nos mistérios do Egito antigo, o discípulo que frequentava a escola do templo, depois de ter passado no teste inicial que lhe possibilitava a admissão, tinha que aprender essa mesma lição de autoconfiança. O francês Edouard Schure, que escreve sobre esse assunto, diz: "Ele era deixado muito sozinho, para que pudesse vir a ser, em vez de meramente saber, e, assim, ficava surpreso, muitas vezes, com a frieza e indiferença do instrutor. Para suas perguntas ansiosas, vinha a resposta: 'Espere e trabalhe/ Dúvidas e suspeitas assustadoras em relação a seus instrutores assaltavam-no às vezes, mas acabavam passando." 701 É impossível para qualquer mestre fornecer iluminação duradoura a um discípulo, por mais fervoroso que este seja, pois só é possível ao discípulo chegar ao desenvolvimento total e ao equilíbrio que se segue a ele por meio de sua própria atividade interior. 702 A despeito de todas as ilusões em contrário, nenhum mestre pode pegar úm discípulo e transferi-lo de um salto para a meta — permanentemente. 703 Na presença de um homem iluminado, temos a oportunidade de tornar-nos diferentes por um momento, de refletir um pouco de sua luz em nós mesmos. Mas a luz refletida, sendo emprestada, se extinguirá. Não podemos conseguir isenção do trabalho necessário para gerar nossa própria luz meramente porque conseguimos associar-nos a alguém cujo trabalho está consumado. 704 /Ninguém pode ensinar você a realizar o seu ser verdadeiro — ninguém exceto você mesmo, porque a realização tem que ser sua. A revelação que leva a ela também tem que ser sua, e a compreensão que leva à revelação vem de seu próprio esforço. É por isso que digo, muitas vezes, que é exagero, da parte dos indianos, dizer que a salvação é impossível sem um mestre. Ele pode ajudar-nos a corrigir nosso pensamento, encorajar-nos e inspirar-nos, mas o trabalho tem que ser feito por nós mesmos. Nenhum mestre pode dar a realização total a outra pessoa — impossível. /

A ação certa, realizada de maneira errada, torna-se em si errada. Apesar de estar certo voltar-se para o instrutor à procura de orientação e inspiração ao longo de sua busca, é errado tornar-se dependente demais desse instrutor. 708 As pessoas aproximam-se do tipo santo principalmente para obter aquilo que na fndia é chamado de darshan. Isso pode ser traduzido por várias formas: um vislumbre, uma bênção falada, uma visão, uma iniciação, uma bênção silenciosa. Tal homem é um fenómeno, e elas ficam a distância para contemplá-lo, para admirá-lo ou para serem invadidas de respeito por ele. Os minutos, dias, semanas, meses ou anos que isso leva — a duração é imaterial, pois o tempo não modifica a natureza do acontecimento — deixam o devoto com o mesmo caráter, a mesma consciência que tinha antes do encontro. Sua utilidade é representar a meta e não levá-lo para mais perto da perfeição. A ilusão de que, quanto mais tempo permanecerem com ele mais avançado no caminho da perfeição, continua sendo um engano. O darshan deixa-as com suas fraquezas e falhas, com sua animalidade e egoísmo intocados. O trabalho de livrar-se dessas coisas é responsabilidade delas, e não há mágicadarshan que possa substituí-lo. 709 A crença de que um guru fará por ele, de uma só vez e para sempre, o que no final tem que fazer por si mesmo, pertence às massas ignorantes e aos círculos místicos sectários. 710 Só o equivocado ou o charlatão oferecem-se para salvá-lo. Todos os outros se oferecerão apenas para guiá-lo. "Vocês precisam trabalhar por vocês mesmos", advertiu o Buda. "Os Budas são apenas instrutores.** 1

711 É comum querer entrar na iluminação por intermédio de alguma outra pessoa. Por isso, é necessário deixar claro que ninguém, nem mesmo o melhor dos gurus, é capaz de conceder realização final e duradoura — um vislumbre é o máximo que ele pode transmitir, e não há muitos com essa capacidade. Mesmo nesses casos, seus discípulos precisam trabalhar diligentemente e conquistá-la por si mesmos. 712 O serviço que um guia espiritual presta corrigindo erros, dando instrução, estimulando a aspiração e encorajando a intuição é imenso; mas é apenas um prelúdio aos serviços que o estudante deve prestar a si mesmo.

705 jf A consciência espiritual não é como uma propriedade que pode ser transferida, por herança, a outra pessoa. Os que a querem devem criá-la para si mesmos.

713 Os que deixam seu futuro espiritual totalmente nas mãos de seu guia perdem os anos que poderiam usar desenvolvendo a si mesmos.

706 Essa consciência não pode ser obtida de outro homem por transferência (apesar de ser possível sentir sua presença pela sensitividade), mas apenas pelo trabalho duro de cada um.

714 Não é suficiente receber ensinamento de outra pessoa. A verdade do ensinamento deve ser testada pela experiência pessoal, seu valor deve ser medido pelo conhecimento pessoal.

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715 É dever do guia erguer uma luz sobre o caminho escuro, mas o discípulo precisa decidir, por si mesmo, a velocidade e a distância da viagem a ser feita ao longo desse caminho. Nenhuma ordem lhe é dada, pois 6 ele que deve avaliar a força que existe dentro de si e a oportunidade que existe fora. Ele tem total liberdade para tomar a decisão. Infelizmente, muitas pessoas emocionalmente instáveis s8o atraídas pelo misticismo, passando anos com seus sonhos de realizações místicas mas sem fazer nada para converter esses sonhos em realidade em vez de esvoaçar de um sonho a outro. 716 Quando o estudante reage adequadamente às sugestões ou ao conselho que lhe são dados, o instrutor é encorajado a avançar. 717 O instrutor pode apenas ajudá-lo a se ajudar. Em última instância, será por seus próprios esforços que o estudante descobrirá a sabedoria e a beleza que está buscando — e que já estão dentro dele. Para que sejam bem-sucedidos, esses esforços devem ser corajosos e contínuos: fracassos repetidos devem servir apenas para estimular uma determinação mais profunda. 718 No final, o que busca deve tornar-se seu próprio instrutor, pondo em teste todas as suas experiências, crenças e ideias. 719 É possível trazer essa verdade ao alcance da visão da mente, mas não ao alcance da vontade; quanto a isso, cada homem deve fazer seu próprio trabalho. Todo aquele que lhe oferecer uma redenção grátis estará brincando de Deus. 720 No final, o discípulo aprenderá, por experiência própria, que 6 para si mesmo que deve olhar em busca de salvação. As últimas palavras de Buda, dirigidas a seus discípulos, ao morrer, têm sido um guia útil para mim: "Não procurem refúgio em ninguém além de vocês mesmos.** 721 /Não fique satisfeito em ser um discípulo. Tente ser como o mestre.

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722 Se desejar, chame a isso autocriação — esse processo de usar os próprios poderes mentais, as próprias energias emocionais, para concretizar o novo ser que é o seu melhor eu. Ele não procura, como um mendigo, por uma transformação grátis, feita por outra pessoa, um guru. Faz uso da forma mais elevada de imaginação, uma visualização profundamente relaxada e sugestiva. Tudo o que é preciso para efetuar a iluminação já existe dentro dele, mas de modo latente e não-desenvolvido. Pelo estudo, exercício e prática, o aspirante pode ser seu próprio instrutor. Cedo ou tarde terá que tomar esse trabalho nas mãos. A noção de que alguém pode ou vai fazer tudo por ele é ilusória, a crença de que um guru pode absolvê-lo de seu dever é uma fantasia adolescente. Para que o resultado tenha algum valor duradouro, deve 310

ser autoconquistado ou, no final, o aspirante terá que começessa atitude e jogar fora o pensamento negativo de que é impotente sem a ajuda de outra pessoa, a quem precisa procurar e encontrar. O tipo realmente útil de instrutor não coloca ênfase em si, mas no trabalho do próprio aspirante, e o vê somente a intervalos. Uma vez designados os elementos necessários, o estudante deve ensinar a si mesmo; e ele só pode fazer isso pela prática. 723 Você deve desempenhar o papel de instrutor para você mesmo. Ele não pode trilhar o caminho por você: você deve caminhar e trabalhar por seu próprio esforço. A mãe não pode crescer pela criança, por mais que a ame. O adepto não pode realizar seu crescimento por você. As leis da Natureza devem prevalecer. Ele mostrou-lhe o caminho: use sua vontade para segui-lo. Mas dedique um pouco de tempo todos os dias para manter aberto o canal de comunicação com ele, recebendo assim seu incentivo, sua inspiração para ajudá-lo. Porque, apesar de ser necessário lutar usando o próprio livre-arbítrio, não imagine que você precisa lutar desassistido. 724 Trabalhar ao longo da linha que o instrutor considerou adequada para si mesmo e tentar de forma servil e artificial criar uma cópia do instrutor resultará, no final, apenas numa caricatura. Porque apenas os atos corpóreos do instrutor serão imitados; seu Espírito é invisível e, portanto, não pode ser imitado. 725 Por que deveria alguém copiar a obra de arte de outra pessoa? Por que Whist ler pintaria quadros da mesma maneira que Gainsborough pintou? Whistler permaneceu fiel às suas próprias concepções. Por que então, indo mais longe, copiar o estilo de vida de outra pessoa? Podemos honrar a inspiração de um mestre e ainda assim expressar a nossa inspiração de maneira individual. 726 É verdade que os seguidores não têm o direito de sobrecarregar o instrutor com seus problemas pessoais, que devem aprender bravamente a assumir suas dificuldades, e não passá-las para ele. Mas a natureza humana é fraca e o instrutor bondoso. O que podem fazer, sem abusar da força do instrutor, é colocar o problema diante dele silenciosamente, em prece, pensamento ou meditação, e não por carta ou entrevista. Se, dessa maneira, guardarem para si mesmos suas tristezas, conflitos ou indecisões, essa reserva não lhes será prejudicial. Na verdade, é um sinal de neurose o aspirante importunar o instrutor com muita frequência ou por causa de assuntos triviais. Essa conduta é adequada para crianças, não para adultos. Revela uma pessoa egocêntrica demais, que não está disposta a pôrfimao estágio de noviciado porque a dependência em relação à outra pessoa é mais reconfortante e muito mais fácil do que o esforço para resolver seus pequenos problemas. 727 Muitos discípulos cometem o erro de ser exigentes e possessivos demais em sua atitude em relação ao instrutor. No final, transformam «se numa carga, numa obrigação ou até mesmo num aborrecimento para ele. Devem dar a ele devoção; devem pensar nele com frequência, em busca de inspiração e orientação: mas nia devem transformar-se em parasitas emocionais, totalmente encapares de vivar de sua própria vitalidade.

728 • O anseio — tão comum na índia — de entregar toda responsabilidade, toda decisão, toda preocupação a um guia espiritual só é louvável em alguns casos. E m outros, é neurótico e infantil, uma tentativa de assegurar piedade indulgente, proteção e apoio gregário a despeito do fato de a infância ter sido fisicamente superada. Tomar essa atitude como sinal de progresso e usá-la como desculpa para fugir ao trabalho premente da auto-reforma e da autodisciplina, é deplorável, 729 Uma confiança calma na liderança do homem é uma coisa, mas uma devoção histérica e pegajosa à sua personalidade é outra. / 730 O indivíduo que se transforma numa carga para seu instrutor, esquivando-se de suas próprias responsabilidades e atirando-as sobre ele, está sendo egoísta e fraco. 731 O que não compreende que o guia deve conduzi-lo ao ponto onde deve buscar seu próprio caminho continuará procurando interminavelmente por instrutores, um após outro, ou se transformará num hipocondríaco espiritual, num semi-inválido que precisa de um médico-guru para atender constantemente seus sintomas ego-centrados. 732 Pode ser que o esforço para imitar seu mestre capacite o discípulo a superar-se. 733 Se vocês estão dispostos a aceitar o dom da Graça, que um verdadeiro instrutor sempre concede, pela prévia disposição que têm em dar-lhe sua fé e devoção — e dar-lhe não porque ele as queira para si, mas porque ele é um canal purificado para a energia do próprio E u Superior de vocês — então podem esperar que o passado seja varrido à medida que os pecados vão sendo perdoados, e que o futuro se torne brilhante à medida que novas energias vão nascendo em vocês.

Cultivando o vínculo interior 734 O caminho do discipulado significa esforço constante para viver na atmosfera mental do mestre. E claro que, no início, isso pode ser feito apenas de maneira débil e ocasional. O êxito depende não apenas da pressão da perseverança, mas também da sensitividade à transmissão de pensamento. 735 O aspirante que vem à presença de alguém que funciona num nível moral, místico ou filosófico elevado — e sente atração, charme, encanto, influência ou força de sua personalidade — pode, depois de uma associação ou tempo suficiente, ser fortemente estimulado em seu desenvolvimento. Não se trata apenas de beneficiar-se com as palavras do outro homem e de copiar seu exemplo, mas também de experimentar diretamente a açâo telepática de mente sobre mente. 312

736 Se eles acreditam que a telepatia é genuína e real — como deve ser se acreditam na filosofia — então devem aceitar nossa afirmação de que a comunicação interior torna desnecessária a comunicação exterior, que a sensação de presença interior do guia torna desnecessários suas cartas, visitas e outros sinais externos. 737 Sabemos que a mente pode projetar e receber pensamentos. A telepatia torna-se, cada vez mais, um fato cientificamente reconhecido. Quando há afinidade, harmonia e preparação, o guia espiritual pode projetar ondas mentais que acalmam, elevam e espiritualizam o aspirante. 738 / A hipnose não premeditada, silenciosa e sem palavras de um paciente é um indicador factual para a compreensão da influência telepática, silenciosa e sem palavras de um guia sobre seu discípulo. Assim como o poder de sugestão torna-se dinâmico no hipnotizador, sua oitava mais alta — o poder da graça — torna-se dinâmica no guia espiritual. / 739 Que as ondas mentais possam ser transmitidas do mestre para o discípulo, que a paz espiritual possa ser refletida da mente de um para a mente do outro não é meramente uma nova teoria, mas, na realidade, uma velha prática. Ela é conhecida no Oriente há milhares de anos. 740 O trabalho do mestre é realizado pela palavra falada, a palavra escrita e os exemplos pessoais. Mas não pode limitar-se a esses métodos, porque todos eles são externos. Assim, continua pelos impulsos telepáticos, pelo impacto da inspiração e pela osmose mental. Esses métodos são internos. 741 Essa comunicação entre o instrutor e o estudante pode ser chamada de Telementação". 4

742 O Mestre pode acrescentar, temporariamente, sua inspiração e vitalidade espirituais às do discípulo, simplesmente desejando-lhe o bem. Se isso é feito durante a prece ou meditação do Mestre, o subconsciente do discípulo captará espontaneamente o fluxo projetado telepaticamente e, cedo ou tarde, o introduzirá no consciente. Se, no entanto, algo mais preciso e mais positivo é necessário, ele pode. conscientemente, dirigir sua vontade ao discípulo quando ambos estão em estado de meditação ao mesmo tempo. 743 As ideias projetadas e os pensamentos concentrados de um homem que criou uma conexão permanente com o Eu Superior são poderosos o bastante para afetar beneficamente a vida interior de outros homens. Mas mesmo aqui a natureza exige que estes estabeleçam, por sua vez, sua própria conexão interior com esse homem. E isso só pode ser feito por meio da atitude mental correta de confiança e devoção.

744 A mente pessoal consciente do instrutor pode nada saber da ajuda que dele se irradia para alguém que silenciosamente o chama a longa distância, mas a realidade dessa ajuda permanece. 745 Essa estimulação interna e telepatia intensa entre o mestre e o discípulo podem ocorrer apenas se existirem as condições necessárias. 746 Mesmo no início do noviciado, o que busca muitas vezes recebe — através da experiência mística que resulta do contato com o instrutor — indícios daquilo que espera por ele mais tarde. Mais, receba-os ou não, desde o momento da aceitação virá a cada estudante uma sensação de paz e, acima de tudo, de estabilidade interior e de certeza, que será um dos maiores bens de sua vida. 747 Muitas e muitas vezes o noviço se engana sobre as comunicações telepáticas que sente estar recebendo do mestre. Ele as considera como tal quando não são nada disso, ou as interpreta de maneira material ou egoísta demais. O mestre envia para ele uma corrente de pensamento que tem o objetivo de elevá-lo a um nível mais divino e, portanto, mais impessoal. Este, entretanto, arrasta-a para um nível inferior, mais egocêntrico. 748 Os impulsos telepáticos que ele envia aos outros durante esses períodos de prece ou meditação são, na maior parte das vezes, recebidos subconscientem ente. Só mais tarde é que se sente seu efeito ou que se suspeita de sua origem. No momento, seus discípulos podem não ter consciência de nenhuma recepção de beatitude ou verdade. Mas a clareza e a liberação crescentes podem, lentamente, modificar seus caminhos. 749 É possível, também, tomar qualquer pessoa a quem se reverencia como mestre e, na própria mente, transformá-la em instrutor. Mesmo que não ocorra nenhum encontro no nível físico, a atitude de atenção e a devoção na meditação extrairão dessa pessoa uma reação que, telepaticamente, fornecerá toda a orientação necessária no momento. 750 Assim como o olhar, o toque ou a palavra podem transmitir o ardor do desejo mutuo do homem para a mulher, podem transmitir também a bênção da iniciação ou o dom espiritual do mestre para o discípulo. 751 Como a mensagem do Eu Superior a um místico em meditação, a ajuda que vem do instrutor está acima do pensamento mas traduz-se em termos de pensamento. Nesse processo de tradução, é capturada pelo ego e sofre sua interferência. 752 O guia pode enviar sua bênção telepaticamente uma só vez, mas se for bastante poderosa pode operar através de centenas de experiências diferentes, estendendo-se 314

por muitos anos. Como ele se identifica com a alma sem tempo e sem espaço, sua bênção pode expressar-se em qualquer ponto do espaço e do tempo. Além disso, pode formulá-la de maneira geral, mas ela assume formas precisas, moldadas inconscientemente e adequadas à mentalidade e ao grau de desenvolvimento do que a recebe. 753 Alguns críticos rejeitam a ideia da Graça e declaram sua impossibilidade num mundo governado estritamente pela causa e efeito. O significado da palavra sugere algo de natureza moral, material ou imaterial, que é dado ao homem. Por que não poderia o Mestre — que conquistou força, sabedoria e caráter moral superiores ao que é comum à espécie humana — dar livremente a ajuda que brota de sua compaixão aos que lutam para chegar ao pico que ele escalou? Ele certamente não pode transmitir a totalidade de sua vida interior para outra pessoa. Mas pode, certamente, compartilhar um pouco de sua qualidade e sabor com alguém que é receptivo, sensitivo e está em afinidade interior com ele. Se isso também for rejeitado, então que os críticos expliquem por que o sentimento e a sensação da presença do Mestre permeiam a existência do discípulo por muitos anos depois da iniciação, e talvez por sua vida inteira. 754 O mestre, por um processo de transferência telepática, capacita o discípulo a ter um vislumbre daquilo a que pode levar a realização de suas próprias possibilidades espirituais. 755 O discípulo a quem foi permitido sentar-se em meditação com um mestre deve ser capaz de prosseguir com esse impulso, mesmo que isso tenha ocorrido uma só vez. Isso é, realmente, uma iniciação. 756 Durante essa meditação de iniciação, o discípulo pode efetivamente sentir uma corrente de poder fluindo do mestre para ele, mas não é essencial que a sinta. 757 Aquilo que o mestre reflete e irradia para a mente mais profunda do discípulo durante essa meditação deve, necessariamente, ficar incubado por algum tempo, que pode ser minutos, dias, meses ou até anos. Ninguém pode prever quanto tempo levará, porque não apenas a boa vontade, capacidade e afinidade do discípulo são fatores determinantes, mas também seu destino. E nem se pode prever se os resultados aparecerão de forma lenta, suave, pouco a pouco, ou de repente, com uma força violenta e surpreendente. 758 O mestre está, daí por diante, sempre presente no coração de seu discípulo, mesmo que não se vejam novamente. 759 Desde o momento dessa iniciação, o mestre estará muito presente em seus pensamentos, e a sensação de afinidade estará muitas vezes presente no seu coração.

760 A experiência que o candidato tem na meditação de iniciaç&o com o mestre 6 muitas vezes (mas nem sempre) um arauto e um símbolo das possibilidades de futuras realizações sob a orientação desse mestre em particular. 761 Ele deve trabalhar mais arduamente que nunca seu caráter e — esmagando seu ego — sensibilizar sua mente para o recebimento da Graça espiritual, que deve ocorrer durante a iniciação. 762 É como se o Mestre viesse à sua consciência e modificasse sua qualidade e alcance. A modificação dura necessariamente só um breve momento mas 6, ainda assim, memorável. 763 O número de encontros necessários com o que inicia a meditação será, naturalmente, diferente em diferentes casos. 764 Quando ele fala de uma grande verdade ao candidato, olhando diretamente em seu rosto, alguma coisa pode ocorrer além e atrás das meras palavras.

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Um olhar de Jesus foi suficiente para fazer alguns homens renunciarem às suas vidas mundanas e segui-lo. É assim a iniciação pelo olhar. 766 O poder que reside numa caneta é apenas intelectual, apesar de ser transmitido de uma mente a outra. Mas o poder que irradiou de seus olhos era espiritual, estava além do pensamento. O olhar encontrou o olhar muitas vezes nesse período; o meu piscando e vacilando, o do rishi sem hesitar uma só vez. Há algumas linhas de um Vidente americano que eu gostaria de relacionar com esse entardecer sobre o qual estou escrevendo. Estão no ensaio sobre "Comportamento**, de Emerson, o inspirado otimista americano. As palavras dele são: "Os olhos indicam a antiguidade da alma. Que inundação de vida e pensamento é descarregada de uma alma à outra por meio delesl O olhar é uma mágica natural. A comunicação misteriosa estabelecida dentro de uma casa entre dois estranhos totais move todas as fontes da imaginação. ... Os olhos não mentem: confessam fielmente quem lá habita.** Verifiquei, na suá totalidade, a verdade dessas palavras sábias. E como o meu desenvolvimento era frágil e atrofiado, ele deu lugar e foi sobrepujado pelo do outro homem. 767 O aspirante que deseja tornar-se discípulo de determinado instrutor deve lembrar que, se for aceito, não receberá qualquer reconhecimento externo formal do fato. Isso se deve a que a maneira de encontrar um Mestre é, invariavelmente, um processo interior. Depois de o estudante ter desenvolvido a receptividade mental e as qualificações morais necessárias, a presença do Mestre será sentida e reconhecida interiormente. Uma vez que isso tenha sido experimentado, ele descobrirá que a simples devoção e dedicação ao caminho que o Mestre indicou - - e a ele como símbolo

desse caminho - - é tudo o que é necessário para garantir o progresso. Assim, o estudante finalmente compreende que todos os instrutores externos, todos os caminhos e iniciações, são mera teatralidades quando comparados a isso. 768 O verdadeiro mestre não pede aos discípulos que morem em algum ashram, mas que se unam a ele. E ele é, em seu próprio julgamento, um ser mental e não um ser físico. Portanto, podem encontrá-lo em pensamento em qualquer lugar. A necessidade de viver num ashram com ele é ilusória. É preciso apenas um único encontro entre ele e o discípulo. Fisicamente, esse encontro pode atingir seu propósito em poucos minutos. Daí para diante, eles podem permanecerfisicamenteafastados, e mesmo assim, o trabalho interior continua a se desenvolver. Porque a relação entre eles é basicamente mental, e não física. Até mesmo na vida comum observamos que o verdadeiro amor, ou a verdadeira amizade, é uma afinidade mental e não uma mera proximidade física dos corpos. A intensa fé do discípulo e a veneração emocional pelo mestre — por mais distantes que possam estar um do outro — mais a necessária maturidade mística criarão telepaticamente uma verdadeira associação. Mas sem cias sua graça é como uma fagulha caindo na pedra, não numa mecha. Além disso, pelos poderes superiores de sua mente, o adepto pode realmente ajudar os devotos a distância, mesmo que nunca frequentem seu ashram. Os que vivem num ashram podem obter dele apenas aquilo que conseguem absorver em seu ser interior. Mas, os que não vivem num ashram podem fazer exatamente a mesma coisa. Perceberão que sua presença-pensamento é tão eficaz quanto sua presença física. 769 A medida que o discípulo é lentamente conduzido ao longo desse caminho difícil, a confiança no instrutor é substituída pela consciência do instrutor, ou seja, ele descobre a atmosfera mental do instrutor como uma presença .interior e. assim, vem a conhecê-lo muito melhor. 770 O vínculo com tal mestre apoia-o em muitas experiências escuras. 771 Um instrutor sábio não impõe dogmas aos discípulos; estes podem acreditar ou duvidar — como preferirem — contanto que sigam o caminho que ele apontou. O discipulado é, realmente, união espiritual. Não é uma lembrança académica de palavras. É colocar-se numa atitude receptiva, de forma que o espírito do mestre possa entrar. Nenhum discurso é necessário para que isso se efetue: no silêncio isso I mais rapidamente realizado; o mais é apenas dar instruções, o que nlo é s mesma coisa que oferecer discipulado. 772 No final, a única maneira do que busca com afinco encontrar um instrutor c encontrar-se. Quanto mais profundamente penetrar nos recessos misteriosos de ssu próprio ser espiritual, mais se aproximará do mestre sempre presente dentro de si — o Eu Superior. Quanto mais procurar, maia poderosa será a atração, mais magnético o encanto do Eu Superior sobre ele. Isso é verdade para os estudantes em geral, mas é especialmente verdade para os estudantes que tiveram a sorte de entrar

em contato pessoal com um instrutor vivo. Não é por vê-lo fisicamente, falar com ele pessoalmente ou corresponder-se com ele que entram em contato real com esse instrutor, mas descobrindo sua presença dentro do coração em pensamento, sentimento e imaginação, reagindo passivamente à intuição dessa presença e aceitando a orientação de seu convite a uma existência mais espiritual. Assim, não é apenas a alma do homem que está dentro dele e lá pode ser encontrada, mas até mesmo seu instrutor vivo e encarnado está dentro dele, e lá pode ser encontrado igualmente. Não é por viver na mesma casa com o instrutor que o discipulado torna-se um fato. Não é sentando-se ano após ano no mesmo ashram com ele que se demonstra devoção ou que se segue o caminho, mas procurando-o intuitivamente e obedecendo seu comando interior de afastar-se da superfície do ego, indo em direção ao centro profundo da alma. Quando se compreende isso, compreende-se que uma distância de sete ou sete mil milhas não é suficiente para separar um discípulo de seu mestre. Uma ausência de sete anos não é suficiente para enfraquecer a sensação de sua presença e do contato interior com ele. Quanto mais cedo o aspirante reconhecer essa verdade, mais rápido será seu progresso. 773 Depois que tanto o encontro — por mais breve que seja — com o mestre quanto a separação tiverem ocorrido, inicia-se a tarefa mais difícil do candidato: aprender a aceitar a Ideia do mestre como algo não menos real que o corpo do mestre. O discípulo deve aprender a habitar mentalmente a presença sagrada com tanta satisfação quanto se aí habitasse fisicamente.

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774 Trazer esses grandes mestres para a sua vida meramente para admirá-los externamente e não para adorá-los no fundo do coração como o Ideal a ser fielmente imitado, é fracassar na tentativa de tornar-se seu discípulo. 775 Não se trata apenas de transmissão do conhecimento ou de memorização da instrução. Exige-se que o estudante faça algo mais. Ele tem que voltar, diligentemente, sua atenção para dentro, manter-se passivo diante dos sentimentos mais sutis que agora tendem a formar-se em seu interior, submeter-se resignadamente à sua influência e fundir-se neles em união.

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776 O Mestre está sempre ali, atrás de seu discípulo, sempre pronto a dar-lhe estabilidade, orientação, inspiração, paz e força. Se o discípulo não sente essas coisas vindo do Mestre para ele a falha está no discípulo, o bloqueio é autocriado, está em algum lugar entre os dois e só ele o pode remover. 777 Se o discípulo se tornar suficientemente receptivo, se sua mente estiver com a do mestre, haverá um sentimento de sua presença, mesmo que um continente os separe. A proximidade do mestre parecerá, 7 7 8 às vezes, bastante misteriosa,

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Quanto mais fundo viajamos, menos necessidade temos de pensamentos e palavras, porque toda a multiplicidade sucumbe nessa maravilhosa unidade. Não podemos falar desse estado sublime ou pensar nele com alguma acuidade. Portanto, o único meio de representá-lo adequadamente é — o silênciol 318

779 Portanto, o instrutor competente fornece seus melhores ensinamentos não por palestras, conferências ou livros, mas por esse silêncio mágico, misterioso mas eficaz onde se ocultam as mais elevadas iniciações. 780 Sentar-se com um instrutor assim, na correta atitude receptiva, por uma única hora de meditação pode realizar mais do que os dez anos anteriores de auto-esforço. Porque ele, telepaticamente, é capaz de aprofundar o poder de atenção do outro até a quietude que é habitual para ele mas que é rara ou desconhecida para a maioria. Um dos véus foi retirado e, daí por diante, o indivíduo pode, facilmente, ir à mesma profundidade sozinho. 781 Ele deve perguntar-se se é atraído pela mente ou pelo corpo do instrutor, se é devotado ao pensamento ou à carne do instrutor. Se conseguir responder corretamente, deve admitir que o discipulado real existe apenas quando a sensação da forma física do instrutor está ausente e seu ser espiritual está presente. E esse é, de fato, o caso. A relação externa é apenas um início, uma leve antecipação da riqueza que é possível nessa relação interior, nessa união de coração e alma. O discípulo descobre então que a proximidade ou distância do instrutor não é medida em milhas, não é uma questão do que pode ser visto sensorialmente, mas do que pode ser sentido mentalmente. 782 Considera-se o sat-sang, ou afiliação interior ao mestre, mais importante que a associação exterior com ele. 783 Assim como a proximidade de um fio em espiral eletrificado pode induzir uma corrente de magnetismo numa barra de ferro, a proximidade de tal homem pode induzir um pouco de sua própria quietude interior no discípulo. 784 Há duas maneiras pelas quais a ajuda é dada por um mestre a seus discípulos. A primeira é consciente, enquanto a segunda não o é, E é a segunda, a maneira aparentemente menos importante, que é realmente a mais comum. Assim como o sol não precisa estar consciente de cada planta individual sobre a qual lança seus raios que dão a vida e estimulam o crescimento, o mestre não precisa estar consciente de cada discípulo que o usa como foco para meditação ou como símbolo para adoração. Entretanto, cada discípulo logo perceberá que está recebendo dessas atividades um estímulo vital interior, uma orientação real e uma assistência definida. Esse resultado desenvolverá o poder inconscientemente retirado do seu próprio Eu Superior, que, por sua vez, utilizará a imagem mental do mestre como um canal pelo qual pode verter sua graça. 785 Aquilo que o mestre fornece por meio de exemplos pessoais e preceitos verbais é apenas o início e não o fim do que pode fornecer. A silenciosa transmissão interior é ainda mais importante.

786 Na medida em que um instrutor ajuda no desenvolvimento da vida interior de um discípulo, ele compartilha dela. 787 'O instrutor e o estudante compartilham do mundo um do outro. * 788 Quando o impacto de sua presença física está ausente, o poder de sua presença espiritual pode tornar-se claramente evidente. 789 A imagem benigna do mestre reaparecerá constantemente diante de seus olhos. £ ele prefere ter essa presença mágica, com a censura que pode acompanhá-la, a não ter presença alguma. 790 Ele sente vividamente em alguns momentos, mas debilmente em outros, que o mestre está no pano de fundo de sua vida.

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791 Ele não apenas sentirá a personalidade do mestre como se estivesse perto ou junto dele. mas também absorverá inspiração e acrescentará à sua paz um pouco da paz que vem dela. 792 Ele traz para seu próprio ser essas influências nobres que emanam do mestre. 793 Esteja onde estiver, o discípulo inteligente pode criar um contato interior com seu mestre descobrindo a imagem mental dele em seu interior, como uma presença profunda, vívida e real. 794 'União Mística de Mestre e Discípulo: a melhor maneira de seguir um instrutor é imbuir-se do espírito dele. O resto acontece por si só. Quando a maturidade do discípulo encontra a graça do instrutor, o caminho para a realização espiritual está realmente abertoy 795 O discípulo está ligado ao guia por um vínculo de atração interior que, sem o consentimento do destino ou do próprio guia, ele não pode romper!

Mestre como símbolo 796 / A alma o conduzirá a si mesma por estágios. Portanto, ela pode levá-lo à reverência por algum personagem das escrituras ou à devoção por algum mestre vivo, e então, quando estes tiverem cumprido seus objetivos, ela pode levá-los para longe ou para além deles. Porque a busca vai do mundo das coisas e dos homens para o mundo do vazio da Mente; dos pensamentos e formas para o Divino sem forma e livre de pensamentos. ( 320

797 A atração por um instrutor, que muitas vezes acontece involuntariamente, devese, em parte, ao fato de o que busca não conhecer Deus e nunca ter visto Deus. Mas ele pode conhecer e ver esse ser humano, o instrutor que conhece Deus. 798 Para o aspirante que ainda tateia, um verdadeiro Mestre deve ser tanto o símbolo da existência divina quanto o canal de seu poder. • 799 A noção de espírito puro ou até mesmo de Eu Superior é vaga demais para a maior parte dos aspirantes e, portanto, um tema difícil demais para a concentração. A imagem mental de um homem inspirado dá aos seus pensamentos algo concreto a que se agarrar e às suas aspirações algo imediatamente reconhecível a que recorrer. É esse, então, o principal valor de se ter um ideal humano./ 800 O Poder Infinito parece inacessível e elevado demais para dar atenção às necessidades humanas, enquanto o Mensageiro, Profeta ou Mestre, sendo também humano, parece muito mais próximo e acessível, mais predisposto a se interessar por essas necessidades. 801 O mestre é uma presença visível e manifesta e, portanto, alguém a quem ele pode pedir ajuda mais prontamente, alguém mais facilmente reconhecível do que o invisível e não-manifesto Eu Superior que habita dentro dele. 802 Aqui surge a necessidade de um Símbolo, ao qual seu coração possa conceder devoção amorosa e no qual sua mente possa praticar intensa concentração. * 803 Como tão poucos conseguem detectar seu verdadeiro eu, ouvir sua voz na consciência ou sentir sua presença na intuição, a infinita sabedoria de Deus personifica-o no corpo de outro homem para sua conveniência, inspiração e auxílio. 804 O mestre é o símbolo do Poder Superior para todos os que sentem afinidade com ele. 805 A vívida realidade, o estímulo presente de um Símbolo vivo que já foi visto uma vez não pode ser substituído, para a maior parte das pessoas, pela realidade histórica de um símbolo morto ou pelo estímulo mental de um símbolo distante e nunca visto. 806 O Mestre corporifica a consciência do discípulo. * 807 Jesus descreveu a si mesmo como a Porta; o Bab da Pérsia referiu-se a si mesmo como o Portão. O que queriam dizer esses profetas? A pessoa comum que busca precisa de um símbolo, uma forma pela qual possa passar àquilo que não tem forma. Essa forma torna-se, então, uma porta ou um portão para ela. A imagem mental do profeta que mais a atrai fornece-lhe essa forma.



8U8 Embora não haja necessidade de seguir a multidão numa adulação fanática ao guru, há necessidade de vê-lo como aquilo que é — um canal para foiças superiores, um instrumento para o poder superior —, merecendo homenagem e reverência. 809 Observar o que esse homem é em termos de conduta e apoio 6, por si só, uma forma silenciosa de instrução. 810 O fato de o guia espiritual ter uma forma humana oferece algo a que a imaginação do discípulo pode agarrar-se para se manter firmemente concentrada. Uma imaginação adequadamente controlada e sabiamente dirigida pode ser uma ajuda poderosa nos exercícios místicos. 811 Outro valor de um mestre é que podemos verificar em sua pessoa, nas condições do dia-a-dia, o estado superior de sua mente e a importância prática do ideal filosófico. 812 Se ele tem fé e confiança em seu instrutor, deve usar essa atitude para não descansar enquanto não for tudo aquilo que seu instrutor é. Este pode ser usado como exemplo daquilo que pode ser realizado pelo ser humano que está determinado a viver como foi destinado a viver, e a ser o que foi destinado a ser.

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$ 8i3 Ele deve manter o Ideal sempre diante dos olhos, e perceber que ele envolve a personalidade de seu mestre. 8 1 4

fif A imagem do Ideal é mantida em sua mente subconsciente o tempo inteiro e transforma-se em padrão a ser imitado, no Mestre invisível a ser seguido com fé e amor. 815 É a adesão à mente do mestre e não a proximidade de seu corpo que traz esses benefícios. Mas quando ambas as coisas são possíveis, o resultado será melhor. 816 E só num estágio mais elevado que ele despeitará para a compreensão de que o verdadeiro mestre, o que realmente concede a Graça, que realmente ajuda ao longo do caminho, não é o mestre encarnado fora dele mas o E u Superior dentro de seu próprio coração. O que o mestre vivo pode fazer por ele é apenas despertar sua intuição adormecida e aspiração latente, dar-lhe o impulso inicial e a orientação na nova busca, indicar as obstruções ao avanço em seu caráter individual e ajudá-lo a lidar com elas. 817 O que ele sente sobre o poder do Mestre pode ser verdade, mas colocar isso fora de si mesmo é um sinal de seu estágio elementar. 322

818 O verdadeiro significado de um mestre para a compreensão do discípulo deve ser como a presença e força, a revelação e voz de seu próprio ser espiritual interior. 819 Que nos preocupemos mais com a busca de princípios corretos que com pessoas notáveis, pois isso colocará no plano certo nossa atitude diante de todos os acontecimentos. Porque esse simples truísmo foi esquecido, a maior parte das religiões e movimentos místicos perdeu-se. 820 A atitude correta é ver o Mestre como símbolo do poder superior, de modo que a veneração e a devoção oferecidas sejam dirigidas a esse poder. Considerá-lo um intermediário entre ele mesmo e Deus é incorrer no erro de procurar fora de seu próprio eu aquilo que, quando ele encontrar, estará em seu interior e em nenhum outro lugar. 821 / Pense mais profundamente do que a massa convencional de seguidores de gurus ousa pensar e você perceberá, no final, que há apenas um instrutor para cada homem: seu próprio E u Superior; que todos os outros gurus externos são apenas canais que E L E usa. " E Ele que habita o interior e fala pela voz do guru externo*', afirma um texto tibetano. Por que não ir direto à fonte? , Í' 822 -O E u Superior é o guia espiritual último a quem ele deve reverenciar e a ajuda espiritual com que deve contar. 823 , Quando os discípulos seguem um instrutor, o que é que realmente seguem? Suponha que o mestre defendesse a crueldade e pregasse o egoísmo — os discípulos ainda continuariam a segui-lo? Obviamente não. Porque seu próprio sentimento interior rejeitaria o ensinamento. Isso demonstra que estão realmente seguindo o instrutor dentro de si mesmos, a voz de seu próprio Eu Superior. É o Eu Superior dentro deles que os faz buscar e responder a um verdadeiro instrutor, porque este é, na verdade, uma corporificação externa desse Eu. / 824 O mestre exterior objetivado não é o mestre real, mas apenas uma sombra projetada pelo sol interior. Seus discípulos cometem, com muita frequência, o erro de se relacionarem com o seu corpo, colocando demasiada ênfase nessa relação visível, quando o que realmente importa é relacionar sua mente à mente do mestre. Isso só pode ser feito dentro deles. Só em seu próprio Eu Superior podem encontrar e conhecer seu mestre. 825 jà Os que se interessam por personalidades tomam o caminho errado. As ideias de um mestre são sua melhor parte. Que os estudantes se interessem por sins, não se preocupando com sua aparência, modo de vida, características e hábitos.



26 revemos razer distinção entre um princípio doutrinário e a personalidade humana que lhe serve de veículo. O princípio viverá quando a personalidade estiver morta. Nossa lealdade absoluta, portanto, deve ser concedida ao que é imortal, não ao que é mortal. O propagador humano do princípio deve receber apenas uma fidelidade condicional. A Ideia pura pode encarnar-se no homem, mas ele pode manchá-la, traí-la ou poluí-la com seu egoísmo, preconceito e erros humanos. 827 O mestre encarnado, sendo humano, terá uma ou outra das imperfeições humanas. Cedo ou tarde o discípulo as notará e ficará perturbado ou assumirá uma atitude crítica diante delas. Mas a Luz interior é perfeita e despertará apenas admiração, devoção e satisfação. 828 Nunca disse que o discípulo não deve sentir amor por seu instrutor, porque esse amor inevitavelmente surge por si mesmo e é, na verdade, a força básica que atrai um para o outro. Sem isso não haveria discipulado. Mas é necessário compreender que o amor é realmente dirigido à presença divina que está usando o instrutor. Não é dirigido ao guru (instrutor) como pessoa. Essa é a condição correta. Se, no entanto, for desviado para a pessoa do guru, então será corrompido, toma-se-á impuro e a verdadeira relação se romperá. Na verdade, a idolatria se instalará. As emoções de atração e reverência que são sentidas não precisam ser abandonadas, mas precisam ser dirigidas à verdadeira fonte, ao poder superior que está usando o instrutor e não à sua personalidade. 829 O símbolo humano sob o qual o devoto recebe suas inspirações e iluminações em visão ou sentimento é, no fim das contas, algo pessoal. Não é universal e não serve para toda a humanidade em todos os tempos e em todos os lugares. Consequentemente, um dia seu progresso exigirá que o transcenda. Por mais útil e indispensável que tenha sido, esse símbolo se completará melhor quando o indivíduo for capaz de esquecê-lo./ 830 E raramente, e com relutância, que um verdadeiro mestre dá entrevistas pessoais. Ele percebe que muitas pessoas vêm com uma imagem preconcebida e idealizada de sua aparência (ou de como ela deveria ser) ou com certos preconceitos que são ativados quando o vêem, de forma que o bom trabalho feito por seus escritos pode ser anulado pelo desapontamento resultante de um encontro. Isso ocorre porque poucas pessoas são suficientemente não-materialistas para conseguirem ver, por detrás da aparência física, a realidade mental do homem entrevistado. A maioria vem com uma imagem preconcebida de um Amigo Perfeito maravilhoso, perfeitamente belo, perfeitamente santo. O ideal não é realizado. Elas saem do encontro desapontadas. É melhor que permaneçam atrás da barreira das palavras escritas, e que não o conheçam pessoalmente. Quantos preferem a pigmentação à proficiência como padrão de sabedoria espiritual, o que se demonstra pelo grande número de pessoas que não conseguem aceitar um indiano de pele escura como instrutor! Quantos são prisioneiros de seus preconceitos! Quantos rejeitam tanto o instrutor quanto sua 324

verdade meramente porque não gostam da forma de seu nariz! Que esperança de encontrar algum discípulo pode ter um mestre de pernas tortas? Naturalmente, aquele que busca e confunde o mestre com seu corpo não está realmente pronto para a filosofia e não deve ser recebido para uma entrevista até que a vida e reflexão o tenham preparado para beneficiar-se com ela. É pena que essa fraqueza humana seja tão comum. Essa é uma das menores razões pelas quais a disciplina filosófica tem que ser imposta aos candidatos àfilosofiacomo uma disciplina preliminar antes que possam atravessar seus portais. E difícil perceber o verdadeiro instrutor. Porque ele pode ser visto em parte com o coração, em parte com a mente, mas raramente com os olhos da carne. É o homem invisível, que eles apenas podem reconhecer sentindo, e não vendo. 831 Um dever é atribuído ao mestre: demonstrar o valor de sua virtude por sua conduta e atrair os homens para ela pelo exemplo. Não é o homem que devemos reverenciar, mas seus atributos nobres e mente inspirada. 832 No ajuste de contas final, não somos o discípulo deste ou daquele homem, mas o discípulo do Eu Superior. 833 Gautama observou muitas evidências, entre os hindus, de suas tradições de adoração ao guru e de seus cultos de adulação pessoal. Para impedir que isso começasse a ocorrer entre os que aceitaram seu ensinamento, ele ordenou que sua própria pessoa nunca fosse reproduzida num quadro ou numa estátua. Mas era demais pedir isso à humanidade devota, emocional e sentimental. 834 • Jesus tentou fazer com que as mentes de seus seguidores se voltassem do homem para o Espírito, do corpo para o Eu Superior mas, como Maomé, Buda e Krishna, falhou. Pediu-lhes que não chamassem a ninguém de Mestre, e que não o chamassem de Rabi. Mas a história mostra o quanto sua instrução foi desobedecida. 835 Mesmo que o Símbolo fosse um homem destituído de luz e poder espiritual, seus efeitos ainda pareceriam benéficos em sua vida. Isso se dá porque ele o imaginou poderoso e cheio de luz, e o poder criativo de seu pensamento produz algum benefício. Se, no entanto, o Símbolo fosse um homem vivo e mau, então os efeitos seriam mais ou menos nocivos. Porque há uma ação telepática subconsciente entre as duas mentes, por meio da intensa devoção e submissão passiva de uma à outra. Mas se o Símbolo fosse um genuíno místico vivo, então o pensamento do devoto poderia extrair dele — e sem a participação de seu conhecimento ou vontade consciente — mais benefícios do que no primeiro caso. É possível obter benefícios ainda maiores se o que busca se ligar a um genuíno sábio vivo, tornando-se seu discípulo. Porque aos efeitos acima mencionados serão acrescentadas a ajuda e a bênção deliberadamente concedidas pelo sábio.

836 A despeito das superstições populares e pensamentos esperançosos, é verdade que nenhum mestre pode conceder sua própria iluminação aos outros como um dom permanente. Mas isso toma sua realização menos valiosa para eles? Não, pois prova para ambos que o E u Superior é, e que o homem pode comungar com ele. Os poucos que são mais sensíveis ou mais perceptivos obtêm mais benefícios do contato pessoal com ele — inspiração para sua busca ou, se tiverem mais sorte, um vislumbre momentâneo da meta distante. O Mestre como Símbolo: toda essa conversa sobre mestre e discípulo 6 vã e inútil. Você mesmo, quando é atraído por um homem em que tem fé, coloca-o em sua própria mente como um mestre, mantém-no ali por vários anos e finalmente o abandona, quando não mais sente necessidade de um símbolo humano do Infinito. Durante esse tempo todo é seu próprio Eu Superior que o está guiando, mesmo quando usa a imagem mental do guia que você escolheu com esse propósito. Durante esse tempo todo você estava indo em direção à descoberta interior de seu Eu Superior, mesmo quando parecia estar indo em direção a um mestre externo. Se você considera A B C um símbolo útil, use-o como seu mestre, mas não lhe peça para confirmar esse uso, pois a escolha foi sua. Não é necessária nenhuma confirmação por parte dele. Por que duvidar da orientação de seu E u Superior? Se aceitar o mestre com fé total, estará demonstrando, com isso, fé na orientação que lhe foi dada pelo Eu Superior. Sua obediência a ele é suficiente. Ele o aceitou, ou não estaria conduzindo você para dentro. A B C é um com ele. Assim, como poderia você ser recusado pelo mestre? Mas não perca de vista a interioridade de todo esse processo, procurando no mestre um sinal externo. Não o materialize. Faça uso dele se assim o desejar, e se ele é o que você acredita que seja, sua fé não será desperdiçada. Seu ato de criação mental não levará à alucinação, contanto que você saiba que o verdadeiro A B C não é o corpo dele, mas sua mente. 838 # O apelo humilde que a alma que busca dirige a Deus (ou ao próprio Eu Superior do indivíduo) conseguirá, no tempo certo, ajuda direta, sem a intermediação de qualquer ser humano. Se alguém acreditar que conseguiu a realização somente pela bênção do mestre, então certamente um dia passará por uma desilusão. O verdadeiro dever de um mestre é indicar o caminho correto a cada estágio da vida do aspirante, manter sua fé até que ele conheça a verdade por si mesmo e não por meio das palavras de outra pessoa, inspirá-lo pelo próprio exemplo e estímulo a nunca desertar da busca, demonstrar que os benefícios dela valem a pena, conceder sua graça no sentido de ter um interesse pessoal pelo progresso dele, e mantê-lo, telepaticamente, em sua própria consciência. 839 Se a descoberta da Verdade é a descoberta da resposta para "Quem Sou Eu'*?, então que mestre pode ser melhor que o próprio "Eu" — o Conhecedor desconhecido em vez do ego, familiar e conhecido? Mesmo assim, poucos entre os que buscam acreditam nisso: quase todos se arriscam a depender de outro homem. E o que pode esse Mestre fazer, no final, além de ensinar seu discípulo a ver seu próprio rosto divino? 326

840 "Um Murshid (Mestre) visível é uma passagem para o Mestre Invisível e um portal para Deus, o Desconhecido. Mas mesmo assim, no final, nem Deus, nem Mestre, nem Murshid aparecem no 'Eu Sou* " — Mayat Khan. 841 É uma ilusão discutir se só um mestre vivo pode "salvar** os homens ou se um mestre morto também pode. Nenhum homem é salvo por outro homem. Sua própria alma é seu verdadeiro salvador. Quando acredita que um mestre, vivo ou morto, o está salvando, é sua própria alma que está realmente agindo em seu interior, usando a imagem mental do mestre como ponto focal do seu lado — o lado do auto-esforço — do processo. Milhares de homens que nunca conheceram o Jesus vivo sentiram a presença real e o poder dinâmico de Jesus o suficiente para se converterem de vidas pecadoras em vidas Divinas. Foi a idiia de Jesus que realmente conheceram, não o homem em si, assim como foi a graça do Eu Superior deles a verdadeira presença e poder que reconhecidamente sentiram. Concentraram sua fé na ideia, mas a realidade por detrás dela era o desconhecido Eu Superior. Precisavam da ideia — qualquer ideia — como um ponto em sua consciência pessoal forma-tempo-e-espaço onde a alma impessoal sem forma, sem tempo e sem lugar pudesse manifestar-se a eles. 842 Em todos os países, entre todos os povos, há mãos estendidas para Deus em busca de auxílio interior. Portanto, a responsabilidade de responder a essas preces reside basicamente em Deus. Qualquer homem que aparentemente dá o auxilio necessário é apenas um intermediário. Nem o poder nem a sabedoria que manifesta são seus. Se perceber esse fato, ficará mais humilde. 843 O verdadeiro instrutor atua como se fosse por procuração do Eu Superior do aspirante, até o momento em que o aspirante esteja forte o bastante para encontrar seu próprio caminho. Até esse momento, o instrutor é uma luz que brilha, mas depois disso se afasta, porque não quer ficar entre o que busca e o próprio eu luz deste último, que gradualmente leva o discípulo a dispensá-lo! 844 Com o pensamento do poder superior, espontaneamente uma imagem brotará em sua mente. Será a imagem daquele homem que o manifesta ou o representa para ele. 845 A atitudefilosoficamentecorreta é acalentar a mais profunda reverência por ele, lembrar frequentemente de sua presença interior reconfortante, comungar com essa presença, e controlar o eu inferior pelo modelo ideal que ele proporciona. 846

Se ele rejeita a glorificação, é porque quer que seja concedida a quem realmente merece, e não a ele, negando aquela fonte. Ela pertence a seu mestre ou ao Bs Superior; o poder que está por detrás de todas essas atividades glorificadas não c Ml

do ego. Dando o crédito corretamente a quem merece, o mundo pode vir a saber, ou a acreditar, que existe esse poder superior. 847 O que vê o Ensinamento me vê" — Buda. 848 Muitos escritos falaciosos, nascidos da emoção, e a crença resultante deles prevalecem nos círculos místicos orientais e ocidentais. Deve-se colocar a questão: se um mestre morto é tão bom ou — como um ashram do sul da índia afirma agora — até melhor que um vivo, por que os mestres dão-se ao trabalho de reencarnar se podem exercer sua influência ou dar seu treinamento com a mesma eficácia ficando onde estão? Essa questão se aplica não apenas a instrutores menores, de pequenos grupos e menos conhecidos, mas também a profetas maiores como Buda e Jesus. É aí que surgem parte da confusão e muito da ilusão. As pessoas geralmente são levadas pela sociedade, incluindo seus pais, a adotar e seguir um desses Profetas maiores. Isso acontece, até certo ponto, por causa da crença de que ainda mantêm contato com elas lá de um mundo divino, até certo ponto por causa da aceitação incontestada de sua revelação, e até certo ponto por causa da necessidade social de se pertencer à irmandade de uma igreja organizada. A revelação e a igreja sobrevivem à morte do profeta, e assim permanecem disponíveis para ajudar os seguidores nascidos em séculos posteriores. Mas o veículo por meio do qual ele foi capaz de comunicar-se diretamente, o intelecto e o corpo — ou seja, o ego — , cessou de existir. Não há mais possibilidade dessa comunicação. Quando parece ocorrer, a imagem mental do profeta foi assumida pelo E u Superior do devoto para satisfazer sua exigência e necessidade. É obvia a utilidade de um mestre vivo para os que não têm essa experiência ou para os que não estão ligados a um mestre morto. 849 Quando o mestre morre, o discípulo descobre que não há ninguém para tomar seu lugar. Uma afinidade assim não pode repetir-se exatamente. Mas o que recebeu do mestre continuará vivo dentro de si. Como pode ele ser como as multidões que não pensam, que se submetem às paixões sem arrependimento? 850 Quando um mestre não está mais vivo em carne e osso, que efeito tem isso sobre sua relação com os outros? Os que estão dispostos a usar a razão em vez de sentimentalismo em relação ao mestre podem beneficiar-se desse fato. Para os que ainda estão nos estágios elementares — o que geralmente significa a massa de seus seguidores — ele não é mais atuante. 851 Algumas pessoas, privadas de seu guru por uma súbita mudança nas circunstâncias ou pela morte, vêem-se confusas, perdidas, ou até mesmo entram em colapso nervoso. 852 O que ele deixa não é ele mesmo mas as revelações que recebeu, as instruções que deu e as técnicas que preferiu. 328

853 Quando a vida de Jesus é considerada simbolicamente — assim como são, em parte, as vidas de homens divinos — aparece, em certo momento, a mesma necessidade de se separar fisicamente de seus discípulos, para trazê-los a uma proximidade mental. Jesus lhes disse: "Em verdade vos digo, é conveniente para vós que eu parta; porque se eu não for, o Consolador não virá a vós. Quando Ele, o Espírito da Verdade, vier, Ele vos guiará à verdade." 854 Se existe uma genuína relação interior entre eles, então ele sentirá que uma parte do mestre nunca o deixou, mesmo que o mestre esteja morto há muito tempo. 855 Se ainda está vivo, a ajuda pessoal de um mestre é certamente valiosa. Se não. seu espírito está distante demais do mundo físico para ser útil ao aspirante comum, a não ser de maneira genérica e impessoal. Sua influência é então transmitida pelos escritos que legou, pelas formas-pensamento que deixou na atmosfera mental durante a vida, e pelos poucos discípulos mais próximos dele, no sentido interior. Caso contrário, só um Yogi avançado, capaz de, pela meditação, elevar sua consciência ao mesmo plano em que se encontra a do mestre poderia entrar em contato com ele, É tão necessário para seus discípulos que ele os deixe privados de sua orientação e do consolo de sua presença quanto antes foi necessário que tivessem essas coisas, quando ele ainda estava na terra. Afinal, é seu próprio E u Superior que estão buscando. Devem começar a procurá-lo exatamente onde está — no interior de si mesmos e não em outra pessoa. Chega então o momento, se é para continuarem a crescer, em que devem parar de depender da luz e força do mestre e começar a depender de sua própria luz e força. A hora dessa separação está indicada em seus destinos pela inteligência infinita, que tem razões suficientes para fazê-la ocorrer nem mais cedo nem mais tarde. Se eles devem, daí em diante, lutar para conseguir contato direto com o Infinito e não mais depender do estímulo de um intermediário, isso significa que estão no estágio de progredir mais dessa maneira, ainda que suas emoções pessoais argumentem em contrário. 856 . O mundo quase sempre não está em condição de julgar se estão mais próximos do Mestre os que proclamam esse fato publicamente e em voz alta ou os que silenciosa e secretamente praticam o que ele ensinou.

Graduação 857 A pergunta — se rejeitar o guru é um estágio necessário para se encontrar a Verdade por si mesmo — pode ser respondida imediatamente. Não é necessário para ninguém rejeitar o guru em estágio nenhum. Mas, em determinado estagio, pode ser aconselhável afastar-se fisicamente dele. Isso é um assunto para o guru e o discípulo decidirem, assim como a duração dessa ausência.

858 "Na hora certa, quando a relação entre mestre e discípulo estiver suficientemente irmada, o discípulo tem que continuar sozinho", escreveu o Mestre Sufi Insar-IKamil. Isso é importante, mas insuficientemente conhecido. 859 O instrutor é um apoio necessário para o discípulo, para ajudá-lo a progredir através de estágios sucessivos da busca, pois são estágios de ilusão cada vez mais ténue. Quando ele pára diante do portal da realidade, então a última e mais ténue ilusão deve ser deixada para trás: o apoio de qualquer ser fora dele mesmo, separado dele, pois em seu interior está o infinito poder-de-vida. 860 Está escrito nos textos hindus que vivendo em companhia de um guru, de um santo ou de um sábio adquire-se certa medida de sua iluminação, santidade ou sabedoria. Só uma excepcional experiência pessoal ou um longo estudo comparativo dos registros pode dizer o quanto essa medida pode variar, o quanto pode ser pequena ou grande. Lado a lado com esse texto, para ampliá-lo ou corrigi-lo, deve ser relatado, para que se reflita bastante sobre ele, um pequeno incidente que uma vez observei no sul da índia e cujo principal personagem era um jovem e fervoroso monge, Swami Dandapani. Tinha vivido por cinco anos, com alguns intervalos, como assistente num ashram e era um devoto seguidor de Ramana Maharshi. Um dia foi expulso, e ordenaram-lhe que saísse em vinte e quatro horas. À noite, quando todos tinham ido dormir, ele foi procurar seu guru para informá-lo da expulsão e dizer-lhe adeus. Depois chorou. O Maharshi fê-lo parar: "Não seja tolo! Você deveria saber que este Sat-sang [companhia pessoal num ashram] é apenas para iniciantes. Quando alguém avança a determinado estágio, é melhor ir embora para um avanço real e maior. Porque então ele é obrigado a procurar e a encontrar o guru interior, dentro da mente e do coração. Até mesmo os passarinhos têm que ir embora do ninho de seus pais quando lhes crescem as asas: não podem ficar para sempre no ninho. Assim também os discípulos têm que praticar longe do ashram o que aprenderam aqui, encontrar lá a paz que encontraram aqui." Acompanhei o resto da história do Swami, pois ele era um bom amigo. Anos depois, ele, por sua vez, tornou-se um guru, conquistou muitos discípulos e estabeleceu-se em sua vila natal, em seu próprio ashram. Observei, a distância, que alguns parecem não conseguir nada, enquanto outros conseguem muito num Sat-sang. Venha essa conquista de uma espécie de osmose, da instrução ou da discussão ou, mais provavelmente, de uma combinação das três, a necessidade de olhar para dentro de si mesmo, trabalhar consigo mesmo e depender de si mesmo não pode ser evitada. 861 . Sri Ramakrishna dizia aos novatos: "Continuem a visitar este lugar." Mas também lhes dizia: "É necessário, no início, vir aqui de vez em quando." Uma vez ouvi Sri Ramana Maharshi dizer a um jovem discípulo indiano que chorou ao ser forçado a deixá-lo: "Viver em ashrams é apenas para iniciantes. Os mais avançados têm que ir embora e desenvolver-se lá fora. Você esteve aqui por cinco anos. Se quiser progredir, é melhor ir embora daqui." 330

862 O animal que abandona seus filhotes quando atingem certa idade, para forçá-1 a adquirir autoconfiança, é como o guru, quando diz ao discípulo que se demt muito, que já é tempo de ir. 863 Mas a lei da vida é o crescimento. Deve ele continuar recebendo passivamente o ensinamento de outra pessoa para sempre? Pode ficar quieto sob a sombra de outro homem ou deve sair do estado de discípulo para a luz?

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864 O verdadeiro instrutor desenvolve seus discípulos de forma que se aproxim cada vez mais do momento em que conseguirão encontrar seu caminho sem ele. Seu serviço tem o propósito de conduzi-los à graduação, quando ele próprio não mais será necessário.

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865 Nenhum discípulo concede a seu mestre a honra apropriada até ser capaz de ficar em pé e caminhar sozinho. 866 O homem em que a intuição é bem desenvolvida ou que é capaz de praticar a meditação o suficiente para ouvir a Palavra Interior, não precisa de um mestre. 867 Se ele encontrou o caminho correto e viajou com um instrutor até esse estágio, daí por diante pode viajar sozinho. Agora ele é livre, pois é capaz de guiar a si mesmo. 868 No final, ele deve libertar-se interiormente de todas as coisas e, finalmente, do instrutor e da própria busca. Apenas então pode ficar só interiormente e ser um com Deus. 869 Não importa para nós, pessoas do século vinte, se é ou não historicamente verdadeira a batalha mencionada no Bhagavad Gtta. Mas é importante sua interpretação psicológica, que diz que Arjuna foi obrigado a lutar, não contra seus pais e parentes, mas contra seu apego a eles, É um ensinamento semelhante às duras palavras de Jesus, sobre assumir a cruz e negar pai e mãe. Podemos compreei tudo isso, mesmo que não possamos segui-lo na prática. Mas é desconcertante saber que chegará a hora, no desenvolvimento do discípulo, em que o apego ao n também deve ser rompido. Ele precisa libertar-se do próprio homem que lhe o caminho da liberação de todas as outras formas de apego. Sua liberação deve tornar-se total e absoluta. 870 No último verso dito por Arjuna no Gtta, ele declara que todas as suas àw se foram e que passou a conhecer o verdadeiro Eu. Todas as suas perguntas terminam. Sua busca da Verdade chegou ao fim. Nada mais é dito, nem por nem por seu instrutor. Ambos entram num estado de silêncio, e esse silêncio revela-se

como o mais elevado, porque o espírito está além das agitações do intelecto e da tagarelice. É sentido e conhecido, compreendido e comunicado melhor por meio dessa quietude interior. 871

^ N ã o se extravie em águas que são profundas demais para você. Não tente compreender o mistério de seu mestre. Você não pode fazer isso e nunca o fará, pois, se alguma vez chegar perto de consegui-lo, tanto você quanto ele desaparecerão de sua compreensão. Não procure tocar o intocável. É melhor aceitá-lo como é e deixar as coisas como estão do que se entregar a especulações inúteis e fantasias erróneas. Isso não significa que você deve reprimir a faculdade de inquirir, mas que deve exercê-la no lugar certo e no momento certo. Sua tarefa agora é compreender a si mesmo e compreender o mundo. Quando estiver perto de concluí-la, irá então defrontar-se com a tarefa de compreender o verdadeiro caráter de seu mestre, mas não antes. Porque só então você será capaz de compreendê-lo corretamente; antes disso terá apenas uma noção errada, o que é muito pior do que não ter noção alguma. A última lição destas palavras é: confie nele quando não conseguir compreender; acredite nele quando não conseguir acompanhar e, quanto a isso, nunca precisará se arrepender.

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